26.11.08

A porca miséria

Dez meses e 3 semanas, e me orgulho de dizer que ainda estamos usando as fraldas do chá-de-fraldas. A maníaca aqui faz uma contagem: já passamos das 1.500 fraldas - o que não me faz nem um pouco orgulhosa, tenho culpas ambientais, mas vamos deixá-las de lado.
O fato é que estou no processo de trocar alguns pacotes de fralda P e M que sobraram para tamanho G, onde estamos no momento. Sei lá por quê, ganhamos menos G do que os demais tamanhos, e de umas marcas piorezinhas.
Até agora não tive problemas em trocar as fraldas. Levo só 1 ou 2 pacotes por vez, peço com jeitinho e os gerentes das farmácias trocam numa boa. Procuro sempre comprar mais alguma coisa, pagar uma diferença, de modo a dar um mínimo lucro a quem, por pura liberalidade, me quebrou um galho. Costumo ir nas farmácias aqui de Botafogo, mais bacaninhas.
Aí hoje andei pelo Catete com 2 pacotes para trocar. Ali na rua do Catete tem um monte de farmácias, tudo meio xumbrega (ou, à moda PC, "de viés mais popular"). Foi uma dificuldade. Consegui depois de várias tentativas. Concluí que:
- Quanto pior o estabelecimento, menos camaradas são as pessoas. Pobre sofre.
- Se for uma gerente mulher, esqueça. Não se consegue. Só funciona quando é homem.

Dá pra se pensar um bocado nessas questões de microfísica de poder e relações de gênero. Tivesse eu a verve de uma Mary W, postaria aqui logo um texto a respeito. Mas como não tenho, e só sei de abobrinhas, aqui vai mais uma: sabiam que Bertha Pappenheim, a verdadeira identidade de Anna O. (aquela que me emprestou a alcunha), foi uma feminista e traduziu Defesa dos direitos das mulheres, de Mary W(ollstonecraft)?

25.11.08

Cesar Cielo 2028

Fomos à pediatra hoje. Mathilde está ótima, voltou a engordar, tudo azul. Mas, como começou a andar ridiculamente cedo, aos 9 meses, hoje em dia, aos 10 e meio, quando corre maratonas por aí, já está pisando meio torto. Há que se atentar para os sapatos e sandálias. Mas o mais legal foi que a médica prescreveu: natação. Nossa, adorei muito. Porque já queria colocá-la numa aulinha dessas, mas me censurava um pouco, achando que era meio frescura e bobagem minha. Agora tenho um super álibi, hehe. "Recomendação médica". Já fui olhar dois lugares aqui perto, hoje mesmo. Depois de amanhã vamos fazer uma aula experimental. Oba. Porque, vocês sabem, a mãe tem que fazer a aula junto. Ha. Tchibum.

