28.2.07

Inveja branca


Minha mãe vai ao casamento dele.

Ai ai.

Um dia na vida da pessoa de férias

Situação 1.
Eu em casa, relax. Liga cunhada nº 2. Aflita. Imaginem que saiu de casa, deixou a diarista trabalhando, e, sem perceber, trancou a coitada lá dentro. E o pior, na casa não tem telefone ainda, porque ela se mudou há pouco e está só com celular. Então a diarista fica tensa. E liga pro porteiro. Que, sei lá como nem por que, tem o telefone do meu sogro. Que então liga pra cunhada. Que está no trabalho. E por isso liga pra mim, que moro perto. Porque aqui tem uma cópia da chave dela, pra emergências. Mas eu não sei onde está a chave. Porque quem guardou não fui eu, foi o marido. Que está em São Paulo. E disse que estaria num lugar -- onde não estava. E toca a procurar. Achei, achei! Ela exulta do outro lado da linha. Lá vou eu, nesse calor, libertar a outra. Coitada. Que encrenca. Espeto, como diria o Nelson. Ganhei pontos no céu, hein.

Situação 2.
Amiga liga: Me ajuda, tenho que comprar as passagens de trem no site francês, tenho medo de errar, faz comigo no telefone? Eu ali, no meio do Seinfeld. Claro, vamos lá. Clica ali tá vendo? Oui, aller-simple. Agora onde está escrito assim. Vai, agora preenche com a data. Eu falando e fazendo, ela fazendo do outro lado. Comprar 6 passagens de uma vez. Agora clica ali em reservar. Choisir cette aller. E pra mim apareceu tudo direito. E pra ela disse que infelizmente já não havia mais passagens disponíveis para aquele trem. Claro, porque EU tinha reservado as últimas. Ai, Je-sus. Tive que eu fazer as compras, no final das contas. Contando ninguém acredita.

26.2.07

Feliz 2007


Hoje, quando o ano parece que finalmente começou, eu fui à praia em Ipanema. Estava vazia e perfeita.
Sabe, a vida é tão curta.

(Foto de minha autoria, dezembro 2003)

God Save the Queen


Não há como sair de A Rainha sem pensar como os personagens ali retratados, todos vivos e reais (com trocadilho), terão reagido. Se nós, meros plebeus habitantes deste distante país tropical, lembramos tão nitidamente da morte da Lady Di, eles, que estavam no centro da ação, certamente lembram com detalhes o que passaram naqueles dias turbulentos em que, de uma forma ou de outra, tudo mudou na Inglaterra. E esse é logo um dos primeiros trunfos do filme: contar uma história que todo mundo viveu, de que todos se lembram, e que é muito recente.
Outro trunfo, não poderia deixar de ser, é a linguagem. Há o delicioso sotaque britânico, coalhado de expressões tão surreais quanto anacrônicas, como "The Royals" (a família real), ser ou não "HRH" (Her Royal Highness -- I suppose...), que é música para os ouvidos (muito melhor do que o sotaque feioso daqueles operários dos filmes --sensacionais-- no Mike Leigh). E há ainda a circunspecção e o estoicismo que ficaram marcados como sendo a famosa fleuma britânica, e que são demonstrados pela linguagem, pelos não-ditos, pelas metáforas, pelos eufemismos, pelo gestual. Por isso tudo já vale a pena ver o filme.
Mas mais que tudo, vale pela personagem da Rainha. E aí, eu que não sou especialista, não sei dizer o quanto o mérito é da atriz, o quanto é do diretor, o quanto é do texto. Mas no conjunto, funciona. A bem da verdade, a Rainha é o único personagem verdadeiramente complexo do filme. Ela é uma incógnita, ela é muitas, ela é fascinante.
Os outros personagens me incomodaram bastante, porque todos podem ser resumidos em uma só palavra, e nada mais cansativo do que personagens "fáceis". O príncipe Philip é mau (muito mau, um vilão, totalmente sem noção de nada). Charles não se pode definir com outra palavra que não seja "fraco". E Tony Blair sai como um herói. Como todo herói, passa pelo seu momento de transformação, e, sábio que é, consegue enxergar o lado daquela que antes era sua antagonista. O truque é que, quando Blair "se apaixona" pela Rainha (como bem diz sua mulher Cherie), todos nós nos apaixonamos também, e adoramos mais ainda o prime-minister por aquele misto de admiração e compaixão que nos envolveu a todos. E esse esquematismo dos personagens é o ponto baixo do filme.

