28.11.07

Dez em química, zero em design de produto


Na última semana meus pés e minhas mãos incharam. Meus dedos doem quando eu fecho a mão. Ontem levantei da cama com tanta dor nas costas, tanto cansaço e tanto sono, de tantas noites mal-dormidas, que as lágrimas brotaram sozinhas, incontroláveis. Coitado do marido. Blame it on the hormones. Mesmo as gravidezes mais tranqüilas têm esses perrengues. O corpo não agüenta -- não tem como agüentar.

Não é de hoje que tenho críticas ao design do corpo humano. As pessoas insistem em chamá-lo de máquina perfeita, e tal. Eu discordo. Acho que alguns órgãos ficam sobrecarregados. A boca, por exemplo. É um absurdo que se use o mesmo órgão para falar, comer e ainda respirar -- isso para não entrar nas utilidades eróticas. Não seria muito melhor se apenas falássemos pela boca, e tivéssemos outra abertura ali pelo peito só para inserir comida e bebida? Ali já mais perto do aparelho digestivo, sem precisar passar pela garganta, esôfago, essa coisa que confunde com a respiração, às vezes cai no canal errado... Enfim, é uma bagunça. Também é um tremendo erro de projeto que só tenhamos dois olhos, um do lado do outro, na frente da cabeça. É claro que deveríamos ter um olho na nuca, ou melhor ainda, na ponta do dedo indicador. Como é que pode não conseguirmos olhar o nosso corpo todo sem auxílio de espelhos? A troca da dentição é outra coisa muito mal planejada. A gente vive uns 70 anos, passa 7 ou 8 anos com uma dentição e 62 com outra? Eu, hein! É claro que os dentes deveriam mudar ali pela casa dos 30 anos, para ficar mais equilibrado. E por fim, se o coração é um órgão tão importante, por que não temos dois, a exemplo dos pulmões, rins e outros?

Esse assunto me vem à mente com mais freqüência agora que o parto se aproxima. Porque essa é uma parte muito, mas muito mal feita. Vocês já viram aqueles desenhos que mostram por onde passam os bebês para nascer? É óbvio que não cabe direito. É óbvio que é apertado demais. Não faz sentido. O canal vaginal fica, como a boca, superutilizado, com funções demais. Além das funções de excreção, os bebês "entram" e saem por ali, literalmente. Não pode. Tá errado. Por que não somos, sei lá, marsupiais?
Update: A ignorância é uma merda. A Anunciação explicou que, apesar de próximos, o canal por onde bebês entram e saem, e as vias excretoras não são a mesma coisa. Blogue é esse problema. Você sai cagando regra, e se colar, colou.

Então se por um lado a parte química é um arraso, com a incrível sincronia entre os hormônios, libera uma coisa, deixa de produzir outra, tudo automático e involuntário, realmente bacanérrimo, as sinapses, as mensagens que chegam e saem do cérebro, tudo de tirar o chapéu, por outro lado deixa muito a desejar na parte de design.

Queria muito um Procon nessas horas.

PS: Por coincidência, a Maria hoje deu a dica deste site. Agora vão lá e me digam que estou exagerando.
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21.11.07

Somos todos estranhos

É claro que eu ia escrever sobre meu chope com Carrie, a Estranha anteontem. Mas, como ela mesma já disse, somos opostos absolutos (o que é meio mentira, but), de modos que ao passo que eu demoro 2 dias para tomar alguma atitude a respeito do blogue, ela em poucas horas já tinha publicado o post sobre o nosso encontro, um texto fofo daqueles que fazem a gente enrubescer. A Carrie é tipo blogueira profissa. Não admira que tantas pessoas que param lá no SublimeSucubus por acaso não resistam e se viciem, como aconteceu comigo. Porque ela domina a arte de alternar entre o seu famoso "jeito pândego" e a abordagem de assuntos sérios, íntimos até, tocantes. E a gente conversou sobre tanta coisa, e é tão bom quando um first date dá assim tão certo, que se dependesse de mim repetia o chope toda segunda, para fazer uma resenha da semana que passou.
E ela ainda levou presentes para Mathilde, olha que candura.
Em tempo: por conta de links nos blogues da Carrie e da Cam (que se enquadram na categoria blogues que bombam), a média de acessos aqui dobrou. Aí de repente me dei conta: vocês que estão chegando agora, entenderam que minha filha não vai se chamar Mathilde? Pelamor!

