28.6.23

O Brasil do qual me orgulho

 Nas últimas semanas...


Paulinho da Viola

Tributo a Elizeth Cardoso

Outro tributo (!) a Elizeth

Homenagem a Milton Nascimento


Poucas coisas me deixam tão felizes quanto a música popular brasileira.


15.6.23

Mosquitos

 

Eles lutaram com todas as armas de que dispunham.

Telas.
Repelentes.
Armadilhas elétricas.
Raquetes eletrificadas.
Odores repelentes.
Ventiladores.

Eles perderam. O sono. O ânimo. A paciência.

No fim de tudo, sobraram apenas os mosquitos.

10.6.23

A bolha hereditária


Descobri ontem, totalmente por acaso, que vai ter um show da Taylor Swift no Rio. Meus colegas de trabalho estavam empenhados na compra dos ingressos - aparentemente um feito dificílimo, tudo esgotado em 2 minutos etc. - para si próprios ou para seus filhos.


Eu não tinha ideia. O que, a princípio, ok. Mas: moro com 2 adolescentes.


Por um lado, acho fantástico, motivo de felicidade e até orgulho. Por outro, me preocupo um pouco.


A bolha parece que protege, mas na verdade não.

8.6.23

Dez anos

Junho de 2013.

7 x 1.

Impeachment.

Olimpíadas do Rio.

Refugiados.

Trump.

Brexit.

Bozo.

Pandemia.

Esperança.

Junho de 2023.



Será que consigo encarar um retorno?

8.6.13

Doppelgänger

Mais um sábado passado integralmente com as crianças, e é impressionante o quanto fico exaurida ao fim do dia. O dia hoje foi ótimo, fizemos um monte de coisas legais, eles brincaram com outras crianças, viram gente diferente, passearam etc. Mas mesmo assim o nível de apego é tão grande, é tanto mamãe, mamãe, mamãe, mamãe o dia inteiro, que só depois que eles dormem é que eu solto o ar que nem percebi que estava prendendo.

Não sei se é uma carência especial dos fins de semana, ou se tem a ver com o fato de eu trabalhar fora -- pode ser, ou talvez não tenha nada a ver. Atualmente, com nossos horários, e com a espantosa sorte que tenho de morar tão perto do trabalho, tenho feito as três principais refeições do dia na ilustre companhia deles, então não é exatamente como se nos víssemos muito pouco.

Ser assim tão absolutamente protagonista na vida afetiva de criaturas tão especiais quanto esses dois é, logicamente, uma delícia e um privilégio - e sei que é uma situação que está com os dias contados, muito em breve eles não vão mais querer fazer nada comigo, vão morrer de vergonha de coisas que não vou nem entender, etc. Então, eu sei que vou sentir saudade dessa época que eles me querem pra tudo, lembrarei esses dias com nostalgia, tenho certeza.

Mas ao mesmo tempo não posso deixar de registrar, para não esquecer, o quanto isso exige, emocional, física e psicologicamente. O quanto tenho de sacrificar, em tantas facetas da minha vida, para estar mais presente na vida deles.

Hoje minha filha me disse, meio aflita com minha incapacidade de atender a tantas demandas: Mamãe, eu queria que você fosse duas.

E me fez lembrar Fernando Pessoa...

Tenho pena e não respondo. 
Mas não tenho culpa enfim 
De que em mim não correspondo 
Ao outro que amaste em mim. 

Cada um é muita gente. 
Para mim sou quem me penso, 
Para outros --- cada um sente 
O que julga, e é um erro imenso. 

Ah, deixem-me sossegar. 
Não me sonhem nem me outrem. 
Se eu não me quero encontrar, 
Quererei que outros me encontrem?

4.6.13

Felicidade é...

Sair por aí na sua bicicleta...


1.6.13

A função random e o conceito de álbum

Estive pensando que os primeiros CD players que ofereceram a função "random", pela qual as músicas tocam em ordem aleatória, contribuíram para a mudança radical no paradigma da apreciação musical que se consolidou nos últimos vinte anos.

