30.4.07

Dois a dois

Renato comemora o gol com a estranha fantasia de urubu-rei

Pelo que eu sei, não existe um apelido para o clássico Flamengo x Botafogo. Flamengo x Vasco é o Clássico dos Milhões, por serem os clubes de maior torcida do Rio; Botafogo x Fluminense é o Clássico Vovô, por serem os clubes mais antigos; Flamengo x Fluminense é o Clássico das Multidões, mas eu acho que deveria se chamar Clássico dos Clássicos, uma vez que Fla-Flu já transcendeu seu significado original para remeter a qualquer rivalidade acirrada. (Em Lisboa vi uma pastelaria que se chama Flu-Fla. As informações chegam lá meio truncadas.)*

Enfim, não há um nome-fantasia para Flamengo x Botafogo. Mas posso dizer que é Clássico Aqui de Casa. É daqueles dias em que toda civilidade é pouca, em que nós dois pisamos em ovos. É um dia de muitos silêncios entre este casal. Um silêncio respeitoso, nunca de escárnio, jamais um risinho no canto da boca. Nada, nem um comentário.

Ele foi ao Maracanã, eu fiquei em casa. Ele voltou, e agimos como se nada tivesse acontecido. Ele está no maior mau humor até hoje. Eu agüento. Eu estou de ótimo humor. Mas não demonstro.

Assistir a um jogo de final de campeonato sozinha em casa é uma forma de auto-conhecimento. Pela experiência de ontem, descobri que sou uma pessoa que foge dos problemas, em vez de encará-los de frente. Pois quando vi o Flamengo levar uma coça do Botafogo no primeiro tempo, esmagado pela óbvia superioridade do adversário, e tomar dois gols no primeiro tempo, o que eu fiz? Mudei de canal. Fiquei vendo qualquer porcaria no Telecine, no GNT, no Canal Comunitário, na TV Senado... Irritada, apertei o Mute e fiquei trabalhando na mesa ao lado da TV. Sabia que, se algo acontecesse, ouviria a reação dos vizinhos (aqui na rua a torcida Arco-Íris é imensa). E aí, algo aconteceu. E no segundo tempo eu pulava no sofá e gritava sozinha, num espetáculo meio patético, olhando em retrospecto. E depois de devidamente empatado o jogo, ainda houve uma cobrança de falta aos 43 do segundo tempo. Para a maioria dos flamenguistas, uma cobrança de falta aos 43 do segundo tempo é um evento de gloriosa memória, desde o dia 27 de maio de 2001**. Mas como Renato não é Pet, a bola bateu no travessão e eu dei apenas mais um pulo no sofá.

Deixamos então a decisão para o próximo domingo, quando provavelmente nós dois estaremos no Maracanã, em lados opostos.

Às vezes acho que as coisas são mais fáceis quando não se gosta de futebol.


*Ah, a internet. A Wikipedia tem uma lista de clássicos brasileiros, por região. Só assim para eu saber que Remo x Paysandu é o Clássico-Rei da Amazônia, América x Náutico é o Clássico da Técnica e Disciplina e Itabuna x Colo-Colo é o Clássico do Cacau.

** Didatismo: final do Carioca, Flamengo x Vasco. O Vasco era favorito e podia perder por até um gol. De fato perdia, estava 2x1 pro Flamengo, placar que dava o título ao Vasco. A frustração era enorme, ganhar o jogo e perder o campeonato. Até que aos 43 minutos do segundo tempo Petkovic marcou um gol de falta, uma pintura. 3x1, Flamengo campeão. Tricampeão, aliás. Foi a terceira final consecutiva entre os dois times, e a terceira vez seguida que o Vasco foi vice.

29.4.07

No Palácio

O Palácio Capanema é uma das jóias da arquitetura modernista brasileira. O projeto é do Lúcio Costa.