(Pra quem já viu o filme) E tem aquela coisa com o veado -- no sentido de cervo --, que na hora eu impliquei porque achei uma metáfora muito óbvia. Mas depois concluí que era implicância boba, porque é bonito mesmo.

Sadol

Gotas de cultura: o pequeno Manuel nasceu por acaso. Sua mãe tomava anticoncepcionais quando teve um problema no joelho e o médico receitou Sadol, um fortificante. Diz a lenda que o Sadol cortou o efeito do anticoncepcional e assim nasceu Manuel, no povoado baiano de Baiacu. E ficou para sempre conhecido pelo apelido de Sadol pelos parentes e amigos mais íntimos.

Mais tarde, Sadol treinava pelo Vitória da Bahia quando apareceu um jogador africano chamado Obina. Os dois eram tão dois parecidos que, depois da partida do africano, Sadol-Manuel deu lugar a Obina -- não o primeiro com este nome, mas o definitivo.

E quantos, senhores, senhoras, eu lhes pergunto, quantos entre tantos atacantes, quantos entre tantos jogadores, simplesmente torceriam o joelho aos dois minutos do primeiro tempo sem fazer um gol?

24.2.07

Bolsa Não-Família

A discussão sobre a redução da maioridade penal está chegando a perigosos extremos. De um lado, os que a defendem, alertam para o absurdo que é não punir com rigor um criminoso de 16 ou 17 anos, deixando-o em uma instituição por no máximo três anos. Têm razão. Do outro lado, alega-se que essas decisões não devem ser tomadas em clima de comoção e que encher mais as prisões não resolve o problema. Também estão certos, e eu me incluo neste grupo.
O ponto de concórdia é que o mais eficaz é investir em educação. Certo. Impossível discordar. Atrelada ao discurso da educação vem, a reboque, a questão do planejamento familiar. Que é tão importante porque é algo que pode ser colocado em prática já e com resultados a prazos menores do que reformular todo o nosso sistema educacional.
No meu mundo ideal existiria o Bolsa Não-Família. Um programa voltado para mulheres em idade fértil. Mais ou menos assim: a cada 6 meses a mulher vai a um posto de saúde público e faz uma consulta médica. Se ela não estiver grávida, ganha uma grana. E ainda se consulta duas vezes por ano, faz um preventivo e tal.
No meu mundo ideal, ça va sans dire, seria permitido a qualquer mulher fazer um aborto em qualquer hospital, público ou privado.

23.2.07

What's in a name (2)

Anteontem -- depois do gol do Obina, segundo disseram -- nasceu a filha de um casal de amigos. Se chama Alice, a pequena. (Se fosse menino seria Artur, antiga promessa do pai, flamenguista doente, em homenagem a you know who.) Mais uma Alice, a bem da verdade. Porque outro dia chegamos à conclusão que Alice é a nova Renata, Clara é a nova Mariana, Francisco é o novo Rodrigo e João é o novo Bruno.
Impressiona muito essa coisa do modismo dos nomes. Eu sou meio contra. Acho que não basta o nome ser bonito, ele tem que ter um quê de único, de especial, na medida no possível. Tenho horror a essa coisa de ser conhecido pelo sobrenome. Talvez trauma do colégio onde estudei, que era enorme e as turmas (40 alunos cada) eram separadas por ordem alfabética, no método mais tosco de que já ouvi falar. Então a turma A tinha 9 Brunos. A turma C tinha umas 7 Marias. E a turma E, 8 Rodrigos. É óbvio que eles são, até hoje, o Siqueira, o Lima, o Abreu, o Amaral, a Campbell, a Lourenço etc. Sem contar nos que viram Cabeça, Monstro, Babá, Aranha, ou as que se transformam em Flávia Loura e Flávia Ruiva, Taíssa Grande e Taíssa Pequena.