Essa teoria me veio à mente enquanto ouvia, pela milionésima vez, os discos dos Beatles que passei para MP3 e joguei dentro do celular - fico escutando nas idas e vindas do trabalho para casa, no caminho de/para o almoço, e em qualquer outro deslocamento*. Tenho em casa quase todos os CDs dos Beatles, mas só passei para o celular alguns dos meus favoritos: Abbey RoadRubber Soul, Revolver e Help!


Ouvindo esses álbuns, não há como não lamentar a perda da concepção do álbum como obra de arte per se. A relação entre as músicas, a ordenação, o tempo de intervalo entre uma faixa e a seguinte, tudo isso tem um significado e contribui muito para passar a mensagem do artista para o ouvinte.

Minha relação com os Beatles começou através de minha mãe, beatlemaníaca de primeira hora, que me emprestou suas fitas Basf com as gravações dos LPs. Como esses LPs não estavam nas melhores condições, nas fitas havia alguns pulos e chiados que eu até hoje busco inconscientemente quando escuto os álbuns. No meu aniversário de 12 anos, meus pais me deram um lindo livro para piano, "The Complete Beatles Songbook", com partituras para piano e melodia, uma raridade importada na época, que muito prezo e tenho até hoje, encapado com plástico.

Então escuto a sequência absurdamente arrasadora que é Help!-The Night Before-You've Got to Hide Your Love Way, e de como esse disco é uma espécie de transição entre os roquinhos tolos e inocentes porém gostosinhos (You're Gonna Lose That Girl) e uma mensagem mais relevante - musical e extra-musical (Yesterday), como o álbum faz um arco, por assim dizer, que você só percebe se ouvi-lo do início ao fim, na ordem. Ou Revolver, disco de radicaliza ainda mais essa transição do grupo ao incorporar tantas outras influências, cuja fantástica faixa de encerramento, Tomorrow Never Knows, de tão "mind-blowing" aparece no final de um episódio da quinta temporada de Mad Men, quando o personagem principal, Don Draper, percebe que já não está mais dominando o espírito do seu tempo, que os anos 60 são diferentes demais dos 50, e então sua jovem segunda esposa traz esse disco para casa, recém-lançado, e recomenda expressamente: ouça a última faixa - e é um dos melhores encerramentos de episódio ever, justamente porque é um dos melhores encerramentos de álbum ever. (Mas mesmo adorando Revolver, ainda não consigo compreender o que uma música tão boba quanto I'm Only Sleeping faz depois do choque de Eleanor Rigby, simplesmente não entendo e acho um anticlímax tremendo.) E ainda, em Abbey Road, e a maestria com que Golden Slumbers e Carry That Weight se fundem, e como isso se perde se as faixas forem tocadas fora da sequência.


Mesmo as famosas "mix tapes" tão populares nos anos 80 e 90, nas quais amigos gravavam e davam de presente entre si uma fita K7 com sua seleção preferida de faixas de vários álbuns, não deixavam de ser também um todo mais extenso, uma história com começo, meio e fim.

Como a unidade deixou de ser o álbum e passou a ser a faixa, o "single", todo um discurso musical mais extenso ficou fragmentado, corroendo nossa capacidade de ouvir e prestar atenção em algo que dure mais de três minutos. Aliás, minha impressão é que hoje em dia ninguém mais escuta música simplesmente por escutar. Escutamos música dirigindo, trabalhando, conversando com os amigos, andando na rua, fazendo ginástica, correndo maratonas, mas ninguém pára a diz: agora vou sentar ali e ouvir um disco. Acabou a apreciação musical, e mesmo num show, se não houver uma grande performance incluída no programa (efeitos visuais, gente voando em cima da plateia, 3-D e sei lá mais o quê), o pessoal não vê graça -- restando o último reduto, o concerto de música clássica, em que não há mais nada além da música em que se prestar atenção.


Em tempos de iPod Shuffle, cujo conceito fundamental é tocar as músicas em ordem aleatória, não quero ser uma espécie de Don Draper nostálgico. Mas não posso esquecer de mencionar o quanto era boa a sensação de comprar um disco novo, depois de muita expectativa, e colocar para tocar enquanto deitava no chão, olhando para o teto, esperando para usufruir dos sons que viriam dos alto-falantes. E isso era o bastante.