O novo presidente da Funarte diz que o Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio, será transformado num grande centro cultural que vai abrigar eventos de todas as artes. Se acontecer mesmo será ótimo. Por acaso estive no Palácio esta semana. Adoro aquele prédio, e me sinto bem só por estar ali. Fui lá procurando a Representação Regional do Ministério da Cultura, uma iniciativa recente que achei bastante inteligente, em sua proposta de descentralizar todas as operações, informações etc. que antes eram só em Brasília. Como eu tinha que mandar alguns documentos para o Minc, resolvi ir até o palácio e entregar lá, em vez que mandar um Sedex.
Era o meio de uma tarde linda, céu azul até não mais poder, contrastando com as curvas do Palácio, as plantas e os azulejos. Na portaria, um guarda distribuía crachás aos visitantes. Disse que queria ir à Representação Regional do Ministério da Cultura. O que você vai fazer lá?, perguntou ele com a maior naturalidade. Surpresa com aquele tipo de pergunta ainda quase na porta da rua, balbuciei qualquer coisa como "entregar uns documentos". Mas é projeto?, insistiu ele. Comecei a me irritar. Não, não é projeto. Ele ficou com cara de quem espera mais informação. Eu disse que tinha ligado antes, ele se conformou e me deu um crachá escrito "2º andar".
Saltei do elevador no segundo andar, dei de cara com um balcão lindo de madeira, enorme e em forma de onda (como o calçadão de Copacabana, mais ou menos). Ele ficava no canto de uma sala incrivelmente grande, ampla, linda... e vazia. Até que num cantinho vi uma moça, com roupa de guarda de segurança terceirizada, sentada atrás de uma mesa minúscula, como uma carteira de colégio, que ficava ainda mais diminuta em contraste com a amplidão modernista daquele lugar. Falei com ela, que também me perguntou "É projeto?", e diante da negativa, me encaminhou para uma sala pequena, cheia de mesas e pessoas. Bem ao lado, uma porta aberta dava para outra sala gigantesca e descomunalmente vazia, que dava ainda para uma varanda espetacular. Era muito estranho aquilo, tantos lugares tão grandes vazios, e um monte de gente esprimida numa sala mínima.


Falei com duas moças que dividiam uma mesa e um computador. Naturalmente, me perguntaram "Mas é projeto?" e ficaram em dúvida quando eu expliquei que não, não era projeto, não era Lei Rouanet. Quase como se o Minc não tivesse mais nenhuma atividade desvinculada da Lei Rouanet -- o que, convenhamos, não está muito longe da verdade.
Quando expliquei o que era, elas ficaram assim com uma cara tão abismada, como se eu tivesse dito "Bom dia, eu vim aqui comprar um quilo de alcatra". Mas pegaram o telefone e ligaram para algumas pessoas, para chegar à conclusão que meus documentos deveriam ser mandados para Brasília. Eu disse que sabia disso, mas será possível que eu não poderia entregar ali e eles me dariam um protocolo e encaminhariam ao lugar certo, em Brasília ou onde quer que fosse? Ah, peraí, vamos ver. Tem que perguntar para a fulana. Nesse momento entra uma mulher enorme, tanto vertical quanto horizontalmente, senta-se atrás de uma mesa, ouve o meu caso (sim, porque já virou um "caso"), pergunta "Mas não é projeto?" e diz, peremptória: Você tem que ir ao 12º andar e procurar a senhora Jupiara.
Eu quase ri com aquela frase, que parecia alguém querendo imitar depreciativamente o serviço público. Jupiara, no 12º andar? Só faltou a parte do "em três vias".
Voltei para o elevador, mas antes parei no balcão-calçadão-de-Copacabana e preenchi o envelope pardo com o endereço que eu tinha de Brasília, além de conferir mais uma vez o conteúdo, na minha organização paranóica-neurótica-obsessiva (faltam-me subsídios psicanalíticos para me decidir pela melhor definição para o meu caso). Nisso tocou meu celular e eu fiquei um tempo falando.
Finalmente peguei o elevador para o 12º andar. Lá, a primeira coisa que se vê é um balcão com vários guichês. Apenas um guichê tinha um ser humano atrás, ser humano este que conversava com outro, do lado oposto, e ao lado, mais uma guarda de segurança terceirizada (sabe como é, não contratam mais ninguém, é tudo terceirizado).
-- Bom dia, por favor a senhora Jupiara?
O ser humano do lado de lá do balcão franziu a testa:
-- Jupiara??
Ah meu deus, pensei. Vai ver que inventei o nome da mulher, no meio tempo em que fiquei endereçando o envelope e falando no celular, já passaram muitos minutos entre o momento em que me falaram o nome da criatura e agora.
-- Er, agora não tenho certeza, acho que é Jupiara. Mas talvez Jupira? Ou Iracema? (vejam por que distâncias viaja a mente da pessoa)
Fui salva pelo outro ser humano, do lado de cá do balcão.
--A Juju, da Administração!
-- Ah, sim, claro, a Juju!, lembrou o outro. É projeto?
-- *suspiro*
A segurança terceirizada pediu a minha identidade (!), anotou valiosas informações na sua prancheta, e me encaminhou até uma outra salinha cheia de mesas e pessoas. Como sempre, no meio de uma amplidão desocupada. Logo encontrei a Jupiara, atrás de sua mesa. Naturalmente a Juju perguntou "É projeto?", mas por sorte não achou o fim da picada o fato de não ser. Pegou o envelope, conferiu o endereço, sorriu e me deu um protocolo com o número do malote e do envelope.
-- Amanhã de manhã já vai estar lá em Brasília, ela disse confiante.
Afinal, o serviço público se orgulha da sua presteza e competência.


