30.1.10

Mim gosta ganhar dinheiro

Uma das minhas funções no trabalho é cuidar do pagamento de royalties dos livros vendidos. Uma operação financeira, que deveria, em princípio, ficar a cargo desse departamento. Mas como quase todos os títulos publicados são estrangeiros, a barreira da língua fala alto e por isso cabe a mim solicitar os pagamentos (remessas de dinheiro para o exterior) e depois avisar aos agentes/editores/autores que na data X fizemos um pagamento Y referente aos títulos Z. Muito bem, até aí nada. Quase sempre, quando mando essas mensagens avisando dos pagamentos, a maioria dos seres humanos responde qualquer coisa, agradecendo apenas ou tirando alguma dúvida, fazendo comentários etc. Cortesia simples. Mas esta semana eu recebi uma resposta inédita, de uma editora americana para a qual enviamos um pagamento:
"Thank you so much for your message. We love money! All best, Fulana de Tal".
Eu que achei que já tinha visto de tudo nesse mundo, fui pega de surpresa. Fiquei sem reação. Não consegui responder nada a um comentário deste. A única coisa que pensei foi escrever algo como "Pense no Haiti", o que obviamente não fiz.
E vocês, como responderiam?

28.1.10

Meras formalidades

-- XYZ Cartões, Natalia Glaucia falando, em que posso ajudar?
-- É sobre a anuidade, vi que vocês já cobraram a primeira de 4 parcelas de R$72,50, e está muito caro, não quero pagar as outras.
-- Pois não, senhora. A taxa de manutenção serve para cobrir os serviços oferecidos pela XYZ Cartões.
-- Certo, mas é muito caro e eu nem utilizo esses serviços.
-- Um momento.
Tra la la la
-- Obrigada por aguardar, senhora. Conversei com meus superiores e consegui cancelar a terceira e a quarta parcelas da sua taxa de manutenção.
-- Não. Quero que cancele a segunda também. Essa primeira já paga está mais que suficiente.
-- Um momento.
Tra la la la
-- Obrigada por aguardar, senhora. Então, consegui cancelar também a segunda parcela. A senhora fica portanto isenta da segunda, terceira e quarta parcelas, ficando a cobrar somente esta primeira.

Antigamente eu até me esforçava mais na argumentação. Ano que vem vou tentar me lembrar e me antecipar, para não cair nem a primeira cobrança.

27.1.10

Casamento é uma caixinha de surpresas


Quando você conhece uma pessoa desde 1992, namora com ela desde 1994, mora junto desde 2005 e tem uma filha em comum desde 2008, dá para supor que já sabe tudo sobre essa pessoa, conhece de trás pra frente etc. Certo? Claro que não. Há sempre uma surpresa pairando. Diálogos assim.

-- Napolitano?!
-- Hein?
-- Você comprou sorvete napolitano?
-- Comprei.
-- Não acredito.
-- Por quê?
-- É horrível. Sorvete de festa de criança.
-- ??
-- Podendo comprar qualquer sorvete, você escolheu napolitano?!
-- Mas eu gosto, ué!
-- Como gosta? Napolitano é horrível, fica sempre cavucado o chocolate e ninguém come o morango.
-- Eu gosto do morango.
-- Não é possível!
-- O sorvete é meu, o siso arrancado é meu, eu compro o sorvete que quiser.
-- Humpf. Vou ao mercado comprar um sorvete de gente grande.

25.1.10

Livros 2009

Segunda-feira em casa de molho, convalescendo. Boa oportunidade de escrever aquele post que eu queria. Sobre alguns dos livros que li em 2009.

