27.5.13

Deuses do constrangimento

Não sei o que é pior.
Ter um prefeito que sai no tapa com cidadãos.
Ou, conhecendo o cidadão em questão há muitos anos, achar que o prefeito deve ter tido ótimos motivos.
Meu Deus...

15.5.13

Que Beleza! (Natural)







E eis que depois da minha conclamação às mulheres para cortar os cabelos, eu mesma passei quase um ano sem cortar os meus. Contradições à parte, o que houve foi que o salão que eu frequentava fechou e a cabeleireira não migrou para nenhum outro, de modos que fiquei órfã capilar.


Mas na semana passada não deu mais para aguentar aquele cabelo temperamental, que só funcionava quando queria, e estava dando trabalho demais. Então resolvi arriscar e fui ao Beleza Natural, uma rede de salões voltada para cabelos crespos e cacheados, que existe há alguns anos e eu sempre tive curiosidade de conhecer, ainda mais depois que fiquei conhecendo a inspiradora história de empreendedorismo por trás da marca.


Estive num sábado na unidade Ipanema, e fiquei impressionada com o tamanho - pela fachada não se imagina o quanto é grande. Lá dentro, lotação máxima (há inclusive caravanas vindas de outros estados!), e mulheres em vários estágios do tratamento do cabelo espalhadas por salas e ambientes diversos. Vários aparelhos de TV reproduziam vídeos institucionais sobre o tratamento e corte dos cabelos cacheados, e para onde se olhasse havia informações sobre como cuidar dos seus cachos, e fotos de lindos cabelos crespos e cacheados -- mas todas as modelos com cara de brasileiras normais, bem entendido.



Fiquei deslumbrada como esse novo mundo. Até então, acho que nunca tinha percebido quão oprimida eu me sentia nos salões ditos normais. Não só pela onipresença das escovas e dos cabelos com reflexo e outros processos de loureamento, não só porque todo mundo quer alisar o seu cabelo sempre, mas também pela onipresença das velhas. Essa representação de alteridade radical me incomodava e eu nem sabia. Eu não tinha me dado conta até então, mas minha vida em salão de cabeleireiro foi sempre rodeada por essas senhoras. Sabe o tipo? Senhorinha que vai ao salão, sei lá, toda semana, cortar um pouco, pintar aqui e ali, fazer um penteado bacana para o almoço de sábado e passar laquê? Sempre assumi a presença dessas velhinhas como algo natural, mas de repente, no Beleza Natural, elas não estavam mais. As pessoas ali pareciam todas muito mais reais.


Além disso, fiquei maravilhada com as muitas funcionárias. Quase todas negras e todas, sem exceção, com seus cabelos soltos e lindamente bem cuidados - fossem curtos, médios ou longos. Um orgulho cacheado que deu o maior gosto de ver. Tem também uma lojinha que vende diversos produtos para cabelo da marca Beleza Natural. Eu comprei o creme para pentear infantil, porque meus fios são muito finos (dica da moça que pintou meu cabelo), e estou achando muito bom.

Longa vida às iniciativas empreendedoras, e aos cachos da mulher brasileira!

Todas as fotos foram tiradas do book de cortes do Beleza - com 30 opções.

1.5.13

Ninguém disse que seria fácil

Outro dia fui visitar minha prima P. e seu filho recém-nascido, então com 12 dias de vida. Gosto demais dessa prima, que é uns 5 ou 6 anos mais nova do que eu, e tem uma irmã mais velha e um irmão mais novo. Todo mundo sempre dizia que, por ser a filha do meio, ela fazia questão de chamar mais atenção. E tanto fez que, diferente da irmã (que é pilota de avião) e do irmão (que é biólogo), P. enveredou para uma carreira artística: é atriz e até pouco tempo estava em cartaz em teatros alternativos com um monólogo escrito, produzido e estrelado por ela -- muito bom, por sinal. E também diferente dos irmãos, que se casaram/juntaram com namorados de longa data, P. teve alguns relacionamentos mais estáveis, mas no ano passado engravidou de um cara que eu mesma só vim a conhecer no Natal -- ou seja, caso recente. Felizmente, um cara nota dez, daqueles de quem a gente gosta logo de cara, e acha que foi uma bela aquisição para a família, por assim dizer, proprietariamente.

