23.5.11

Paul in Rio e outras histórias de mega shows

Paul no Maraca, 1990: eu fui
Em 1990, eu tinha 13 anos e fui ao show do Paul McCartney no Maracanã. Fui com a minha prima M., que é 20 anos mais velha do que eu e se ofereceu para me levar, junto do grupo de amigos dela. Fiquei ao mesmo tempo grata e fascinada, porque claramente ela estava me tratando como uma verdadeira adulta, ao me levar para aquele programa, com pessoas que eram todas 20 anos mais velhas do que eu, e todo mundo me tratando de igual pra igual (pensando bem, ela tinha, na época, a idade que eu tenho hoje). Eu me senti o máximo, e amei aquela experiência de ouvir Hey Jude e Fool on the Hill ao vivo, com alguns milhares de pessoas cantando no coro. Aquela época talvez tenha sido o auge da minha beatlemania, que tem até hoje ótimas reverberações.

A-ha na Apoteose, 1989: eu fui
Não foi o meu primeiro mega show. Pouco antes (1989) eu tinha ido à Praça da Apoteose assistir ao A-ha, então no ápice da popularidade no Brasil (Stay ooooon this roooooad). Nesse mesmo ano ou no seguinte, não lembro bem, fui também ver o Oingo Boingo (quem não se lembra? Go, don't you go, Stay with me one more daaay) no estádio do Flamengo na Gávea, um local meio bizarro para esse tipo de evento.
Ainda em 1990 assisti a um histórico show do Legião Urbana no Jóquei, justo no dia da morte do Cazuza, o que causou grande comoção. Minhas lembranças são esparsas, mas muito boas.

Legião no Jockey, 1990: eu fui
Em 1991 fui a pelo menos dois dias do Rock in Rio 2, que eram os dois dias do Guns N Roses. Lembro que um dos dias era mais "pop", com Faith No More (de quem, aliás, fui a outro show, sei lá em que ano, no Maracanãzinho) e, acho, Titãs, e o outro dia era o "dia do metal", com Sepultura, Megadeth e Judas Priest - este último, bem me recordo, foi um suplício, porque era o penúltimo show, foi longuíssimo, e foi um saco, todo mundo já exausto, com fome e sede, sentado no chão, e no palco aqueles metaleiros velhos acorrentados, gritando qualquer coisa por cima de uma bateria enlouquecida. Enfim, heavy metal. Neste dia teve o famoso show em que o Lobão foi vaiadíssimo, porque entrou com a bateria da Mangueira num show logo depois do Sepultura. (Faltou briefing, eu diria.)

Guns N' Roses no Rock in Rio 2, 1991: eu fui
Fui a uma porção de Hollywood Rocks nos anos 1990. Vi de novo Faith No More, vi Red Hot Chilli Pepers - mais de uma vez. Vi Bon Jovi, que eu adorava, Skid Row, Living Colour, Paralamas do Sucesso. Assisti ao auge do grunge, tendo Nirvana como grande nome da noite, antecedido por Alice in Chains (até comprei um CD dessa banda, meu deus!), L7, Poison e sei lá mais quem.

Nirvana no Hollywood Rock, 1993: eu fui
Em janeiro de 2001 eu trabalhava num site de música, e fui vários dias ao Rock in Rio 3, para escrever matérias. Foi a primeira e única vez que vi um show de Cássia Eller, que foi muito melhor do que eu jamais esperara. (Foi também, graças a deus, a primeira e única vez que vi um show do Supla, espero que para sempre.) Vi o show do REM, que foi incrível. E, talvez retribuindo ao que minha prima fez comigo em 1990, levei minha prima C., que é mais jovem do que eu e mora em Assunção, Paraguai, para assistir ao Red Hot Chili Peppers numa das noites em que eu só precisava cobrir os shows nacionais, portanto poderia ter voltado para casa às 22h, e não às 4h. De ônibus.

