25.6.11

Saudades da vida a 1

Mesa de cabeceira
Considerando que eu trabalho fora e praticamente só vejo meus filhos de manhã, à noite e nos fins de semana, é constrangedor reconhecer que os fins de semana têm me exaurido sobremaneira e praticamente deixaram de ser um momento a aspirar. Porque os fins de semana têm sido totalmente planejados em função das crianças, e mesmo que consigamos deixar uma ou outro na casa de alguém por algumas horas, nunca é o suficiente para que eu possa me dedicar de verdade a uma outra atividade, se pensarmos que tem a logística de levar, buscar etc. Então, está dito: o impacto do segundo filho me atingiu, com força total. E em especial agora, com Oliver chegando aos oito meses, já engatinhando e se levantando sozinho, querendo se mexer o tempo todo, dotado da energia que só os bebês de oito meses têm, aquela força de vontade que transforma uma simples troca de fralda numa luta de judô, a coisa fica fisicamente muito exaustiva. Por isso é que o fato de Mathilde ter viajado com o pai ontem, para passar o feriado prolongado num sítio, com vários amigos e muitas outras crianças, me deixou tão aliviada, e diria até revigorada. Na quinta-feira, quando eles viajaram -- Mathilde impaciente na porta, com malas e bagagens, insistindo "Vamos, papai, vamos logo!" --, levei Oliver para passar o dia em Copacabana, na casa da minha avó (ele passa um dia por semana lá). E aí me vi inteiramente sozinha, num feriado de Corpus Christi, tendo simplesmente o mundo como possibilidade para gastar as oito horas seguintes. Ninguém me esperava em lugar nenhum. Zero compromissos.
Será muito clichê demonstrar tamanho apreço por esse tipo de "liberdade"? Imagino que sim. Mas não me importo.
E então ontem, sexta-feira, excepcionalmente não tivemos expediente na editora, e tive mais um dia de folga. Mas a empregada veio, e também a nossa mais recente indulgência, uma folguista que dorme aqui em casa toda sexta-feira -- tentativa de voltar a fazer algum programa enquanto casal, bem como dormir bem uma noite por semana, sem hora para acordar no sábado. E então foi meu segundo dia seguido de liberdade, uma overdose da qual não sei se conseguirei me recuperar. Aproveitei para cortar e pintar o cabelo, e visitei minha mãe para um café. Sem crianças!
A perspectiva do tempo livre pode apavorar pelo infinito de possibilidades que encerra. O que fazer? Ler livros? Ver filmes? Arrumar a casa? Não sei como, mas consegui fazer um pouco de tudo isso. Já vi três episódios de Os Sopranos, cuja primeira temporada meu chefe me emprestou enquanto não vem a próxima de Mad Men (em 2012 apenas). E sabe que estou gostando? Ou talvez esteja mesmo inclinada a sorrir para o mundo e gostar de tudo esses dias, esses gloriosos dias de inverno carioca que me fazem ter a certeza de que o verão é uma estação supervalorizada, uma aceitação colonialista do que o verão representa no hemisfério norte, porque lá pode ser bom, mas aqui todos sabemos que é o inferno. Mas como dizia, estou de ótimo humor e gostando de tudo, porque os livros que estou lendo também estão sendo uma felicidade. Identidade Roubada é interessantíssimo, um ótimo suspense psicológico -- para quem tem estômago, é bom que se diga. E agora estou no meio de Um Dia, o livro da moda, que é surpreendente. No bom sentido. Não é arrebatador, mas veja, é difícil de largar. Comecei a ler apenas ontem, no salão, enquanto esperava a tinta no cabelo, e se tudo der certo termino hoje mesmo. É muito a cara da nossa geração, nosso grupo social, nossas vivências, nossos desejos cosmopolitas, nossas dúvidas e apreensões. Como disse uma reportagem a respeito, é "o livro que todo mundo vai ler". Fato. E tem Liberdade, que, alegria! alegria!, faz bonito na lista dos mais vendidos, e eu espero-em-deus que seja mesmo bom, porque o primeiro romance do Franzen, As Correções, é um GRANDE livro que mantém as expectativas lá em cima. Bom, Liberdade é o próximo da lista, e depois, nesse grande sprint de ficção literária que se delineia, espero poder ler Meu Nome É Vermelho, porque nunca li nada do Pahmuk e este livro, desde a primeira vez que vi o título e a capa da edição americana, sei lá quantos anos atrás, tive vontade de ler, mas nunca cheguei a comprá-lo, por ausência de urgência, se é que se pode dizer isso. Aí semana passada, vagando pelas opções do Trocando Livros, ele estava lá. Eu fiz a solicitação e ele chegou alguns dias depois, num grande envelope pardo vindo de Porto Alegre.

