"Vida de estagiário", clássico de Allan Sieber
Nelson Rodrigues criou uma fantástica galeria de tipos arquetípicos geniais: o padre de passeata, o príncipe etíope de rancho, o idiota da objetividade e, entre as mulheres, a grã-fina de narinas de cadáver (que vai ao Fla-Flu e pergunta "Quem é a bola?") e a estagiária de calcanhar sujo, que a certa altura começa a povoar as redações dos jornais sempre fazendo perguntas sem o menor cabimento.
Pois eis que arranjei uma fusão entre essas duas: a estagiária grã-fina. (Até onde pude perceber, não tem nem narinas de cadáver nem calcanhar sujo.)
Conheço bem as lides do estágio. Já fui estagiária (no longínquo século 20) e já tive diversos estagiários. Desta vez, não pedi. O überchefe um dia me perguntou se eu poderia receber uma estagiária - filha de um amigo dele, estágio não-remunerado, tal e coisa. Aceitei. Veio a menina, tem 19 anos, fala inglês impecável, é bonita e razoavelmente interessada no trabalho.
Vi o currículo. Experiência profissional resume-se basicamente a ter trabalhado no credenciamento vip de um desses megashows, em 2008. Não é fantástico? Mas tem muito sobrenome a menina, mora num endereço top e estudou numa escola top top.
Hoje de manhã eu a vi chegando. De táxi. Que mundo é esse em que uma estagiária chega no trabalho de táxi?! E no fundo acho que fiquei aliviada por ela não vir de motorista.
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3 comentários:
Ha, essa tá treinando para ser funcionária pública, hein? Com todo respeito!
É algo assim que me incomoda também dar aulas apenas para meninos e meninas que nem sabem o que é faltar alguma coisa em casa. Eles não vão à faculdade quando o carro tem qualquer probleminha... O problema não é o dinheiro que eles têm, mas os valores que não têm.
Coitada da moça,dá uma chance...Obs:nunca fui estagiária,não desse tipo,e sou funcionária pública exemplar.
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