Hoje faz 40 anos que Jacob do Bandolim morreu.
Se não fosse pelo email de HBC, a data passaria em branco para mim.
Os que acompanham esse blogue hão de saber que fui, há algum tempo, atingida pelo vírus do choro, a música brasileira instrumental por excelência. Já faz anos que não cometo a gafe de chamar de "chorinho" e que batalho pela maior divulgação desse maravilhoso gênero musical, em especial do choro contemporâneo, tão bom quanto desconhecido do grande público (assunto que merece um post próprio, em breve).
Mas antes de chegar no choro de hoje, é claro, ouvi -- e ouço -- muito os grandes mestres, Jacob em destaque entre eles.
Jacob foi uma figura meio sui generis na roda dos chorões. Nasceu na Lapa, no seio da boemia carioca, mas de boêmio não parecia ter nada -- ao menos não na acepção mais desregrada da boemia, porque sabemos que ele era o rei do sarau. Começou a tocar bem cedo, logo passou a figurar na rádio com conjuntos regionais, teve sucesso, tinha bastante trabalho. Mas mesmo assim, resolveu não depender exclusivamente da música para prover o sustento da família: prestou concurso público e tornou-se escrevente juramentado da Justiça. Mesmo dando expediente na repartição, trabalhou muito pela música. Gravou, compôs, ensaiou, formou conjuntos, e o que é mais incrível: era um pesquisador nato. Dono de um arquivo fabuloso que juntou ao longo de toda a vida, era minucioso na sua organização, e graças a ele temos acesso a um sem-número de partituras, informações e fitas de rolo com gravações de choros dele e de outros, gravadas com o intuito de preservar. Dava saraus famosos em sua casa em Jacarepaguá.
Gravou muitos discos importantes e históricos. Tocava Ernesto Nazareth numa época em que isso não era muito comum (dedicou-lhe um disco inteiro). Homenageava chorões das gerações anteriores, como Anacleto de Medeiros e Joaquim Callado, de quem gravou, respectivamente, Três Estrelinhas e A Flor Amorosa, entre outras. Tocava sambas, acompanhava cantores, e compunha espetacularmente. Suas interpretações são, até hoje, "a" referência para qualquer bandolinista, mas não só para eles. Qualquer instrumentista de choro tem no Jacob um norte para a interpretação para um vasto repertório. Não exagerava, o Jacob -- tampouco fazia por menos. Dizia tudo.
Era um músico incrível.
As composições são um caso à parte. Sou fã devotada das músicas de Jacob. De seus choros ditos "clássicos", como Noites Cariocas ou A ginga do Mané (homenagem ao Garrincha), de suas valsas, como Pérolas ou Feia (de infeliz batismo), e mais ainda nos sambas-choro, gênero em que acho que ninguém o superou. Basta ouvir Bole-Bole, meu favorito, mas também Receita de samba, Diabinho maluco ou Treme-treme para poder dizer, sem medo: gênio.
O pessoal do Instituto Jacob do Bandolim faz um trabalho lindo de preservação de seu acervo, de sua memória e de sua música. Eles têm uma campanha para conseguir imagens em vídeo do Jacob. Por incrível que pareça, apesar de ter sido um artista "midiático" e muito conhecido em sua época, só se tem, até hoje, uma única imagem em movimento do Jacob, de poucos segundos: uma entrevista em que ele fala a um repórter - mas o áudio se perdeu. O IJB colocou no ar (reparem que ele parece estar saindo de cinema mostrando Os Sete Samurais!):
Outra gravação pra lá de clássica, lançada em disco (e CD), mas que não tem registro em vídeo, é o show do seu conjunto, o Época de Ouro, com Elizeth Cardoso e Zimbo Trio, no Teatro João Caetano, no Rio, em 1968. Desse disco, acho que a faixa mais conhecida, com justiça, é Barracão. Como no YouTube de tudo se acha, encontrei essa montagem que alguém fez, com imagens de favela (!). Esqueça as imagens, fique navegando, mas deixe tocar e preste atenção ao solo quando a Divina Elizeth fala "Dá-lhe, Jacob!":
Mas a verdade é que não se pode falar de Jacob e sua música sem mencionar Vibrações, de 1967, considerado por muitos o maior disco de choro de todos os tempos. É uma alegria ouvir de tempos em tempos esse disco. Como não existem videos do Jacob, e eu não sei postar audios, então quem quiser ouvir tem que correr atrás. Eu gosto muito. Nesse meio tempo, mais uns youtubes selecionados:
Diabinho Maluco
A Ginga do Mané
Noites Cariocas
Mimosa
Outra gravação pra lá de clássica, lançada em disco (e CD), mas que não tem registro em vídeo, é o show do seu conjunto, o Época de Ouro, com Elizeth Cardoso e Zimbo Trio, no Teatro João Caetano, no Rio, em 1968. Desse disco, acho que a faixa mais conhecida, com justiça, é Barracão. Como no YouTube de tudo se acha, encontrei essa montagem que alguém fez, com imagens de favela (!). Esqueça as imagens, fique navegando, mas deixe tocar e preste atenção ao solo quando a Divina Elizeth fala "Dá-lhe, Jacob!":
Mas a verdade é que não se pode falar de Jacob e sua música sem mencionar Vibrações, de 1967, considerado por muitos o maior disco de choro de todos os tempos. É uma alegria ouvir de tempos em tempos esse disco. Como não existem videos do Jacob, e eu não sei postar audios, então quem quiser ouvir tem que correr atrás. Eu gosto muito. Nesse meio tempo, mais uns youtubes selecionados:
Diabinho Maluco
A Ginga do Mané
Noites Cariocas
Mimosa
2 comentários:
Anna, Jacob e o choro fazem parte da minha vida de jovem, ia muito a botecos ouvir os bambas da ocasião, assim como havia muitas rodas de samba de raiz nos lugares mais improváveis...:)
beijo,
clara
obrigado pelos links, Anna, coisa boa isso...
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