31.1.08

Que rufem os tambores...

... porque eu já caibo nos meus jeans pré-gravidez!

Cam, vamos fundar a Confraria I've Got the Power?
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28.1.08

Dr House e Comissário Maigret

Jules Maigret (uma de suas muitas caras possíveis) e Gregory House

Com um bebê de menos de um mês, a gente não sai muito de casa. Apenas para alguns compromissos e alguns passeios. Veja a diferença. Compromissos são: tomar vacina no posto de saúde, ir ao pediatra, fazer o teste do pezinho, ir ao dentista com a mamãe (porque durante a gravidez o cálcio foi pras cucuias e mamãe terá que fazer um lento, doloroso e caro tratamento dentário). Passeios são: passear no jardim da Casa Rui Barbosa, tomar café da manhã no Parque Lage. Et caetera.

Então, em casa. Por incrível que pareça, há momentos em que não estou no papel de restaurante (leiteria, melhor dizendo), nem no papel de lava-jato, nem no papel de rede de balanço. Desses momentos, metade eu tiro pra dormir. A outra metade é que são elas. Tem coisas de trabalho que eu já consigo fazer, e faço com o maior prazer. Tem blogues para ler. Já até li um livro inteiro. De 500 páginas! E aí, tem a televisão, essa estranha máquina.

Vou te contar, TV a cabo é uma droga. Uma porcaria de investimento. É caro e não tem nada que preste. Já concluí que, se você não sabe a priori o que quer ver, a que horas, e em qual canal, não é zapeando (verbo ridículo) que vai descobrir, por acaso, alguma coisa boa. Mas então, você paga para assistir aos canais. E mesmo assim tem que assistir a muita propaganda. Intrigam-me especialmente a quantidade de anúncios de pasta de dente protagonizados por dentistas (sempre com menção a um número de CRO, para dar credibilidade) e os anúncios de perfumes, que são sempre mucho locos e sempre com algum sotaque esquisito (tipo The new fragrance by Cawolina Hewwewa). Algum dia, no século passado, ouvi dizer que quando a TV a cabo chegasse no Brasil seria ótimo, porque uma vez que os assinantes já pagam pela programação, não haveria necessidade de comerciais. Devo ter alucinado. Porque além dos comerciais, ainda tem milhares -- milhares! -- de horários pagos em que ficam vendendo enceradeiras, grills e colares de pérolas em programas inacreditáveis. É que nem spam de Rolex e Viagra: se tem tanto é porque alguém compra. E eu pagando por isso tudo.

Mas não era isso que eu queria dizer. Sou uma pessoa feliz, vou falar de coisas boas. Coisas que eu gosto de ver na TV. Coisas de que aprendi a gostar. Na verdade, uma coisa, no singular: House. É verdade, fui me afeiçoando aos poucos àquele ambiente do hospital-escola em New Jersey, àquele protagonista sarcástico e miserável (a pior tradução disponível para miserable, o adjetivo mais usado para caracterizá-lo), à equipe, que inclui um médico com sotaque britânico (na verdade, australiano), ao amigo oncologista, que eu fiquei por muito tempo com aquela estranha sensação de-onde-eu-conheço-este-ator?, até que me lembrei que ele era o rapazote oh-capitain-my-capitain (o que morre no final) de Sociedade dos Poetas Mortos.

Ou seja, viciei. Já sei que quinta às 23h tem episódio inédito (quarta temporada), e que todo dia às 13h tem algum episódio de temporadas antigas (que eu não vi, então pra mim dá no mesmo). Marido viciou igualmente. E é por isso que a gente só tem almoçado depois das 14h.

Esta semana me bateu um insight. Gosto tanto do doutor House porque ele me lembra muito uma de minhas paixões literárias: o Comissário Maigret. O leitor provavalmente dirá: "Quem?!". Já me acostumei. É impressionante como as pessoas conhecem pouco a obra de Georges Simenon, o criador do Maigret. O homem escreveu 192 romances (75 dos quais protagonizados pelo Comissário Jules Maigret) e 162 novelas (28 com Maigret) (segundo o site Tout Georges Simenon). E mesmo assim, os romances policiais que povoaram a adolescência de todos nós foram os da Agatha Christie. Que são ok, mas olha, os do Simenon são muito melhores. E na comparação dos personagens, vamos e venhamos, Poirot é um chato, aristocrata esnobe. Maigret é muito mais interessante.

