Estou passando por uma daquelas crises bloguísticas. Do tipo em que acho que nada na minha vida pode interessar a quem quer que seja, então por que me dar ao trabalho de ficar escrevendo? Não que tudo esteja um tédio, muito pelo contrário, tudo na mais perfeita ordem, com as pitadas de desordem que fazem tudo ficar mais legal. Mathilde cada vez mais fofa, me fazendo ir à praia todo fim de semana em que o tempo permite (e, céus, como sou grata a ela por esse retorno às areias cariocas!), no trabalho tudo bem, planos para viajar no final do ano, e a obra do prédio caminhando para seu desfecho, para finalizar um imenso transtorno dos últimos meses.
Estive na Bienal do Livro no primeiro e segundo dias (5ª e 6ª), o que para mim é ótimo, porque é uma forma de rever os amigos do mercado. Social, para usar o termo preciso. Mas confesso que me intriga constatar como tem tanta gente vai à Bienal a passeio. (Para ir num fim de semana, cobro um cachê cujo valor tem 5 dígitos.) Para começar, é longe, muito longe. Paga-se para estacionar (R$ 12 para veículos e motos! Absurdo!). Paga-se para entrar (R$ 12 a inteira). E lá dentro, os livros custam o mesmo preço de sempre. Quando muito, umas queimas de estoque de títulos encalhados, ou então uns descontinhos mequetrefes de 10 a 15%. Mas sabem por quê? Por causa dos estandes das livrarias. Acho muito errado. Se a editora quiser colocar todos seus livros com 40% de desconto (o que seria perfeitamente possível, em não se contando com a intermediação e margem de lucro do livreiro), a Saraiva vai lá reclamar. A Submarino também. Porque elas estão lá, com seus estandes, praticando seus preços normais. E nenhuma editora vai querer brigar com seus principais clientes. Então fica essa situação maluca, o mesmo preço da livraria. É claaaro que na Bienal só deveriam ser expositores os editores, ora. Enfim, enfim. Sei que passei na L&PM e comprei alguns dos novos livros do Simenon que eles lançaram. Vocês sabem o quanto sou fã. Há alguns meses uma amiga que trabalha na simpática editora gaúcha me mandou os dois volumes inéditos de contos do comissário Maigret. Fiquei eufórica e me joguei de cara na leitura. Amarga decepção! Não gostei dos contos. Porque são muito curtos, não há tempo de se aprofundar na história, nem nos personagens, então as soluções são, como direi, "mandrakes" demais, um desfecho qualquer para uma historieta de dez páginas. Não bom, não bom. (E não obstante, li todo o volume 1 quase de uma só vez...) Mas agora comprei mais 3 novelas, que é o formato em que o Simenon é imbatível, e já estou atracada com o primeiro, Maigret e o ladrão preguiçoso. E falando em romance policial, tenho lido tantos para meu trabalho! A oferta é infinita, e digo isso no sentido literal. O mais dificil desse meu trabalho é ler livros ótimos e declinar da oferta para publicá-los no Brasil, por achar que não encontrariam mais de 4 ou 5 mil leitores dispostos a comprar. (Como este ou este, por exemplo.) E, também lá no silviço, estou alimentando ainda um site (um blog, na verdade) de um grande lançamento do final do ano. Um livro que não estou nem a fim de ler, mas sobre o qual tenho de ficar pesquisando na internet todo dia para criar posts interessantes. Bueno, cada um com seus problemas.
Para finalizar, dicas gastronômicas e culturais.