Eu estava mesmo precisando desses dias, com uma criança só -- ou nenhuma, como agora, sábado de manhã, Oliver e a babá foram passear, estou sozinha em casa. É claro que tenho saudades dos programas de casal, das delícias da vida a 2 que foram meio que por água abaixo nos últimos meses. Mas a saudade ainda maior era da vida a 1. Virginia Woolf de Um Teto Todo Seu e Ann Morrow Lindenbergh de Presente do Mar me pegaram pela mão e me conduzem nessa trajeto de liberdade, isenta de qualquer culpa ou cobrança, me ensinam a lidar com essas questões de ser mulher, ser mãe, ser gente no meio de tanta gente, e ser feliz.

12.6.11

Tirando o mofo

Estou cansada de livros com dicas para criar os filhos que nunca funcionam (as dicas, não os filhos -- ou ambos, sei lá), mas ao mesmo tempo cansada de não saber o que fazer em muitas situações. Mais ainda, cansada de me  preocupar com isso sabendo que não deveria, que filhos são criados assim ou assado e no fim das contas salvam-se todos, as eventuais sequelas são parte da vida. Estou cansada de ser dessa geração que vive meio obcecada sobre esse assunto, que vive tão interessada em saber o que os filhos pensam sobre tudo, e o que é pior, interessada em respeitar tanto os quereres infantis, as vontades de seres humanos cujos anos de vida se contam nos dedos de uma única mãozinha. Queria mesmo era nem ligar, e às vezes não ligo e fica tudo mais bacana, mas aí entram aquelas ocasiões em que uma enorme briga oblitera qualquer esperança de entendimento, e não consigo fugir da dúvida, será que esse castigo está sendo tremendamente injusto? Enfim, os livros, acaba que sempre se tira uma ou outra boa sacada, do tipo: na França não se dá saquinho de lembrança em festa de aniversário, porque não faz sentido recompensar uma criança por ir a uma festa, ela já se divertiu e ainda comeu bolo, ah é, é verdade, ainda mais que quando* eu era criança não tinha nada isso mesmo, e hoje é esse grilo de será que a lembrança vai ser melhor do que o próprio presente que eu estou dando?, então ok, nota mental para cortar saquinho de lembrança (se e quando vier a dar uma festa de aniversário, que na verdade não há qualquer previsão a respeito), mas aí o livro não conta como você trabalha o fator peer pressure de seu filho/filha ser o único entre os amiguinhos a não dar uma lembrança no aniversário. And so on, and so forth.
[*"ainda mais que quando", que diabo de construção horrível é essa.]
Mas está tudo bem, e fomos ao Salão do Livro Infantil ontem, e Mathilde escolheu um livro das princesas que na verdade não é livro, são vários jogos de tabuleiro, e tem um "dado mágico", uma espécie de roleta digital que faz com que o dado de verdade não seja necessário, e eu fiquei uau com o conceito e a tecnologia. E para os jogos, em vez de você escolher um pininho de uma cor, como era na minha época quando eu jogava Jogo da Vida, você escolhe qual princesa quer ser, e eu sempre escolho a Bela, a Jasmine ou a Branca de Neve, que são as não-louras. Porque, né.
E eu comprei um livro para mim, um de Contos de Fadas simplesmente lindinho, de capa dura, formato bolso e algumas ilustrações coloridas. E só comprei porque custava dezenove e noventa, porque se custasse quarenta e dois, como é mais ou menos o preço desses livros em geral, eu não teria comprado. Bem, como é que as pessoas não se dão conta do quanto isso é importante eu não sei tampouco entendo.

(Há tempos não visitava o blogue da Marina W - não atualiza no blogroll ao lado, não sei por quê, e agora mesmo dei uma lida de tudo que estava atrasado, estou com a impressão de estar escrevendo à la ela. Ha. Jura?)