Maigret, assim como House, é imprevisível, e aí reside seu maior charme. Ambos são grandes autoridades em suas especialidades, espécies de lendas vivas com as quais qualquer iniciante (médico ou policial) quer trabalhar. Mas quando isso acontece, os novatos ficam sempre frustrados, pois a conduta de House e de Maigret nunca corresponde à expectativa -- é pior. House mente para os pacientes, Maigret tortura suspeitos com interrogatórios intermináveis. Ambos erram -- e não ligam muito para isso. House é viciado em Vicodin. Maigret bebe, inclusive durante o trabalho. Não, ele não bebe vinho. Bebe principalmente chope, que manda vir da brasserie da esquina (chope quente, pois). Gosta também de calvados e de grogue -- este último, uma bebida espetacular para o frio. Eu adoro especialmente quando um jovem policial, no meio da investigação, sem nenhuma pista, pergunta: E agora, comissário, o que vamos fazer?, e ele responde, Não tenho a menor idéia, vamos tomar um chope, e depois pode ir para casa. E por falar em casa, o comissário mora com Madame Maigret no Boulevard Richard Lenoir, em Paris. (O casal não teve filhos.) E trabalha na Polícia Judiciária, cuja sede fica no Quai des Ofèvres, defronte o Sena. (Pergunte-me se não estive nesses lugares em março de 2007, quando fui a Paris.)

Além de tudo isso, é claro, House faz principalmente trabalho de detetive. Sua obsessão por invadir a casa dos pacientes para analisar o ambiente, em busca da origem dos sintomas (e é engraçado que os coitados de sua equipe tenham sempre que invadir, ninguém nunca pode ceder as chaves voluntariamente), é muito boa. Maigret também tem essa mania de entrar sem pedir licença. Quebram protocolos. Ao longo dos episódios, ambos têm o dom de enfurecer os parentes das vítimas, os mesmos que no final virão lhes agradecer de joelhos. House anda com sua inseparável bengala, Maigret -- que faz o tipo "armário", alto, forte, largo -- não vive sem o cachimbo, na melhor tradição dos detetives do início do século XX.

Mas isso é fato: Maigret é um personagem do século que passou. Seus romances foram escritos entre 1931 e 1972. Seu cinismo e sarcasmo, portanto, não podem nem ser comparados ao de House, um personagem a) americano b) de TV c) do século XXI. Mas que os dois têm seu parentesco, ah isso têm.

[Para ler Simenon, recomendo as ótimas edições Pocket da L&PM em co-edição com Nova Fronteira (que publica o autor no Brasil desde priscas eras). São mais de 20 títulos, a preços entre R$ 12 e R$ 17, por aí. Gosto especialmente de Maigret e o homem do banco, Maigret e seu morto, Uma sombra na janela, Memórias de Maigret (mas este, só para quem já o conhece bem).]

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20.1.08

Coração de mãe

Como alguns de vocês acompanharam pelo blogue, durante a gravidez eu procurei me preparar ao máximo. Fisicamente -- fazendo ioga para gestantes, pilates, hidroginástica -- e mentalmente, freqüentando palestras, aulas, assistindo vídeos, até mesmo vendo os programas da "TV Parto", que é como o marido apelidou o Discovery Home & Health, que passa uma infinidade de programas sobre parto, chegada do bebê etc. (ainda por cima, tudo dublado, ou seja, um horror)

Isso tudo valeu muito a pena.

Sobre a parte física, nem preciso entrar em muito detalhe para convencer qualquer pessoa da validade da malhação. Engordei 12kg na gravidez (que não é óóótimo, mas é bastante bom), fui bem disposta até o final, e encarei o parto normal sem dramas nem complicações. E é verdade que a recuperação pós-parto é muito rápida -- e teria sido melhor ainda não fossem os pontos que levei por causa da episiotomia, que me incomodaram muito durante uns bons dez dias. Além disso, na consulta ao obstetra na última quarta, me pesei e já tinha perdido 9 dos 12 quilos. Estou me sentindo uma sílfide.