Para a criança vintage e de bom gosto musical, recomendo uma vista ao site do Instituto Moreira Sales> Acervos e pesquisa> Música> Pesquisa simples. Digite "Cantigas de roda" para ouvir 2 lados de um antigo disquinho (ótima qualidade de som) com um pot-pourri das clássicas cantigas, em arranjos e interpretações do tempo em que as pessoas davam importância a coisas como arranjos e interpretações. Muito bom mesmo. Além disso, digite também "Chapeuzinho vermelho" (em 4 partes) para ouvir a inolvidável gravação dos disquinhos coloridos. Mathilde é fascinada. Todo dia pede para ouvir, várias vezes. E fico muito impressionada de ela se concentrar tanto na história sem qualquer estímulo visual, apenas com a narração. Uma criança vintage, pois não. Fato é que ela já sabe tudo de cor, e quando o Lobo vai comer a vovozinha, ela se antecipa e diz "Iiiih!". Sem contar que a música da Chapeuzinho ("Pela estrada afora/ eu vou bem sozinha") ela já canta inteira, com letra. Temos gravação.
And last but not least, vizinhos e vizinhas, comemorai: descobri a melhor pizza delivery de Botafogo, logo ali, numa vila escondida da São Clemente. Vale a pena.
E não é que saiu um post todo?
.
6 comentários:
Pô, ana, estou aqui no intervalo entre sair para levar mãe a médico e uma olhada na rede. Estava recolocando um blog que eu tinha tirado da minha lista e pensando em você, juro. Pensava que do povo (alguns poucos povos, na verdade) na faixa dos 30 que eu visito, vc é a mais interessante, de longe... vc tem uma atividade interessante, tem uma filha fofíssima (eu tenho sobrinhos de todas as idades e nem sou tão apegada assim a crianças..) que eu considero sobrinha também e eu fico feliz quando leio um post seu, qdo escreve sobre fatos do cotidiano como hoje. Estava pensando que quem tem vida interessante e sabe escrever sempre terá um espaço legal de frequentar, e é o seu caso, minha querida.
Adorei saber sua opinião, tb acho bienal um tédio, mesmo não tendo jamais ido a uma, mas não gosto de multidão e não preciso ir tão longe para comprar livros, além de que não tieto autor, nem tenho mais idade pra isso, e acho todo circo meio insuportável hoje...
Por fim, ana, esse seu ofício é bom demais, não quer uma secretária não?::))
beijo,
clara
É muito boa essa pizza! Também descobri outro dia, fiquei freguesa. Já pedi, inclusive, pra eles ampliarem a oferta de refrigerante, porque só coca-cola num dá, né?
Eu tb ando meio sem assunto, acho que tem umas fases assim, que a gente se concentra em viver e não consegue falar sobre.
Beijos
Uia,e eu que tava com inveja pensando que era diferente daqui.Feira do livro aqui me dá um tédio;se é pra comprar do mesmo preço não precisava se destabocar de casa;no fim fica até mais caro.Beijo.
Esta crise, Anna, para mim se chama crise da blogagem pós-parto. A vida vai voltando... mas nosso foco mudou tanto que a gene realmente se pergunta se estas coisas que fazíamos antes interessam a alguém realmente.
Olá, Anna
cheguei ao seu blog por indicação e estou aqui há horas, encantada com a sua conversa. Dos fatos mais prosaicos, graça e beleza. E a estranha sensação de que todos os fatos miúdos do seu dia (tirante alguns, glamourosos demais...rs)caberiam perfeitamente nos nossos.
Seria adorável ouvi-la em entrevista pelo Skype. Estou concluindo (tipo contagem regressiva) minha tese de doutorado em sociologia aqui pela UFC. Meu tema é: Ciberintimidade: a escrita de si na era digital. E, mesmo que vc não possa/queira conceder-me a honra de entrevistá-la, vou, seguramente, incluir seu blogue em meu trabalho, porque é o fino da bossa: haja bom gosto!
Se vc topoar, meu email de contato é:
faygabede@hotmail.com
E, pseudônimos à parte, meu nome é Fayga Bedê
E tenho dito.
Grande abraço.
Oi, Fayga, obrigada pelo seu comentário tão gentil. Estou com problemas no meu computador de casa, por isso postando tão pouco. Assim, vai ficar difícil conversar com você via Skype. Principalmente este mês de janeiro, em que estou especialmente enrolada. Mas boa sorte e muito sucesso na sua tese. Vou adorar se você voltar outras vezes por aqui!
Postar um comentário