O filho eterno, Cristovão Tezza
Não podia deixar de ler o livro mais premiado da literatura brasileira nos dois últimos anos. Tinha uma simpatia pelo Tezza porque há anos li Juliano Pavollini, romance a respeito do qual não me lembro nada, exceto que gostei de ter lido. Fui então ao Filho eterno, que é um livro de memórias do Tezza -- um ótimo livro de memórias, aliás -- sobre seu relacionamento com o filho que tem síndrome de Down e hoje tem 20 e tantos anos. (Os angloparlantes têm bem definido esse gênero literário, a que chamam "memoir" e é muito popular, mas aqui não temos isso tão claramente. Não é bem uma autobiografia, pois que menos "sério", rigoroso e abrangente. É só isso mesmo: um livro de memórias.) Mas aí é que a coisa me incomoda: o livro ganhou todos os prêmios na categoria Romance. Mas ora, não é um romance. Não é ficção. (Estou sendo muito estreita nesses critérios? Acho que não, mas talvez sim. Paciência.) Tudo ali diz respeito à vida do autor (descrito como "o escritor"), seus livros têm os títulos reais, e o próprio "filho eterno" é descrito com seu nome real (Felipe). Então enfim, isso me intrigou, o livro ter ganho tudo quanto é prêmio de romance ser sê-lo. Mas fora isso, é um relato de uma franqueza espantosa, diria até comovente, da juventude de um escritor brasileiro, de suas arrogâncias, decepções e esperanças, de sua inabilidade em lidar com o lado menos intelectual da vida, de sua forma esquerda de abordar as emoções e as expectativas alheias. É bem cru, bem honesto, e aposto que tocou fundo na alma dos jurados que lhe concederam tantos prêmios literários. Pena que o último quarto do livro perde em força, quando chega muito próximo do momento presente o assunto meio que acaba, porque claro, todos estão tocando suas vidas -- o autor, o filho eterno e todos os demais. Então a coisa termina assim meio no ar, e é um anticlímax.

Leite derramado, Chico Buarque
Consegui este pelo TrocandoLivros. Estava na minha lista de livros a ler, por causa de Budapeste, de que gostei tanto. Continuo gostando mais de Budapeste, apesar de ter lido Leite derramado sem a menor dificuldade. Não achei um grande livro, mas tem uma forma bem interessante e instigante de contar uma única histórica por meio da memória episódica de um velho de mais de 100 anos. A grande pergunta é: teria lido da mesma forma se não soubesse que o autor é Chico Buarque. Acho que não. E provavelmente teria gostado menos. É totalmente impossível fazer essa desvinculação, e desconfio muito de quem diz conseguir.



Pontal do Pilar, Paulo Cesar Pinheiro
Sou grande fã de PC Pinheiro, responsável por tanta coisa boa na nossa música, e que não tem o reconhecimento que merece. Aliás, é um problema dos nossos letristas em geral. As pessoas choram com as músicas do Milton Nascimento sem saber que os versos são do Fernando Brant. Vibram com o Ivan Lins sem nunca ter ouvido falar do Vitor Martins. Acho que só Aldir Blanc conseguiu um pouco mais de visibilidade, um pouco por ser uma figura tão chamativa, em parte por escrever crônicas em jornal e aparecer o tempo todo quando precisam de personagens vascaínos ou gente para ilustrar a vida tijucana no bairro da Muda. Mas voltemos ao PCP. Que além de letrista é poeta, com não sei quantos livros de poemas publicados e outros tantos na gaveta. Aí ele vem e me lança o primeiro romance, e por essa editora nova portuguesa, a Leya, recém-instalada no Brasil. O livro é uma beleza de produto, de capa dura, papel cuchê e lindas ilustrações. Mas não posso negar que o conteúdo me decepcionou. Pontal do Pilar me pareceu a introdução para um romance, e não um romance acabado. Apresenta uma porção de personagens que moram no tal Pontal, uma rede intricada de relacionamentos diversos, com muitos personagens deliciosos (e é impossível fugir à referência de Jorge Amado para esses ambientes e essas gentes praieiras -- mas sem pastiche), mas quando a gente sente que a ação propriamente dita está pronta para começar, quando finalmente todos os personagens são apresentados, pronto, acaba o livro. Simples assim. Tremendamente frustrante.