Cássia Eller no Rock in Rio 3, 2001: eu fui
Todo esse nariz-de-cera é pra esclarecer que já fui a muito mega-show em minha vida. Já passei muitas horas em filas, já enfrentei muito empurra-empurra, já passei fome, sede, frio e vontade de fazer xixi em condições desfavoráveis. Já cantei a plenos pulmões, acendi isqueiros que não tinha só pra compor o clima da música lenta, já subi no ombro de amigos para poder ver melhor e fui devidamente xingada por quem estava atrás (com toda razão, diga-se de passagem). Já peguei chuva, já tive que voltar andando por muitos e muitos quilômetros até encontrar algum tipo de transporte na madrugada, já tive que correr de confusão, já me perdi dos amigos no meio da multidão. E tudo sempre valeu a pena. Sempre eu chegava em casa muito feliz.

Acredito que seja em virtude de toda essa, digamos, quilometragem, que eu não me imagino mais indo a nenhum show desse tipo, na vida. Simplesmente não cogito mais a hipótese de, pra começo de conversa, assistir a um show em pé. Não dá. Não consigo imaginar nenhum artista que me faça passar de novo por essa situação.
Queen no Rock in Rio 1, 1985: ok, a este eu não fui
Não sei em que momento exato se deu essa transformação, de frequentadora habitual e não-cogitante. Achei que era, sei lá, uma coisa da idade. Afinal, né. Não estamos ficando exatamente mais jovens, filhos, etc., aquela situação ladeira-abaixo que todos conhecemos. Mas não. Não só metade dos meus amigos foi ao show do Paul McCartney hoje (a outra metade foi ao show dele ano passado em SP) como todos reagem com certo espanto quando eu falo, como se fosse um fato dado, que ir a show em pé não dá mais etc. (E nesse etc. entra o fato de cada ingresso custar uns 800 reais, ordem de grandeza que eu não me lembro de corresponder à realidade nos meus tempos de Hollywood Rocks da vida.) Talvez tenha sido uma certa mudança nas minha preferências musicais - ou, mais ainda, na forma como eu escuto música. O evento não me fascina mais, a energia da multidão, que me era tão cara, hoje me dia me parece exaustiva. Mas acima de tudo, não posso mais ir ao show de música para não ouvir a música direito. Parece simples, mas não é.

Paul no Engenhão, 2011: nem pensar
Seja como for. Espero que todos que tenham ido ao show hoje no Engenhão (no Engenhão!) ou que vão no show extra de amanhã se divirtam tanto quanto eu me divertia nessas priscas eras. Enquanto isso, vou ver o que restou da temporada de concertos no Teatro Municipal (hehe, mentira, nem orquestra tem mais nesta cidade...).

18.5.11

De tédio não se morre

Hoje à noite quando cheguei na porta do meu prédio, voltando do trabalho e da escolinha onde peguei Mathilde, percebi que tinha esquecido a chave dentro de casa. Marido estava não só fora como num lugar inacessível, celular desligado. Oliver passara o dia na casa da minha avó que, cáspite, já estava no táxi fazendo-me o imenso favor de trazê-lo de volta para casa. E, vocês sabem, meu prediozinho não tem nem portaria, nem porteiro, nada.
Mas tem vizinhos.
E um deles sugeriu que eu me esgueirasse pelo basculante da escada de serviço e entrasse pela janela da minha cozinha, que por sorte estava destrancada. E assim fiz, com inesperada destreza e felinidade de movimentos, sem provocar maiores acidentes.
E dois segundos depois do regozijo da conquista percebi como foi fácil, e corri pra trancar tudo.

17.5.11

The Help, de Kathryn Stockett


Comprei este livro movida pelo hype, e não me arrependi. The Help é um romance de estreia que está há uns 2 anos entre os mais vendidos nos EUA, tem mais de três mil resenhas na Amazon, média de mais de 4 estrelas, campeão de clube de leituras, vendido para não sei quantos países. É muito bom. E trata sobre o relacionamento entre patroas brancas, seus filhos e as empregadas negras que os criavam, no sul dos EUA, início dos anos 60.

A narração se alterna entre três personagens: Aibeleen, empregada e babá já mais velha, que está cuidando de sua 17ª criança branca, uma menina de 2 anos; Minny, colega e amiga de Aibeleen, mas que não consegue ficar muito tempo em emprego nenhum porque é desbocada e não leva desaforo para casa (engolir sapo é condição necessária para o emprego); e Skeeter, jovem branca amiga das patroas de Aibeleen e Minny.

