25.2.09

Técnica Agostinho Carrara

Marido, que passou o dia fora, trabalhando, liga, pelas 9 da noite.
- Oi, tudo bem por aí?
- Tudo bem.
- E Mathilde?
- Dormindo.
- Ah, que bom. Foi tudo bem, o dia de vocês?
- Foi, tudo tranquilo.
- Ótimo. Então, vai ter um joguinho [do Botafogo], e estou pensando em assistir na rua, num bar, pra não fazer muita bagunça aí em casa.
- Legal, vai lá.
- Tudo bem, então?
- O lance é que tínhamos ficado de fazer compras hoje, e amanhã eu trabalho e você também vai estar fora o dia todo, e não tem comida, e amanhã vem a faxineira, e a babá...
- O quê?
- As compras. Tem que ir ao supermercado.
- Hein?! Não estou escutando.
- Tem que fazer compras!
- Este celular está uma m*erda, não estou ouvindo nada!
- Tá! Beijo, Tchau!

E desligo o telefone e faço compras pela internet.
A vida é uma comédia de situação.
Porque a rapadura é doce, mas não é mole.
.

24.2.09

Carnaval 2009


Baiana é aquela
Que entra no samba
De qualquer maneira

Que mexe, remexe

Dá nó nas cadeiras

E deixa a moçada

Com água na boca


O que eu acho mais fascinante no carnaval do Rio de Janeiro, que de uns dez anos pra cá voltou a ser eminentemente um carnaval de rua, é o folião quase à paisana. É aquele que vai para um bloco mas sem uma fantasia muito produzida. É a pessoa que está no metrô, no meio da tarde, de bermuda jeans, camiseta branca e sandália, mas com um pinguim de pelúcia na cabeça à guisa de chapéu. Ou com um simples colar havaiano. Ou mesmo apenas uma presilha de flor colorida na cabeça e uma sombra de purpurina. Ela está ali, agindo "civilmente", comprando um bilhete, passando na roleta. E ninguém acha estranho aquele arco na cabeça, com dois chifrinhos de diabo que piscam com luz vermelha.
Para mim, este é o maior barato do carnaval.

21.2.09

Pequenos segredos (in)confessáveis

1. Sábado de carnaval, última noite sozinha com a pequenina antes de o marido voltar de viagem, fui jantar depois que ela dormiu. Meio cansada de comer a mesma comida caseira todo dia a semana inteira, pedi um Combo Kids (pizza brotinho + latinha de iced tea + brownie) da Dominos. Comi com o maior apetite, e agora estou aqui, empanzinada, empanturrada, arrependida.

2. É programa turistão-farofa, mas morro de vontade de ir na roda-gigante que instalaram no Forte de Copacabana. (Pena que batizaram de Rio-2016, de modo que ir lá pode parecer um apoio ao delírio de se fazer uma olimpíada no Balneário daqui a míseros 7 anos.)

3. Não estou com a menor vontade de pular carnaval este ano.

19.2.09

Sem lei e sem ordem


Quanto mais eu leio sobre o caso da pernambucana que mora na Suíça e ninguém sabe se foi atacada por neonazistas ou se é uma perturbada que se automutilou e inventou uma gravidez de gemêas, mais eu acho que estou vendo um caso de Law&Order: Special Victims Unit. Os episódios dessa série são todos assim: um caso barra pesada que aos 20 minutos parece que já foi resolvido, mas como cada capítulo dura 1 hora, já sabemos que haverá uma reviravolta e que nada na verdade é o que pareceu à primeira vista.
Consigo imaginar perfeitamente a detetive Benson conversando com Paula, tentando fazer com que ela se abra, primeiro para "evitar que outras mulheres passem pelo que você passou" (uma frase clássica do programa), depois encaminhando a moça para o psicólogo oriental da unidade, o dr. Wong, ou Wang (porque hoje em dia qualquer série é de uma diversidade étnico-cultural incrível), para avaliar a sanidade mental da criatura, enquanto o detetive Stabler sai em busca do namorado suíço desaparecido, o personagem mais enigmático de toda essa história, segundo M., que veio aqui em casa ontem à noite comer sushi e beber Stella Artois (em promoção no Zona Sul), e que não se conforma com o fato de ninguém da imprensa ter ainda localizado esse sujeito e conseguido um depoimento dele.

E aliás, Helê, quando é que começa a nova temporada de Brothers & Sisters?!

17.2.09

Dia 17, já?!

O tempo está voando, e eu não consigo entrar aqui para postar, tampouco ler os comentários.
O tempo está voando, voando, voando.

Marido viajou de novo, agora está quatro fusos para a frente. Ficamos eu e Mathilde, num grude só, mas nem posso me queixar, que essa nossa rotinazinha a dois (a duas?) é muito gostosa - pegá-la na escolinha, vir pra casa, comer, tomar banho juntas, brincar, ouvir música, dançar, dormir.

Ela estreou no carnaval no domingo, num bloco em Laranjeiras. Dançou à beça, rebolou que só ela. Uma globeleza, praticamente.

