18.2.10

O poder dos blogs (ou: Terror e pânico - "Eles" estão por toda parte)

Quarta-feira de Cinzas. Marido o dia todo fora trabalhando, e eu passando o dia com Mathilde, sem ter nenhum programa em mente ou agendado. Na verdade o dia começou mal. Cunhada-vizinha chamou para a piscina do seu prédio, e eu ia levando a pequena quando começou uma megapirraça no meio da rua. Acho que é o último grito em termos de manha: sentar no chão, na calçada, e não querer levantar mais. Ficar brincando com folhas caídas e demais lixos espalhados pela rua. E ainda ficar olhando para a cara da sua mãe e ficar rindo, aquele risinho sonso. Ela tem feito isso direto, e eu não estou sabendo muito bem como lidar. “Terrible twos”, adolescência da infância, não importa o nome: esta é a minha vida atualmente. Mas enfim, o fato é que me emputeci e voltamos para casa do meio do caminho: não tem piscina, não tem praia, não tem nada, ouviu? E ela, como sempre, “tá bom”. E sorrindo. Desmoralização.

O resto do dia foi melhor. Ficamos brincando em casa, lendo livrinhos, fazendo teatrinho de fantoches, ouvindo música – CD dos Saltimbancos (aquele velho, do Chico Buarque), nova paixão. Almoçamos e depois fomos ao supermercado. Ela no carrinho, dormiu antes mesmo de chegarmos à esquina. Compras feitas, voltamos pra casa, e ela ferrada no sono, coloquei na cama, liguei o ventilador. Então resolvi fazer uma comida para o jantar. Peguei uma receita de macarrão com abobrinha e fui à luta. Vale dizer que eu nunca cozinho. Não gosto de cozinhar porque não sei, ou não sei cozinhar porque não gosto. Não importa. Não gosto nem sei. Mas às vezes a necessidade se impõe, e temos que rever conceitos. Então fui fazer esse macarrão que, vá lá, não era tão difícil. E além do mais, a abobrinha estava ficando velha na geladeira.

Fiz o macarrão (parafuso) e estava às voltas com o molho, que era muita informação para minha cabeça limitada: alho, cebola e azeite, depois tomates e 1 xícara de caldo de legumes (a esta altura já tinha me arrependido da idéia de cozinhar), depois tomates e a abobrinha, e deixa cozinhar por dez minutos.

Nesses dez minutos, tocou o telefone. O telefone de casa, não o celular. Uma voz de mulher pediu para falar comigo, usando meu nome completo. Mau sinal (= telemarketing alert). No entanto, era uma voz grave e pausada, o que, percebi na hora, destoa do comum das atendentes.

-- Meu nome é M., e eu sou responsável pela agência Bra*des*co da Praia de Botafogo [a.k.a. minha agência, devidamente detonada por mim no post abaixo].
-- Hmmm hmmm.
-- Nós ficamos sabendo da sua insatisfação com o atendimento prestado na agência. Ao que parece, a senhora escreveu a respeito no seu blog.
-- !!!!
-- E eu gostaria, em primeiro lugar, de pedir desculpas em nome do Bra*des*co, e em segundo lugar, pedir que a senhora...
-- Espera aí, M., pára tudo. Como vocês chegaram ao meu nome? Meu blog não é assinado, como puderam saber que era eu?
-- Hmmm, boa pergunta. Não tenho certeza, porque a informação já me foi passada assim, mas parece que a senhora citou a agência, e disse que havia um B.O. da 10ª DP, e como esse B.O. foi entregue na agência, imagino que tenha sido assim.
-- !!!!!!!!!!
-- De qualquer forma, gostaria de saber o que aconteceu, quais os motivos da sua insatisfação, para tentarmos melhorar, caso a senhora nos dê mais uma chance.

Vi que podia conversar com M. Era uma pessoa razoável. Abri meu coração com ela. Lá pelas tantas, não sei como cheguei a esta frase, mas disse a ela que estava “procurando meu lugar dentro do sistema bancário” (acho que foi um momento catártico). Ela pareceu entender. Disse que eu tenho o perfil para ser cliente Pri*me, que é o Bra*des*co dos ricos. Que um gerente especial – que segundo ela eu vou adorar – vai me procurar, e vem até o meu escritório para cuidar da minha transferência para o Pri*me.