Nos anos 20, os nomes da moda eram Olga, Leonor, Helena, Regina, Glória, Antenor, Oscar, Haroldo, Agenor.
Lá pelos 30 começar a surgir Waldir, Raul, Ruy, Nilton, Terezinha, Lucia, Yolanda, Amélia, Henriqueta, Gilda, Nair.
Para os anos 40 eu diria que foi a época de Vera, Ana Maria, Carmen, Teresa, Lourdes, José Carlos, Antônio Carlos, Luis Carlos, Gilberto, Álvaro.
A década JK-bossa-nova chegou com Cristina, Fátima, Elisabeth, Marcos, Edson, Mário, Roberto.
Já nos anos 60 começa a pender para André, Pedro Paulo, Lúcio, Henrique, Carlos Eduardo, Ivan, Cristiana, Eduarda, Luciana.
Os meus contemporâneos dos anos 70 são Bárbara, Carolina, Ana Carolina, Daniela (ou Daniele), Andréa, Ana Paula, Adriana, Renata, Mariana, Patrícia, Tatiana, Bruno, Rodrigo, Rafael, Leonardo, Maurício, Alexandre, Carlos Eduardo, Luiz Felipe, Felipe.
Um pouco depois, a moda dos 80 foi de Marcus Vinicius, Daniel, Gabriel, Rafael, Diego, Amanda, Erika, Letícia, Fernanda, Larissa.
Os anos 90 foi o boom dos bíblicos, Mateus, Lucas, Tiago, Pedro, Júlia, Beatriz, Rafaela, Gabriela, Camila.
E no século XXI é a verdadeira invasão portuguesa: Isabel, Clara, Alice, Sofia, Luísa, Maria, Maria Eduarda, Maria Carolina, Francisco, Pedro, Antônio, Miguel, Tomás, João, João Pedro, João Paulo.

(Esses são, na verdade, os nomes mais tradicionais. Não entram aqui a invasão sueca -- Anderson, Vanderson, Wallison, Cleberson, Everson, Gleydson, Gilson, Edilson, Adeilson, Alysson, Marilson, Denilson etc. -- nem a inglesa -- Wellington, Washington, William, Wenderson, Wendel, Wesley, Wescley, Gladstone, Maicon, Jonathan, Jonas, Douglas, Suellen, Kelly, Jane, Daiana.)

É curioso que hoje em dia não exista muita chance de nascer uma Nair ou um Antenor. Ou mesmo uma Vera Lúcia ou um Gilberto. Mas tenho cá pra mim que é uma questão de ciclos. Já ouvi falar de várias criancinhas que se chamam Valentina. E minha tataravó era Mariana, nome que voltou com força total cem anos depois.

Pois é, às vezes eu custo pra dormir, e fico pensando nessas coisas.

22.2.07

No século passado

Sigo em marcha lenta minha maratona Seinfeld. Hoje dei um sprint, vi vários episódios. Engraçado reparar como várias das tramas são baseadas em problemas de comunicação. Alguém tem que falar com outrem, mas não consegue, então tudo dá errado. E nessa hora o seriado fica mesmo datado, porque na época em que foi feito (1989-1998) não havia celulares. E a verdade é que a gente não lembra mais como fazíamos quando não havia celular.

Vamos puxar pela memória: marcávamos uma combinação qualquer (tipo: vamos nos encontrar em tal lugar a tal hora), e depois que saiu de casa, acabou, no turning back. Lembrou? As pessoas ficavam simplesmente inacessíveis na rua. Várias combinações davam errado. Muito desencontro nessa vida. (Tem um filme do Woody Allen, não lembro qual, em que um dos personagens -- talvez o do Alan Alda, também não lembro, fosfosol pra pessoa aqui! -- passa o filme inteiro ligando para a própria secretária, no escritório, para dar o número do telefone de onde ele está naquele momento, para o caso de alguém ligar. E ele vai de casa em casa, e toda hora liga para atualizar o número. E ninguém nunca liga pra ele, e essa é uma das piadas do filme. E hoje em dia é uma curiosidade antropológica, quase.)