24.11.08

Más companhias


Já mencionei aqui o casal de amigos que está à espera do messias. Messias está estourando por aí, faltam poucas semanas. Então. Mãe de messias tem um blog, onde escreve sobre aquelas angústias e alegrias gravídicas que conhecemos tão bem. Aí ela escreveu um post sobre dirigir grávida, como ela não queria mais dirigir, porque pega muito trânsito, e outro dia ficou presa num megaengarrafamento, e sentiu uma contração, etc. etc. Eu acho mesmo que ela não deveria mais dirigir pra ir pro trabalho, que é muito longe da casa dela, muitas horas dirigindo todo dia, a pessoa já entrando no último mês da gestação pode não ser mesmo a melhor idéia. Varia de mulher pra mulher e cada uma se impõe seu limite. Tudo certo.
Mas eis que. Chegam os comentários. De várias mães. E para meu espanto completo, todas dizem mais ou menos a mesma coisa: "você não sabe de nada: muito pior será depois que o messias nascer e você tiver que dirigir sozinha com ele na cadeirinha. Porque o Rio de Janeiro é uma cidade violenta e podem roubar o seu carro e você não ter tempo de tirar o seu neném da cadeira."
Bom. Eu li o primeiro comentário desse tipo e pensei: nossa, que louca, pessoa mais paranóica, cruz credo. Li o segundo. O terceiro. O quarto. Todas diziam isso. E aí o grau de barbaridade variava: "meu filho tem um ano e eu nunca saí de carro sozinha com ele", "saio sozinha com ele quando absolutamente necessário, mas morro de medo", e por aí vai.
Marido, ao lado, só ria enquanto eu esbravejava em frente ao monitor. Porque francamente. Se é pra pensar assim, melhor não sair nunca, não é? Ou ainda: melhor nem ter filho se tiver que morar no Rio de Janeiro, essa cidade onde a qualquer momento podem roubar o seu filho dentro do carro! Tá certo que a gente vive na cultura do medo, mas isso é patético.
Mas não foi só.
O blog da mãe de messias é um blog coletivo de mães. E uma delas fez um post sobre como havia feito um fundo de previdência privada para seu filho, onde todo mês depositava um dinheirinho. Até aí tudo bem. Mas aí ela continuava, dizendo que aquele dinheiro era para ele usar para sua formação, fazer um MBA ou uma especialização, porque ela queria que o filho fosse "um grande homem". Só faltou mesmo citar a inesquecível Susanita, com seus devaneios maternais: "E aí as pessoas na rua vão olhar para mim e dizer: 'Lá vai a mãe do doutor Fulano...'". Eu não faço fundo de previdência privada nem seguro de vida pra Mathilde. Mas se fizesse, seria para ela gastar o dinheiro todo como bem entendesse.
Enfim, isso tudo me remeteu para essa questão tão importante do ambiente em que a gente coloca os filhos, e as crianças com quem eles convivem. Como já disse antes, ano que vem a mocinha vai para creche logo que completar um ano. Ainda não escolhemos qual será, mas entre as possibilidades há uma creche pública, municipal. Que, se for mesmo boa como parece, será o meu sonho dourado da diversidade sociocultural. Porque eu tenho muito mais medo da convivência com os filhos dessas mães psycho do que da possibilidade de haver um ladrão de bebês à espreita na próxima esquina.
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21.11.08

Dicas utilíssimas para o seu dia-a-dia

Ó só: quando traduzir um texto do inglês para o português, releia. E quando reler, corte todos os ele/ela/dele/dela/seus que puder.
Sabe por quê?
Porque em inglês não tem aquela história de desinência-número-pessoal, é tudo aquela po-bre-za de I went, you went, he/she/it went, they went, I put, you put, he put, they put, e isso mesmo, put-a-merda.
Daí que eles precisam dizer quem é que went, quem é que put, o tempo todo, se foi ele, se foi ela, se foi você, se fui eu. Então não fica ruim em inglês repetir 88 pronomes por parágrafos. But. Em português fica. Muito ruim. Nossa língua cisma de ter essas belas desinências, que tornam desnecessárias as repetições do pronome. Assim sendo, amigo, podendo cortar um "ele", corte.

Outra: em inglês também não fica ruim repetir os adérbios de modo terminados em "ly". Em português fica. Beeem ruim. Um monte de "mente" no parágrafo. Então, prezado, vire-se com "de forma [adjetivo]" e "de maneira [adjetivo]".

Então, como este post está muito específico e inútil, seguem umas palavras inglesas que não conhecia e incorporei recentemente ao meu vocabulário.

Betroth – contratar casamento, ficar noivo

Convey – transmitir

Covetous – cobiçoso, ganancioso, avarento, sovina

Dwell on – alongar-se, estender-se, insistir, frisar

Extant – sobrevivente, existente, subsistente

Lurch – guinada, desvio súbito

Painstaking – cuidadoso

Procure – obter, conseguir, arranjar, adquirir, granjear

Purvey – fornecer, abastecer

Rabble – turba, ralé, multidão

Time-serving – oportunismo, contemporização

Unremitting – incessante, ininterrupto, infatigável, incansável, constante

Whet – aguçar, estimular, despertar, excitar

Tenho certeza de que essas informações são fundamentais para um bom fim de semana!
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20.11.08

Drops diversos

Mathilde é uma gênia. Fomos à livraria (vamos sempre, em dias de chuva, quando não há opções de lazer) e ela foi direto em cima do livro do Bioy Casares, o mesmo que está na minha cabeceira, porque estou lendo. Se eu não tivesse visto, não teria acreditado. Gê-nia!