(Parênteses para dizer que, graças a esse telefone, o molhou queimou no fogo, grudou no fundo da panela, deu para salvar parcialmente, mas foi uma quase desgraça.)

Eu realmente não sei se vou virar cliente Pri*me, ou Van Gogh, ou Perso*nalitté, ou qualquer outro nome ridículo em outra língua que os bancos inventam para tentar nos convencer de que somos especiais porque ganhamos mais de 2 salários mínimos. Na verdade isso é o de menos aqui para essa história.

O que me deixou atônita foi o fato de eles terem lido o post aqui, publicado na segunda-feira de carnaval às 17h37, e rastreado o meu nome e telefone e me ligado às 16h da quarta-feira de cinzas. Porque, bem, vocês aí que me lêem sabem que este blog é muito legal, bacana e simpático, mas convenhamos que não é nenhum sucesso de popularidade. Quando tenho cem visitas num dia é uma coisa excepcional. Então, como será que funciona? Tem uma pessoa (uma equipe?) que fica buscando referências ao banco na internet? Faz uma busca específica em blogues? (Estou escrevendo dessa forma ridícula, com asteriscos, tipo spam que escreve V1agra e R0lex para passar pelos filtros antispam, para tentar fugir de outras buscas. Mas tenho cá pra mim que é inútil. “Eles” são mais poderosos.) Você está aí, amigo do Bra*des*co? Fazendo follow-up? Deixe um comentário! Caso contrário, vou ficar realmente paranóica, achando que tem alguém atrás do sofá da minha sala ouvindo minhas conversas. Daqui a pouco vou começar a me referir simplesmente a “Eles” e a falar em código (“Eles sabem tudo”, “Eles podem intervir”!).

E o pior de tudo é que só posso compartilhar essa história aqui! Porque como ninguém sabe da existência do blogue (quer dizer, eu acho, pois não tenho mais certeza de nada), nem posso comentar esse caso surreal com as pessoas.

Estou confusa. Não sei se acho o caso todo muito maneiro ou terrivelmente assustador.

17 comentários:

Ana Paula disse...

Bom, capaz de daqui a pouco "Eles" me ligarem também, visto que nos comentários eu disse que o banco era muito ruim, e ainda cantei a pedra que pros milionários o tratamento devia ser melhor. Não estou te chamando de milionária nem nada (apesar de que isso em si mesmo não é insulto, vamos combinar), mas como vc disse, pra essa gente, ganhou mais de dois salários mínimos já é Pri*me (hahahha, adorei o jeito ridículo de escrever, parece que a gente tá no meio de uma conspiração).
Boa sorte, se vc resolver dar uma chance. Esses serviços de ouvidoria dos bancos costumam ser melhorzinhos que o atendimento de agência mesmo.
bjs

Sandro Brincher disse...

Eu fiz uma reclamação contra a C*&*A no www*reclameaqui*com*br e eles me ligaram também, bem rapidinho. Certamente eles usam ferramentas para verificar citações das empresas na web. Eu mesmo uso o Google Alerts para "me investigar"...

Abraço.

Ju disse...

Nossa! há muito tempo já acho que o mundo é um ovo de codorna, agora além de pequeno é todo rastreado.
Quero agradecer a você a citação que fêz do "Trocando Livros". Me cadastrei, botei dez livros na lista e já ganhei 7 créditos em menos de um mês. Estou adorando ter essa pilha de livros pra ler. Obrigada!!

Cláudio Luiz disse...

\o/ \o/ \o/
Adorei saber que seu blog resulta. Da próxima vez que tiver problema - no meu caso uni*ban*co, que tb é uma m... - peço para vc fazer um post. eheheheh Por via das dúvidas anotei a dica do Sandro. (obrigado, Sandro).
Aproveite a chance e exija seus direitos.
Além do supermercado teve uma passagem pelo praia shopping, não? Tem olhos e ouvidos para além do sofá. eheheheh Eu achei que era vc, mas como já estava descendo a escada rolante, com sacos, resolvi não voltar.