19.11.07

Da ausência de loção

Através do Idelber tomei conhecimento da surreal troca de e-mails entre um jornalista da Veja e o biógrafo do Che Guevara, Jon Anderson. O ápice é, de fato, a ameaça do brasileiro: por sua postura anti-ética (mandar a correspondência a outros jornalistas, já que Veja não respondia), Anderson, que escreve para a New Yorker, não seria nunca mais mencionado nas páginas de Veja.
Pausa para risos constrangidos -- ou desbragados.
Isso me faz lembrar um caso similar -- mas muito, muito mais caricato e absurdo -- de correspondência internética publicada: a briga entre Mario Marques e Daniella Thompson por causa de uma discografia publicada sem o devido crédito na biografia do Guinga escrita por Marques. (Não vou nem comentar a estranheza que me causa escrever a biografia de alguém que está em plena atividade profissional.)
Quem nunca leu não deve perder. Quem já leu pode reler. Diversão garantida. A correspondência está toda aqui (em inglês -- mas é que traduzindo perde toda a graça). Depois me diga qual o seu trecho favorito. O meu é "Why am I hungry? Today my dad read this at internet. This is so sad to me, right?"
:-)

Momento Sissi


A dona deste blogue está "Sissintindo" a tal.

Imaginem que A. me contou que este humilde sítio, com esses humilíssimos escritos, foi de certa forma responsável pela existência deste outro sítio, que -- vejam a diferença -- é obra de um escritor de verdade. Que ele descobriu o blogue por causa de um post que falava do seu livro (o segundo; o primeiro é igualmente bom) e ficou fã. Pois taí um caso de fãzice recíproca. Mas o mais curioso foi que, segundo A., Anna V. virou mesmo um personagem, citada em conversas dos almoços domingueiros. Então, depois de saber que Anna V. era flamenguista, que Anna V. tinha certos cuidados com a língua portuguesa, que Anna V. tinha viajado, que Anna V. era isso e aquilo, A. ficou curiosa e chegou até aqui para ler, já desconfiada e com um palpite. "Só precisei ler dois parágrafos para saber que era você", ela me disse. Uma dessas frases que fazem com que a gente sorria e agradeça por ter amigos tão bons há -- quantos, A.? -- 17 anos (!). De modos que o blogue fica um cadinho menos anônimo, mas muito mais feliz.
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17.11.07

Diga trinta e três

Melhor imagem para a chegada do oitavo mês


Trinta e três semanas.
Mais uma ultra. Com doppler.
Tudo normal.
Vimos o rostinho dela. Mãos, pés, dedinhos.
Já está de cabeça pra baixo, como uma boa menina.
Nada de cordão enrolado. Muito bem.
Continua me chutando incrivelmente.
Pesa algo entre 2kg e 2,3kg.

Carrinho √
Mochila da DadGear.com √
Pintura do quarto (branco) √
Ar condicionado e ventilador de teto √
Berço √
Cômoda √
Consulta com a pediatra que vai fazer o parto √

Não vou fazer a lista de coisas ainda por fazer porque... vou te contar. Não, a gente jamais estará preparada para tudo.

Semana passada almocei com T., sinônimo de papos longos e ótimos, sempre sobre assuntos os mais diversos, passando por livros, cinema, psicanálise, nossas vidas, e quase sempre terminando no assunto Flamengo.

Mas antes disso tudo ele me fez a pergunta, sem rodeios: o que você está aprendendo com a gravidez? Eu nunca tinha pensado nesses termos, mas a resposta veio automática e de chofre: Limites. Estou aprendendo a aceitar os novos limites que me surgem quase todos os dias. Porque somos educados (especialmente "educadas") para definirmos nossos próprios limites e fazemos nossas próprias opções, sem depender de ninguém. Quer largar a faculdade e fazer outra coisa? Pode. Quer enveredar pela carreira acadêmica? Pode. Quer largar o emprego e viajar pelo mundo? Pode. Quer treinar para daqui a um ano correr uma maratona? Pode. Quer escalar o Morro da Urca? Pode. Quer pular de pára-pente? Pode. Quer mudar de opção sexual? Pode. Quer fazer uma tatuagem? Pode. Quer casar? Separar? Pode. Basta ser capaz -- e, claro, basta arcar com as conseqüências.*

E agora já não. Quero andar até ali, e não posso. Se for sair na chuva, muito cuidado para não escorregar. Vai subir aqui? Dá a mão, deixa que eu ajudo. Vai subir na escada para pegar um livro na estante? Tá louca? Deixa que eu pego. Isso é muito pesado. Isso é muito grande. Isso é muito longe.

