31.12.06

27.12.06

A última semana do ano no Rio de Janeiro

Fim do dia (do ano?) no Leblon, por meanjean, via flickr
De repente você percebe que a cidade está lotada.
Todas as vitrines estão radiantes de roupas brancas.
Nos restaurantes perto da orla, uma babel de línguas.
Nos bares, o estica da praia ultrapassa as onze da noite.
Lá estão eles, de roupa de praia e areias nos pés, o rosto moreno e os olhos embotados e felizes depois do chope número vinte e dois.
Reencontros históricos no ônibus, lembranças de férias de verão do século passado.
Saudades sendo matadas na praia, onde todo mundo se encontra sem ter combinado nada.
Às duas da manhã, quando não há absolutamente nenhuma brisa, o termômetro na rua marca 35º.
Todo o resto é calmaria e maresia.

26.12.06

Ufa

Enfim sobrevivemos. Ao natal, às rabanadas, ao calor.

Estive com elas, que são uma grata surpresa, uma lufada de frescor e simpatia britânica no meu verão senegalês. Fomos ao Parque dos Patins, na Lagoa, que é “o” lugar para se estar com crianças, com milhares de atrações ótimas.

Com a família, fizemos o natal no supermercado, mais uma vez um sucesso absoluto. (Ganhei uns chás importados, dei damascos e Nutella.)

O fim do ano é a tradicional “anistia”, ou seja, a volta dos exilados. Impressionante. Todos aqueles que moram fora voltam, de vez ou por um tempo, para essas festas de natal e reveilão. Tempo de muitos reencontros.

E agora no pós-natal ainda saiu mais uma notícia boa, que provavelmente vai significar viagens em 2007. Êba.

O movimento do blogue caiu drasticamente. Não só eu não postei nada como também quase ninguém acessou. Que bom. As pessoas têm uma vida não-virtual, afinal.

E falando nisso, teve também, no pré-natal, aquilo que é a coisa mais legal dessa história toda de blogue. Conhecer os camaradas. Ela esteve aqui, e só deu pra tomar um cafezinho rápido, mas sabe quando rola uma empatia imediata? Então, pois é. Volte sempre, viu?

Várias pessoas deixaram mensagens e comentários desejando feliz natal e bom ano novo. Obrigada a todos, fiquei encantada. Ainda me surpreendo muito com essa comunidade bloguística, pessoas tão carinhosas e atenciosas.

And last but not least, o que as pessoas andam procurando no Google neste fim de ano e vindo para logo aqui:
Suco de manga abortivo (como assim? com leite?)
Simpatias para marido mal educado (difícil, hein, amiga!)
Vestidos gala pre mama (hein?)
E o melhor de todos:
Hidratação para cabelos fudidos (hahaha, se descobrir, eu também quero!)

22.12.06

Como eu vejo o fim de ano

Sabe quando você faz, em um único dia, coisas suficientes para preencher o tempo de uns... quatro dias? Pessoas, conversas, emoções, coisas demais num intervalo pequeno de horas. Pois é. Dezembro é foda mesmo.

Entre as muitas coisas chatas desse calor de rachar catedrais é que ele vira monotema. É impossível entabular qualquer conversação com qualquer pessoa sem citar a dor e a delícia da nossa circunstância tropical. No elevador, no trabalho, na fila, no ônibus, no táxi, no supermercado, é um tal de “Que calor, hein?”, “Mas que calor é esse?”, “Tá terrível esse sol”, “Quente, né?”, etc. Saco. E o ar fica tão espesso que parece poder se cortado a faca. E o vento que sopra é quente. E eu, que odeio banho frio, quero tomar um e a água sai do chuveiro morna. E, incrivelmente, as pessoas parecem amar esta estação.
Estou quase com inveja da Maria, que escreveu sobre o solstício de inverno no norte da Suécia. (Eu disse “quase”.)

Junto com o calor aparecem também os cartões de natal. Aliás, os e-mails de natal, que cartão pelo correio ninguém mais manda, quase. Os cartões corporativos. Blé. Tem os que tentam ser engraçadinhos e não logram sucesso. Tem os religiosos, que me dão engulhos. Tem os completamente sem loção que pesam seis megabytes. Tem os que fazem um apanhado dos eventos do ano, as falcatruas dos políticos, o mensalão, os sanguessugas, o Pinochet. Ninguém merece. Eu não mereço.

E pra coroar esse cenário de alegria, tem os engarrafamentos constantes em volta da Lagoa por causa da porcaria da árvore de natal, atravancando o trânsito da cidade inteira.

A despeito do acima exposto, eu estou bem.

20.12.06

O tempo em que salvávamos todos

Pique-esconde por garssa, via flickr


Estava voltando do almoço quando ouvi as crianças brincando na rua*:
PIQUE 1, 2, 3, SALVE TODOS!
Lembrei desse recurso maravilhoso do jogo de pique-esconde. Sim, havia um tempo em que você podia salvar todos. Com um pouco de astúcia, bastava aparecer na hora certa e gritar Salve todos! Como é cruel que a vida adulta não nos ofereça mais esta possibilidade. De ser o salvador de todos, de ter nas mãos o poder de fazer o bem a toda a comunidade – e levar o crédito por isso.
Se eu bem me lembro, o Pique 1, 2, 3, salve todos era uma prerrogativa do último participante do jogo que ainda não havia sido achado. Era o momento em que o pique-esconde virava um one-on-one, não mais um jogo coletivo mas uma disputa privada entre dois indivíduos, um procurando, outro se escondendo. Com as regras tácitas e seguidas à risca, como por exemplo a terminante proibição de guardar caixão (de onde vêm essas expressões?!). Nessa hora, todos aqueles que já tinham sido achados podiam gritar ao último que ainda se escondia: “Fulano! Bate Salve Todos!”. E a coisa ficava ainda mais emocionante, porque aquele que procurava poderia sagrar-se vencedor ou ser desmoralizado por um Salve todos que colocaria todo seu trabalho no lixo e o obrigaria a mais uma vez cumprir a solitária função do “procurador” (será essa a origem do nome do cargo?).

O que me fez lembrar de outro recurso maravilhoso das brincadeiras infantis que eu não me conformo de não poder mais usar: o “altos”. “Estar de altos” era a melhor coisa do mundo, era o poder de ser momentaneamente excluído do contexto, por um motivo qualquer. Se o jogo era polícia e ladrão, vinha a polícia te prender e você fazia o V da vitória do Churchill e dizia com a cara mais cínica: “Mas eu estou de altos”. E continuava andando tranqüilamente, até o momento em que resolvesse “sair do altos” (a concordância é o máximo) e voltar a correr.
Agora imagine poder ficar de altos no seu trabalho, no seu casamento, na reunião de condomínio, no ônibus lotado ou no engarrafamento? Como foi que deixamos que isso nos fosse tirado, na boba correria da adolescência? Pois eis aí, pra mim, os dois maiores baques da passagem da vida infantil para a adulta: a diminuição das férias, de 3 meses por ano para ___ dias por ano (tirados aos pedaços, espasmodicamente), e a impossibilidade de pedir altos num momento oportuno.


*Só mesmo crianças são capazes de não se importar de exercer uma atividade que pressupõe basicamente correr às 14:30 (sol de 13:30 com horário de verão) de uma tarde em que a temperatura deve andar pelos 42º à sombra.

Esopo século XXI

E no almoço de família surge a história fantástica.
A mulher andava muito desconfiada que o marido tinha uma amante. Até que um dia achou, dentro do armário dele, uma mala cheia de dinheiro. Daquelas de filme de máfia. Imprensou o marido contra a parede, e ele admitiu que sim, tinha uma amante, tinha inclusive um filho com ela, e aquele dinheiro era para comprar uma casa para a amante. Não sei os detalhes e os meandros. Sei que a mulher deu um jeito de surrupiar a tal mala de dinheiro, pegou a grana e fez uma mega viagem pelo mundo (!). Depois que voltou (porque deve ser um desses casamentos que não se desfazem por nada), falou para o marido que ele tinha que fazer um teste de DNA para ter certeza que o filho com a amante era mesmo dele. O cara fez e, bingo, o filho não era dele. (Portanto o cara era corno da amante.) Pelo que se sabe o casamento resiste até hoje, mas fico pensando a humilhação diária que deve ser a vida desse homem.

Achamos que essa é uma espécie de fábula de Esopo contemporânea, e a moral da história fica por conta de cada um.