25.4.07

Da série Perderam a Loção dos Preços!

Na tinturaria do bairro, privilegiando o pequeno comércio em detrimento das grandes redes (abaixo o grande capital transnacional, haha):
-- Bom dia, eu queria lavar a seco esses dois paletós e este vestido.
-- Pois não.
-- Quanto é?
-- Os casacos saem por R$ 18 cada um, e o vestido, R$ 25.
-- O quê? Mas ali na parede tem uma tabela de preços diferentes.
-- É que esses não são paletós, são casacos.
-- Olha, este aqui até vá lá, é um sobretudo de lã, ok. Mas este aqui, como assim não é um paletó?
-- Ah, porque tem o forro, e é de veludo.
-- E daí? É um paletó de veludo e com forro.
-- Não, mas paletó é igual a este aqui (mostra outro, num cabide).
-- Ah, bem, tá bom, então. Mas por que este vestido não é R$ 20, como na tabela.
-- Por que este não é um vestido simples.
-- Como assim?
-- É que tem preços diferentes. Alguns vestidos têm pedrarias e outros detalhes.
-- Mas não é o caso deste, né? Só tem essa parte que é diferente, mas é tudo tecido, não tem detalhes e tal.
-- Ah, mas não é um vestido simples, não.
-- Então não vou deixar o vestido. Olha, isso tá muito caro. Vou deixar só os paletós/casacos.
-- Tá bem. Eu faço pra senhora por R$ 30 os dois casacos.
-- Certo. Mas o vestido eu vou levar de volta.

Na franquia estrangeira de tinturarias:
-- Quanto custa pra lavar este vestido a seco?
-- Hmmm, não é um vestido simples...
-- ...
-- Custa R$ 27.
-- Mas nem tem pedrarias nem brocados nem nada!
-- Mas tem essa parte aqui, ó, tá vendo? De tecido diferente.
-- Nossa, muito caro. Tá bom, obrigada, não vou lavar, não.
-- Péra aí. Vou ver ali se dá pra fazer pelo outro preço.
-- Ok.
(2 minutos)
-- Olha, vai ficar então por R$ 15.

Valor da tinturaria em Lisboa, para uma blusa de seda japonesa: 3,35 euros.

24.4.07

Power Off

Eu apóio. Mais aqui.