O celular mudou a vida das pessoas em muitas coisas. Minha amiga S. diz que pode escrever um livro só sobre a mudança que o celular operou na esfera dos relacionamentos. A começar pelo bina. (Ih, é esse cara? Nem vou atender.) E a terminar pela paranóia de um carinha que vc mal conhece poder estar te filmando, digamos, em momentos íntimos, para depois postar no YouTube.

Tem outra mudança de que me dei conta. Que é o seguinte. Antes do celular, você tinha muito mais contato com a vida familiar dos seus amigos. Exemplo. Início dos anos 90, eu era adolescente e morava com a minha mãe. Assim como todos os meus amigos. Não tinha e-mail. Então tudo era combinado pelo telefone. O fixo. A gente ligava, e às vezes atendia a mãe da pessoa, às vezes o pai, ou a/o irmã/o, ou a empregada. E se fosse alguém para quem você ligasse muito, acabava estabelecendo uma relação com toda essa família. Porque às vezes era preciso deixar recados extensos e importantíssimos com quem quer que estivesse em casa (tipo: bom, se ele ligar, diga que eu não pude esperar no lugar X, mas estarei no lugar Y até tal hora, depois vou para Z). Então se você tivesse, digamos, um ex-namorado psycho que te ligasse o tempo todo, ele pelo menos estaria exposto ao vexame de posar de psycho para todo mundo da sua casa. Eu conheço razoavelmente bem os pais e os irmãos dos meus amigos mais antigos. Hoje em dia não. Crianças têm celulares desde os dez anos, e passam o dia mandando SMS umas para as outras. Ou e-mails. Ou scraps. Ou comentários nos blogs.

Os relacionamentos -- quaisquer que sejam, amizades ou namoros -- passaram a se dar numa esfera muito mais privada (ou muito mais pública, no caso dos scraps e dos blogs, mas de qualquer forma, sem passar pela mediação da esfera doméstica, apenas pela mediação dos pares).

Lembro que a minha mãe sempre teve em casa um caderno de telefones gigantesco, e que muitas das "entradas" eram coisas como "Fulano - casa", "Fulano - mãe", "Fulano - trabalho", "Fulano - namorada" -- todos os números que Fulano "freqüentava", por assim dizer.

Hoje em dia eu praticamente só tenho o celular das pessoas. De muitos bons amigos, nem tenho o fixo. Mas vou contar para os meus filhos e netos que passei por toda a escola, incluindo vestibular, sem computador (internet nem fale), e toda a faculdade sem celular. Eles vão me ouvir, claro, com a mesma mistura de simpatia, curiosidade e uma certa pena com que eu sempre ouvi minha avó (ou mesmo meus pais) dizendo que para se fazer um interurbano você chamava a telefonista e a coisa demorava uma tarde inteira pra conseguir uma linha. Ou então aquela história que a TV só tinha programação durante poucas horas, e que nos horários em que não tinha nada ficava a imagem de um índio congelada na TV Tupi.

Tudo isso é, vá lá, normal. Mas a questão é mesmo o tempo. Como essas tecnologias deixam de ser nada e passam a ser tudo em menos de dez anos.
Tenho a impressão que este post já nasceu anacrônico.

Liberta dores

Método Brás Cubas pode se aplicar também ao futebol.
Assim: pegue um time muito, muito fraco, dos grotões da Venezuela, e bote pra jogar com seu time, no Maracanã, numa quarta-feira de cinzas.
De repente, acontece. O meio de campo desarma qualquer tentativa ofensiva do adversário, e as poucas que passam são facilmente paradas pela defesa, sóbria e compenetrada. Se por acaso alguma coisa sai pela linha de fundo, a reposição do goleiro é sempre bem-feita. No ataque, as tabelas funcionam, os passes fluem, todos se entendem. 3 x 0 no primeiro tempo.
(Tá, o segundo tempo foi uma droga, ninguém pode perder gols daquele jeito, mas enfim, 3 pontos.)
Então pera aí que vou buscar no Google "passagem para Yokohama".

