30.6.10

Crise

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Hoje e amanhã sem nem um joguinho sequer: crise de abstinência total.

Paraguai ganhando do Japão: rumo à Copa América nas semifinais (torcendo muito).

Eliminação de Portugal: pá de cal no comercial (maneiríssimo, por sinal) da Nike, da campanha "Escreva o Futuro", cujos protagonistas eram Ronaldinho Gaúcho (nem foi pra Copa), Ribéry (França, eliminado na 1ª fase), Drogba (Costa do Marfim, eliminado na 1ª fase), Canavarro (Itália, eliminado na 1ª fase), Rooney (Inglaterra, eliminado nas 8vas) e Cristiano Ronaldo (Portugal, eliminado nas 8vas). "Escreva o Futuro do Pretérito", né?
(O comercial: http://www.youtube.com/watch?v=idLG6jh23yE)

A má notícia: sexta-feira teremos expediente normal, parando apenas para o jogo. E eu que fazia planos de ir assistir no Cinema Odeon, que dizem que está sendo um programaço. Blé.
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28.6.10

Brasil 3 x 0 Chile

.O lance do delay da TV a cabo hoje foi tão ridículo que no primeiro gol os vizinhos já estavam comemorando enquanto o escanteio ainda nem tinha sido batido. E a gente começou a gritar GOL! enquanto a bola riscava o ar para encontrar a cabeça do Juan. Que esquisito.

E só hoje me dei conta, porque alguém falou, que se o Paraguai ganhar do Japão amanhã (apostei nos japas no Bolão), corre o risco de termos 4 sulamericanos (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) nas semifinais. Seria lindamente histórico.
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27.6.10

Nada mais importa

.Nem preciso dizer o quanto eu adoro Copa do Mundo. E como é melhor ainda participar de Bolão, para que haja razões objetivas para torcer de verdade em jogos como Austrália x Gana, Paraguai x Eslováquia ou Suíça x Chile (alguns dos resultados que cravei no Bolão).Agora, quando começa a fase eliminatória, aí fica realmente apaixonante, e me dá até uma pena de quem não gosta e não consegue entrar no clima da Copa. Porque não dá para competir com mais nada. Tipo, que azar do Saramago morrer durante uma Copa. Uma pena e tal, grande escritor etc., mas ninguém mais toca no assunto. Esse "nada mais importa" é slogan da ESPN, se não me engano, e achei perfeito.Então, sempre que posso, despacho Mathilde para casa de alguém de modos que eu possa assistir aos jogos sem interferência. E mais: como por conta da gravidez o teor alcoólico é quase nulo, tenho achado até melhor assistir em casa, sozinha, do que com grandes galeras. Poder beber cerveja à vontade nunca me fez tanta falta como agora, e é até engraçado perceber como para mim o ato de beber está vinculado ao aspecto social da birita. (Ou, visto de outro forma: interessante notar como todos os meus amigos são biriteiros.)

As oitavas começaram ontem e vi os quatro jogos. Quatro bons jogos, aliás. E ontem até cravei no Bolão o 1x1 entre EUA e Gana, e na prorrogação pude torcer muito para os afronegões de Gana, porque na maioria dos jogos não adianta, acaba rolando uma empatia imediata por algum dos dois times. E eu sempre lembro às pessoas que não levem em conta se os jogadores da Costa do Marfim são marrentos, ou que relevem caso não gostem do Maradona (o que não é meu caso). Porque o que importa não é quem está ali em campo, e sim os milhões que estão em seus países torcendo. Pense nos marfinenses, pense nos argentinos. E caramba, como não torcer por eles?
Foram bons os jogos, mas as duas barbeiragens de arbitragem que aconteceram hoje (gol que seria o empate de 2x2 da Inglaterra, que acabou perdendo de 1x4 para a Alemanha; e primeiro gol da Argentina, irregular, no que acabou sendo uma vitória de 3x1 sobre o México) quase colocam tudo a perder. Não dá pra aturar mais essa caturrice de não usar câmeras e tecnologia em geral para dirimir dúvidas em lances difíceis. As tais 32 câmeras têm dado um show nas imagens, mostrando em detalhe cada lance, nada mais escapa, mas mesmo assim... Sim, as dúvidas e os lances polêmicos causam controvérsia e mantêm a discussão sobre futebol acesa durante muito tempo, ok para este argumento, mas ó pá, tem limite. Aquela seleção RUIM da Inglaterra vai passar o resto dos tempos reclamando que foi garfada, e com carradas de razão.