Holanda


Foram poucos dias na Holanda. Poucos mas bons. Bons mas frios.
Sim, claro, a Holanda é muito mais do que flores e bicicletas. É o país do discurso tolerante. Lá os vícios são permitidos. Seja maconha, vide os coffeeshops, seja sexo, vide o Distrito da Luz Vermelha. Por outro lado, isso significa que ninguém se importa muito com o que você faz da vida. Partem do princípio que cada um sabe de si e cuida da própria vida. E no entanto, lá só encontramos pessoas calorosas, amigas, gentis e interessadas. Como se buscassem nos brasileiros o calor da cultura que falta lá. Como se quisessem ir além dos pintores da escola flamenga e da cultura de cartão-postal, tulipa-moinho-vaquinha-queijo-tamanco. E bicicleta. Ah, tem isso. Cuidado com as bicicletas. Eles são finos e elegantes, mas não respeitam muito os pedestres, não.
Posted by Picasa

20.4.07

Samurai

Esse post muito bacana sobre etimologia me lembrou uma outra questão do mundo das palavras, que é a interpretação diferente que a mesma palavra pode ter em culturas diversas. Aconteceu esta semana.
N. é japonesa, e trocou o Japão pelo Brasil há alguns anos movida por uma paixão. Se apaixonou pela nossa música, e mandou às favas a família, a cultura, o país e o emprego na orquestra sinfônica de Osaka. Vive aqui, ralando como tantos músicos, dando aulas de flauta, tocando em gravações, peças de teatro, shows etc. Eu a admiro muito. Não só por essa trajetória de coragem e amor, mas também pela sua competência profissional. N. toca toda a família das flautas (em dó, em sol, flautim), toca piano muitíssimo bem, saca muito de orquestração, ensaia e rege grupos e pequenas orquestras com a cancha que só quem já esteve do outro lado das estantes pode ter.

Pois bem. Ela participou de um disco cujo release eu escrevi. E quando fui citá-la, disse que ela era uma samurai. (Sim, eu sei que samurais são só homens - ou mulheres disfarçadas -, mas isso realmente não é importante.)

Logo que cheguei de viagem encontrei N., num lugar com muita gente, revendo todos os amigos ao mesmo tempo. Ela me perguntou: "Por que você colocou samurai no release?". Mas eu nem consegui responder, porque estava uma confusão de gente, e depois ela foi embora. Na terça estive de novo com ela, e lá pelas tantas apareceu o release. Ela perguntou de novo: "Por que samurai?". Eu respondi que samurai para mim tinha uma conotação de poder, de coragem, de um guerreiro destemido, com honra, defendendo uma causa nobre, e também alguém com muitas habilidades, e muito bom naquilo que faz. E que eu achava que ela era tudo isso.

Ela fez aquela cara de "Ahhn..." que só os japoneses sabem fazer.

E me explicou que samurai, para os japoneses, era outra coisa. "É aquele guerreiro que saca uma espada e sai matando todo mundo." Hein? Como assim? Um assassino, só isso? E a honra? E a nobreza de espírito? E a coragem? "Tem isso também, mas principalmente é aquele que tira a espada e mata."

Fiquei meio preocupada. Não fora absolutamente essa a minha intenção. Saímos perguntando para todo mundo que estava por ali, e para meu alívio, os brasileiros todos tinham uma concepção bem positiva, parecida com a minha, do que seria um(a) samurai. E acharam a comparação muito apropriada, aliás.

Só houve a discordância quando eu disse que samurai era aquele que fazia muitas coisas, tinha muitas habilidades. Logo veio alguém para dizer que esse é o ninja, não o samurai. E N. explicou maravilhosa e japonesamente: "Ninja é mau. Não tem honra. O ninja está ali, atrás daquele armário, agora, colado na parede (e apontou). Ele te mata e some na noite."

Todo mundo riu, mas a verdade é que ninguém mais ficou perto daquele armário.