21.2.07

Resumo momesco

Carnaval de 1919


Tive uma performance carnavalesca pífia nesse 2007. Muito aquém da foliã de outros carnavais.

Domingo - Cordão do Boitatá. Acordamos cedo para pensar nas fantasias (nota zero em planejamento). Resgatei do armário um figurino da época em que eu cantava no grupo de música medieval (no século passado). Um camisolão furta-cor até os pés, com umas mangas e adereços em azul, parecendo umas redes de pesca. Não dava para entender bem qual era a fantasia (que eu batizei de meio-século XIII-meio-bispo-do-rosário), mas pelo menos ficava claro que sim, tratava-se de uma fantasia. Não me toquei que era uma roupa absurdamente quente, e lá fui eu, às 10 da manhã, para a Praça XV. Um calor dos infernos, sol na moleira, uma multidão na praça e quase nenhuma sombra disponível. Lugar pra sentar, nem pensar. Verdade seja dita, a gente vai ao Boitatá muito mais pra encontrar os amigos do que pra pular carnaval. Durei pouco por lá.

Segunda - Rancho Flor do Sereno. Há vários anos, o melhor do carnaval. Em 2007 não foi diferente. Uma orquestra de verdade, em plena Copacabana, tocando músicas ótimas, à noite (sem sol!), deu pra dançar, cantar e pular. Sim, estava mais cheio do que o desejável, mas não dá mais pra evitar a superlotação do carnaval de rua carioca, não é mesmo? Pena que fiquei uns trinta minutos na fila para o banheiro do posto de salvamento da praia, perdi boa parte do segundo set.

Terça - Bloco da Ansiedade. Adoro esse bloco de frevos das Laranjeiras, mas este ano estava tão mais cheio do que nos outros anos, que mal consegui ouvir os músicos (que vão no chão, sem amplificação). Aí teve momentos em que mais parecia uma procissão do que um bloco -- todo mundo andando junto, ouvindo só muito ao longe umas percussões. Uma pena.

Sei lá, acho que em 2008 foi comprar uns engradados, ligar o ar condicionado e chamar os amigos para vir aqui em casa beber e bater papo.

Putz, idade é uma coisa séria.

20.2.07

A Mangueira não morreu


Há uns dois anos, uma amiga saiu no carnaval com a fantasia mais genial: "Beth Carvalho, madrinha do Brasil". Ela vestiu umas roupas de Beth Carvalho, botou uma peruca e saía distribuindo uns santinhos, uns cartões de visita, que diziam mais ou menos: "Madrinha profissional. Amadrinho o seu bloco, sua turma, seu condomínio, seu time de futebol etc.". Era, claro, uma sacanagem com a cantora, que adora dizer que é madrinha de tudo e de todos, e que "lançou" compositores como Cartola e Nelson Cavaquinho. Ha. Todo mundo sabe que a Beth exagera em muito sua própria importância. É uma mala, há muitos anos. Tem uns discos muito bons, sem dúvida, da época do seu auge, fim dos 70 e início dos 80, mas nos últimos 20 anos não fez nada de relevante.

Agora acompanho nos jornais o "drama" de Beth Carvalho, sem lugar em nenhum carro no desfile da Mangueira, tirada de cima do último carro, dos "baluartes" da Mangueira, na última hora. Tenho preguiça só de pensar o quanto ela vai fazer render essa história, o quanto vai conseguir desenvolver seu papel de vítima injustiçada. Vamos ver quantas vezes durante esse imbroglio ela vai invocar os nomes de Cartola e Nelson Cavaquinho? Confesso que ri um pouquinho quando li a declaração do carnavalesco da Mangueira: "Você acha que vou retirar uma pessoa que pagou caríssimo por uma fantasia para botar a Beth Carvalho?". Uau, que finesse!

