24.8.09

Antigos vícios

Começou na quinta-feira.
Noite fechada, escura, fria e molhada quando saí na Voluntários da Pátria para iniciar a caminhada de volta para casa. As poças formadas ao longo do dia inteiro de chuva me obrigavam a andar longe do meio-fio. O guarda-chuva aberto protegia da chuva fina e persistente.
Não sei bem o que me levou àquela esquina. Parada no sinal, do outro lado da rua, comecei a olhar para o vendedor. Talvez um acesso de nostalgia, uma vontade súbita de voltar a experimentar sensações há muito esquecidas e enterradas. Reviver parte da minha juventude -- quiçá infância!
Fazia muito tempo, de fato.
Ao longo dos anos fui me convencendo de que aquilo não prestava. Construí uma aversão psicológica, a ponto de não mais sentir qualquer vontade. Parecia-me algo imundo, repulsivo, até. Algo em nada condizente com meu status de profissional de sucesso, mãe de família, mulher bem resolvida. Ah, as enganosas auto-imagens que construímos.
E então assim, sem razão aparente, voltou a vontade. Atravessei a rua e me encaminhei decidida para lá. Envergonhada por minha desinformação, não tive alternativa senão pergintar: "Quanto é?". O vendedor respondeu, frio como a noite, "Tem de um e de dois reais". "Me vê um de um", respondi tentando aparentar normalidade. Escolhi a minha variedade preferida. Ele preparou e me entregou. Paguei, peguei e voltei as costas para ele, caminhando rapidamente na direção da São Clemente, procurando me afastar o mais rapidamente possível.
E pronto, o mal já estava feito.
Na sexta à noite, voltei. Hoje, segunda, também.
Mas amanhã é outro dia. E tentarei resistir ao churro com recheio de doce de leite da barraca do Dantas!
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3 comentários:

vera maria disse...

Isso está parecendo um conto erótico, pura transgressão gustativa...:)
beijo, ótimos churros,
clara

Anunciação disse...

Ah,churros!quanto tempo não sinto seu sabor em minha boca...

anna v. disse...

Pois é, ainda tem isso: é totalmente fálico!