O livro se passa em Jackson, Mississippi, entre 1962 e 1964, numa época em que o movimento americano dos direitos civis está em franca ascensão nos EUA, e o livro faz questão de ilustrar o apartheid de fato que ocorria -- um dos pontos principais de conflito é a ideia de que as empregadas negras não podem usar o banheiro social das casas brancas onde trabalham, e precisam de um banheiro específico para elas. Uma das personagens inicia uma cruzada pela construção de banheiros nas garagens para as empregadas. E é sobre esse tema que tudo gira: famílias brancas confiam às empregadas negras o cuidado com os filhos, mas não a guarda da prataria ou um banheiro comum.

Mas o motor da narrativa é o livro, intitulado Help, que Skeeter escreve, reunindo depoimentos de uma dúzia de empregadas sobre como é trabalhar em uma casa de brancos, e que termina publicado anonimamente, causando furor em Jackson. A coletânea é rica em experiências muito distintas, alternando relações de muito afeto e ternura, muito ódio, muita crueldade, e também compaixão. E durante a feitura do livro vão surgindo ótimos insights -- tanto para a mocinha branca que está colhendo os depoimentos como para as próprias mulheres que os estão ali prestando.

Um dos meus trechos favoritos é quando Aibeleen explica a diferença entre o ódio racial dos homens e o das mulheres brancas. Homens, diz ela, espancam outros homens até a morte, incendeiam casas, atiram entre si com pistolas. Mulheres, elas preferem manter as mãos limpas.
They got a shiny little set a tools they use, sharp as witches' fingernails, tidy and laid out neat, like the picks on a dentist tray. They gone take they time with them. 
E prossegue: primeiro a mulher branca demite a empregada negra. Em seguida, assegura-se de que ninguém na cidade a contrate. Depois, ela fala com o senhorio da casa, para que despeje a família da mulher negra que se tornou sua desafeta. Se tiver um carro e ainda não tiver pago todas as prestações, ele será retomado. Uma multa não paga, e é cadeia. Se tiver uma filha que também trabalhe como doméstica, ela será demitida. E finalmente o marido perderá o emprego. The white lady don't ever forget.

Kathryn Stockett, a autora, que nasceu e cresceu em Jackson, e teve uma empregada negra trabalhando para sua família, se arrisca ao escrever com a voz das empregadas negras. Mas o resultado é convincente, e eu consegui ouvir perfeitamente o sotaque do sul:
Parked in front is a old lumber truck. They's two colored mens inside, one drinking a cup a coffee, the other asleep setting straight up. I go on past, into the kitchen.
O livro tem uma pegada comercial muito forte. A ação é contínua, tem sempre um gancho para as situações mais importantes. Que não se espere muita sofisticação literária. Os personagens são bem unidimensionais: há uma super vilã, racista filha-de-uma-égua. Há as três personagens principais, verdadeiras heroínas, boas, honestas e virtuosas, cada uma a seu jeito. E há uma porção de intermediários, espécie de vítimas das circunstâncias, pessoas que não estão ali para questionar o status quo, e por isso acabam mal na fita.

Mas o que me chamou a atenção neste livro é que muitas das situações que estão ali por serem flagrantemente absurdas, recursos literários colocados para chocar, pela imensa carga preconceituosa que carregam, são tão... corriqueiros, no dia a dia no Brasil de 2011.

A começar, claro, pelo nosso ubíquo banheiro de empregada.

Dependências completas, área de serviço, entrada de serviço. Estamos, ainda hoje, construindo moradias com essas "conveniências". E o que é mais revelador: quando não se tem quarto nem banheiro de empregada (como aqui em casa, por exemplo), o desconforto maior parece vir das próprias empregadas e faxineiras, que se sentem constrangidas por terem de usar o mesmo banheiro, por terem de guardar seus pertences nos quartos da dita área social da casa.

Hoje em dia, parece, não pega mais bem falar-se em "empregada" ou "doméstica". É um tal de "ajudante", "assistente", "colaboradora", não sei mais o quê. Como se dar o nome fosse vergonha, mas fazer usar um banheiro em que a água do chuveiro cai em cima do vaso sanitário, porque é um cubículo, não fosse absolutamente constrangedor.

No Mississippi dos anos 60 grandes casas da classe média alta eram construídas sem área de empregada. No livro, nenhuma das empregadas mora na casa da patroa. Todas têm suas casas, seus telefones. Minny tem até um carro. Todas sabem ler.