Ao mesmo tempo, tenho conflitos internos quando vejo as fotos da Preta Gil de madrinha da bateria da Verde-Rosa. Porque no discurso a gente condena tanto a ditadura da beleza, a imposição de um padrão inatingível, a opressão da magreza etc. etc, e na hora em que aparece a filha do ministro, super assumida, mas com essas pelancas nos bracinhos penduradas e balançando pra lá e pra cá, ah, confesso que não dá. Ainda bem que na vida a gente não precisa mesmo ser coerente, porque francamente, achei um horror.
*
A Mangueira não morreu, nem morrerá
Isso não acontecerá
Tem seu nome na história
Mangueira tu és um cenário coberto de glória
("A Mangueira Não Morreu", Jorge Zagaia)

Mangueira,
Onde é que estão os tamborins, ó nega?
Viver somente do cartaz não chega
Põe as pastoras na avenida,
Mangueira querida
("Onde Estão os Tamborins", Pedro Caetano)

16.2.07

Après moi, le déluge

Gustave Doré, "Déluge"


Lembrei dessa história lendo esse post do Fazendo Gênero. Que fala sobre como a gente passa a desconsiderar completamente uma pessoa depois de alguma coisa que ela diz ou faz.

Bom, demoraram muito para arranjar alguém para me substituir no meu agora ex-emprego. Não que eu seja insubstituível, muito longe disso, mas por pura incompetência mesmo. Primeiro eu indiquei uma pessoa que eu sabia competente e capaz de tocar o barco, mas não chegaram a um acordo de salário. Em suma, regularam a mixaria. Até que, faltando uma semana para eu sair, contrataram uma moça. Ela topou o salário, e parecia bem feliz e empolgada. (Do currículo dela, só consigo me lembrar de um estágio na revista Cabelos & Cia., que me causou funda impressão.) E eu com a maior boa vontade, tendo menos de uma semana para passar tooodo o silviço, que não era pouco.
Lá pelas tantas ela estava aprendendo a mexer no sistema de informática, e tinha que buscar um nome no banco de dados, num cadastro de fornecedores, algo assim. O nome era Agência qualquer coisa.
E ela: não estou achando, não aparece nada.
E eu: mas tenho certeza que tem.
E ela: é pra colocar o chapeuzinho ou não?
E eu: hã?!
E ela: tem que escrever "agência" com chapeuzinho?
Pronto, bastou isso para eu perder todo o respeito pela criatura. Uma pessoa que se propõe a trabalhar com livros, literatura, língua portuguesa, terceiro grau completo e talz, e ainda não se acostumou com o fato que o nome do chapeuzinho é acento circunflexo é demais pra mim.
(Depois ela ainda perguntou uma vez se precisava mandar livros para os autores de Chapeuzinho Vermelho e Outras Histórias, e diante da minha cara de ponto de interrogação ainda reforçou, "Esses caras aqui, Jacob e Wilhelm Grimm" -- mas a essa altura eu já estava n'outra.)