17.12.06

Música do Brasil


Segunda-feira fui ao lançamento dessa caixa de CDs. É um projeto dessa gravadora, patrocinado por essa empresa. São 9 CDs com gravações contemporâneas de composições instrumentais brasileiras escritas por autores nascidos no século XIX, em todo o Brasil. Todas as músicas são choros ou gêneros que se inserem no universo do choro (tango brasileiro, polca, maxixe, valsa, schottisch, quadrilha, etc.s). Aí está um dos grandes baratos da caixa: ver como, entre o final do século retrasado e o início do passado o choro já era disseminado em todo o Brasil varonil. Outro barato: trazer à tona uma quantidade imensa de ótimos compositores de quem nunca se tinha ouvido falar. E mais uma coisa fantástica: contar essa história da música popular brasileira de uma forma musical. Você não precisa ler, basta ouvir.
Pronto. Taí o lide. Agora vamos voltar ao "tudo começou". Pois foi na Biblioteca Nacional que tudo começou, com uma pesquisa no setor de partituras. A pesquisa foi feita por músicos (note a diferença). Descobriram que havia uma quantidade imensa de partituras editadas (pra piano) e cadernos manuscritos de chorões, com composições de que ninguém tinha ouvido falar nos últimos 150 anos. (Os cadernos dos chorões são uma glória à parte. Acho fantástico que tenham sobrevivido alguns desses exemplares. São jóias mesmo, cadernos de partituras manuscritas, só melodias -- geralmente pelos flautistas ou clarinetistas ou bandolinistas, ou seja, pelos solistas, que sabiam ler música, já que o pessoal da base seguia tudo de orelhada mesmo.)
Copiaram tudo que puderam, e quando chegaram a 8 mil músicas resolveram dar um tempo, porque pelo visto aquilo ali não ia ter fim.
Das 8 mil músicas, selecionaram as 214 melhores e lançaram, em 2002, a primeira caixa, com 15 CDs (vendidos também separadamente em 5 discos triplos), só com compositores nascidos entre 1830 e 1880 e atuantes no Rio de Janeiro. Junto, lançaram os livros com as partituras. Mas notem que, da maioria dessas músicas, que vinham dos cadernos dos chorões, só havia a melodia -- a harmonia teve que ser escrita depois. E é claro que só quem pode fazer isso é gente com muita, mas muita moral e conhecimento de causa -- coisas que só uma vida inteira dedicada ao choro podem proporcionar. Critério. Referência. Essas coisas.
Hmm, música do Brasil imperial... Já sei, você está achando que é uma velharia, uma coisa tipo modinhas com títulos como "Não bula comigo, Nhonhô" ou "Candongas não fazem festas" (© Machado de Assis). Não é. Veja só como é moderno:

http://www.goear.com/listen.php?v=ccb778a

Pois. Agora vem essa outra caixa, a da Música do Brasil. 132 obras de 74 compositores nascidos até 1900, de todas as regiões do Brasil.
Nordeste

http://www.goear.com/listen.php?v=88b38e9

Sudeste

http://www.goear.com/listen.php?v=795d194

Sul

http://www.goear.com/listen.php?v=dad1382

Norte

http://www.goear.com/listen.php?v=6e7556a

Centro-Oeste

http://www.goear.com/listen.php?v=f88a7b7

No embalo da discussão anterior sobre o uso das leis de incentivo à cultura, este é um exemplo dos projetos que valem a pena. Nem tudo está perdido, afinal.


16.12.06

15.12.06

Post com sotaque

Esta semana ele e ela fizeram uns tais posts audiovisuais.
Hehe, tenho que dizer que achei meio estranho.
Porque a gente se habitua à maneira da pessoa escrever, que é sempre muito diferente do que a gente espera ser como a pessoa fala.
Já escrevi aqui antes sobre essa coisa de ler versus ouvir, por conta da apresentação dos Miguilins contando trechos de Guimarães Rosa. De como sempre é diferente daquilo que a nossa imaginação escolheu. Mas claro que pode ser uma surpresa agradável.
Agora o senhor mire e veja: ela tem um sotaque eu nunca esperava! E que me fez rir! Ai, que coisa. Com o tempo acostuma, claro.
A nossa resistência ao diferente se demonstra em tu-do na vida.

Volver


Na seqüência de abertura, um cemitério. Muitas mulheres, com roupas antigas, lenços no cabelo, limpando freneticamente as tumbas. Botam flores, passam panos, lustram metais. São muitas. Mulheres e tumbas. Flores e lápides. O vento espalha a poeira e a terra. Os letreiros vão passando, a música ao fundo. Tem uns filmes que te pegam logo no primeiro minuto.

14.12.06

Pensamentos de quinta*

Por que sempre dizem dezenove e trinta e sete e meia, e nunca dezenove e meia e sete e trinta?

Seu marido/sua mulher ronca? Você costuma ir a shows de rock ou música eletrônica com o volume nas alturas? Você trabalha com máquinas pesadas? Seus problemas acabaram. Visite a sensacional e completíssima earplug store, e encontre a solução para o seu desconforto auditivo.

Todo ano quando vejo essas luzes de natal brancas e que não piscam, que as pessoas colocam em volta dos troncos das árvores, acho que são jabuticabeiras atômicas.

* com trocadilho.

13.12.06

Brigando pelas migalhas

Nossas grandes damas do teatro foram a Brasília fazer escândalo contra a lei de incentivo ao esporte, que disputaria patrocínios com a cultura. Pensei: Ai, mas que horror, que corporativismo mesquinho. Pô, coitados dos atletas, gentem, abstrai do futebol, da F1 e do tênis e pensa nos nossos maratonistas fudidos, nos nadadores indigentes, nos ginastas que não podem competir porque não têm patrocínio, etc. Tá cheio de historinha triste no mundo do atleta pobre brasileiro.
Agora vejo que por causa da pressão dos artistas o governo deve aumentar o percentual que pode ser descontado do imposto devido, de 4% para 8% no caso das empresas (4% para cultura, + 4% para esporte).
Ou seja, no fim das contas a choradeira acabou mandando muito bem.

Já ouvi boatos que dizem que a Lei Rouanet vai terminar no meio de 2007. Imagina só o caos. Atualmente acho que os únicos produtos culturais não patrocinados via lei de incentivo no país são novela e disco do Rei Roberto. Tem distorções gritantes, como o inconcebível patrocínio via lei do Cirque de Soleil, que ainda por cima cobrava ingressos com preços de 3 dígitos. Ou o último show da Marisa Monte, igualmente caro e patrocinado com o meu dinheiro, um evento que se paga em qualquer circunstância, e não precisa de incentivo fiscal.
Acredito que a cultura deva, sim, ser incentivada pelo Estado. É estratégico, é fundamental, e não pode ficar sujeita apenas às leis de mercado. Não é uma atividade como outra qualquer. O esporte idem. Pena que o critério para decidir o que merece e precisa desse tipo de incentivo seja tão falho. Se essa lei do esporte permitir, por exemplo, que se patrocinem times de futebol como o meu Mengão com renúncia fiscal, o que impediria uma empresa a usar a Lei Rouanet para patrocinar Páginas da Vida?

A incrível família v.

O fim de semana que passou foi tão família que eu me sinto como se nem precisasse mais de um Natal. Foram tantos primos, primas, amigos, madrinha etc. que a minha semana já começou mais leve. Minha camiseta Hello Nietzsche fez tanto, mas tanto sucesso, que achei que deveria compartilhar por aqui.

Mais sucesso só quem fez foi a B l u m e, a nova grife de roupas desenhadas pela minha prima, que teve sua première no domingo. Vejam aqui embaixo a foto do convite, que leeenda. Ainda não sei onde vai vender no futuro, mas quando souber faço propaganda. Outra prima está lançando um guia da Ilha Grande (aparentemente, por mais incrível que pareça, não existe nenhum outro). Eu já tenho o meu. Por enquanto só vende lá na Ilha mesmo, mas assim que tiver na internet eu volto pra fazer a divulgação familiar.

12.12.06

Mosquitos

Antes de mudar para onde moramos hoje, nunca tinha tido problemas com mosquitos em casa. Agora que vivemos numa rua muito arborizada e num andar baixo (ou seja, as árvores são muito mais altas do que as janelas), a situação é outra. As espécies de mosquitos e pernilongos variam com a época do ano. Tem uns grandes, verdadeiros monstros, que ficam tão pesados de sangue-do-meu-sangue que é fácil abatê-los com uma palma, e sua mão fica toda ensangüentada. Tem os menores, muito mais ágeis e insuportáveis, com seu zumbido agudinho, dificílimos de matar. E tem os mosquitos bobalhões, os mais fáceis de exterminar, mas que não matamos porque eles são tão obtusos que nem mordem.
Naturalmente, o horário favorito deles é à noite. E o lugar, a nossa cama. Melhor, o nosso ouvido. É tiro e queda: quando você já está naquele estágio de semiconsciência, quase dormindo, vem o zzzzzzzzz no seu ouvido. A partir desse momento, a nossa reação pode variar muito:

  • Charles Bronson – Justiça com as próprias mãos. Levantar, acender as luzes e matar o filho da puta custe o que custar, nem que se passe a noite em claro tentando.
  • Refusal/Denial – Não acreditar que isso está acontecendo. Cobrir a cabeça com o travesseiro ou com o lençol até sufocar.
  • Solução Final, via Zyklon B – O bom e velho spray de Baygon. Infalível, mas sua cama e seu quarto ficam meio contaminados. E não beba mais aquele copo d’água da cabeceira.
  • Perfume noturno – Passar repelente no rosto e braços, mas principalmente no ouvido, o lugar da predileção de todos os mosquitos. Aliás, nunca entendi por que eles ficam rodeando sempre o ouvido.

Sei que fico meio paranóica. Ouço o zumbido, começo a sentir vários focos de coceira, mas acho que não devo coçar, porque pra mim é nesse momento que você se ferra. Acho que, no fundo, nunca superei o pavor do Trypanosoma Cruzi, uma das minhas memórias “acadêmicas” mais remotas (aulas de ciências no primário, onde a gente aprendia sobre doenças campestres como esquistossomose e solitária). Se vocês se lembram também, o barbeiro, uma espécie endêmica das casas de pau-a-pique, pousava no rosto da pessoa e fazia cocô. E aí, quando a pessoa coçava era que se infectava. Totalmente traumático, apesar de eu nunca ter morado numa casa de pau-a-pique nem conhecido alguém que tenha tido Doença de Chagas.