Falando de imagens, não vejo ninguém comentando sobre o inacreditável atraso entre a transmissão da TV a cabo e da TV aberta. Mais alguém notou? Nos jogos do Brasil fica muito claro. Tem sempre um monte de vizinho comemorando o gol uns cinco segundos antes de a bola entrar na imagem que chega via cabo. E não importa se você está assistindo na Globo ou na ESPN ou SporTV, importa se a sua imagem vem pelo cabo ou pela antena. É o maior corta-clima.

Copa do Mundo é sempre aquele desfile de homem bonito, a gente bem sabe. Mas a idade vai chegando e a perspectiva vai mudando. No campo, aqueles meninos todos, nascidos entre a Copa do México e a Copa da Itália, umas crianças. De repente me pego achando interessante olhar para o banco, para os técnicos e comissão técnica... Que coisa! Falar nisso, AMO o Maradona de técnico, e meu coração está com a Argentina, torcendo muito por uma final contra o Brasil. E no entanto ninguém parece mais deslocado naquele espaço do que o Maradona, e acho que é por isso mesmo que gosto tanto. Ele parece um capo mafioso com aquele cabelo, barba, relojão e o idefectível e péssimo terno estilo "o defunto era maior" (como disse o Simas).

Ainda sobre técnicos, só mesmo essa recente "polêmica" Dunga x imprensa para me fazer defender o Dunga, sujeito por quem não nutro a menor simpatia nem sinto qualquer admiração - não tenho por ele nada mais do que o respeito de praxe por qualquer ser humano, acho ele um parvo, só o tenho em mais alta conta do que o Felipão, criatura esta que acho abominável, como vocês já sabem. Mas foi bom todo o episódio para deixar bem claro a situação de supervalorização da imprensa esportiva. Como se conseguir entrevistas exclusivas com jogadores no hotel fosse algo de suma importância jornalística, ou como se o trabalho desse batalhão de jornalistas da bola significasse algo além da necessidade de suprir um espaço descomunal na mídia. Criaram esse clima de "nada mais importa" não só para a Copa, que acontece durante 30 dias a cada 4 anos, mas para todo domingo, toda quarta, todo dia que tem jogo de futebol. Então são vários canais de TV veiculando aquelas infinitas mesas-redondas onde os debatedores dizem coisas relativamente interessantes nos primeiros 15 minutos e passam as cinco horas seguintes fazendo piadinhas, pegando um no pé do outro, contando histórias do fundo do baú e citando estatísticas irrelevantes. Como se o tempo na TV não custasse uma fortuna. Então é claro que nada justifica o comportamento infantiloide do Dunga na estrevista coletiva, mas foi ótimo ele ter baixado essa política "igualitária", sem privilégios, tratando toda a imprensa igualmente mal. É suicídio político, sem dúvida, mas eu achei maneiro.

Hmmm, que mais... Odeio as vuvuzelas, fazem com que eu me sinta dentro de uma colmeia, com abelhas zunindo por todos os lados. Estou amando e torcendo pelo Uruguai, e achei que esse Suárez que fez 2 gols contra a Coreia do Sul parece ser filho do Ricardo Darín. E cá entre nós, cadê a campanha "Mais vagas para a América do Sul na Copa"? Porque está ridiculamente óbvio que o futuro desse esporte está por aqui, e não na África, nem na Ásia, muito menos na Europa, o continente que nos manda bizarrices como Eslovênia e Suíça (missão impossível torcer pela Suíça, né não?). Já falei e repito: a geografia da distribuição das vagas reforça o desequilíbrio e demonstra o poder econômico sobrepujando, como de praxe, o mérito e o talento. América do Sul e Europa dividem os títulos mundiais disputados até hoje, com 9 para cada continente - sendo que nunca um time europeu foi campeão fora da Europa. Mas os Europeus ocupam 13 vagas da Copa, e dessas seleções, menos da metade (6) passou para as Oitavas este ano. A África teve 6 representantes, e só Gana passou adiante. Já os Sulamericanos temos só 5 vagas (presença massiva do Mercosul), com 100% de aproveitamento nas Oitavas. E periga só não passarem os 5 para as Quartas porque amanhã o Brasil pega o Chile. Tá certo que existe um número bem maior de países na Europa (mas também, eles não param de se subdividir em Sérvia, Croácia, Bósnia, Montenegro, Eslovênia etc.!), mas melhor seria se criassem uma seleção União Europeia para disputar a Copa. Periga em 2014 termos Lichtenstein e o Vaticano disputando a taça também...
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24.6.10