É triste, muito triste, que a pessoa tenha tantas coisas pra fazer e tão pouco tempo pra fazer essas tantas coisas, e mesmo assim passe hooooras vendo e experimentando todos os novos "temas" agora disponíveis no GMail. Shoooot me.

A guerra das pomadas dos anos 1930: Minâncora vs Hipoglós. No sempre ótimo blog do Simas. Imperdível.

(Another day, another post.)

19.11.08

Frigindo ovos

Devaneando sobre expressões idiomáticas enquanto espero, no metrô ou no ônibus:

- Parado feito um dois de paus
Quem disse que dois de paus não saem do lugar? Dois de copas andam?

- Frescão
Outro dia entrei num, parei para prestar atenção na palavra e morri de rir. Pegar um frescão, hahaha.
(A propósito: tem esse nome no Brasil todo ou só no Rio?)

- No frigir dos ovos
Por que diabos "no frigir dos ovos" significa "no fim das contas"? Os ovos ficarem prontos é assim, tipo, o final da história? E principalmente, por que não "no fritar do ovos"?? Alguém come ovos frígidos?!

(Vocês estão vendo. Eu estou tentando. Postar todo dia. Porque a pessoa precisa de uma rotina. Alguma rotina. Qualquer uma.)
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18.11.08

O passado numa saída de escola

Outro dia passei em frente ao colégio onde estudei dos 14 aos 17 anos (aquilo que na época se chamava de segundo grau) bem na hora da saída dos alunos. Vi os grupos de adolescentes partindo em todas as direções, caminhando para casa. As meninas com as mochilas penduradas num ombro só, os cabelos presos numa espécie de nó precário feito com o próprio cabelo, conversando animadamente, virando de lado, rodopiando pela calçada.
Foi tão claro. Eu estava ali. Porque me lembrei com precisão daquelas voltas para casa, das conversas sobre quaisquer assuntos, das urgências e das bobagens, dos planos, tantos planos. Não sei que espécie de peça é essa que a memória prega, de trazer lembranças com tanta nitidez.
Tentei lembrar como via, naquela época, alguém como eu hoje - 32 anos, uma filha no colo. Na verdade não consegui lembrar. Decerto porque era algo tão remoto que só poderia me despertar sentimentos como curiosidade ou, vá lá, certa ternura.
Léguas de distância entre a menina de mochila pendurada e a moça com a filha no colo. E no entanto, uma proximidade tão grande na direção oposta, a moça com a filha no colo tão lembrada da menina de mochila pendurada. Que desproporção. E um espanto atônito, tentando entender como foi que isso aconteceu.
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17.11.08

Minha jangada vai sair pro mar


Peguei hoje um temporal na rua. Eu voltando pra casa, saí do metrô direto para o dilúvio. Nem sei como consegui sair do metrô, porque as pessoas ficavam na saída da estação, bem em frente à escada rolante, olhando para fora, para a chuva, como se nunca tivessem visto um fenômeno semelhante. Cariocas são assim, ficam sempre atônitos olhando para a chuva, como se olhar fosse fazer parar a tempestade.
Saltei na estação Botafogo. Não sei se o amigo leitor conhece o venerável bairro carioca de Botafogo, mas se não conhece, posso adiantar que é a freguesia que mais rapidamente alaga de que se tem notícia. Talvez a Ásia das monções possa lhe fazer frente neste quesito - apenas "talvez". Em dez minutos de chuva já não se distingue mais a calçada do asfalto, tudo é uma imensa bacia hidrográfica com lixo boiando. Os carros passam criando marolas e tratando de molhar as poucas partes ainda não encharcadas dos pedestres.
Comprei um guarda-chuva no camelô, mas só por uma questão pro-forma, de modo a manter um mínimo de dignidade e não ficar completamente ensopada.
E lembrei, claro, desta música ótima, que conheci com a gravação da Monica Salmaso no disco "Iaiá".