Os Pilares da Terra, Ken Follett
O livro que mais me empolgou em 2009. Ficção comercial em sua melhor forma. Nunca tinha lido nada do Follett (nem tinha o menor interesse), até meu chefe me falar tanto desses Pilares, que comecei a procurar no TrocandoLivros (foi lançado em 1989). E para meu deleite supremo, encontrei lá uma edição pocket americana, de modo que pude ler o texto original em inglês. (Porque é aquela coisa, tradução é como salsicha: quanto mais você sabe como é feito, menos você tem vontade de consumir.) São quase mil páginas de um incrível romance histórico, passado na Inglaterra do século XII, girando em torno da construção de uma catedral. (A edição brasileira é em 2 volumes, e comprar os dois custa incríveis R$ 124, de modo que recomendo muito uma visita à Amazon ou à EstanteVirtual). Os personagens são fascinantes, e formam claramente representações dos três estados: o clero, a nobreza, os camponeses. É um novelão, daqueles cheios de traição, intriga, vilões incrivelmente maus (mas não só isso: vários personagens são bem complexos e ambíguos) e ainda por cima uma aula de idade média. Difícil de largar. E depois fui descobrindo outros entusiastas. Aliás, todo mundo que conheço e que já leu é super fã. Tem uma continuação, Mundo sem fim (que se passa no séc XIV), mas ainda não consegui me apossar de um.

A Civil Action, Jonathan Harr
Este livro estava há anos na minha estante, e não sei nem de onde ele apareceu. Um belo dia, sem mais nem por quê, peguei para ler. É um livraço de não-ficção, e conta a história de uma batalha jurídica -- assunto que em geral nem de longe me interessa. Mas aí residem o segredo e o fascínio da arte da escrita. Um livro bem escrito pode ser sobre qualquer coisa, que fica bom. Este é sobre um advogado americano que investe tudo que tem num caso sobre poluição de leitos aquíferos por indústrias químicas, que gerou uma contaminação na água e acabou matando várias crianças que moravam num mesmo bairro. O advogado não faz por idealismo, faz pela grana e pela mídia, e depois vira uma questão de honra vencer os advogados filhos-da-puta das grandes corporações poluentes. Vira uma imensa rede de intrigas, provas e testemunhos que aparecem e somem misteriosamente, laudos técnicos para todos os lados, ofertas de acordo etc. E no final das contas o cara perde a causa. (Perde em termos: consegue um acordo muito menor do que esperado, que não dá para cobrir o que ele havia investido -- ele perde carro, casa, etc.) Parece que tem um filme baseado no livro, que foi bastante premiado nos EUA, dos anos 90, com o John Travolta no papel do advogado, mas eu não vi. Em tempo: este livro nunca saiu no Brasil, mas o autor tem um outro lançado aqui, outra não-ficção que dizem ser muito boa também: O Quadro Perdido.

Presente do mar, Anne Morrow Lindbergh
Livro lindo, incrível, fantástico, extraordinário, que toda mulher deveria ler. É, na verdade, uma espécie de livro de autoajuda, como isso não pega bem, pode-se dizer que é um ensaio sobre a condição feminina (bem grosso modo, isso aí). O livro é de 1955, o que torna tudo ainda mais incrível, pela atualidade das palavras da autora, pela qualidade das suas reflexões sobre o que é ser mulher, mãe, profissional, numa época em que isso ainda não era um tema tão batido. Anne Lindbergh era esposa de Charles Lindbergh, que ficou famoso por ser o primeiro aviador a cruzar o Atlântico (Paris-NY, em 1927). Ela também era aviadora. Eles tiveram 5 filhos, sendo que o primeiro foi sequestrado e morto quando ainda era bebê. O caso gerou uma comoção nacional, porque o Lindbergh era muito famoso, e o assédio era tanto que a família se mudou para a Inglaterra. Enfim, é um ponto de tragédia na vida dela, mas o livro não tem nada a ver com isso. Tem a ver, sim, com a necessidade de ter um tempo só para si, no meio do turbilhão da vida moderna (o que Virginia Woolf chamou muito bem de "A Room of One's Own", título de seu livro lindo (No Brasil, Um teto todo seu)), com o papel da mulher no vértice de uma engrenagem que nunca pode parar de girar, e outras imagens bonitas -- imagens marinhas, de conchas, pois é o Presente do Mar. Recomendadíssimo.