Expedição Bandeirante

Estrada paulista, por lima_gama, via flickr
Minhas férias exóticas foram um passeio pelo interior paulista. De ônibus pela Viação Sampaio fui até São José dos Campos. A agente de viagem já me horrorizou de cara, dizendo que essa Sampaio era um horror, talvez nem tivesse ar condicionado, e por isso, por via das dúvidas estava me arranjando um lugar na janela. De fato a passagem parecia uma comanda de restaurante a quilo, um papel sebento e manuscrito onde eu mal entendia qual era o dia da viagem. Fiquei logo achando que era um ônibus urbano comum, que nem banheiro tinha, e que eu teria que mendigar ao motorista que fizesse uma paradinha na Dutra para eu fazer xixi (porque nessas horas bate aquela vontade incontrolável). Contra tudo e contra todos, o ônibus da Viação Sampaio não só tinha um ar-condicionado polar como dava lanchinho aos passageiros. Tá bem, tinha uma música ambiente que deus-me-livre, mas os MP3 players estão aí pra isso mesmo.
São José, o que posso dizer de São José? Que me desculpem os joseenses, mas não vi, nos dias que passei lá, absolutamente nada inédito nem digno de nota. Passeei pela cidade com a minha máquina, mas não vi nada para tirar foto. A não ser, claro, as pessoas lindas que eu fui visitar -- razão única da minha ida até lá.
Depois de São José, meu destino era São Pedro. Que fica ao lado de Águas de São Pedro, bem pertinho de Piracicaba. Como a vida não é fácil, não tem um ônibus direto de um santo (José) a outro (Pedro). Fui pesquisar no mapa. Tenho uma vaga lembrança de que o caminho mais curto entre dois pontos seria uma reta. Com base nisso, tracei uma reta de S José a S Pedro, e ela passava por Campinas. Mas de Campinas, hélas, também não tem ônibus para S Pedro. Mas tem pra Piracicaba. E de lá tem ônibus que vão para S Pedro, viva! (Estão acompanhando? 1. S José>Campinas; 2. Campinas>Piracicaba; 3. Piracicaba>S Pedro.) Claro, esses ônibus todos só tem em certos horários. O que daria umas, vejamos, oito horas de viagem, contando as esperas. Se não houvesse nenhum imprevisto, claro.
Fiz as contas e dei um grito. Nada disso. Esqueça essa história de linha reta.
Peguei um ônibus pra São Paulo. No terminal Tietê entrei na fila incrivelmente grande da Viação Piracicabana (que não aceita cheque nem cartão) e comprei a passagem para S Pedro. É um ônibus parador. E como a viagem foi de dia, pude ver com meus próprios olhos a "força do interior" (carregando nos erres).
A primeira parada foi Americana. Fiquei olhando pela janela do ônibus para ver se via o Biajoni passando pela rua. Não vi. De lá para Santa Barbara d'Oeste, onde chovia cântaros. Depois rumo a Piracicaba, um caminho realmente bonito em termos de paisagem, ainda mais numa tarde depois da chuva, quando o sol voltou a abrir. Procurei o arco-íris, sabia que ele tinha que estar em algum lugar. E estava mesmo, já fraquinho com o fim da tarde. Passamos pelo meio de Piracicaba, numa avenida margeada por bares e choperias dos dois lados. Lá vi os piores trocadilhos com nomes de loja. EletroPira, de material elétrico, concessionária AutoPira, locadora VideoPira. O horror, o horror. Próxima parada, Águas de São Pedro, estanciazinha hidromineral meio sem-vergonha, onde tudo se chama "Hotel da Fonte", "Shopping das Águas" etc.
Enfim, São Pedro. Claro, fui lá por causa do Festival, que não perco por nada. E aí foram dias de puro deleite, que esse festival de choro é uma coisa tão bacana que é difícil mesmo explicar.

Fica para outro post.

Todo mundo leva a vida no arame


Um dia depois do Chico, fui ver Sassaricando, o musical das marchinhas, no Teatro Ginástico (RJ). Não tem como não ser um sucesso. São muitas, mas muitas marchinhas cantadas por 6 cantores, com o apoio de um bom conjunto instrumental. E as marchinhas, claro, são infalíveis no que toca a nossa memória afetiva.
O que eu mais gostei foram as marchinhas que não conhecia, com destaque para a surrealista e impagável Não sou Manoel, de Wilson Batista e Roberto Martins: O telefone tocou pro Manoel / E o Manoel saiu armado / E foi pra Niterói / Mas na viagem ele refletiu / Na consciência nada me dói / Não sou Manoel, não sou casado / Eu sou é Joaquim / O que é que eu vou fazer em Niterói? / Mas Joaquim / Que é a favor da economia / Aproveitou esse boato / Fez a barba e deu uma voltinha / Pois lá em Niterói / É tudo mais barato. (Copiei a letra daqui) Pérola total. O que será que essa gente tomava nos anos 40?
Toda a crítica falou muito bem do espetáculo, que merece mesmo elogios, mas achei algumas delas meio condescendentes. Tem uns problemas de roteiro, a começar com o início do espetáculo, uma encenação de uma historinha (a menina que acha uma carta do avô dentro do baú), que leva a crer que teremos um fio condutor dramático -- mas que nunca mais aparece, some sem explicação. Alguns arranjinhos vocais de 4 vozes me incomodaram um pouco, mas foram raros. E tem um verdadeiro assassinado, da Marcha da Quarta-feira de Cinzas (Vinicius e Carlos Lyra), num momento especialmente infeliz da Sabrina Korgut (não tanto por culpa dela, mas pela roubada que deram para ela com essa música e aquele arranjo). Ah, os cantores são bastante bons. A própria Sabrina, gata escaldada de musicais, tem uma ótima presença de palco, canta e dança bem, muito melhor que a Juliana Diniz, sempre referida como "a neta do Monarco", de longe a mais fraquinha do elenco. O destaque é mesmo da Soraya Ravenle, formidável. Entre os homens, tem o Eduardo Dusek, que é tão canastra que chega a ser engraçado. E manda bem nos seus números. Os outros dois, Pedro Paulo e Alfredo, os famosos "dois bicudos", são maravilhosos, mas como são meus amigos queridos eu sou por demais parcial para falar sobre eles com isenção.
A produção é um clima Broadway total (um pouco over pro meu gosto, mas isso sou eu), com luzes, cenários, coreografias mis, figurinos variados etc. Ou seja, sucesso maior só mesmo se for para um teatro em Copacabana. Ala-la-ô.