A parte "nerd", por assim dizer, também foi fundamental. Estranhamente, praticamente não li livros sobre gravidez e maternidade. Me emprestaram a Bíblia da Gravidez, que eu consultava às vezes, e foi só. Tampouco entrei em fóruns ou sites sobre o assunto, só usei a internet para pesquisar coisas pontuais. Mas as aulas teóricas que antecediam a parte física no curso de ioga para gestantes foram excelentes (divididas em módulos como "Amamentação", "Cuidados com o Bebê", "Cuidados com o Corpo", "Parto" etc.), assim como as palestras com obstetras, pediatras, enfermeiras especialistas em amamentação. Tudo muito instrutivo e útil para control-freaks como eu, que acreditam que informação é poder. Não fizemos os cursos que as maternidades oferecem, ensinando a dar banho, cuidar do coto do umbrigo etc., mas por pura falta de tempo. Acho que devem ser legais também.

De modos que não tivemos, até agora, graaaandes surpresas. Tanto no parto quanto nesses primeiros 17 dias, as coisas estão dentro do previsto. Bom, é claro que eu não esperava que Mathilde fosse gostar tanto de nos bombardear com possantes jatos de cocô bem na hora em que estamos trocando a fralda. Mas isso não é nada. Talvez o segredo tenha sido colocar as expectativas no quinto círculo do inferno, imaginar o caos absoluto, para então achar ótimo quando as coisas são apenas... cansativas.

Enfim, todos esses preparativos são válidos e importantes.

Mas ter filhos não nos isenta de uma grande, uma enorme surpresa, uma coisa que, mesmo esperada, muito falada e debatida, eu nunca pude conhecer antes.

O amor.

É impossível se preparar para esse amor tão avassalador, que brota dentro da gente de repente, e sai derrubando tudo que vê pela frente. Onde é que estava esse amor antes? Esse amor da ternura de olhar, da delicadeza de segurar, da alegria de abraçar e beijar. Como é que pode?

E ninguém me disse que seria assim. Ou melhor, disseram sim. Minha mãe me disse, muitas vezes. Mas até então, eu nunca tinha entendido.



Eu e ela, nos entendendo pelo olhar

9.1.08

Olha ela

Com horas de vida
Aos 4 dias de vida

A mentalização de vocês foi um sucesso. O post abaixo foi escrito dia 2, à noite. No dia 3, acordei sentindo contrações.

Como estou afogada de tanto amor e ainda sem muitas palavras, apelo aos números.

03/01/08, às 15h45.
3,205kg, 50cm.
Parto normal.

Tudo está indo tão bem até agora, que estou quase desconfiada.

Outras notícias em breve.


Ela tem as minhas mãos

2.1.08

Ano novo e tudo igual

Continuamos por aqui, sem novidades.
O réveillon, passei dormindo, bom que só.
Minha teoria é que Mathilde percebeu que está mais fresquinho dentro da barriga do que aqui fora. Amiga-irmã-que-pretende-engravidar-e-mora-no-Rio: muita atenção com a época do ano. Planeje-se. 39 semanas em janeiro não tem graça. (Mas pior mesmo deve ser quem tem filho em março, porque passa dezembro, janeiro e fevereiro barriguda. Assim falou Pollyanna.)
Por sorte eu posso ficar em casa direto, alternando entre os ventiladores e os ar-condicionados, ao lado do SuperMarido que faz tudo pra mim. E os amigos toda hora vêm visitar, já que quase não saio mais. Resultado está sendo um número inusitado de micro festinhas informais aqui em casa.
E aí também resolvemos ir ao cinema, coisa que pouco fizemos em 2007. E em uma semana vimos três filmes ótimos. A Vida dos Outros, A Culpa É do Fidel e Jogo de Cena. Muito bons, todos três, sendo que o primeiro é espetacular. Um filme que me emocionou muitíssimo. E que não apela hora nenhuma para a emoção, sabe? Para não perder. E o Jogo de Cena do Eduardo Coutinho acabei de ver agora, é incrível também, e para mim o mais impressionante foi ver como a dor e a delícia das mulheres, as grandes emoções de suas vidas, passam sempre pela maternidade, pelos filhos, por essa relação tão... tão. Ah, lágrimas, hormônios, uma confusão.
Bom, anyway. Mentalizem aí para que ela tome coragem e chegue ainda esta semana, sim? Tipo sábado, ou domingo, seria ótimo. Se não vou adotar a sugestão da Carrie, e passar a gritar "Pede pra sair!" todo dia de manhã.
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