4 anos de Terapia Zero

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Parece que foi ontem.

Copa de 2006, marido viajando, e eu querendo alguém para comentar todos os jogos das oitavas. E, claro, havia alguns meses que estava viciadinha nos textos da Marina W, das Fridas, do Milton Ribeiro, da Cam, e de outros que não existem mais.

E foi há quatro anos que finalmente tomei coragem para clicar no "Criar blogue".

Falem o que quiserem sobre a falência do formato, sobre a tomada de assalto do twitter etc. Eu continuo recomendando muito ter seu próprio divãzinho virtual.

Saúde!
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19.6.10

Para-raios de maluco

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Morri de rir com isso aqui: http://slushpilehell.tumblr.com/

Para quem acha que trabalhar no mercado editorial é trabalho cheio de glamour, e que a toda hora aparece um Guimarães Rosa num original não-solicitado.
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16.6.10

Mulher Maravilha - prós e contras

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Roy Lichtenstein, "Drowning Girl" (1963)

O que acontece é que me acostumei tanto com essa noção de ser a mulher maravilha, que falar as mil e uma variações de "pode deixar", "eu faço", "eu vou", "eu resolvo" vira quase um movimento muscular involuntário. Não é que eu não peça ajuda quando preciso; é mais uma questão de nunca recusar o desafio quando alguém pergunta se você dá conta.

E a verdade é que dizer "deixa comigo" quando eu realmente não sabia se daria conta do recado, dizer "não se preocupa" por uma questão, acima de tudo, de princípios, foi algo que me ensinou muita coisa boa. O que às vezes parecia uma estratégia quase suicida acabou se revelando uma bela fonte de conhecimento não só das minhas próprias capacidades como também da real dimensão das coisas. Onde eu achava que haveria uma dificuldade imensa, onde eu antecipava um mega problema, as coisas acabaram por se desenrolar suavemente, tudo sob controle. Tantas e tantas vezes, o que começou por puro orgulho de não querer demonstrar fraqueza terminou se revelando um bicho-papão totalmente imaginário.

Mas, hélas, nem sempre.

E então, qual não foi a minha surpresa quando, no meio daquela oportuna taça de vinho da Patagônia com que encerramos o domingo, ele veio me consultar sobre o trabalho que pintou envolvendo no mínimo 10 dias de viagem, para a segunda quinzena de novembro -- ou seja, antes de Oliver completar seu primeiro mês --, o meu "que ótimo, tudo bem!" saiu acompanhando de um mar de lágrimas que pegou nós dois desprevenidos. Ficou patente que eu não achava nada tudo bem, que queria que ele ficasse comigo, conosco. Mas é que pra mim é tão feio achar isso tudo, tão egoísta, tão dependente, tão pequeno.

O pior é que o tal trabalho é realmente muito bacana. E, ironia das ironias, é um projeto concebido e elaborado por mim quando estava no meu emprego anterior, em 2008. E que só agora está se concretizando, e de uma forma ainda mais intere$ante do que aquilo que eu tinha bolado originalmente. Haja sentimentos contraditórios.

E no entanto, verdade seja dita, é bom, muito bom, encarar suas fraquezas de quando em vez. Chegar lá no seu limite e dizer: Daqui não dá pra passar. (Ou, como ilustrado acima, "I do care. I wouldn't rather sink than call Brad for help". Thanks, Roy.)