Conquistando o inimigo, John Carlin
Deve ficar bem badalado a partir do mês que vem, quando estreia o filme inspirado no livro, do Clint Eastwood, com Morgan Freeman e Matt Damon como protagonistas. Mais uma não-ficção nota dez. Desta vez, o pretexto é a Copa do Mundo de Rúgbi de 1995, na África do Sul -- primeiro ano de Mandela presidente. Sim, este é o pretexto, porque o verdadeiro assunto é o fantástico talento político de Mandela, sua capacidade de conquistar corações e mentes de todo o mundo. Não vi o filme, mas já estou preparando o lencinho. O livro é muito emocionante.



A louca de Maigret, Simenon
Maigret e o ladrão preguiçoso, Simenon
O amigo de infância de Maigret, Simenon
Já falei aqui tantas vezes do meu amor por George Simenon, mas não me calarei jamais. Considero uma espécie de missão divulgar a obra deste autor, para que suas vendas não decepcionem e a L&PM não deixe de lançar seus livrinhos nas lindas edições pocket que se pode meter na bolsa e ler em qualquer canto. Esses 3 comprei na Bienal, em setembro (já comprei mais 3 depois disso, que ainda não li), e o que mais gostei foi o último que li: A louca de Maigret. É um dos livros mais tardios (escrito na década de 70), o que se faz perceber pela imensa intimidade que o autor já tem com seu personagem. A louca de Maigret é uma velhinha que passa uns dias stalkeando o comissário, e ele nada de atendê-la, porque tem coisas mais importantes a fazer. Quando finalmente ela consegue abordá-lo na rua, diz que está se sentindo ameaçada e tem medo de morrer -- seu único indício é que os objetos em sua casa parecem ser mexidos quando ela sai, e ela mora sozinha. Maigret não dá muita atenção, e no dia seguinte, pimba, a velhinha aparece morta. Não é sem remorso que ele se põe a investigar o caso, mas o mais fascinante é que durante o livro todo não aparece sequer uma pista decente. Nada dá em nada, nenhuma linha de investigação parece ter futuro. Esse é o gênio de Simenon, ficar 100 páginas contando um caso que leva de nada a lugar nenhum. Mas, claro, no final aparece sim, um culpado. Um não, vários, haha.

O símbolo perdido, Dan Brown
Está longe de ser minha predileção, mas em geral procuro ler os mega-sellers, na medida do possível. Ossos do ofício. Ah, bem, que mais se pode dizer? É meio grande, conspirações maçônicas não me interessam muito, mas de fato, lê-se sem esforço. Vejo mérito, sim, nos livros de Dan Brown, não acho que seja ofensivo como tanta gente diz. É um thriller -- como tantos outros. Um thriller competente, mas que não me faz morrer de amores, não. E ainda por cima sempre me vem à mente a imagem do Tom Hanks, o que não ajuda exatamente.