Vinda a gravidez, P. e seu parceiro foram os mais alternativos: não queriam fazer ultra, não queriam saber o sexo, se mudaram para um apartamento muito charmoso mas com não mais de 30 metros quadrados, num lugar afastado de São Conrado, rodeados de muita natureza, canto de passarinhos etc. Fizeram um chá de fralda mas que não era para levar fralda, e sim contribuições em dinheiro, porque estavam convencidos a usar fralda de pano. E o parto seria em casa (no apartamento minúsculo), natural, humanizado, com doula e sem anestesia.

No meio da minha viagem a Londres, sonhei com o parto do filho de P., e escrevi para ela contando do sonho. Ela adorou, me respondeu feliz, dizendo que o bebê ainda não tinha nascido, mas que seria a qualquer momento. E de fato naquele mesmo dia em que me respondeu, o dia seguinte ao sonho, começaram as contrações. Fiquei sabendo depois que o trabalho de parto durou mais de 24 horas, e que, às páginas tantas, ela acabou sendo transferida para a maternidade, onde tomou anestesia e hormônios para acelerar a dilatação, e finalmente conseguiu parir a criança, de parto normal. Um bebezão de 3,9kg e 51cm, lindo e saudável.

O parto foi tão extenuante que P. acusou o golpe e ficou meio deprimida nos dias seguintes. Para completar, a criança chorava loucamente e queria mamar de hora em hora nos primeiros dias. P. não conseguia dormir nunca, o leite desceu em grande estilo, ela teve a "febre do leite", mastite, precisou ir para o hospital e tomar soro e antibióticos -- e o que é pior, morrendo de culpa por isso. Logo depois o casal desistiu de tentar dar conta de tudo isso em seu conjugado no meio do mato e se mudou para a casa da sogra de P., um confortável 3 quartos no Leblon, onde têm ajuda permanente, conforto, mais infraestrutura -- e fraldas descartáveis.

Quando fui visitá-la (domingo), as coisas estavam mais estabilizadas, mas ainda muito longe de tranquilas. P. leu tudo o que podia durante a gravidez, foi instruída por especialistas, se informou. Mas nada a preparou para todo o perrengue que está passando. As coisas não saíram bem como ela esperava, não foi um processo tão natural e intuitivo como diziam os livros e as doulas. A dor das contrações foi muito além do que ela poderia imaginar (ela me disse que teve vontade de esganar a doula quando ela lhe dizia para "se entregar para a dor") e as dificuldades da amamentação parecem insuperáveis.

Eu disse a ela que acho uma balela esse papo de que a maternidade vem naturalmente e que tudo é muito intuitivo e natural. O processo exige muito esforço, de todo mundo (mãe, pai, bebê). Sim, é certo que algumas coisas podem vir de forma intuitiva (como segurar o bebê, como interpretar choros), mas a maioria não. E certamente com variações de mulher para mulher. E mais: não conheço nenhuma mãe que não tenha pensado, em algum momento: não vou conseguir, não nasci para isso, não sou capaz. Quando falei isso, os olhos de P. marejaram, ela me agradeceu e perguntou por que ninguém nunca tinha dito isso a ela.

Ninguém disse que seria fácil, mas ninguém pode detalhar o grau de dificuldade com precisão. Os desafios são tantos e tão monumentais, principalmente nessas primeiras semanas de vida do seu primeiro filho, que podem parecer intransponíveis. E um grande desserviço que se presta é fazer crer que sozinha a mulher pode dar conta de tudo. Quanto tempo ainda vamos ficar nos enganando, querendo ser super-mulheres-maravilhas que não dependem de ninguém, não precisam de ninguém para resolver suas questões, que têm vergonha de pedir ajuda? Até quando, essa insanidade?