Isso tudo porque, graças a mim, o mundo hoje amanheceu com três mosquitos-monstros a menos. U-hu!

Nossos japoneses são melhores

Marido manda notícias do Oriente. Vejam essa curiosa privada do hotel em Nagóia. Tirem suas próprias conclusões, e compartilhem-nas no espaço dos comentários.
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Em primeira mão

Notícia triste.
Acabou de acabar a ótima revista Nossa História.
:-(

11.12.06

Mundo corporativo


De fato, nunca vou conseguir me dar bem no tal mundo corporativo. Uma questão de perfil. É preciso estômago, é preciso um desprendimento que eu não tenho. Quando pedi demissão, mês passado, foi aquele chororô. Tá, sei, como se fosse uma big surprise. Poupem-me. Fizeram-me contrapropostas; pensei, ponderei, não aceitei. Consegui acertar ser demitida com todos os benefícios. Depois vim a descobrir que na verdade o überchefe queria limar o unterchefe e me dar mais responsabilidades a troco de um salário um pouco melhor e uma promoção besta, mas sem me promover ao cargo de unterchefe – i.e.: muito mais barato. Daí que a minha saída espontânea ferrou com o esquema. Sem mim, não dá para rifar o unterchefe. Agora imagina se, sabendo disso, eu teria alguma condição de aceitar a contraproposta que fosse e ficar? Como se eu tivesse tramado esse mise-en-scène de pedir demissão e depois ficar no lugar do cara. Sai pra lá, jacaré. E agora, na sexta, muda tudo outra vez, e anuncia-se, tchã-rã, a venda da empresa! Uhn? Eu hein. Então pra que esse teatro todo nas semanas passadas? Ai, olha, tô fora. Não fico mais até janeiro, como tinha combinado. Com essa conjuntura, é fim de dezembro e adeus!

10.12.06

Serviço de utilidade pública - parte VI

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras.

6º grupo (4):
4 terminados em -b: ab-, ob-, sob- e sub-.

Regra: Pedem o hífen quando seguidos de elementos começados por r que inicie sílaba ou b (VOLP).

Exemplos: ab-reação, ab-reptício, ab-rogação, ab-rogar, ab-rogatório; ob-repção, ob-reptício, ob-rogação, ob-rogar; sob-roda, sob-rojar; sub-raça, sub-região, sub-reino, sub-rogar, sub-base, sub-borato.

Obs. 1: No corpo do PVOLP, embora se indique, entre parênteses, que o r não forma grupo com o b, registra-se sem o hífen: abrupção, abruptela, abruptinérveo, abruptipenado, abrupto, em contradição com a regra das "Instruções"; o VOLP, mantendo embora essas formas, registra-as igualmente com hífen: ab-rupção, ab-rupto, etc., como formas preferíveis.

Obs. 2: Numa reação à repugnância que nos causam formas como subepático, subumano, o VOLP registra igualmente sub-hepático e sub-humano. Mantém, no entanto, subárea (!), suboficial e outras igualmente contrárias à pronúncia geral.

Sem o hífen noutros casos: subdiretor, subsecretário, subdesenvolvido, subperíodo, etc.



Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

9.12.06

Serviço de utilidade pública - parte V

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras.

5º grupo (1): bem-.

Regra: Emprega-se o hífen "quando a palavra que se lhe segue tem vida autônoma na língua ou quando a pronúncia o requer".

Exemplos: bem-amado, bem-aventurado, bem-casado, bem-comportado, bem-educado, bem-humorado, bem-estar, bem-parecido, bem-soante, bem-falante, bem-vindo, bem-me-quer, bem-te-vi.
Mas: bendito (nos dois Vocabulários), bem-dizer e bendizer, benfeitor, benfeitoria, bem-querença e benquerença, bem-querer e benquerer, benquisto.

Repare-se que bem e mal, usados como advérbio, numa frase, não se aglutinam, nem se separam com hífen:
"Gosto de carne mal assada." [Compare: "A mal-assada (= fritada de ovos) estava deliciosa."]
"Um recado mal entendido não pode ser bem transmitido." [Compare: "Por um mal-entendido (= equívoco) quase houve uma tragédia."]
"Traz os cabelos bem (ou mal) arranjados."

Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

8.12.06

As roubadas em que eu me meto – capítulo 8.542

Movida pela culpa, fui ontem à formatura de Cunhado nº 3 – o caçula. Sim, movida pela culpa de não ter lido a monografia que ele me mandou, de nunca perguntar sobre a faculdade, de não dar muita bola para a sua/dele vida pessoal, por não ter paciência para os seus problemas etc.
Formatura é aquele programa que, por princípio, ninguém merece. Só os formandos acham graça – e, vá lá, os pais se emocionam, e tal e coisa. Não era uma daquelas formaturas cheias de pompa, mega-evento, como são normalmente as de medicina, engenharia, direito e demais carreiras tradicionais. Porque, se eu ainda não disse, Cunhado nº 3 se formou em musicoterapia.
Parafraseando o nome de blog mais engraçado que eu vi nos últimos tempos, “gente, foi horrível!” (Tá, tá, exagero, não foi tão "horrível", mas não podia perder a chance de usar essa tirada.)
Eram 12 formandos (10 mulheres e 2 homens), incluindo uma senhora que deveria ter por volta de 75 anos e que, verdade seja dita, foi a coisa mais legal da noite.
O evento estava marcado para as 18h30. Eu, me sentindo “a” malandra, cheguei lá 19h45, crente que ia fazer um bonito de aparecer, posar de “presente” na família, já que marido querido está viajando, e aturar uns quinze minutinhos de cerimônia. (Porque meus planos originais ainda incluíam ir ao supermercado depois.) Quando cheguei, o auditório totalmente lotado, passava um vídeo de homenagem a algum professor (que provavelmente morreu ou foi embora) e os formandos cantavam “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito” acompanhados por um solitário violino. Je-sus. Como estava muito cheio, tratei de ficar atrás de todo mundo, sentada numa escadinha, onde daria até para sacar meu MP3 player e ficar ouvindo, bem autista, sem chamar muita atenção. Mas não deu certo, porque Sogrinha me viu e começou a acenar enfaticamente, e não tive jeito a não ser sentar numa cadeirinha que ela, fofa, tinha guardado ao lado dela. Assisti ao discurso que a paraninfa leu. Discurso lido eu acho péssimo. (“Foi com imensa surpresa que recebi o convite para ser paraninfa dessa turma, convite feito no meio do burburinho dos corredores...”) Mas não contente, tinha uns trechos que ela cantava. Teve também uma série de esquetes teatrais feitas pelos formandos em que eles imitavam os professores. Assim, uma homenagem, sabe? Eles riram muito, mas naturalmente 95% dos presentes, que nunca tiveram aulas com aqueles mestres, não entenderam nada. Depois teve um número musical para cada professor. E olha, enquanto instrumentistas esses formandos são ótimos musicoterapeutas. Teve entrega dos diplomas, um a um, com videozinhos de cada um. Teve discurso de agradecimento, de cada um (e pelo menos 10 dos 12 foram assim: “queria agradecer, em primeiro lugar a Deus, blablabla, em seguida, à minha família, minha mãe, meu pai, porque se não fosse por eles... – choro – e a essa turma maravilhosa, que é minha segunda família etc etc.”). Teve juramento em frente à bandeira nacional (que tremulava no vídeo, numa animação que me deixou meio tonta). Teve música até para agradecer aos funcionários!
Cunhado nº 1, muito mais sagaz do que eu, chegou às 20h50. Às 21h eles estavam começando a se auto-homenagear musicalmente, isto é, todos cantavam e tocavam uma música para cada um. (Já falei que eles tocam super mal? Ah, já, né?) E eram músicas do Raul Seixas, Caetano Veloso, do Clube da Esquina (Alô Arembepe! Alô Mauá!). Sim, tinha esse clima hippie que não posso deixar de mencionar. Eles estavam todos descalços. E as moças todas de vestidos longos, mas não vestidos de gala, e sim vestidos ou saias hippies até os pés. Só tinha uma que estava de gala, e era a única destoante que não estava descalça porque estava com uma sandália de salto com pedrinhas de strass, que combinava com o vestido e com o cabelão até a cintura. Até a senhora de 75 anos estava descalça. Sogrinha estava emocionada, e só se abalava quando tocava o celular do Sogrinho (vááárias vezes) e ele incrivelmente atendia e se punha a falar com alguém, alto e meio sem loção.
O negócio foi acabar lá pelas 21h40, com todos eles cantando nem sei mais o quê e abraçados numa rodinha chorando. Aplausos, aplausos. A essa altura meu supermercado já tinha ido pro espaço.
Seguimos então para o programa família, sem o nobre formando, que, naturalmente, foi comemorar com seus pares. Pizza. No restaurante que ele sabe que eu detesto. Mas que a gente sabe que não tem jeito, é o preferido da família mesmo. E até a pizza que faz a fama do lugar estava péssima. O que salvou foram as maravilhosas histórias do Tio, desta vez contando como tinha sido o surreal resgate dos brasileiros no Líbano em agosto deste ano, quando da guerra com Israel. (Merece um post à parte.)
É em horas como essa que eu faço um esforço maior para acreditar naquela esparrela de que há um julgamento final e que todos seremos julgados de acordo com nossos atos. Porque eu estou acumulando uma porção de pontos.