Órfãos do Eldorado, Milton Hatoum
Por mim, parei com o Milton Hatoum por aqui. Não pretendo mais comprar seus livros (na verdade, este também não comprei, foi mais um que recebi via TrocandoLivros -- aliás, que site maravilhoso!). Explico: há alguns anos, li no jornal uma resenha sobre Dois irmãos. Gostei da resenha, fui à livraria e comprei o livro -- que é absolutamente maravilhoso. Desde então fiz tudo para divulgar o livro, ou seja, dei de presente para várias pessoas, emprestei para outras tantas. Foram tantos empréstimos sem volta que certa ocasião fui à Flip, o Milton Hatoum estava lá, e eu pedi para autografar um novo exemplar, para que daquele eu nunca pudesse me desfazer. Então Dois irmãos é um grande livro, um enorme livro. Fui atrás dos outros livros do autor, e na época só havia um: Relato de um certo Oriente. Achei chato, nem terminei a leitura. Tudo bem. Depois saiu outro, Cinzas do Norte. Comprei, li e achei mais ou menos. Nada de mais. Por fim, saiu este Órfãos do Eldorado, que me aborreceu muito. Então 3x1, mesmo que o 1 seja um grande 1, pra mim é um veredicto.

Leaving the world, Douglas Kennedy
Novo romance de DK, um autor que estranhamente nunca foi publicado por aqui. Gostei muito deste, sobre uma professora de inglês que se desconecta do mundo depois de uma tragédia, e tenta inventar uma vida nova, sem relação com a vida antiga. É um tema curioso e atraente para quase todo mundo, na verdade. E o livro tem pegada. Eu me emocionei (lencinho! lencinho!). É uma daquelas ficções comerciais mesmo, sem muitas pretensões literárias (forma, linguagem, estilo etc.).

Sobrevivi

2 dentes a menos, devo até ter perdido alguns gramas, o que não seria má ideia. Há que se reconhecer que o dentista é um craque. Liquidou a fatura em meia hora, e nem senti quase dor. Tá certo que me custou uma grana, mas perto dos relatos que ouvi por aí, valeu cada real. E ainda saímos do consultório debaixo do tremendo dilúvio que caiu na sexta-feira. O ruim mesmo é o day after. Os days afters. Estou no terceiro dia sem comer sólidos, e quase sem falar. Comprei litros de sorvete, que é bom para aliviar, mas só porque posso e devo comer, estou com vontade zero. Sexta e sábado fiquei na base no bloquinho com caneta para me comunicar. Lembrei de um filme ruim desses, com o Brad Pitt ridículo de cabelos super compridos fazendo papel de filho do Anthony Hopkins, patriarca fazendeiro que sofre um derrame, não consegue mais falar, e aí anda com um mini-quadro-negro pendurado no pescoço, onde ele escreve umas palavras com giz. Ok, eu estou um pouco melhor do que isso, mas enfim, lembrei. Mathilde passou o final de semana zanzando por aí, na casa da bisa, depois na casa da vó, e voltou pra casa ontem à noite toda fofa, dizendo Mamãe tá dodói e fazendo carinho. E eu passei o final de semana todo em casa, com saco de gelo encostado nas bochechas, livros, filmes e o sorvete que quase não tomei. Na sexta passei na locadora e aluguei 4 filmes. O atendente disse que teria que atualizar meu cadastro porque eu não alugava nada desde janeiro de 2008. Pois é, eu disse, em janeiro de 2008 nasceu minha filha. Ele não entendeu bem, só disse "Ah!", e não se estendeu no assunto -- nem eu queria. Mas enfim. A parte boa é que como nesses dois últimos anos praticamente não fui ao cinema nem assisti nada em casa, tinha um monte de filme que eu queria ver, e nem estavam mais na parte de Super Lançamentos, nem mesmo Lançamentos. Estavam lá atrás, em Catálogo, que ainda por cima é mais baratinho. E estou lendo muito também, é claro. No fim de semana terminei o segundo volume da trilogia Millenium, do Stieg Larsson. Gostei bem mais do vol. 1 (Os homens que não amavam as mulheres, título péssimo), mas o 2 (A menina que brincava com fogo) não é ruim, só não é tão bom quanto o 1. Engatei no thriller-mode e agora estou lendo A Farsa, que é bom, mas no fundo não gosto tanto desses thrillers sobre ogivas nucleares e terroristas iranianos. Gosto muito mais dos psicopatas e assassinos movidos por motivos vis, sem esses ideais políticos todos.
Então tá. Mais um dia quietinha.
.

