5.12.06

A saudade mata a gente

A odalisca Índigo outro dia postou sobre “palavras em falta na língua portuguesa”. Aquelas intraduzíveis. São muitas mesmo. Ela citou blind date*, deadline, to earn. Eu já falei aqui sobre misplaced, que não é bem “fora de lugar”, e sim “no lugar errado por engano”, a meu ver – mas isso é uma tradução de 5 palavras para 1, aí não vale.
Agora, vamos passar para a recíproca: palavras em falta nas outras línguas. Não entendo, não consigo entender, não compreendo mesmo como existem idiomas que não diferenciam ser e estar. Aliás, nenhum idioma que eu conheço faz essa diferença, exceto o espanhol. Ser e estar são conceitos completamente diferentes, como é possível que sejam designados pelo mesmo único verbo? Umas pobrezas de línguas, essas que tem por aí, viu?
Bem, quem vê pensa que eu domino oito idiomas. Não é bem assim. Sei que em inglês e francês não tem diferença. No que me recordo daquelas aulas de alemão lá atrás, também era tudo em cima do sein. Italiano não sei. Mas aquele livro do Luiz Ruffato, por exemplo, Mamma, Son Tanto Felice, quer dizer Mamãe, sou tão feliz, ou Mamãe, estou tão feliz? (Ou nem uma coisa e nem outra, e eu é que sou metida achando que entendi italiano?) Você aí, amigo leitor, que fala romeno, húngaro, sueco, holandês, chinês, árabe, russo ou swahili, o que tem a dizer sobre essa questão relevante?

Isso pra não falar de saudade. Saudade é um sentimento tão universal, como é possível que só os portugueses tenham tido a idéia de dar uma palavra a ele? Gênios, esses patrícios.

Mas o que me falta mesmo, neste momento, é uma palavra para designar a saudade que se sente quando o ser amado encontra-se do outro lado do mundo, a doze fusos horários de distância. A presença da ausência é foooorte.

* Eu acho que “encontro às cegas” cumpre a função, mas o problema é que essa prática não existe por aqui, daí a inutilidade de haver um termo para algo que não existe na realidade da língua. (Blind date é o cacete! Viva a cultura nacional! hehe)

9 comentários:

Maria Fabriani disse...

Anna, em sueco ser e estar são o mesmo verbo. Aqui diz-se:
"Jag är här nu" = Eu estou agora aqui.

"Det är jag som är Maria" = Sou eu quem é a Maria.

Não sei se italiano faz a diferenca, mas imagino que sim. Estudei quatro anos de francês, mas já esqueci tudo, tragicamente. Sei que o "être" é bem geral, mas não me lembro se os franceses têm um outro verbo para estar...

MegMarques disse...

Nem em francês, nem em italiano. Ser ou estar pra eles dá no mesmo, hehehehe

Anna, te vi nas fotos do lançamento do livro da Marina W., com a turma das Fridas e do Bloggete!

bjo grande, Meg

osvjor disse...

acho q essas dúvidas surgem pq a gente fica muito ligado no nosso padrão... lembro que eu brincava, numa turma de italianos e alemães, chamando um cara lá de Birnegesicht, que quer dizer cara de pêra, porque ele tinha mesmo uma cara com o formato de pêra. os italianos achavam a maior graça, mas os alemães estranhavam: "isso não faz sentido..." Não é q alemães não tenham senso de humor; eles têm, mas é diferente do nosso. O que isso tem a ver com o seu post? aparentemente nada, mas no fundo, no fundo...

Eduardo Rodrigues disse...

A única outra língua que falo é inglês, e no inglês isso sempre me surpreendeu. Sempre achei que Shakespeare queria dizer "Estar ou não ser, eis a questão" ou "Ser ou não estar, eis a questão".

anna v. disse...

Maria: "Sou eu quem é a Maria" é de lascar, hein? Que raio de estrutura tem essa língua!

Meg: Oh, não! Minha identidade secreta foi revelada! :-)

Osvjor: Como assim, ficar ligado no nosso padrão? Ser e estar são coisas totalmente diversas, é estranhíssimo que não haja isso nas outras línguas. Já a história da diferença de humor entre os povos é isso mesmo que vc disse. E os alemães são bem estranhos.

Eduardo: Tem toda razão! E aquela música disco "I am what I am" pode perfeitamente ser "Eu sou o que estou", enfatizando a fugacidade da vida!

Anônimo disse...

Eu lia um blog de outra moça, que namorava um turco.

No idioma dele, NÃO EXISTE o "To be". NÃO EXISTE O VERBO SER. NInguém É nada em turco. Fiquei me descabelando ao pensar que em algum idioma, ningUém pode SER [e eu sempre vi SER como sinônimo aproximado de existir. TURCOS NÃO EXISTEM?]

E ela esclarecia [?]: Em turco, as frases eram algo como "Eu médico" "Eu baixo" "Eu blogueiro" "Eu Ana" "Eu Jorge". E ele tinha séria dificuldade de aprender inglês por causa do verbo "to be".

Mundão.

Anônimo disse...

Em havaiano tambem nao existe verbo "to be", ou seja, nao ha' nem "ser" nem "estar". Bem, isso numa lingua que tem apenas 11 letras e um simbolo (a, e, i, o, u, ', h, k, l, m, n, p).
Se voce quer dizer, por exemplo, "eu sou/estou feliz" voce vai dizer "ua maika'i au", mas se quiser dizer "eu fui/estava feliz" voce vai dizer "ua maika'i au", ou seja, a mesma coisa!!

Concordo com a palavra a falta que faz a palavra saudade, como pode uma lingua nao ter a palavra saudade e tudo que isso representa? Uma outra que acho que faz falta em ingles e' carinho. Como e' que se diz "vem ca' me fazer um carinho" em ingles, nao tem jeito e olha que absurdo voce nao poder dizer isso?

A proposito, achei seu blog atraves do blog da MegMarques. Tem coisas que so a internet faz por voce...

osvjor disse...

uai, só é estranho pq a gente fica ligada no nosso padrão...

anna v. disse...

Caraca, tenho leitores que falam turco e havaiano! Meu deus, tô ficando besta...