Cinco mil


Em algum momento na noite de ontem pra hoje este blogue teve seu 5.000º acesso. (Precisamente alguém do Rio, acessando pela Infoglobo Comunicações Ltda., que ficou aqui por 7 segundos.) Pode parecer pouco, mesmo para um blogue anônimo como este. Tá cheio de blogue amigo, de gente como a gente, que tem mais do que isso por dia. Não importa. Pra mim é o máximo. Tô comemorando, que nem o Calvin e o Haroldo.

7.12.06

Matrimoniais


Minha professora de Pilates é de Barra Mansa, mas de família mineira, e como todo bom mineiro, fala pelos cotovelos. Ontem o assunto era o casamento dela. Contou que o vestido de noiva que ela alugou tinha sido usado na mesma semana por outra noiva, e quando ela foi na loja ainda não tinha sido lavado, e estava imundo e com a barra toda rasgada, e ela quase desmaiou quando viu. E que no mesmo dia ia ter outro casamento, mais tarde, então o normal era que ela e a outra noiva dividissem o custo das flores que enfeitariam a igreja, mas a outra noiva queria colocar flores de plástico, porque era muito mais barato, e era uma noiva muito humilde, que trabalhava como manicure e tinha trocado aquelas flores de plástico por não sei quantos pés-e-mãos com a dona da loja. Então ela acabou pagando quase tudo sozinha, para ter as flores naturais. E de como se endividou sobremaneira por causa da festa e dessa louca indústria de buquês, calígrafos, convites, lembrancinhas e bom-bocados. Que em cima da hora descobriu que o padre estava de férias (!) e saiu xingando tudo e todos na igreja, para indignação total da mãe, super católica. Aproveitando a deixa, a outra aluna, que casou em Volta Redonda, disse que no casamento dela o padre não aparecia, e que o sacristão ou sei-lá-o-que da igreja falou para ela, com a maior calma do mundo, “não sei se ele vem, não, você não tem o telefone dele?”, como se ela fosse sacar do bolso do vestido de noiva um papelzinho com o telefone do padre! E enfim o padre chegou, meia hora depois da noiva, e que ela casou muito puta e no maior estresse.

Sinceramente, a pessoa não precisa passar por tudo isso na vida para ser feliz.

5.12.06

A saudade mata a gente

A odalisca Índigo outro dia postou sobre “palavras em falta na língua portuguesa”. Aquelas intraduzíveis. São muitas mesmo. Ela citou blind date*, deadline, to earn. Eu já falei aqui sobre misplaced, que não é bem “fora de lugar”, e sim “no lugar errado por engano”, a meu ver – mas isso é uma tradução de 5 palavras para 1, aí não vale.
Agora, vamos passar para a recíproca: palavras em falta nas outras línguas. Não entendo, não consigo entender, não compreendo mesmo como existem idiomas que não diferenciam ser e estar. Aliás, nenhum idioma que eu conheço faz essa diferença, exceto o espanhol. Ser e estar são conceitos completamente diferentes, como é possível que sejam designados pelo mesmo único verbo? Umas pobrezas de línguas, essas que tem por aí, viu?
Bem, quem vê pensa que eu domino oito idiomas. Não é bem assim. Sei que em inglês e francês não tem diferença. No que me recordo daquelas aulas de alemão lá atrás, também era tudo em cima do sein. Italiano não sei. Mas aquele livro do Luiz Ruffato, por exemplo, Mamma, Son Tanto Felice, quer dizer Mamãe, sou tão feliz, ou Mamãe, estou tão feliz? (Ou nem uma coisa e nem outra, e eu é que sou metida achando que entendi italiano?) Você aí, amigo leitor, que fala romeno, húngaro, sueco, holandês, chinês, árabe, russo ou swahili, o que tem a dizer sobre essa questão relevante?

Isso pra não falar de saudade. Saudade é um sentimento tão universal, como é possível que só os portugueses tenham tido a idéia de dar uma palavra a ele? Gênios, esses patrícios.

Mas o que me falta mesmo, neste momento, é uma palavra para designar a saudade que se sente quando o ser amado encontra-se do outro lado do mundo, a doze fusos horários de distância. A presença da ausência é foooorte.

* Eu acho que “encontro às cegas” cumpre a função, mas o problema é que essa prática não existe por aqui, daí a inutilidade de haver um termo para algo que não existe na realidade da língua. (Blind date é o cacete! Viva a cultura nacional! hehe)

Pergunte ao Google

Resisti o quanto pude ao obrigatório post sobre as buscas do Google fazem as pessoas chegarem a este blogue. Os temas campeões são "simpatia para trazer a pessoa amada" (por causa deste post), "fotos eróticas de freiras taradas" (aqui), "pão de miga" (Bs As, claro) e, medo!, "corte de cabelo repicado" (todavia arrentina). Mas hoje alguém veio pra cá ao procurar "como le dar com pessoas com trastorno bipolar?" (sic, sic). Eu me pergunto, então: como le dar, amigos?

Suspende

Do site oficial do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil.

Suspenção/Cancelamento do Benefício

(suspiro)

Hoje também eu descobri que o meu dicionário Aurélio (o grande) pula da página 544 para a 577.

A última flor do Lácio, inculta e bela, me faz sofrer.

4.12.06

O Homem Horizontal


Estou aqui me divertindo com esse O Homem Horizontal, que você provavelmente não conhece. O romance, recém-lançado pela editora Publit, que publica livros sob demanda, é a história de Hebdomadário de Oliveira, um homem só e desnecessário.

"O homem desnecessário chama-se, por exemplo, Hebdomadário de Oliveira, que é esse o meu nome, exatamente esse. Sou, nesse particular, um homem comprovadamente só, por absoluta falta de outro Hebdomadário. Trago a certidão de nascimento sempre comigo, para aquelas pessoas que não acreditam que alguém possa ser, dos Oliveiras, o Hebdomadário."

E é nesse estilo extravagante e hilário que se desenrolam as muitas peripécias do protagonista só e desnecessário. Por vezes, rocambolescas demais, mas em certas ocasiões o enredo se rende ao estilo -- o humor erudito, poderia-se dizer.

"-- Frank?
-- O quê?
-- Os espelhos e a cópula são abomináveis porque multiplicam o número de homens, você não acha isso, acha?
Até para citar Borges a gente precisa ter cuidado. Eu, amante profissional, falando mal da cópula, e desse modo escarrando no leito generoso que me dá amor e me alimenta a vinho de seleção e caviar. Mas o autor citado é o Borges, pô, e Borges devia pairar acima dessas susceptibilidades. Mas não paira, não paira, não paira, não."

Para quem gosta de descobrir novos autores, um prato cheio.

Moda


Então quer dizer que agora, depois das roupas em que as mulheres literalmente se embrulham pra presente com um laço de fita em torno do estômago e um laçarote, a moda é calça legging por baixo do vestido?
Vou te contar, esse pessoal da moda tem um senso de humor muito estranho...

Serviço de utilidade pública - parte IV

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras.

4º grupo (2): mal- e pan-.
Regra: Pedem o hífen quando seguidos de vogal e h.
Exemplos: mal-acabado, mal-agradecido, mal-assada, mal-assombrado, mal-educado, mal-estar, mal-humorado; pan-americano, pan-africanismo, pan-eslavismo, pan-helenismo, pan-hispânico.

Obs.: O Pequeno Vocabulário registra sem hífen malajambrado, quando seria de esperar mal-ajambrado, forma única usada no VOLP e, provavelmente por inadvertência, panarmônico em vez de pan-harmônico, segundo manda a regra; o VOLP registra as duas formas.

Nos outros casos não ocorre o hífen: malcriado, malfazejo, malferido, malgrado, malmequer, malquerença, malquisto, malsão, malsoante, malversar, malvisto; pangermanismo, panromânico.

Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

2.12.06

Uma noite em Tuktoyaktuk


É engraçado quando duas pessoas diferentes resolvem te dar o mesmo CD de presente.
Mas bonito mesmo é ver que elas te conhecem muito bem, porque acertaram em cheio.
Com vocês, o disco de estréia doBrasov, Uma Noite em Tuktoyaktuk.
(Que é pra começar o fim de semana dançando)


http://www.goear.com/listen.php?v=be976e3


http://www.goear.com/listen.php?v=2778313

OBS: O CD vem com 6 capas diferentes, pra você escolher sua preferida.

Serviço de utilidade pública - parte III

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras

3º grupo (2)
2 terminados em -r: super- e inter-.
Regra: Pedem o hífen quando seguidos de h e r.
Exemplos: super-homem, super-humano, super-requintado; inter-resistente.
Nos demais casos não se usa o hífen: superabundante, superdotado, superfino, superpotência, superprodução.

Obs. 1: É super- o único prefixo terminado em r citado nas "Instruções"; mas é lícito incluir nesta regra inter-, de que o PVOLP registra um exemplo com hífen: inter-resistente. O VOLP inclui numerosos outros, como inter-racial, inter-relação, etc. E assim procede o VOLP, que registra com hífen compostos em que o segundo elemento se inicie por h: inter-helênico , inter-hemisfério e inter-humano.

Obs. 2: Seria de esperar que outro prefixo terminado em r, hiper-, seguisse a mesma regra. O Pequeno Vocabulário, entretanto, registra hiperepatia, hiperidrose, entre outras palavras, quando seria de esperar hiper-hepatia, hiper-hidrose. Mais uma incoerência oficial. O VOLP mantém hiperepatia, inexplicavelmente, uma vez que estabelece o hífen quando hiper- vem seguido de h ou r. E registra hiper-hidrose (ao lado de hiperidrose), hiper-hedônico e hiperedônico, hiper-hidratação e hiperidratação , com preferência para as formas que mantêm o hífen.

Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

1.12.06

The American Friend

Klimt, "Árvore da Vida", 1905-09

Som: In a Sentimental Mood com Duke e Coltrane.


http://www.goear.com/listen.php?v=35bcdcd

Quando conheci D. e R. eu devia ter uns 6 ou 7 anos. Eles eram um casal de amigos da minha mãe, e vinham bastante para o Brasil, a trabalho mas também porque gostavam. E como eram americanos, e era a década da hiperinflação, eu sempre tinha a impressão que eles eram muito ricos. Nem eram. Mas eles alugavam uns apartamentos na Vieira Souto, de frente pra praia de Ipanema, e eu ia lá e achava uma gastação de onda. Claro que eles alugavam esses apês junto de parentes e amigos que vinham também, e no rachuncho não deveria sair tão absurdamente caro. Naquela época em que tudo aumentava tanto de preço tão rápido que nem mesmo a gente conseguia acompanhar.
Eles traziam uns presentes bárbaros para mim. Uns ursos de pelúcia enormes, como eu nunca tinha tido. Uns livros para colorir que eram simplesmente fantásticos. E uns super estojos de pilots de mil cores, que era para colorir os livros. Presentes inesquecíveis.
Naquela época a gente se comunicava não sei bem como. Alguém traduzia, mas na verdade rolava uma comunicação direta. Principalmente com D., com quem sempre me dei tão bem.
Quanto eu tinha 8 anos fomos para os Estados Unidos, minha mãe e eu. E encontramos com eles em NY. D. tinha a pachorra incrível de ficar me levando nos fliperamas onde a gente podia jogar Pacman sentado no banco, a tela ficava como se fosse numa mesa, você tinha que olhar para baixo, não para frente. E eu só despejando quarters no Pacman, e morrendo na mão dos fantasminhas.
Depois eles vieram ao Brasil muitas outras vezes. Eu era adolescente, e ia com eles a shows de jazz. Chique no último, quando você tem 13 anos.
Aos 15, passei seis meses nos confins da Carolina do Norte, e quando acabou fui para a casa deles em Nova York, e fiquei um mês inteiro lá. Hoje em dia, que tenho minha casa e às vezes hospedo pessoas, sei que não é exatamente uma moleza ter um hóspede por um mês. Ainda mais um hóspede de 15 anos. De outro país. Eu ajudava como podia. Levava a cachorra pra passear e paquerava os outros donos de cachorro do Lower East Side. Fazia coisas secretariais para a pequena produtora que eles tinham em casa, como passar fax, bater envelopes à máquina (1992, people, um tempo estranho sem internet) e colocar no correio. Levantava cedo e ia comprar bagels para o café da manhã. Eles me levavam ao Blue Note. E foram comigo a Woodstock, para que eu conhecesse a mítica cidade do festival. E um fim de semana me levaram a Connecticut. Eu tinha um walkman e gostava de andar pelas ruas da cidade ouvindo música (na época eu comprava fitas K7 originais dos álbuns; hoje acho que as crianças não sabem mais que isso um dia existiu). Ele me dizia para não fazer isso, porque o som das ruas era importante para sua própria segurança (por exemplo, pra não ser atropelada, ou para se ligar se vier uma sirene ou gente berrando).
No final dessa minha temporada novaiorquina, D. comprou uma super câmera fotográfica e me deu a antiga dele. Uma máquina muito boa, Canon, toda manual, que eu tenho até hoje. Veio com uma lente 28mm e ele foi comigo comprar um zoom 35-105mm, de segunda mão, numa lojinha de lentes. E eu trouxe a máquina pro Brasil, e levava pra todo canto, e dizia a quem me perguntava, “Foi meu amigo americano que me deu”.
E se eu lembro de todos esses detalhes até hoje, é porque tudo isso foi muito importante.
Alguns anos depois, eu soube que eles dois tinham resolvido se casar, numa cerimônia, para oficializar a união que já durava uns quinze ou vinte anos. Achei meio estranho, mas enfim. O fato é que pouco tempo depois D. e R. se separaram. A produtora acabou, e cada um abriu seu próprio negócio. A gente manteve mais contato com ele, que passou a se dividir entre NY e Los Angeles.
Em 2002 estive em Nova York, e entrei em contato com eles dois. Não consegui encontrar R. mas fui almoçar com D. Rolava um afeto tão antigo, que foi ótimo esse encontro. Só estranhei ele estar muito magro, com uma aparência doente. Mas não comentei nada.
Depois disso nos falamos muito pouco. E se você leu até aqui esse texto memorialístico, já deve ter deduzido que D. morreu, como eu soube ontem. Soube de mais detalhes nessa notícia. Ficou a saudade e o registro desses bons momentos do meu amigo americano.

30.11.06

Que las hay, las hay

Imagem: relaxkids.com
Não acredito em bruxas, fadas ou duendes. Só em magias maternas.
Se não, como explicar que ontem eu estava saindo do trabalho, pronta para ir a um evento no Leblon, marcado para as 19h. Lá pelas 18h40 ia sair quando me dei conta que caía um temporal lá fora. E eu toda verão, sandália, saia, bolsinha de pano e um monte de papel importante pra carregar na mão. Blé. Olhei para o cantinho da minha sala onde sempre fica meu guarda-chuva de plantão para situações como essa. Não estava. Hmmm. Resolvo esperar mais um pouco, ver se diminui a chuva. Dois minutos depois, toca o telefone. O moço da portaria.
-- Sua mãe está aqui embaixo, de carro.
Hã?! Minha mãe?
-- Ok, diga que já vou descer.
Tlec, tlec, tlec.*
-- Oi, mãe, que surpresa.
-- Oi, filha. Estava passando por aqui de carro, sem celular, resolvi dar uma passadinha para ver se você ainda estava aqui e se precisava de uma carona, com essa chuva.
-- Que ótimo. Você está indo pra onde?
-- Pro Leblon.

Salagadula, mexicabula, bibidi, bobidi, bum.


*Onomatopéia para som de descer a escada de sandalinha.

A arte de fingir espanto

Eu odeio quando isso acontece.
Pessoa 1 te conta uma coisa e pede pra guardar segredo.
Você guarda.
No dia seguinte, Pessoa 2 te diz "que isso não saia daqui, hein?" e te conta a mesmíssima coisa.
O que você faz?
Diz "Eu já sabia"? Mas aí queima a Pessoa 1?
Ou faz cara de espanto, como se não soubesse de nada?
Eu hoje fui na segunda opção. Mas não consigo mentir muito, do tipo "Juuura????" com olho arregalado. Aí acabo posando de blasé total ("Ah, é mesmo? Que coisa.").
Preciso me preparar mais para ocasiões como essas.

29.11.06

Não sou uma só


Fui ao lançamento ontem do livro da Marina W. Por motivos profissionais, além dos afetivos. Conheço a Marina, mas ela não conhece este blog. Não pude ficar até muito tarde, mas deu pra encontrar a loura e conhecer uma das fridas (com sua filha mais-linda-do-mundo).
É impressionante como a Marina consegue fazer de um assunto tão pesado uma leitura tão leve. Quem conhece o blowg sabe como ela tem o charme de escrever sobre as bobagens do dia-a-dia de uma forma tão cativante. O que surpreende é como ela consegue escrever sobre as barras pesadas de uma doença como o transtorno bipolar de uma forma igualmente cativante. Tem passagens em que você ri, tem horas em que dá vontade de chorar. Em uns momentos você se identifica, em outros, lembra de alguém. Sem dúvida foi um processo doloroso escrever este livro, e a coragem de expor, com a publicação, não é pouca. Bem, chega de falar. Leiam, e só.

Serviço de utilidade pública - parte II

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras

2º grupo (4)
2 terminados em -e: ante-, sobre-;
2 terminados em -i: anti-, arqui-.
Regra: Pedem o hífen apenas quando seguidos de h, r e s.
Exemplos: ante-histórico, ante-rosto, ante-sala; anti-hemorrágico, anti-herói, anti-rábico, anti-reumático, anti-semita; anti-social; arqui-secular, arqui-rabino; sobre-humano, sobre-restar, sobre-selo.

Obs.: Embora as "Instruções" não consignem exceções, no corpo do PVOLP se registram, contrariando esta regra: antissepsia, anstisséptico, sobressair, sobressaltar, sobressalto, sobressaltear. O VOLP, buscando corrigir a contradição, registra também anti-sepsia, anti-séptico, sobre-sair, sobre-saltar, sobre-salto, sobre-saltear.

Em qualquer outro caso não se utiliza o hífen: antecâmara, antediluviano, anteclássico, antemanhã, anteontem, anteprojeto; antiácido, antiaéreo, anticlerical, antieconômico, antieufônico, antiimperialismo, antiinfeccioso, antilogaritmo, antipirético, antivariólico; arquiavô, arquiconfraria, arquiepiscopado, arquiirmandade, arquimilionário; sobreaviso, sobrecomum.

Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

28.11.06

Serviço de utilidade pública - parte I

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras

1º grupo (11)
6 terminados em -a: contra-, extra-, infra-, intra-, supra-, ultra-;
4 terminados em -o: auto-, neo-, proto-, pseudo-;
1 terminado em -i: semi-.
Regra: Pedem o hífen quando seguidos de vogal, h, r e s.
Exemplos: contra-indicado, contra-revolução, contra-senso; extra-escolar, extra-humano, extra-oficial, extra-regimental; infra-estrutura, infra-som; intra-hepático, intra-ocular; supra-renal, supra-sumo; ultra-rápido, ultra-som; auto-análise, auto-retrato, auto-suficiente; neo-helenismo, neo-realista; proto-árico, proto-histórico; pseudo-etimologia, pseudo-herói, pseudo-sábio; semi-árido, semi-inconsciente, semi-reta, semi-selvagem.