22.1.10

Semana do horror odontológico

Segunda fui à dentista fazer limpeza. Quase morro de tanto tártaro (e toda vez é assim; e a doutora ainda diz, Nossa, está muito melhor!).
Hoje vou (tentar) extrair 2 sisos. Orem por mim. A partir das 18h. Espero viver para contar como foi.
(E por favor, poupem-me das piadinhas do tipo siso-a-essa-altura?!, ok? Grata.)

21.1.10

A arte quase perdida da gentil correspondência


Quando recebi, na loja de sucos da esquina, o suco de laranja com acerola, com açúcar, no copo de vidro, depois de ter pedido um suco de laranja com cenoura, sem açúcar, pra viagem, me lembrei de meu chefe. O überchefe (= dono da editora).

Tenho minhas admirações pelo überchefe, e uma delas é que ele domina a arte da correspondência. Fico boba de ver como ele consegue mandar e-mails dando notícias em tese más (desistimos de publicar este livro que tínhamos contratado, ou não vamos mais manter este título em catálogo, ou não vamos publicar este livro que você enviou para nossa análise) e mesmo assim falar de um jeito que as pessoas respondem felizes, misteriosamente. Tem um quê de galanteador, tem um quê de dar a impressão que a pessoa é tão importante que ele fica de fato arrasado de dar uma notícia como aquela. E tudo isso sem embromação: são mensagens curtas, mas com alta concentração de gentileza por linha.

E aí que um dia estávamos conversando sobre isso, mensagens por e-mail, e ele explicou que só escreve parágrafos curtos, de frases curtas, e com um espaço duplo entre os parágrafos. Porque, segundo ele, não dá para contar com a capacidade das pessoas de absorver informações. Coisa que ele aprendeu ainda jovem, quando frequentava o Gordon*.

Na fila do Gordon, ele sempre pedia: um milkshake pequeno de chocolate. Imediatamente o/a atendente virava para cozinha e gritava: Morango! E foi assim, com a repetição sistemática desse fenômeno, que ele conclui que a capacidade média do ser humano era de processar no máximo 2 informações: 1. milkshake; 2. pequeno. A terceira (chocolate) se perdia invariavelmente.

Tenho tentado colocar em prática, em meu dia a dia profissional. E, ora, não é que funciona? Funciona a concisão, sim. Mas acima de tudo, funciona a coisa da gentileza. Sei lá, acho que as pessoas andam tão preocupadas em ser duronas e super profissionais, que quando você manda um pequeno elogio, ou mesmo algo um pouco mais caloroso, "thank you so much for your amazing patience on this matter" (para assuntos encrencados que se arrastam), "we appreciate the opportunity granted" (na hora de dizer que não), ou um simplérrimo "have a lovely weekend" (para as sextas-feiras), tudo isso tem um efeito muito maior do que seria razoável supor.

*As crianças não conhecem, mas o Gordon era uma rede de lanchonetes do Rio de Janeiro, que existiu até meados da década de 80, por aí. Concorria principalmente com o Bob's. Que eu me lembre, tinha lojas Gordon em Copacabana e uma no final do Leblon, onde hoje se encontra um recém-falecido McDonald's. A marca do Gordon era um canguru cor de laranja, e nessa loja do Leblon havia um enorme canguru de brinquedo, daqueles de ficha, em que a criança montava e ele balançava para frente e para trás durante alguns minutos. Minha avó morava quase em frente, e eu amava aquele canguruzão.