Eu tenho ido de bicicleta pro trabalho, e estou adorando. São 5 minutos, nem dá pra cansar. Então me sinto assim, uma européia, pedalando de roupinha social. Mas acreditam que não me deixam parar na garagem do prédio? Isso porque é um prédio comercial de centenas de salas e 3 andares de garagem, e alegam não ter espaço para bicicletas. Pode uma coisa dessas? É como eu digo ao meu chefe quando ele fica imprimindo uma porção de arquivos que poderiam muito bem ser lidos na tela do computador: O NoImpactMan vai puxar o seu pé à noite... Enfim, seria legal se tivesse uma lei municipal, algo assim, que obrigasse prédios comerciais a destinar X% do nº de vagas de carros para bicicletas, não? Fica a sugestão para os meus leitores legisladores (ha).

Fora isso, meus insanos compromissos profissionais assumidos antes do novo emprego continuam com a corda toda. A jornada tripla é uma realidade, mas pelo menos são coisas bacanas. Livros, discos, shows. Hmmm hmmmm.

6.2.09

Polícia e ladrão


Sexta-feira, chopinho com T., minha amiga que é psicóloga e trabalha com crianças nas escolas públicas, nos morros cariocas. (Você queria esse trabalho? Pois é, nem eu.)
Ela me conta que as crianças - que via de regra vêm de famílias muito desestruturadas, muitos têm pais presos, mortos ou desaparecidos, coisas dessa sorte (ou falta de) - como sempre brincam de faz de conta. Mas que lá os papéis são outros: fulano é o traficante, fulaninha é a filha do traficante, beltrano (um menino mais mané) é o marmita, o cara que faz as quentinhas, e por aí vai o jogo de referências. Até aí tudo bem, nenhuma novidade.
Segundo T., essas crianças pegam o papel dos maços de cigarro que encontram no chão, cortam em tirinhas e aquilo é o dinheiro de mentira delas, que serve para todas as brincadeiras.
E aí, como desde sempre, tem a brincadeira de polícia-e-ladrão, que todo mundo conhece. Só que é assim: se você é ladrão, e é pego pela polícia, tem que pagar pra polícia te soltar. Ou então, se um amigo é pego e não tem dinheiro, você pode pagar pra soltar seu amigo.
E agora?, me perguntou T. Como é que se faz pra começar a tentar explicar que não é bem assim? Mas afinal, é bem assim ou não é bem assim?
(Você queria esse trabalho? Pois é, nem eu.)

4.2.09

Para a Clara

A Clara Lopez é uma das comentaristas mais frequentes (isto é, frekentes) deste blogue. É a leitora que todo blogueiro sonha em ter: comenta bastante, sempre coisas construtivas, positivas. É uma fofa, em suma. Ela tem um blogue muito bom, o Linha de Pesca. Não sei muito sobre a Clara, exceto que mora aqui perto, no Catete, escreve muito bem e tem um ótimo gosto literário (escreve à beça sobre livros).
Bom, a Clara volta e meia, em seus comentários, dá um jeito de perguntar sobre o meu trabalho. É um assunto sobre o qual já falei por aqui antes, mas sem entrar em muitos detalhes. Um post sobre o mercado editorial, por exemplo, me rendeu os cinco minutos de fama na blogosfera.
Meu novo emprego é nesse mesmo mercado. Estou agora em outra editora. O que faço lá não tem um nome específico. Basicamente, trabalho na fase anterior à contratação dos títulos. Ou seja, faço os contatos com agentes literários estrangeiros solicitando material para análise, ajudo nessa análise (mas não decido nada, só dou minha opinião e ajudo os editores, que são pagos pra tomar essas decisões), e, quando se decide pela contratação, cuido dessa parte. Depois que o contrato chega, confiro se as informações batem com o que foi previamente acertado, e acaba o meu trabalho com aquele título - e é aí que começa a produção do livro propriamente.
Não tem o glamour que pode parecer. São requisitos para a função uma grande capacidade de organizar uma quantidade brutal de informação (são muitos pedidos e muitos títulos ofertados diariamente, muitas ofertas em aberto aguardando resposta, muitas conexões entre empresas e pessoas que é preciso ter em mente) e um saco de jó para ler muito livro ruim. Além disso, é preciso um certo talento de detetive para descobrir que detém os direitos de tradução de certos livros (não me perguntem como isso era feito antes da internet) e muita perseverança para conseguir atenção de gente que nem sabe que no Brasil existe editora.
Mas é legal. Agentes literários e outros profissionais do mercado editorial lá fora são pessoas interessantes, no mais das vezes. E neste trabalho, diferente do anterior, não lido com autor nacional - o que, me desculpem se firo suscetibilidades, é uma bênção. (Meu lema é "autor bom é autor morto - e sem herdeiros".) Tem o frisson dos leilões, que podem ser emocionantes. E, claro, tem o prazer de trabalhar em algo cujo produto final são livros, o que é sempre reconfortante.
Last but not least, da janela vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo.

Como prometido, a vista da minha sala. Lá no fundo, a Pedra da Gávea.