Como exceção à regra, as "Instruções" do Vocabulário citam a palavra extraordinário, "que já está consagrada pelo uso".

Nas demais circunstâncias, não se emprega o hífen: autobiografia, autocrítica, autodidata, autolotação; contragolpe, contratorpedeiro, contraveneno; extrafino, extralingüístico, extraterritorial; infracitado, infravermelho; intracraniano, intramuros, intravenoso; neoclássico, neocriticismo, neogramático, neolatino, neotomismo; protomártir, protovértebra; pseudociência, pseudoprofeta; semibárbaro, semimorto; supracitado, supramencionado; ultraconservador, ultracorreção, ultravioleta.

Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

(Porque eu acredito, sim, que copiar ajuda a memorizar.)

27.11.06

Sobre o Festival de Choro (e o lide no pé)

Uma das muitas rodas informais do II Festival Nacional de Choro, Mendes (RJ), janeiro 2006. Tirada daqui.

É o seguinte. Pelo terceiro ano seguido vai rolar o Festival Nacional de Choro, organizado pelo pessoal da Escola Portátil de Música. Quem não conhece o projeto da EPM está perdendo uma das iniciativas mais bacanas que tem por aí, que junta promoção da cultura brasileira, inclusão social e diversão garantida. A EPM começou em 2000 com cinco professores e uns cinqüenta alunos, aos sábados, na Sala Funarte, com o objetivo de passar adiante o que esses músicos tinham aprendido the hard way, ou seja, na marra, nas rodas de choro, com os velhos chorões – sem escola formal, sem apostila, sem livro.
Com o tempo e o sucesso das aulas, a notícia foi se espalhando, mostrando que havia uma grande demanda reprimida. O número de interessado foi crescendo tanto que foi preciso arrumar mais professores. Mudaram de lugar, da Funarte para a UFRJ, na Lapa. De lá para um casarão no bairro da Glória, onde já contavam 400 alunos (selecionados entre mais de mil inscritos). Hoje em dia as aulas (sempre aos sábados) acontecem no campus da Uni-Rio, na Urca, e os alunos são mais ou menos 600, para 23 professores (entre eles Luciana Rabello, Mauricio Carrilho, Pedro Amorim, Cristóvão Bastos, Bia Paes Leme, Jayme Vignoli, Rui Alvim, Marcelo Bernardes, Celsinho Silva, Oscar Bolão e outros). Há cursos de violão de 6 e 7 cordas, cavaquinho, bandolim, contrabaixo, piano, acordeom, canto, flauta, clarinete, saxofone, trompete, trombone, pandeiro, percussão. Tem também as aulas teóricas, de harmonia, história do choro, percepção musical, composição, arranjo. E tem os grupos já mais ou menos fixos que se formaram lá, a Camerata Portátil e a banda Furiosa Portátil. Além dos regionais que se criaram por ali e hoje tocam em tudo quanto é canto.
Em 2003 e 2004 o projeto teve patrocínio da El Paso, e as aulas eram gratuitas. Desde o ano passado a patrocinadora é a Petrobras, e em 2006 começou a cobrança de uma taxa de R$ 150 por semestre – sendo que quem comprovar que não tem como pagar pode ter bolsa integral. Eu estudo cavaquinho na EPM desde 2004, sou testemunha ocular (e auditiva) da seriedade e do comprometimento das pessoas envolvidas. Ao mesmo tempo, me emociono ao ver os resultados, que não são nada menos que excelentes. Lá tem alunos de todas as faixas etárias e todas as classes sociais. Tem gente que vem de outras cidades para ter aula aos sábados. Tanto quem tem outra profissão e quer tocar por hobby quanto quem quer se profissionalizar tem espaço lá dentro, e essa mistura gera um clima muito positivo. Você vê os moleques que caíram lá de pára-quedas, que tocavam cavaco nos conjuntos meia-boca de pagode, e que hoje em dia são fissurados pelo choro, sabem tudo e ainda compõem umas polcas de vez em quando. (Porque tem isso também, a quase obsessão de mostrar que o choro é um gênero que se renova, que não é o “chorinho” e que não está preso a Brasileirinho e Noites Cariocas.) Ou então os coroas do violão que tocavam Wave e Garota de Ipanema e hoje tocam, além disso, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e músicas novas do Mauricio Carrilho. Ou as flautistas que vieram da música clássica e hoje sabem tudo do Joaquim Callado e amam o Altamiro Carrilho.
Com o sucesso da empreitada e a cobrança do pessoal de fora do Rio surgiu a idéia de fazer um festival nacional. O primeiro e o segundo foram em Mendes (RJ), num hotel-fazenda que antes era um seminário de padres, e possibilitava que as pessoas se hospedassem, fizessem as três refeições e tivessem as aulas no mesmo lugar. Era um “campo de concentração”, porque ninguém saía de lá, por uma semana. Este ano de 2006 o festival homenageou Radamés Gnattali, por causa do centenário, e por ter sido um cara tão especial para o choro. Em 2007 é o ano Anacleto de Medeiros, porque faz 100 anos de sua morte (pra ver como o choro tem mais de 150 anos de história). Não vai ser mais em Mendes (porque o hotel agora voltou a ser um seminário), e sim em São Pedro, no interior de São Paulo, no mesmo esquema de “hotel-fazenda/campo de concentração”.
O Festival realmente é o máximo. No de 2005 eu só passei um fim de semana, mas no de 2006 eu me matriculei, tirei uma semana de férias do trabalho e fiz o curso completo. É difícil descrever para quem não estava lá o quanto foi maneiro encontrar tanta gente de tantos lugares com as mesmas afinidades musicais. Aula de manhã e de tarde, rodas de choro e de samba pela noite adentro. As aulas eram ótimas, e as práticas de conjunto, verdadeiramente divinas. Eu caí num regional com um flautista pernambucano, dois violonistas baianos e um pandeiro de Belo Horizonte. E tem sempre uns argentinos, espanhóis, dinamarqueses e franceses que aparecem e ficam loucos. Além dos regionais, tem as orquestras, as bandas, tudo formado, arranjado e ensaiado em uma semana. É uma loucura, mas as pessoas são tão movidas pela paixão da coisa, que acaba funcionando, e no final não tem jeito, todo mundo chora. (Quando eu digo que é paixão, é porque é mesmo. Por exemplo, em 2007 o festival não tem patrocínio. (A Escola tem, mas o Festival, não.) Não é de graça, os alunos vão ter que pagar pela hospedagem no hotel. Mas os professores não vão receber, porque não tem grana. Ia ter. Mas não teve. E aí? Bom, aí resolveu-se fazer assim mesmo.)
Então é isso. Eu faço essa propaganda aqui, de graça e com muito gosto. Quem gosta de choro e toca algum instrumento deve fazer um favor a si mesmo e ir. Quem mora nas imediações de São Pedro deve ficar ligado para os shows que vão rolar na cidade (provavelmente na abertura e no encerramento). De 3 a 11 de fevereiro. Que é bem para comemorar a minha saída do atual emprego, onde fico só até 31/01. (E o lide veio no pé!)

A fila anda

Frase do fim de semana. Um pai de adolescente de 15 anos comenta com outro pai de adolescente de 15 anos, ao deixar a filha numa festa e observar os olhares dos meninos de 15 anos para as meninas:
-- Pois é, passamos de consumidores a fornecedores.
As feministas tiveram síncopes de indignação, eu ri muito.

25.11.06

Donato salva

E para encerrar uma semana turbulenta (para dizer o mínimo) no trabalho, eis que me caem no colo quatro convites para ver João Donato e Bud Shank no Mistura Fina. Com comida e bebida liberados, à vontade (é aí que você se descobre mesmo um pobre de raiz: quando não consegue resistir a um jabá desses e fica pedindo uma caipirinha atrás da outra). E eu tinha até esquecido como um show de jazz pode ser tão bacana. Ainda mais ao lado de F., A. e J., que não se conheciam mas já viraram amigos.
Não sei vocês, mas eu acho o Donato o fino do fino, com seu piano quase mínimo e suinguero até não mais poder. Se abrirem a igreja dos donatistas devotos, estarei lá.
(E depois que o show acabou e todo mundo já tinha ido embora ele voltou pro piano e ficou ali, dedilhando várias coisas... do Debussy!)
Um pouco do Quem É Quem, um dos meus favoritos, para alegrar o sabadão de sol.

http://www.goear.com/listen.php?v=525b782

23.11.06

Baby boom

Acho que vou abrir uma poupança só para bancar os tantos chás-de-fralda que vou ter que ir no ano que vem. A cada dia, uma novidade.
Pqp!