19.4.07

Vila Morena


Teve uma certa hora em que paramos em Grândola. Porque estávamos de carro, indo de Beja pra Sintra, e Grândola ficava no caminho. Resolvemos parar para um café (com pastel de nata, bem entendido). E eu fiquei enchendo o saco porque queria tirar uma foto na placa de entrada da cidade, "Bem-Vindo a Grândola, Vila Morena". E ele sem entender o porquê de tanta insistência.

Eu: Por causa da história da música, ora bolas.
Ele: Que música?
Eu, espantada: Como assim, você não sabe a história de "Grândola, Vila Morena"?
Ele, espantadíssimo: ??
Eu, didática: Não sabe que essa música era a senha da Revolução dos Cravos? Que quando ela tocou no rádio, no 25 de Abril, foi o sinal para todos os quartéis e todos os outros revolucionários?!
Ele: É mesmo? Nunca ouvi falar.
Eu: Não é possível!

De volta a Lisboa, comentei com G. que passamos em Grândola e tal.

Eu, com ar quase de desprezo: E imagina que ele não sabia a história da música.
G.: Que música?
Eu: "Grândola, Vila Morena".
G., puzzled: Que história?
Ele, já rindo: Tá vendo?
Eu: Não acredito, vocês dois, cheios de pós-graduações, suma cum laudae e não sei o quê, e não sabem de "Grândola, Vila Morena".
G.: Mas que história é essa?
Contei tudo de novo para ela, que também nunca tinha ouvido falar que a Revolução dos Cravos foi deslanchada por uma música.

Mais tarde, saímos com uns portugueses. No táxi, a caminho, sugeri que pedíssemos que cantassem a música, e confirmassem a história. Mas fui demovida da idéia, com o argumento de que seria tão ridículo quanto encontrar uns gringos no Rio e eles pedirem para eu cantar Cidade Maravilhosa.
Enfim. Agora me digam, tô maluca? Ninguém conhece essa história maravilhosa?

http://www.goear.com/listen.php?v=91ac0c7 (só começa a música lá pelos 40 segundos)
Grândola, vila morena
terra da fraternidade
o povo é quem mais ordena
dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
o povo é quem mais ordena
terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
em cada rosto igualdade
o povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
que já nao sabia a idade
jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
jurei ter por companheira
à sombra duma azinheira
que já nao sabia a idade.

(Zeca Afonso)

18.4.07

Literatura de aeroporto


Ele comentou que quando pega um vôo grande, cai de cabeça num bestseller e se esquece do mundo.

E como tínhamos que esperar SETE horas no aeroporto, comprei um livro. Fui saciar a minha curiosidade por The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, de Mark Haddon, que ganhou uns prêmios e fez sucesso na Inglaterra uns anos atrás. (Saiu no Brasil pela Record, O Estranho Caso do Cachorro Morto.) Como acho que já disse antes, não sou fã da literatura inglesa contemporânea. Menos ainda do tipo que ganha prêmios. Man Booker Prize, então, nem me dou o trabalho de ler a orelha. É sempre aquele papo de angústia, perda, deslocamento do indivíduo na sociedade contemporânea, muita malaise demais pro meu gosto. Mas alguns deles, mais muderninhos, são legais. Este é um deles. Li assim, bem rapidinho. Bom pra aeroporto, é isso aí.

(Em tempo: eu também sempre sento no corredor. Janelinha é coisa de criança.)

17.4.07

Um mês fora

Do que eu senti saudades

Minha casa
Minha cama
As pessoas
Pilates
Carioca way of life
Ler jornal

Do que eu não senti saudades

Ônibus barulhentos e com motor de caminhão
Táxis barbeiros
Sujeira nas ruas
Supermercado
Andar sempre olhando pra trás, just in case
Ler jornal

Domingo carioca

Felizes e contentes indo para Niterói, para um churrasco de aniversário, domingão, sol e céu azul, só alegria.
No caminho, pouco antes da Ponte, um assalto. Trinta metros na nossa frente.
Homens armados mandando saltar de um carro. O carro na nossa frente deu ré, nós também, o de trás também. Impressionante constatar esse condicionamento. Em meio segundo todo mundo percebeu o que era e tratou de dar ré. Quase poderia dizer "com naturalidade".
No nosso carro, dois venezuelanos que moram em Paris, por aqui a passeio, turistas.
Vergonha, vergonha.
Demos a ré, esperamos um pouco, seguimos o caminho.
Da Ponte, a vista espetacular do Rio de Janeiro num domingo de sol.

