7.8.07
Mostra Bergman
Houve uma época em que eu quase pude me considerar cinéfila. "Quase" porque eu estava sempre cercada de pessoas que eram realmente cinéfilas, e na comparação faziam com que eu me pusesse no meu devido lugar. Hoje passo longe disso, muito longe. Procuro ver os filmes brasileiros, sempre um novo almodóvar ou woodyallen quando há, e é isso. Lamentável, mas é verdade.
Mas o tal tempo em que eu era uma quase cinéfila foi lá pelos idos de 1995, 1996, por aí, por total influência da faculdade de comunicação (aí incluídas tanto as aulas quanto as amizades). E uma das experiências mais marcantes desse período foi a Mostra Bergman, que passou uma quantidade imensa de filmes nos cinemas do grupo Estação, que ficavam perto da faculdade. Foi lá que eu vi "Persona", que me impressionou muitíssimo, "Sonata de Outono", "Gritos e Sussurros", "O Ovo da Serpente", "O Sétimo Selo", "Fanny e Alexander". Lembro até de me despencar para o MAM num fim de semana chuvoso para ver o primeiro filme dele, "Crise", que na época não achei assim nada de mais se comparado a esses outros. E foi nessa Mostra também que eu vi o filme que me deixou paralisada, e sobre o qual nunca vejo ninguém falando: "Vergonha". Esse foi, mais que todos, uma enorme porrada. O filme que me deixou muda o resto da noite, e bucólica o resto da semana. No fundo acho que o filme me fez mal, eu saí do cinema literalmente com náuseas, mas, mais que qualquer outro, me fez perceber o poder das imagens na película. Como disse muito bem o Milton Ribeiro "o cinema pode ser algo mais interessante do que tu pensas". Foi exatamente assim que me senti (sem essa segunda pessoa do singular, claro).
(Para os que não viram (eu não sei exatamente se recomendo, dado o abalo que me provocou -- tanto que nunca quis rever), "Vergonha" é sobre dois músicos que vivem no interior e o efeito da guerra na vida deles.)
São filmes como esse que passam essa coisa meio estranha de se sentir humano demais, de se identificar com uns personagens que falam sueco e vivem no meio de uma escandinávia rural num tempo indeterminado, vivendo coisas que eu nunca vi nem senti nem vivenciei, mas que mesmo assim me falam tão perto, tão na alma.
Arte, talvez?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Por melhor que seja um filme, se tem criancinha morrendo (e pela foto parece que tem) eu não vejo. Não dou conta, deprimo, me faz mal.
Arte, sim, e de primeira grandeza!
Abçs
Ana,
Acho que arte é isso. O que é capaz de mexer de maneira importante com nossos sentimentos. Se Vergonha representa pra você tudo o que foi escrito no post, certamente tem conteúdo artístico. Muitas vezes a arte nos incomoda, nos deixa sem fala, amuados, de estômago embrulhado. Você disse tudo: a boa arte fala com nossa alma.
Beijão
putz, amei morangos silvestres. tb no estacao, la pelos 80s
Como é bom não se sentir sozinha no mundo, também já tive a minha fase e foi quando trabalhei na 2001 Vídeo. Nossa que saudades, não do salário mas de poder alugar tantos filmes bons, clássicos, entre eles alguns Bergmans ... e nesse embalo a faculdade quase foi pro brejo. Mas veja bem, eu disse quase. =p
Quero muito assistir ao Vergonha, deve ser um daqueles filmes que a gente entra uma e sai outra. E eu gosto dessa sensação.
Ótimo post.
Postar um comentário