Dicas para um natal descolado


Então já é Natal, né? Aquela lenga-lenga toda. Haja saco -- não para a celebração em si, mas para esse mês que antecede, essa fúria do comércio, essa felicidade compulsória.
Como muita gente, eu por muitos anos me desdobrei entre as festas de Natal da família da minha mãe e da família do meu pai. A do meu pai sempre foi um saco, bem deprê. Para vocês terem uma idéia, até pouco tempo eu era a última criança que tinha tido na família. (Por sorte há 4 anos tem minhas priminhas lindas, mas elas moram na Inglaterra e nem sempre podem vir.)Então há alguns anos eu tive uma conversa franca e carinhosa com a minha avó, e falei para ela que não queria mais ir naquela ceia que mais parecia filme do Mike Leigh sobre os operários ingleses gordos feios sujos e infelizes, ela entendeu, e ficou tudo bem.
Já a família da minha mãe é muito mais divertida. E nunca fez ceia de Natal justamente para não competir com as outras famílias, dos cônjuges. De um tempo pra cá passamos a fazer um brunch no dia 24, na casa da minha (outra) avó (aquela figuraça). Mas em 2003 ela morreu, e a gente continuou fazendo o brunch lá, mas começamos a achar que dava muito trabalho para a minha prima, que fazia tudo sozinha, e tal.
Então no ano passado tivemos a idéia de fazer o brunch no Zona Sul do Leblon. Pra quem não sabe, o Zona Sul é a rede de supermercados chiquezinhos da Zona Sul do Rio. É onde você pode comprar aquele azeite extra-virgem importado, e a sua mostarda de Dijon favorita. Além disso, algumas filiais têm pizzaria à noite e bufê de café da manhã durante o dia. Deu super certo, pegamos um mesão, foi uma porção de primos, tios, agregados, dominamos um cantinho do supermercado numa grande confraternização que atraiu olhares curiosos dos funcionários e clientes da loja, especialmente aqueles estressadíssimos com as compras de última hora do Natal.
Até que uma certa hora alguém lembrou que não tínhamos feito o tradicional amigo oculto de Natal (parece que em São Paulo diz-se "amigo secreto"). Realmente, não tinha passado pela cabeça de ninguém. Então resolvemos fazer ali mesmo, na hora. Escrevemos os papeizinhos, sorteamos e fomos comprar os presentes ali mesmo, no supermercado.
Nem preciso dizer o quão hilária foi essa cena. Um monte de gente junta, olhando papeizinhos, e de repente, "Ok, 1, 2, 3 e já" e todos disparam por entre as prateleiras, trocando olhares de esguelha e risinhos incontidos.
Voltamos para a mesa e fizemos a troca dos presentes. (Eu e ele saímos do evento como o casal manguaça -- eu ganhei um vinho, ele, uma caixa de cerveja.) E então chegou o momento mais figura, quando todo mundo teve que devolver os presentes para passar no caixa e pagar -- para em seguida, do lado de fora, rolar o re-presenteamento.
Ontem estava falando com minha outra prima, combinando o que vamos fazer este ano, e como o Natal passado tinha sido legal e poderíamos fazer de novo o mesmo esquema. Só que este ano quem sabe na Fnac ou na Modern Sound?

22.11.06

Extra! Extra!



Não dá pra perder.

Depois conto mais.

Vejam mais informações aqui.

20.11.06

Ah, é

Fiz outras coisas em São Paulo, além de comer e beber.
Fui à Bienal, que detestei.
Conheci o Teatro Fecap, na Liberdade, que é maravilhoso. Totalmente voltado para a MPB, a qualidade do som é uma coisa do outro mundo.
Morri de rir com coisas como
"Siga aquele prédio!"
"Isso dá o maior ligão"
ou
"Zarabatana nele!" (essa é pra eliminar alguém que esteja incomodando)
Soube que o primeiro projeto do Clodovil para seus eleitores paulistanos será unir o Minhocão ao Rodoanel. Haha.
Vi a comemoração dos mineiros com a volta do Galo à série A e a dos tricolores com o campeonato antecipado do SPFC. Vou te contar, eu odeio pontos corridos.
Constatei que táxi e metrô estão mais caros no Rio.
Mofei por uma hora e meia em Congonhas.

Comeindo e bebeindo em SP

Pontos altos da estadia paulista:

Haru - estou a anos-luz de ser uma conhecedora da culinária japonesa, apesar de apreciar bastante. Mas esse restaurante foi pra mim uma epifania. Peixes até então desconhecidos e acepipes inimagináveis me deixaram nas nuvens. Dizem que o dono é filho de um bambambã entre os japas locais, o Sushi Guen. O Haru é ali no Itaim, na rua Manoel Guedes.

Frangó - já tinha ouvido falar tanto desse bar, na Freguesia do Ó, e mesmo com as expectativas lá em cima fiquei positivamente surpresa. Por fora você não dá nada por ele, mas lá dentro, é outra coisa. Ficamos no andar de baixo, que mais parece um bunker saído de um filme sobre Berlim em 1942. Tem trocentas cervejas do mundo inteiro, uma coxinha de galinha fantástica, e disse o dono que é o único lugar fora da Bélgica e da Holanda que tem chope trapiste (La Trappe) tirado lá mesmo. Hmmm, babei só de lembrar. Tem também filé mignon ao molho de Guinness. Que coisa mais ou menos, né?

Churro da Mooca - da Freguesia do Ó para a Mooca, tipo roteiro paulista, meu. Este lugar é totalmente bizarro. Um balcãozinho no meio de um bairro residencial, que só funciona nas noites de sexta pra sábado e sábado pra domingo (e vésperas de feriado) e só abre às 2 da manhã! Lá você compra um churro artesanal, feito por um velhinho, em forma de "roda" (tem a roda pequena, a média e a grande). Parece uma cobra, ou melhor, a gente apelidou singelamente de "tênia". Come-se com canela polvilhada. Pra acompanhar, leite com chocolate, quente ou frio. (Isso tudo é tão inacreditável que custo a crer que não sonhei esse roteiro todo. Mas estava, claro, cheio à beça.)

Mestiço - "como assim, você não conhece o Mestiço?" foi o que eu ouvi o tempo todo. Pronto, agora já conheço o simpático restaurante, mais arrumadinho, que mistura culinária thai e baiana. Bebi 2 Cosmopolitan, pra completar o melting pot.

Tocador de Bolacha - na over-lotada Vila Madalena, o Tocador de Bolacha é um oásis. O lugar é agradável, não estava nem um pouco cheio (na sexta à noite), a cerveja é de garrafa e (incrível!) a música ao vivo é uma grata surpresa. Quando os músicos acabam os sets, toca a ótima coleção de LPs dos donos. "Fomos saídos" de lá às 4h.

Consulado Mineiro - na praça Benedito Calixto, com mesinhas do lado de fora, carne de sol e escondidinho que são tu-do. E cervejinha gelada, sempre, e de garrafa. Uia.

Pizza - no Rigoletto e na Vica Pota, mas apenas normais, não fizeram jus à gastação de onda que paulista tem com pizza.

Então...

A viagem a São Paulo foi tão legal que eu até esqueci que acordei na quinta-feira, sozinha em casa, com a cozinha alagada graças a um cano entupido. Sim, tive que esfregar o chão da cozinha, lavar todas as panelas, esvaziar todas as gavetas e lavar todo o seu conteúdo, mas tudo isso ficou pra trás com a recepção tão calorosa dos amigos paulistas.

15.11.06

Flamenguísticas


A história flamenguística de hoje me foi contada por M.C., flamenguista da mais fina estirpe, membro de tradicional família rubro-negra, e se passou em sua infância/adolescência, no subúrbio do Rio. Diz que um dos amigos da rua, com quem jogavam futebol, sofreu um acidente sério, de trem. Alguma coisa como o cara botou a cabeça pra fora do trem e não viu que vinha uma pilastra -- daí dá pra ter uma idéia da gravidade da coisa. O fato é que o moleque perdeu um pedaço da cabeça, perdeu uma parte do crânio, e deve ter ficado uma versão bizarra do homem-elefante. Sabe-se lá como o cidadão sobreviveu, mas o fato é que, por um bom tempo ele ficou abobado, e não falava nada.
Ou quase nada.
Diz a lenda que a única coisa que ele conseguia falar era "Mengo".
(Eu fico toda arrepiada só de lembrar da história, de tão linda...)
Ao que parece, depois de um tempo ele melhorou e voltou ao convívio dos amigos. Dizem inclusive que voltou a jogar futebol, e que cabeceava só com a metade de cabeça que tinha (!).

14.11.06

Meditação sobre o Tietê

Vou fazer a Ponte Rio-Niterói dos feriados, e emendar o de amanhã, 15/11, com o de segunda, Dia da Consciência Negra, 20/11. Na quinta vou para SP. Quando falei pro meu tio que ia passar o meu feriado em São Paulo ele me lembrou de uma velha piada, que dizia que o concurso do Chacrinha tinha prêmios para os três primeiros colocados:
3º colocado: uma semana em São Paulo, com tudo pago.
2º colocado: dois dias em São Paulo, com tudo pago.
1º colocado, o campeão: ir e voltar de São Paulo no mesmo dia.

Hahaha.

Mas eu gosto de São Paulo. Para visitar, bem entendido. É uma cidade jóia, quando você não está com pressa.

Água do meu Tietê,
Onde me queres levar?
- Rio que entras pela terra
E que me afastas do mar...
(M. de A.)