Anônimo disse...

terrivelmente assustador! e eu, que falo mal de todas as categorias acadêmicas com quem convivo? bjs. S.

osvjor disse...

achei legal. se é dessa forma meio torta que se vai atender bem um cliente, então que seja. acho mesmo que, se eles citaram a sua reclamação no blog, talvez seja porque outras queixas em outros blogs também chegaram ao conhecimento do banco. não sei, é um chute. isto aqui é espaço público, então há várias possibilidades. eu poderia ser o gerente da sua agência, por exemplo. meu blog é bem menos lido que o seu e aconteceu algo interessante também. uma vez citei num post a Bruna Caram, cantora linda e talentosa, e, por preguiça de pesquisar, escrevi umas bobajadas especulativas lá, concluindo que não havia perigo dela ficar chateada, não só porque eu não estava falando mal dela, mas porque o risco era quase zero dela ler meu blog. meses depois, descobri que a própria Bruna Caram havia me deixado um comment, esclarecendo minhas dúvidas e ainda tirando onda com minha descrença de que meu post, num espaço público, não seria lido por ela.

Anunciação disse...

Mas ELES sabem de tudo e há muito tempo!hahaha.Menina,que bom que vc é uma pessoa que,até pra reclamar é correta.E olha,não é elogio barato,não,mas já houve gente que recebeu emeio de advogado solicitando que o blogueiro tirasse o post do ar ou responderia na justiça.Benvindo ao mundo dos privilegiados,rs,essa parte final é brincadeira.

Tatiana disse...

Acho assustador. Coisa de ficção científica virando verdade.

anna v. disse...

Ana Paula, estou até disposta a dar uma chance ao Pri*me, mas olha, passou o dia inteiro hoje e o gerente-que-eu-vou-adorar não entrou em contato...

Sandro, sim, eles devem usar esses instrumentos, mas imagina a infinidade de referências ao Bra*des*co que não devem pipocar na internet todo dia. Por isso é que fiquei tão espantada. Mas de fato eles devem fazer um recorte, e ver que quem reclama na internet deve fazer parte de um certo grupo socioeconômico, ou algo do gênero.

Ju, que legal que você também está usando o Trocando Livros! É muito legal, né? Comigo também tem funcionado direto.

Claudio Luiz, você faz parte d'"Eles"! Socorro! :-) Sim, passamos no shopping no final da tarde (depois do episódio da ligação do banco) para tomar um sorvete (sucesso) e procurar um sapato para Mathilde (fracasso). Pena que você não pôde parar para falar conosco!

S., você vê, não são só as paredes que têm ouvidos.

Osvjor, tem toda razão, aqui é mesmo um espaço público. Mas a sensação é como se tivesse comentado o caso com amigos na mesa de um bar, e no dia seguinte tivesse recebido a ligação.

Anunciação, é mesmo, eu não tinha pensado nisso! Já pensou se me processam? É mesmo uma possibilidade real, já cansou de acontecer por aí.

Tatiana, já virou verdade mesmo!

Luis G. disse...

Anna,
Por um momento achei que os asteriscos indicavam a tônica das palavras, do modo que os funcionários as pronunciam. Afinal, a prosódia desse povo traz um verdadeiro bailado de tônicas (vide apresentadores de telejornal, sem exceção).
Abraços.

Cam Seslaf disse...

Que MEDO.

vera maria disse...

Meio assustador, e muito bom saber disso tudo.
um abraço,
clara

Anônimo disse...

Anna,

provavelmente alguma gerente dessa agência lê o seu blog !! só pode ser !! ela (ou ele) reconheceu a história e passou para a ouvidoria - afinal de contas, o Rio de Janeiro é uma província !!

bjsssss

Vivi

la vache qui rit disse...

eu acho muito, muito, muito assustador

Monix disse...

Caramba, isso é completamente surreal.

Liliane disse...

Anna,
Estou chocada!!Eu pessoalmente nunca tive experiência boa com este banco, mas tomara que tudo dê certo se voce quiser continuar nele... E quanto a Mathilde haja paciência com essas crianças e suas exigências... Voce imagina que no meu caso o sucesso seria o sapato e nunca o sorvete, podia chamar a minha de Imelda...

Ângela F. disse...

sabe, querida, do que mais espanta, fora o lance de alguém estar lendo o seu blog, e associando isso a sua cc, a sua agencia etc etc etc? é q oferecem um serviço diferenciado - leia-se para ricos - para aliviar a barra de quem te tratou mal. ou seja, né? o atendimento continuará a mesma coisa no b*radesco, mas a senhora utilizará uma cocheira mais "selecionada". pfffff