*Tenho ouvido também muitos audiolivros, mas este é assunto para outro post.

27.5.13

Deuses do constrangimento

Não sei o que é pior.
Ter um prefeito que sai no tapa com cidadãos.
Ou, conhecendo o cidadão em questão há muitos anos, achar que o prefeito deve ter tido ótimos motivos.
Meu Deus...

15.5.13

Que Beleza! (Natural)







E eis que depois da minha conclamação às mulheres para cortar os cabelos, eu mesma passei quase um ano sem cortar os meus. Contradições à parte, o que houve foi que o salão que eu frequentava fechou e a cabeleireira não migrou para nenhum outro, de modos que fiquei órfã capilar.


Mas na semana passada não deu mais para aguentar aquele cabelo temperamental, que só funcionava quando queria, e estava dando trabalho demais. Então resolvi arriscar e fui ao Beleza Natural, uma rede de salões voltada para cabelos crespos e cacheados, que existe há alguns anos e eu sempre tive curiosidade de conhecer, ainda mais depois que fiquei conhecendo a inspiradora história de empreendedorismo por trás da marca.


Estive num sábado na unidade Ipanema, e fiquei impressionada com o tamanho - pela fachada não se imagina o quanto é grande. Lá dentro, lotação máxima (há inclusive caravanas vindas de outros estados!), e mulheres em vários estágios do tratamento do cabelo espalhadas por salas e ambientes diversos. Vários aparelhos de TV reproduziam vídeos institucionais sobre o tratamento e corte dos cabelos cacheados, e para onde se olhasse havia informações sobre como cuidar dos seus cachos, e fotos de lindos cabelos crespos e cacheados -- mas todas as modelos com cara de brasileiras normais, bem entendido.



Fiquei deslumbrada como esse novo mundo. Até então, acho que nunca tinha percebido quão oprimida eu me sentia nos salões ditos normais. Não só pela onipresença das escovas e dos cabelos com reflexo e outros processos de loureamento, não só porque todo mundo quer alisar o seu cabelo sempre, mas também pela onipresença das velhas. Essa representação de alteridade radical me incomodava e eu nem sabia. Eu não tinha me dado conta até então, mas minha vida em salão de cabeleireiro foi sempre rodeada por essas senhoras. Sabe o tipo? Senhorinha que vai ao salão, sei lá, toda semana, cortar um pouco, pintar aqui e ali, fazer um penteado bacana para o almoço de sábado e passar laquê? Sempre assumi a presença dessas velhinhas como algo natural, mas de repente, no Beleza Natural, elas não estavam mais. As pessoas ali pareciam todas muito mais reais.


Além disso, fiquei maravilhada com as muitas funcionárias. Quase todas negras e todas, sem exceção, com seus cabelos soltos e lindamente bem cuidados - fossem curtos, médios ou longos. Um orgulho cacheado que deu o maior gosto de ver. Tem também uma lojinha que vende diversos produtos para cabelo da marca Beleza Natural. Eu comprei o creme para pentear infantil, porque meus fios são muito finos (dica da moça que pintou meu cabelo), e estou achando muito bom.

Longa vida às iniciativas empreendedoras, e aos cachos da mulher brasileira!

Todas as fotos foram tiradas do book de cortes do Beleza - com 30 opções.

1.5.13

Ninguém disse que seria fácil

Outro dia fui visitar minha prima P. e seu filho recém-nascido, então com 12 dias de vida. Gosto demais dessa prima, que é uns 5 ou 6 anos mais nova do que eu, e tem uma irmã mais velha e um irmão mais novo. Todo mundo sempre dizia que, por ser a filha do meio, ela fazia questão de chamar mais atenção. E tanto fez que, diferente da irmã (que é pilota de avião) e do irmão (que é biólogo), P. enveredou para uma carreira artística: é atriz e até pouco tempo estava em cartaz em teatros alternativos com um monólogo escrito, produzido e estrelado por ela -- muito bom, por sinal. E também diferente dos irmãos, que se casaram/juntaram com namorados de longa data, P. teve alguns relacionamentos mais estáveis, mas no ano passado engravidou de um cara que eu mesma só vim a conhecer no Natal -- ou seja, caso recente. Felizmente, um cara nota dez, daqueles de quem a gente gosta logo de cara, e acha que foi uma bela aquisição para a família, por assim dizer, proprietariamente.