Em busca do professor Pardal


Uma das conseqüências do meu não-hábito de assistir televisão é que, cada vez que assisto, acho coisas inacreditáveis. Sábado caí de pára-quedas num programa da Sony chamado American Inventor, que me deixou mesmerizada. É um concurso, que passa por várias cidades americanas, em busca daquela que será “a” grande invenção americana – e, claro, “o” inventor americano. Tem 4 jurados — um industrial britânico, um publicitário nova-iorquino, uma executiva de marketing especializada em consumo feminino (cuja empresa se chama Just Ask a Woman) e um inventor profissional (?) — e o concorrente precisa do “sim” de 3 deles para passar à fase seguinte. Pelo que entendi, são 12 finalistas que ganham US$ 50 mil para aperfeiçoar o seu invento, e o grande campeão, a ser eleito pelo público, ganha US$ 1 milhão. Várias coisas me impressionaram: as filas, pelas ruas afora, com os candidatos a inventores; as invenções; as performances dos inventores demonstrando seus produtos aos jurados; o drama pessoal de cada um deles (muitos dedicam a vida à invenção que estão apresentando ali, investem dinheiro, etc.); a obsessão americana (o inventor americano, a invenção que estará nos lares americanos, o produto de que a América necessita, a invenção que seduzirá o público americano, o espírito americano etc.). As invenções são de fato inacreditáveis (inacreditável também é este site, que traz todas elas).
Mas me empolguei, e finalmente achei um pretexto para falar sobre as coisas que não entendo como não foram inventadas – ainda.

O guarda-chuva de verdade – Se você reparar bem, a parte mais protegida (e seca) de um guarda-chuva é o cabo. Você fica em segundo plano, pelos lados, tentando se proteger chegando o mais próximo possível do cabo. Na verdade, o guarda-chuva como é hoje serve, numa chuva de verdade, para quem anda de chapéu e sobretudo. De resto, você se molha todo e o guarda-chuva só serve para manter um resquício de dignidade, e resguardar os cabelos de não ficarem totalmente ensopados. O guarda-chuva de verdade seria uma simples adaptação do cabo, que faria uma curva para o lado, deixando você no meio e um pouco mais protegido.

A buzina interna – Tenho um problema pessoal com pessoas que buzinam. Acho o supra-sumo da falta de educação. Moro bem perto de um hospital e as pessoas não estão nem aí, buzinam até sem motivo, assim, “para extravasar”, sacomé? A buzina interna seria um dispositivo simples colocado do lado de dentro do carro, bem perto do ouvido do motorista. Assim, quando ele aciona a buzina, o próprio som da buzina, além de sair normalmente, soaria também, e mais alto, bem no ouvido do motorista. Voltaria portanto a buzina ao seu objetivo inicial, de ser usada apenas em horas de emergência.

O banquinho da pia – Lavar louça está no top 5 das tarefas domésticas mais chatas (fica atrás de tirar roupa do varal – e guardar a roupa em seguida – e tirar o lixo). Mais ainda porque você tem que ficar em pé o tempo todo, na função. Não dá para sentar porque nunca tem espaço debaixo da pia. O banquinho da pia ficaria acoplado em trilhos que deslizam para baixo da pia, roubando um pouquinho do espaço tradicionalmente dominado pelo paneleiro, e, na hora de lavar aquela louça toda, você puxa e senta. Sim, uma ou duas panelas a menos, mas as varizes... que diferença!

Estão aí minhas idéias, se alguém quiser investir 50 mil dólares para que eu aperfeiçoe alguma, podemos conversar.

11.11.06

Olé! Bacon no cabelo!

A droga do dote é todo da gorda
A diva em Argel alegra-me a vida
Olá, galo
Assim a aia ia à missa
Rir, o breve verbo rir
É pesado? Foda-se, pé!
Tucano na CUT?
Aí é luta, patuléia
Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos
Oi, rato otário
É a mãe! É a mãe!
Lá vou eu em meu eu oval

A incrível vida dos palindromistas, no nº 2 da revista piauí.

10.11.06

Sorry, periferia*

Mary Cassatt, "Young Lady Reading"
Foi mal, mas é que não dá para não gastar essa onda:
podem morrer de inveja, que eu já li o livro novo dela.
Haha, VIP é pouco!
(Preciso dizer que o blog dela foi o primeiro que eu realmente acompanhei? Que foi ela que me trouxe para esse mundo? Não precisa, né?)

* E esse blog, hein? Sensacional. Dica dele, é claro.

Helpdesk Bloglines

Você aí que usa Bloglines, me responda:

- Por que os sites .zip.net aparecem como tendo feeds, você assina e tal, mas eles não atualizam nunca no menu do Bloglines?
- Por que alguns sites .blogspot não têm feeds e eu meu tem sem que jamais tenha feito nada para isso?
- Por que alguns ficam dando como atualizados o tempo todo, mas quando você vai ver é o mesmo post que você já tinha visto antes, sem novidades?
- Por que não consigo ver quem são meus fiéis 5 assinantes?

por que? por que? por que?

Joie de vivre


Hoje é sexta-feira.

8.11.06

O duelo


Pegando carona no post dele, que duelou com a Britney, aqui vai o meu duelo pessoal. Escolhi o Fenômeno porque acho significativo que ele seja apenas 15 dias mais velho do que eu.

Ronaldo x anna v.

30 anos x 30 anos
Contratado pelo Real Madrid x Contratada pela ***
Posição atual: no banco x Posição atual: no banco
1 filho (conhecido) x zero filho (com certeza)
2 casamentos desfeitos x 1 casamento em vigor
Milionário x Vendeu sua scooter para comprar um piano
Carioca de Bento Ribeiro x Carioca do Leblon
Maior goleador da história das Copas x Medalha de ouro no jogo de damas nas olimpíadas da 2ª série, no colégio
Patrocinado por Nike, Tim, Audi, Ambev e Santander x hehehe
Embaixador da Boa Vontade da ONU x Subsíndica de seu condomínio
Ídolo mundial x 250 amigos no orkut
worldofronaldo.com x terapiazero.blogspot.com
Vai acabar no Flamengo x Vai torcer por ele no Flamengo

7.11.06

Lullaby

Matisse, "Sleeping model"

— Mãe, não consigo dormir.
— Chama o sono que ele vem.
— Sonooo!
— Não, filha, tem que fechar os olhos e chamar em silêncio. Só assim que o sono vem.

Para onde vai o sono das horas que eu não durmo?
Em que recanto se armazena todo o sono perdido enquanto me viro na cama, os olhos cansados, o corpo pesado, sem encontrar conforto?
Quisera conhecer esse depósito do sono desperdiçado, esconderijo de sonhos tranqüilos, paraíso dos insones.

6.11.06

Táctil

"Essence - Blue"

Na escola, sempre achei o tato o mais desprezado dos cinco sentidos. Talvez porque seja difícil imaginar o que seria a sua ausência. Ninguém tem problemas em entender o peso da privação da visão ou da audição. E bem ou mal, podemos imaginar, mesmo que vagamente, porque são casos mais raros, o que seria de repente não ter mais os sentidos tão ligados ao nosso dia-a-dia, que são o olfato e o paladar. E nisso tudo, o tato ficava um pouco relegado àquelas experiências da aula de ciências, de colocar as mãos numa caixa fechada e sentir o veludo, a lixa, a gelatina.
Ninguém ensina, na escola, a outra concepção de tato: o cuidado ao tratar com outrem. A preocupação com o bem-estar de quem se gosta, na hora de dar notícias que podem ser desagradáveis, que podem magoar. No fundo, a habilidade de tocar as pessoas, os seus sentimentos.
Essa semana, mesmo, fiquei bem chateada por um caso que se pode diagnosticar como total ausência de tato. O fato em si não é grave, não é ofensivo, poderia até mesmo ser um motivo de muito júbilo e comemoração (este texto, hein, com “outrem” e “júbilo”, vou te contar...), mas da forma que foi feito foi tão desagradável, tão indelicado, que me deixou magoada. Por falta de tato.
A expressão “cultivar uma amizade” é um verdadeiro achado. Cultivar é ter um cuidado constante. Você não pode abandonar, deixar secar, nem afogar em muita água. Tudo isso pode matar. Cultivar é ter cuidado e atenção, preocupar-se e ouvir as necessidades do outro. Tato.
E agora vejo-me do lado oposto. Uma amiga querida me escreveu dizendo que vai se casar. Eu, que acompanho o relacionamento de-perto-de-longe (porque ela mora em São Paulo, mas sempre me coloca a par de todos os detalhes) desde o início, tenho a impressão fortíssima de que não vai dar certo. É o tipo do casamento que tem todos os ingredientes para dar errado. Relacionamento muito recente, imensas diferenças entre os dois que já causaram sérios abalos no namoro, e sabe-se lá que outras surpresas podem ser reveladas nos próximos meses. Mas ao mesmo tempo, é claro que fico feliz por vê-la feliz, e ela está nas nuvens. Enfim, uma situação delicada. Preciso de tato, muito tato. Porque, na minha humilde opinião, ela está casando pela idade. Ou seja, está casando com quem está com ela neste momento, porque ela sente que é o momento para casar – o “com quem” importa, claro, mas menos. Se namorasse este mesmo cara aos 21 anos, não pensaria em casar com ele, não teria a convicção de que ele é “o” cara. Mas como já tem 31, o tempo urge. Mundo cruel, muito cruel. Mas claro que não vou dizer isto. Vou dizer que acho muito precipitado (apesar de ela já ter se antecipado e dito “não é uma coisa precipitada e impensada!”, o que só deixa mais claro que é, sim, precipitado), que não vejo necessidade de tanta pressa, que eles podem se conhecer melhor, que o melhor é morar junto um tempo, e depois, se estiver tudo ótimo, faz uma cerimônia consolidando a união... E dizer isso sem parecer o arauto das más notícias e a ave do mau agouro, só com muito, muito tato.
Segunda-feira de suspiros.