26.9.12

Divagações sob cera quente

Por algum motivo, sempre que estou fazendo depilação me pego filosofando sobre assuntos de relevância intercontinental e planetária. Por exemplo, sempre penso o que aconteceria se, bem naquela hora em que estou com consideráveis partes do corpo cobertas de cera pelando, disparasse um alarme de incêndio ou houvesse uma tsunami na Baía de Guanabara. Sei lá, qualquer situação de pânico que exigisse uma correria do tipo run for your life. Será que a depiladora arrancaria a cera de qualquer jeito, ou eu teria que sair correndo com a cera grudada? Que droga, hein.

Ou então penso que tortuosos caminhos da estética feminina e da busca pelo belo ideal nos levaram a passar cera quente milímetros acima dos olhos para ter sobrancelhas meticulosamente aparadas, modeladas e "perfeitas". Mais grave ainda: como chegamos ao ponto de ficar incomodadas se as sobrancelhas não estiverem em ordem, ou se o esmalte descascar bem no dia em que fizemos as unhas. O que aconteceu para que essas miudezas se tornassem parte relevante do nosso tão atarefado cotidiano? Fico me perguntando se essa super-atarefação não é uma fuga, se nos ocupamos demasiadamente dessas e outras questões no fundo irrelevantes para não nos defrontarmos com aquilo que realmente importa - e que não queremos confrontar.

24.9.12

Cinquenta Tons de Espanto


A menos que você tenha chegado ontem de um planeta distante, há de saber que o mais recente megafenômeno do mercado editorial é a trilogia Cinquenta Tons de Cinza, da inglesa E.L. James, um romance erótico protagonizado por um homem dominador e uma mulher submissa, vendido como "pornô para mães" e autoproclamado salvador de casamentos.

Antes de prosseguir, o disclaimer. Este assunto me assombra e provoca imensa dor-de-cotovelo, porque este projeto passou por mim, tive oportunidade de participar do leilão e declinei (porque achei uma porcaria). Ou seja, faltou-me enxergar o fenômeno, quando meu trabalho é justamente identificar e adquirir best-sellers. Haja assombração, com sei-lá-quantos milhões de livros vendidos mundo afora.

Eu fico verdadeira assombrada com a proporção que estes livros tomaram. Primeiro, por ser literariamente tão ruim. A escrita é um horror; os personagens, um pesadelo; o enredo, uma abominação. Não por acaso, a história começou como fan-fic do Crepúsculo. (Fan-fic é a ficção feitas pelos fãs, quando os próprios leitores começam a escrever continuações para as séries de que gostam.) Na sua origem, a trilogia foi autopublicada, sem trabalho de editor, o que certamente quer dizer alguma coisa a respeito do papel dos editores neste mundo. Então, ok, a questão não é o texto nem a qualidade literária.

E segundo, o que me causa mais espanto, por as pessoas ficarem entusiasmadas sexualmente com o que o livro traz. Por acharem o protagonista, um megaempresário milionário de 27 anos, tão incrivelmente sedutor. Por se identificarem, em proporções tão avassaladoras, com esse fetiche de algemas e chicotes - o nome correto do que existe no livro é BDSM, que qualquer um pode recorrer à Wikipedia para entender do que trata. Por acharem a protagonista feminina alguém digno de empatia ou quiçá identificação.

Já li muito a respeito e conversei com várias pessoas que leram os 3 livros e gostaram, mas nenhuma conseguiu me explicar convincentemente por que gostou ou ao menos como conseguiu vencer as mais de mil páginas.

Eu continuo assombrada.



12.9.12

Abismo de gerações

Não sei bem como isso foi acontecer. Mas o caso é que, no trabalho, me tornei, sem perceber, a pessoa mais velha do departamento. Bom, ok, nós somos apenas 4 pessoas, mas enfim. Como dizia aquele desenho, em todos esses anos nessa indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece.

Essa questão da idade naturalmente não nos afeta no dia-a-dia, ela se faz presente é nos pequenos detalhes. Outro dia fiz referência a uma (para mim) clássica propaganda da American Express em que um feliz proprietário do cartão, frente a uma circunstância por certo alvissareira, dizia "Paris hoje? ... Ok!", dando a entender que com American Express essas coisas são possíveis e não precisa hesitar mais de dois segundos. Ninguém conhecia.

Ontem, 11 de setembro, de novo aconteceu. De alguma forma surgiu o papo o-que-você-estava-fazendo-quando-soube-dos-atentados. A minha resposta foi: estava dançando num clube de salsa em Havana, Cuba. As respostas dos meus colegas: "Meu pai foi me buscar no colégio e me contou"; e a pior: "Estava assistindo TV Globinho quando entrou um Plantão da Globo".

Ai ai.