Carioca, o show

Chico por Patricia Cecatti
No fim das contas é bom que o intervalo entre os shows de Chico Buarque seja tão longo. Oito anos, de As Cidades para Carioca. Show do Chico é um evento para ser muito aguardado e valorizado. E Carioca é um grande show. Um roteiro muito bem costurado, que amarra as músicas ótimas do novo disco àqueles sucessos que todos esperamos. Sobre os sucessos, há um quê de novidade sempre que os ouvimos ao vivo. Uma frase para a qual não se havia ainda atentado, uma melodia que se achava que era de outro jeito etc. Não é um show para ligar no automático e cantar junto. É para ouvir os detalhes. Com atenção. Que é pra perceber como Porque era ela, porque era eu, do disco novo, é maravilhosa. Entre outras coisas.
É curioso atentar para a percepção que muita gente tem hoje em dia do que deva ser um show. Ouvir é apenas uma das atividades, e nem vem em primeiro na ordem das prioridades. As pessoas esperam do show um mega-evento, sempre. Um show é pra se acabar de tanto cantar, pular e dançar. Por isso ouvi por aí que o show do Chico é "frio". Não é. Longe disso. Mas o "calor" não vem do exercício aeróbico, e sim da atividade musical. Uma espécie diferente de catarse.
E aqui cabe mais uma vez um protesto contra o modelo de casa de shows que impera. Casas como o Canecão, o Claro Hall, o novo Vivo Rio, o Tom Brasil em SP. Como é possível prestar atenção no show comendo, bebendo e lidando com maitres e garçons ao mesmo tempo? No execrável Canecão, por exemplo, a conta chega antes do fim do show. Quem terá sido o gênio autor dessa idéia? O que leva à pergunta óbvia: por que não temos mais shows em teatros, hein? Por essas e outras é que sou cada vez mais fã do recentemente inaugurado teatro da Fecap, em São Paulo, onde estive e novembro e aonde voltarei no começo de março. (Dica! Dica! 1, 2, 3 e 4 de março no teatro da Fecap, o Boi no Telhado, sobre o qual já falei aqui.)

5.2.07

Bist du bei mir

Afinal não tive tempo de escrever nada. Mas tudo bem. Aliás, tudo ótimo.
Vou passar mais uma semana fora. De férias de verdade.

Deixo então meus cinco leitores com a música mais linda, que não me saiu da cabeça hoje o dia inteiro.


http://www.goear.com/listen.php?v=7ac949c

3.2.07

...


Estou morrendo de saudades do blogue.
Acho que segunda-feira vai dar pra voltar a postar. Até lá, meu nome é só trabalho.
"Bem-vinda à vida de autônoma", foi o que ele me disse quando eu me lamentei do meu blogue abandonado.
Nesse meio tempo, vi o show do Chico, o musical Sassaricando e o filme Babel. Quero escrever sobre tudo.
Ah, sim, e saí finalmente do meu emprego. (A foto aí de cima é um souvenir do meu agora ex-local de trabalho.)
Mas vai ter que ficar pra segunda. Ou quem sabe até depois. Porque terça me mando para um pequeno e inesperado tour pelo interior paulista (alguém por aí?).
Enfim, depois, depois.