Aqui no Brasil, as patroas quando confabulam entre si costumam se referir às empregadas como "elas" ("Sua empregada vai embora e nem te avisou com antecedência? Ah, 'elas' sempre fazem isso!"). Aqui no Brasil, muita gente acaba se tornando dependente de uma empregada que durma, que abdique de sua própria família para tomar conta da família que lhe paga.

E não digo isso com nenhuma superioridade moral que me exima das práticas que critico. Eu mesma fui criada desde os 5 meses de idade por uma empregada, que até hoje trabalha na casa da minha mãe e me ajuda sobremaneira com meus filhos. Na hora do aperto, é a ela que eu recorro, porque no mais das vezes a minha própria mãe não dá conta de ficar muito tempo sozinha com as crianças. É a ela que eu recorro quando preciso fazer uma comida - ou preciso que façam para mim. Ela é que foi comigo na festa de Dia das Mães da creche de Mathilde. Porque, por uma série de motivos, ela nunca criou uma família própria, nunca teve uma casa, um marido e filhos. Ela estuda, porque gosta, mas nunca se formou em nada, e dificilmente isso vai acontecer. Que tipo de dívida temos nós, as crianças criadas por babás e empregadas, para com essas mulheres que nos ensinaram tudo e mais um pouco?

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The Help vai virar filme, estreia em agosto nos EUA. As fotos acima são do filme. O trailer me parece o de um filme leve, quase uma comédia romântica. Espero que não.



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Sobre a edição brasileira:
The Help saiu no Brasil em fins de 2010 pela Bertrand Brasil, com o título A Resposta. Terminei de ler o livro (a edição americana) e não fiquei fã deste título brasileiro. Está certo que é uma tradução difícil. "Help" tem essa acepção "hired labor, domestic servant", e a expressão era muito usada na época e local descritos no livro. O site do livro criado pela Bertrand propõe uma pergunta para a tal resposta: "Por que as crianças brancas gostavam mais de suas babás negras do que de suas mães?". Ok, é uma questão abordada no livro, e é pertinente, visto que há sim um sentimento tão forte (vide o que escrevi acima), embora eu não enxergue como uma competição entre mães e babás. Mas reduzir o livro à relação crianças e babás e diminuí-lo demais. The Help é mais do que isso, é um livro sobre relações de classe, solidariedade e compaixão. Também não gostei da capa brasileira, confusa. Fiquei curiosa para saber como a tradução se virou com tanto regionalismo na voz das empregadas, mas ainda não li para saber.

Recentemente foi divulgado que a autora vem ao Rio em setembro para a Bienal. Tomara que, com esse impulso, o livro decole. Eu estarei lá para garantir o meu autógrafo.

15.5.11

Paguei pela língua

Eu tinha escrito aqui mesmo: Podem me cobrar.
Pois é. Festa de Dia das Mães da Creche.
Burra, burra, burra, caí nessa outra vez.
E o que posso dizer? Que a proximidade da nossa casa, uma das grandes, enormes, imensas vantagens de termos escolhidos essa creche em detrimento de outras, às vezes parece cobrar um preço bem caro. E que sou pessimista em relação às futuras gerações, haja visto esses pais que andam por aí impunes.
Mas enfim. Foi bem bonitinha a apresentação de balé de Mathilde, e a apresentação da turminha dela também. O problema foram as outras dez turmas.
Não tenho fotos para colocar aqui porque, apesar de ter levado a máquina, fiquei estupefata com o paredão de pais e mães que se colocavam na frente de todas as outras pessoas para tirar suas próprias fotos. Pobre tola, resolvi ficar sentada nas cadeiras!
Foi mal, estou num momento misantropa.