Vinda a gravidez, P. e seu parceiro foram os mais alternativos: não queriam fazer ultra, não queriam saber o sexo, se mudaram para um apartamento muito charmoso mas com não mais de 30 metros quadrados, num lugar afastado de São Conrado, rodeados de muita natureza, canto de passarinhos etc. Fizeram um chá de fralda mas que não era para levar fralda, e sim contribuições em dinheiro, porque estavam convencidos a usar fralda de pano. E o parto seria em casa (no apartamento minúsculo), natural, humanizado, com doula e sem anestesia.

No meio da minha viagem a Londres, sonhei com o parto do filho de P., e escrevi para ela contando do sonho. Ela adorou, me respondeu feliz, dizendo que o bebê ainda não tinha nascido, mas que seria a qualquer momento. E de fato naquele mesmo dia em que me respondeu, o dia seguinte ao sonho, começaram as contrações. Fiquei sabendo depois que o trabalho de parto durou mais de 24 horas, e que, às páginas tantas, ela acabou sendo transferida para a maternidade, onde tomou anestesia e hormônios para acelerar a dilatação, e finalmente conseguiu parir a criança, de parto normal. Um bebezão de 3,9kg e 51cm, lindo e saudável.

O parto foi tão extenuante que P. acusou o golpe e ficou meio deprimida nos dias seguintes. Para completar, a criança chorava loucamente e queria mamar de hora em hora nos primeiros dias. P. não conseguia dormir nunca, o leite desceu em grande estilo, ela teve a "febre do leite", mastite, precisou ir para o hospital e tomar soro e antibióticos -- e o que é pior, morrendo de culpa por isso. Logo depois o casal desistiu de tentar dar conta de tudo isso em seu conjugado no meio do mato e se mudou para a casa da sogra de P., um confortável 3 quartos no Leblon, onde têm ajuda permanente, conforto, mais infraestrutura -- e fraldas descartáveis.

Quando fui visitá-la (domingo), as coisas estavam mais estabilizadas, mas ainda muito longe de tranquilas. P. leu tudo o que podia durante a gravidez, foi instruída por especialistas, se informou. Mas nada a preparou para todo o perrengue que está passando. As coisas não saíram bem como ela esperava, não foi um processo tão natural e intuitivo como diziam os livros e as doulas. A dor das contrações foi muito além do que ela poderia imaginar (ela me disse que teve vontade de esganar a doula quando ela lhe dizia para "se entregar para a dor") e as dificuldades da amamentação parecem insuperáveis.

Eu disse a ela que acho uma balela esse papo de que a maternidade vem naturalmente e que tudo é muito intuitivo e natural. O processo exige muito esforço, de todo mundo (mãe, pai, bebê). Sim, é certo que algumas coisas podem vir de forma intuitiva (como segurar o bebê, como interpretar choros), mas a maioria não. E certamente com variações de mulher para mulher. E mais: não conheço nenhuma mãe que não tenha pensado, em algum momento: não vou conseguir, não nasci para isso, não sou capaz. Quando falei isso, os olhos de P. marejaram, ela me agradeceu e perguntou por que ninguém nunca tinha dito isso a ela.

Ninguém disse que seria fácil, mas ninguém pode detalhar o grau de dificuldade com precisão. Os desafios são tantos e tão monumentais, principalmente nessas primeiras semanas de vida do seu primeiro filho, que podem parecer intransponíveis. E um grande desserviço que se presta é fazer crer que sozinha a mulher pode dar conta de tudo. Quanto tempo ainda vamos ficar nos enganando, querendo ser super-mulheres-maravilhas que não dependem de ninguém, não precisam de ninguém para resolver suas questões, que têm vergonha de pedir ajuda? Até quando, essa insanidade?