Cidade lagoa
(Sebastião Fonseca e Cícero Nunes)

Essa cidade que ainda é maravilhosa
Tão cantada em verso e prosa
Desde o tempo da vovó

Tem um problema vitalício e renitente
Qualquer chuva causa enchente
Não precisa ser toró

Basta que chova mais ou menos meia hora
É batata, não demora
Enche tudo por aí

Toda cidade é uma enorme cachoeira
Que da praça da Bandeira
Vou de lancha a Catumbi

Que maravilha nossa linda Guanabara
Tudo enguiça, tudo pára
Todo trânsito engarrafa

Quem tiver pressa seja velho ou seja moço
Entre n’água até o pescoço
E peça a Deus pra ser girafa

Por isso agora já comprei minha canoa
Pra remar nessa lagoa
Cada vez que a chuva cai

E se uma boa me pedir uma carona
Com prazer eu levo a dona
Na canoa do papai


9.11.08

Fazendo história



Ainda mais ou menos no mesmo assunto do post anterior.
É engraçado observar como todo mundo hoje em dia tem a mania de estar presenciando uma época histórica, um fato histórico, qualquer coisa muito digna de nota.
A atual dita "crise financeira", o que quer que ela seja - porque eu não tenho a menor idéia e não entendo picas do assunto -, vem sendo revestida de um caráter de solenidade, comparada à depressão pós 1929 e eventos similares. A vitória de Obama. A eleição de Lula. O 11 de setembro. A internet. Tudo é "estamos vivendo a história". Tudo é como se precisasse ser bem marcado na memória, para contarmos ao nossos netos e bisnetos.
Há um contentamento escondido por trás de cada uma dessas análises, uma alegria oculta por estar vivenciando um tal momento importante. Ou por desejar tão fortemente "viver a história".

Eu só me lembro de ter tido essa sensação, de verdade mesmo, uma vez. E não foi em 11/09/2001 (neste dia eu estava em Cuba, dançando salsa. Juro.). Foi em 9/11/89, há 19 anos, quando caiu o Muro de Berlim.
Vejam bem, estava eu na sétima série, na ocasião. Tinha 13 anos e acabava de travar contato pela primeira vez com essas maluquices de dividir o mapa em países comunistas e capitalistas, Otan e Pacto de Varsóvia, tudo isso filtrado pela ótica marxista descaradamente parcial característica dos professores de história e geografia dos colégios brasileiros.
Nesse dia, eu estava na casa da minha avó, assistindo à televisão que ficava na cozinha, pendurada num giro-visão. Foi ali que vi, provavelmente no Jornal Nacional com Cid Moreira ou Sergio Chapelin, as imagens das pessoas subindo no Muro, bebendo, cantando, se abraçando. Fiquei embasbacada. Aquele muro, que tão pouco tempo antes havia se construído na minha cabeça, de forma tão definitiva e definidora, não existia mais. No dia seguinte, e no seguinte ao seguinte, fiz muita questão de ler tudo sobre os assuntos nos jornais - coisa que, é claro, aos 13 anos, não era um hábito.
Lembro perfeitamente de ter tido o seguinte pensamento: "Nove de novembro de 1989. Preciso guardar essa data, que ela vai ser importante pra sempre." E foi assim, desviada pela lógica perversa da prática de decorar datas, que eu me senti, realmente, vivenciando a história.
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Sonhos sonhos são

Ao longo desta semana, reparei que estou destooando da imensa maioria dos meus amigos, muito comovidos com a vitória do Obama. Numa lista de e-mails escrevi sobre minhas reservas sobre o aspecto messiânico que a coisa me parece estar tomando, e logo recebi respostas do tipo "Esta é a Anna, sempre pé-no-chão" etc.
Puxa, logo eu?
Logo eu, que passei o reveillon 2002-2003 em Brasília (minha primeira e única visita à capital do Brasil) só para participar da festa da posse do Lula, ali naquele gramado da esplanada, ao lado de uma porção de brasileiros de todos os cantos do país? Logo eu, vou ficar conhecida como aquela que não sonha, não se emociona?
Ou será justamente efeito disso tudo?
Claro que fiquei contente com a vitória do Obama. É óbvio que enxergo uma fantástica carga simbólica nessa eleição. Mas o problema, acho, reside aí. Um símbolo é um símbolo. E só.
Enfim, espero que não.

Ao mesmo tempo, a vidinha aqui segue, tudo como dantes. Jandira Feghali ganha a secretaria municipal de cultura das mãos do aliado de segundo turno Eduardo Paes.
Não sei por quê, mas, como no parágrafo acima, eu esperava que não.
Ei, ei, eu ainda sou aquela...
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3.11.08

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1.11.08

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