16.1.10

Sim, o mundo dos blogs

Ter um blogue anônimo tem dessas coisas. Quando encontro pessoalmente outras pessoas que conheci via blogue, é como se estivesse numa espécie de universo paralelo, sem as demais referências da minha vida cotidiana. Tipo, as pessoas me chamam de Anna. E me perguntam: "E Mathilde?". Nhé.
Mas é sempre bom. E hoje foi especial. A lôra lôca convocou, e fomos todos conhecer a feminista. Que é, vocês sabem, uma espécie de celebridade. Porque não é qualquer um que consegue escrever com tanta verve sobre os assuntos mais áridos (ou menos áridos, pra ela tanto faz). Verve, estilo e convicção. Coisa para poucos. Não tentem fazer isso em casa, crianças (melhor: tentem, sim). E estavam lá as sócias (sim, as duas!), e uma maravilhosa dupla arquitetônica que só hoje tive o prazer de conhecer. E a Cris, cujo blog no momento me escapa...
E entre muitos chopps, sardinhas e alheiras (!), falamos de tudo, porque a verdade é que nos conhecemos há tanto tempo, e de um modo tão particular. No fundo sempre rola a surpresa de saber que as pessoas estão lendo o que escrevemos -- mesmo que o formato blogue esteja superado, mesmo que você não escreva quase nunca, mesmo que ninguém comente. É o mundo dos blogs, como gosta dizer aqui o marido. E nesse mundo a gente bebe, ri muito, conversa e discute com paixão, mesmo aquele rosto sendo uma inteira novidade -- a voz (no sentido lato) é uma velha conhecida. E nesse mundo a gente volta pra casa com vontade de escrever, mesmo já sendo uma da manhã, com sono e muita coisa por fazer. Blogs, melhor não tê-los... Mas se não os temos, como sabê-lo?

11.1.10

2010, enfim


Mathilde fez dois anos no domingo passado, dia 3, e o que houve foi um bolo improvisado, com minha mãe, meus sogros, um dos cunhados, e os padrinhos dela, com o filhinho deles -- além de mim e marido, claro. Bolo e sorvete comprados na padaria da esquina, e não tínhamos vela com número 2, então improvisamos mesmo com uma vela de número 3 de um aniversário meu (não lembro se ano passado ou retrasado). Enfim, o planejamento foi zero, e o sucesso foi dez, todos curtiram e se divertiram muito, em especial ela, é claro, que afinal é quem interessa.

Amanhã completo um ano de emprego. A lua-de-mel continua. Nunca na história desta pessoa foi tão bacana passar 8 horas num mesmo lugar de segunda a sexta. E com vista para a Baía de Guanabara!

Estou pensando seriamente em procurar um novo apartamento para morar. Ainda que adore este onde moramos há 5 anos, o prédio caindo aos pedaços está se provando um custo muito alto. Além de não termos porteiro nem elevador, não tem ninguém tomando conta do prédio, nenhum morador tem tempo/dinheiro/disposição, e o resultado é que tudo fica abandonado. A obra da fachada se arrasta há uns 7 meses e não vejo perspectivas de melhora. 7 meses de poeirada, janelas imundas, entulho na garagem e caos instalado. Pra completar, houve mais um massacre nas amendoeiras da rua, e a árvore que era nosso escudo se foi. Com isso, acabou nossa privacidade, e a temperatura deve ter subido alguns graus em casa. Mas, céus, o que é a bolha imobiliária carioca? Com essa história de Copa do Mundo e Olimpíadas, já começou uma hipervalorização surreal. Nos classificados, um 3 quartos em Botafogo não sai por menos de 450 mil. Com uma metragem mais generosa, num prédio mais bacana, estamos falando em 750-800 mil. Hein?!

Falando em classificados, também queremos vender o carro. Um Corsa Maxxi 1.8 Flex 2005, 45 mil km rodados. Propostas na caixa de comentários. :-)

Mathilde começou o balé. Fooooooofa.

Espera aí que eu vou ali morrer de calor e já volto.