9.5.11

Saudade

Eu reclamo tanto que não tenho tempo para o blog, e hoje o tempo se fez, e estou há um tempão aqui tentando escrever um post, e não consigo.
Porque queria escrever sobre pessoas que eu conhecia e que morreram nessas últimas duas semanas, pessoas não tão próximas, mas próximas o suficiente para que eu fosse à missa de uma, ao velório do outro, etc. Não que eu fosse escrever exatamente a respeito dessas pessoas (foram 3), mas sobre a quantidade de sensações com que precisamos lidar quando nos vemos diante da morte dos outros, que é sempre um pouco a nossa morte também.
E sobre esses sentimentos de transitoriedade, de ciclo etc. Mas especialmente sobre a saudade. Porque as pessoas relacionam muito a morte a uma perda ("Sinto muito pela sua perda", etc.), mas esse nem é o sentimento que me fala mais alto. Muito mais é a saudade, a presença da ausência, o carrossel de recordações que gira na cabeça de quem fica, lembrando uma frase, um gesto, uma história engraçada, um trejeito, um tom de voz.
No fundo é uma saudade boa, um sentimento que sempre traz um sorriso aos lábios, sorriso misturado com lágrimas, lágrimas que levam ao abraço e a mais uma história compartilhada, "lembra daquela vez...". Tudo isso termina na incrível - e bota incrível nisso - capacidade que a gente tem de reviver com tanto detalhe um tempo que já passou, e não só re-viver como re-sentir, se transportar de verdade para outra dimensão, ao lado de alguém que não está mais.

1.5.11

Flamengo, campeão carioca invicto de 2011

Jogadores comemoram o 32º título estadual
A verdade (I) é que não tenho acompanhado o Bonde do Mengão Sem Freio, por um misto de falta de tempo e de saco, não vou negar. Mas quando acontece uma final contra o Vasco, com a chance de ganhar o título por antecipação (já tendo sido campeão do primeiro turno, a Taça Guanabara), não tem como não prestar atenção.

A verdade (II) é que domingo à tarde é quase certo de ter uma festinha de criança na agenda. E hoje não foi diferente. Quatro da tarde, e eu num play na Gávea (of all places!), dando aquela supervisão muito por alto entre o escorrega, a casinha de boneca, a contação de história e o pula-pula-a-maior-invenção-da-humanidade. Sim, porque depois dos 3 anos eu já considero tratar-se de uma criança grande, não me cabe ficar atrás o tempo todo, minha política é "avisem-me se houver sangue". (O pequeno, que completou 6 meses ontem (!), ficou em casa com o pai.) Ainda mais que, felizmente, era uma festa de filha de amigos de longa data, portando havia uma porção de gente que eu não via há tempos, muito melhor era ficar sentada numa mesinha de plástico botando o papo em dia, comendo batata frita feita na hora com chope tirado igualmente na hora vindo com ótima frequência na bandeja do garçom, ao lado de refrigerantes, sucos e águas.

Meu amigo M., que eu adoro apesar de tricolor, e que não via há um tempão, me franqueou seu celular com radinho na segunda metade do segundo tempo, e dei uma acompanhada assim como não quer nada. Quer dizer, tentei, porque como bem diz meu marido, não dá mais pra ouvir jogo pelo rádio. Entre propagandas de "Tomou Doril a dor sumiu - este medicamento é contraindicado em caso de suspeita de dengue. A persistirem os sintomas um médico deverá ser consultado", entrevista com Torcedor do Amanhã, ou com Maria Chuteira, entradas ao vivo de personalidades presentes no estádio, comentários do Futebol Show, Twitter do Torcedor etc., ninguém narra a p*orra do jogo.

Mas tergiverso. Depois do 0x0 no tempo normal, veio a decisão por pênaltis, e eu já fiquei mais tranquila. Porque, pra quem não sabe, nessa hora o Vasco sempre treme. Acompanhei as cobranças do meu jeito favorito: pela reação da vizinhança, pelos gritos de Mengo! e Vasco! alternados e progressivamente exaltados, até a epifania final, os fogos e o Uma Vez Flamengo, Sempre Flamengo que sempre se escuta, vindo de sei lá qual profundeza, talvez de um inconsciente coletivo rubro-negro (além é claro, do "Tomá no cu Vascô!", outro clássico imortal).

Comemorei com Mathilde e com meu afilhado de 2 anos, que ainda não tem time, mas a quem um tio já fez a bondade de ensinar a cantar "Sai do chão, sai do chão, a torcida do Mengão!" (tio flamenguista: atire a primeira pedra quem nunca teve um).

Voltamos no carro brincando de apontar pessoas vestidas com o Manto Sagrado. Eram tantas que a brincadeira quase nem deu certo.