Sim, são todas limitações físicas, e as limitações que vêm depois que o filho nasce são de outra natureza -- e muita maiores. Mas essa relação de controle que achamos que temos com nosso corpo, e de repente perdemos, é um tremendo aperitivo para o que vem por aí. Então agora dependo das pessoas para coisas básicas, e o desafio é não achar que isso seja uma derrota. É lembrar que isso é temporário, plenamente justificável e, mais difícil, que eu devo até mesmo achar meios para sentir prazer com isso, aproveitar a mordomia, diriam alguns mais descansados.

E enquanto escrevia isso, li o que a Cam postou sobre a mesma coisa, e a vontade é de pegar um avião até Bras-ilha, abraçá-la e dizer que ela não está só. Mas, hélas, não posso mais pegar avião.

*Não, claro que não vivemos na sociedade perfeita e liberal, claro que somos socialmente constrangidos a muitos padrões de comportamento, claro que é restrição em cima de restrição interiorizada, et caetera. Comme même.

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10.11.07

As desaparecidas

Baco, Ceres e Cupido


Algumas vezes conversei com a minha mãe sobre os anos 70 e como era a percepção dela dos piores anos da ditadura militar. Se ela conhecia pessoas envolvidas na luta armada (sim), se chegou a se envolver efetivamente (não), e como era o clima naquela época. Ela conta que hoje em dia não podemos imaginar o que era o clima de paranóia e perseguição daquela época, em que todos poderiam estar visados, por engano ou não. Em que, mesmo não tendo feito nada de "errado", continuava-se sempre com medo. Mas o que acontecia, e esta é a lembrança mais forte dela, era que as pessoas simplesmente sumiam. Um dia estavam lá, depois nunca mais ninguém sabia. Ficava aquela dúvida sobre se tinham fugido, emigrado, caído na clandestinidade ou sido presos. As pessoas desapareciam, simplesmente.

Lembrei disso por conta da minha aula de ioga para gestantes. Lá também as pessoas desaparecem. Você convive com aquelas mulheres, conversa, troca experiências, compara barrigas, enfim se apega. E de repente, elas simplesmente desaparecem. Claro que, conscientemente, sabemos que desaparecem porque pariram, mas de certa forma não deixa de ser, também, porque foram presas pelo sistema. Caíram numa espécie de prisão. De amor.

Muitas histórias eu poderia contar sobre essa aula de ioga para gestantes, e as particularidades da convivência com uma porção de grávidas. Mas agora conto só uma curiosidade: a aula acontece em um prédio comercial, e eu faço no horário noturno, quando há menos movimento no edifício. Mas aparentemente nos mesmos dias e horário há, em outro andar, aulas, ou palestras, ou cursos, não sei, da Associação Brasileira de Sommeliers (sei porque já vi a apostila nas mãos das pessoas, ao lado das garrafas de vinho). E às vezes subo no elevador com esses aprendizes de sommeliers. Mas o mais engraçado é na hora da saída. Um elevador com cinco ou seis grávidas imensas pára no 3º andar, onde entram três ou quatro criaturas meio bêbadas. Que, naturalmente, acham que estão tendo alguma espécie de alucinação com aquela visão. Baco, deus do vinho, encontra Ceres, deusa da fertilidade, em um elevador no Flamengo.
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6.11.07

Camerata

Não que eu tenha nenhum mérito especial neste caso, mas dá o maior orgulho trabalhar com essa turma.

2.11.07

Chegou

Não, não foi Mathilde que chegou.
Foi ele, o insuportável, o abjeto, o execrável CALOR.
Se eu não morasse há 31 anos no Rio de Janeiro provavelmente estaria culpando a gravidez e a "calefação portátil" que carrego na barriga por essa sensação tão ruim. Mas não é culpa dela, coitada, é essa a infelicidade de habitar os trópicos, o ar quente e espesso, o vento morno, a umidade, a vontade de não se mexer, de não fazer nada. O horror, o horror.

Off-topic: e o Flamengo, hein? Eu tento não ser otimista, mas tá difícil. :-)