16.4.07

A feira

Em mil-novecentos-e-bolinha eu cantei, imagine só, em um grupo de música medieval. O repertório era cheio daquelas canções e motetos ars antiqua, partituras encontradas em códex, cadernos de trovadores, aquelas coisas tudo a ver com o nosso dia-a-dia. Uma das minhas séries favoritas era o "Livro de Montpellier", séc XIII, e uma das peças imitava os pregões de vendedores nas feiras da idade média, oferecendo morangos, amoras, queijos, vinhos etc. Era um moteto a três vozes, e cada uma falava um pregão diferente. Tanto que o nome da música é, na verdade, três nomes, "On parole de batre/A Paris/Frese nouvele" (tipo: três autistas que não se ouvem, cada um canta uma coisa; a versão medieval do samba do crioulo doido).

Mas isso, como tantas coisas, estava guardado numa gavetinha da memória que não era aberta há muito, muito tempo. E que se escancarou quando me deparei com essa feira livre em Le Puy en Velay, na França (pode procurar no mapa, mas é bem pequeninho). Os legumes e frutas eram de uma cor tão forte que fiquei com pena dos transgênicos que comemos por aqui. Pães de todas as qualidades, e umas lingüiças e uns queijos tão funguentos que dava medo de comer, tal era o cheiro de chulé. (E no entanto, que delícia.) Mel, geléia, bolo, carnes de tudo quanto é bicho (inclusive vivos, como os coelhos...).


Eu sempre acho interessante ir a feiras e mercados em países estrangeiros. Diz muito sobre cada povo, ver o que ele come. Na feira de Le Puy, compramos mel, pão, queijo e lingüiça, que acabamos só podendo comer dois dias depois, numa viagem de trem. E para surpresa geral, estava tudo ótimo. O pão não estava duro, o queijo e a linguiça não estavam podres (isto é, não além do normal). Como devia ser, pelos idos de 1260.

Em tempo: a catedral de Le Puy é parte da rota de peregrinação do Caminho de Santiago.

15.4.07

Voltei

Depois de um mês, caramba, nem sei por onde começar.

Talvez comece pelo início e fim de todas as grandes viagens: o avião. Minha idéia é lançar a companha "Comunismo nas Nuvens - Por um avião sem classes". Porque olha, francamente, passar dez horas naquele aperto desumano a que nos submetem os aviões é uma tortura. Muito, muito esprimido. Isso porque eu tenho um metro e sessenta. E aí você olha um pouquinho ali na frente e vê os latifúndios da classe executiva. E ainda tem a primeira classe, que não dá nem pra ver, ali dos confins da turística. Por que é que nos submetemos a essas condições, hein? Para viagens de mais de 5 horas deveria ter um espaço mínimo obrigatório maior. Muito maior. Todos os lugares deveriam ser maiores, e sem esse esnobismo das classes diferentes. E ainda tem a porcaria do serviço de bordo, em que você pena para conseguir um cálice de água.

Hmm, mas não sei, começando desse jeito até parece que a viagem foi uma porcaria. Que nada. Os últimos 30 dias foram ótimos. Só não deu mesmo pra escrever em blogue. Quando tinha uma internet era pra checar os emails e tchau. Teve bastante trabalho. Mas teve muita curtição e férias também. E muita comida e bebida. Ó, céus, meu santo Vigilantes do Peso, valei-me. Primeiro, muito queijo, vinho e croissant. Depois, muito bacalhau e pastel de nata. E aí já deu para sacar onde eu estive.

Tem muitas fotos. Desta vez tem até vídeos! Vou colocar aos poucos.

E vocês aí, hein? Quais são as últimas do animado mundo dos blogues?