Ou então, vai ver que são só os hormônios.
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1, 2, 3, 4

Semana que vem.
Terapia Zero --> 4 anos.
E pensar que tudo começou justamente com uma Copa do Mundo...
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10.6.10

Oliver

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Lucien Freud: "Reflection with two children" (auto-retrato, 1965)

Foi só quando a médica da ultrassonografia afirmou, categórica, que era um menino, que eu me dei conta do quanto eu queria que fosse outra menina. Passei o resto do dia um pouco para baixo, quieta e ensimesmada. Dei a notícia para quem não poderia deixar de saber, desliguei o celular, saí do programa de mensagens instantâneas do GMail, voltei pro trabalho e não disse nada a quem nada me perguntou.

Uma reação emocional que eu primeiro atribuí à minha própria comodidade: 2 meninas é mais fácil de serem amigas, terem mais interesses em comum, brincarem mais juntas, dividirem o mesmo quarto. Sem falar nas roupas, sapatos etc. Em suma, eu já sei como é cuidar de menina -- e gosto. Portanto, queria mais.

Depois comecei a tentar entender por que estava sentindo isso assim tão forte. E me lembrei de como, na primeira gravidez, eu queria muito que fosse um menino. Achava que eu tinha um jeito de mãe de menino, que menina era uma coisa muito mimimi que não tinha a ver comigo etc. E aí veio Mathilde. E eu me apaixonei por ela de tal forma que, claro, quis que ela se reproduzisse, que surgisse uma segunda Mathilde agora. O que obviamente jamais aconteceria. E por conseguinte seria uma grande decepção.

De modos que graças à razão consegui reverter a situação, e achar bom que agora seja um menino. Poliana, meu sempre presente Grilo Falante, me diz que será muito importante viver essa nova situação, de ser mãe de um menino. Que mãe de menina eu já sou e já sei como é, que está na hora de encarar vivências e desafios diferentes. E eu falo, já meio sem graça, Mas pô, Poliana, e esse tanto de vestidinho tão lindo? Mas ela nem me dá ouvidos.

Então é isso. Realizando o sonho pequeno-burguês do casalzinho. Ha.

Ainda não tem nome, mas aqui neste espaço já está decidido que será Oliver -- assim como Mathilde, é o nome de um dos filhos do Freud.

(Freud teve 6 filhos. Na ordem: Mathilde, Martin, Oliver, Ernst, Sophie e Anna. É revelador que os nomes dos meninos tenham sido homenagens a três de seus maiores heróis: Jean-Martin Charcot, professor que muito o influenciou no início da carreira; Oliver Cromwell, o líder da Guerra Civil Inglesa do século XVII (Freud era anglófilo toda vida); e Ernst Brücke, outro professor, psiquiatra e psicólogo que exerceu grande influência. Três nomes de personagens cuja força intelectual fascinava o jovem Freud. Já os nomes das meninas são homenagens "domésticas": Mathilde por causa de Mathilde Breuer, mulher do médico com quem Freud escreveu os Estudos sobre a Histeria [além de personagem de Quando Nietzsche Chorou]: Mathilde Breuer ajudou muito Martha Freud durante sua primeira gravidez; Sophie em homenagem a Sophie Schwab-Paneth, amiga das irmãs de Freud e mulher de um colega médico de Freud, Joseph Paneth: Sophie e Joseph ajudaram Freud na juventude, emprestando uma considerável soma em dinheiro -- principalmente Sophie, que era mais rica que o marido; e Anna era o nome de uma das irmãs mais jovens de Freud. Três mulheres que se destacavam por suas qualidades afetivas. Sobre os filhos homens sei muito pouco, mas imagino que Ernst tenha o sido o mais interessante, porque foi o pai de Lucien Freud, o pintor (gosto muito), e Clement Freud, o escritor, autor de Grimble, um livro que li no ensino fundamental e simplesmente amei. Mas não posso usar como pseudônimo para o meu filho um nome que tenha 4 consoantes seguidas, e que eu nem mesmo sei pronunciar corretamente. Então fica mesmo o Oliver, que na verdade nem me parece um nome possível, mas tão somente um pseudônimo.)
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