29.9.07

Mais angústias gestacionais


Perspectiva para o nono mês

Angústia 4: Redução da velocidade
Estou readaptando meus tempos. Porque minha vida se locomove principalmente a pé. Sempre andei muito, e para me deslocar no dia-a-dia uso muito mais ônibus e metrô do que carro. Pesquisa do DataAnnaV estima em 15 a 20% a redução de velocidade de caminhada agora, na 26ª semana da gestação. Sem contar que às vezes quando ando muito a barriga dói, então tenho que parar no meio da rua e esperar um pouco. Na prática isso significa que, quando tenho hora marcada para alguma coisa, chego antes. Porque saio de casa com uma antecedência tão grande, que me adianto loucamente. Como dizia o Picapau, em todos esses anos nessa indústria vital, esta é a primeira vez que isso me acontece.


Foto do Staphylococcus

Angústia 5: Doenças
O último exame de urina apontou uma infecção urinária. Staphylococcus Aureus, a simpática bactéria que me habita. O médico receitou um antibiótico. Juro que não lembro a última vez que tinha tomado um antibiótico na vida. Sou do tipo que não toma nem aspirina nem atroveran, a não ser muito raramente. Talvez tenha um tylenol em alguma gaveta em casa, mas não posso jurar. Sou do chá de alho com mel e limão para as coisas da garganta, emplastro de inhame para ziqueziras de pele, e chá de pouco-caso para todo o resto. O resultado é que esqueço de tomar o remédio (a cada 8 horas) e fico griladíssima com toda essa química alopática. Porque na prática o Staphylococcus é só um nome num pedaço de papel, porque eu não sinto absolutamente nenhum incômodo, nenhuma dor, nada.

Angústia 6: Depilação
É engraçado ter que perguntar ao marido se preciso ou não depilar a virilha.
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27.9.07

Ganhar o dia

Como já disse aqui antes, quem é filho único, como eu, desenvolve na infância uma série de defesas contra a solidão. Uma dessas defesas são os primos. Conheço um cara que é filho único, filho de pai e mãe filhos únicos. Parte-me o coração pensar numa vida sem tios e primos. Eu compensei casando logo com um sujeito que tem três irmãos e resolvendo o problema para os meus filhos.
A minha família é grande e eu tenho muitos primos, de todas as idades, de primeiro, segundo, terceiro, quarto graus. Mas desses muitos, tem sempre aqueles que são mais especiais, mais próximos em idade e afinidade, e que ainda moraram bem pertinho a infância toda. Aqueles primos com quem eu viajava nas férias e nos fins de semana, dormia na casa deles, inventava as brincadeiras mais malucas, essas coisas. Aqueles primos que continuaram mais do que próximos na vida adulta, com os mesmos interesses, os mesmos círculos de amizade. Primos que não chamo pelo nome, só de "Primo Querido" e de "Pri".
Então ontem, quando o dia se anunciava totalmente marromenos, liga o Primo Querido para dizer que Mathilde vai ter um/a priminho/a quatro meses mais jovem. E estamos as duas, eu e ela, sorrindo até agora.
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Fon-fon

Quase gabaritei minha prova do Detran, para renovação da carteira de motorista. Acertei 29 de 30 questões.
Além de dar nomes às operações da Polícia Federal, elaborar as questões de múltipla escolha do Detran é outra profissão deveras divertida. Há sempre umas opções impagáveis.

Em uma via onde há uma escola, no horário de saída das crianças o condutor deve:
A. Acelerar
B. Buzinar para que as crianças saiam do caminho
C. Fazer uma conversão para a direita
D. Parar o veículo e esperar a passagem das crianças

Ao perceber falhas na sua atenção, o condutor defensivo deve agir da seguinte forma:
A. Ultrapassar outros veículos com atenção
B. Beber água e continuar a viagem
C. Parar o veículo e procurar descansar
D. Aumentar a velocidade para chegar rápido

Eu recomendaria para os momentos de lazer o simulado no site do Detran, mas depois que descobri o Google Fight vi que perda de tempo pouca é bobagem - e que, afinal, todos precisamos de novos vícios.
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Estabelecendo critérios

Todo mundo concorda que não existe post mais chato do que aquele do cara que fica se justificando porque está sem tempo de atualizar o blog?
Ótimo.

17.9.07

Bienal do Livro

Este ano não vai dar para ir. Olhando aqui no meu passaporte vi que meu visto da Funai expirou e estou impossibilitada de comparecer a programas de índio de qualquer espécie.
Peraí que vou guardar o cocar no armário.
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Update: foi o que eu quis dizer...
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11.9.07

11/09, o dia em que ouvi o discurso do comandante

Havana, setembro de 2001
Aproveitando o gancho do 11 de setembro.

M. acabou de voltar de uma viagem de trabalho a Teerã. Pois é, todo mundo fica hein? Teerã? Mas é isso mesmo, Teerã, Pérsia, Irã.
Aí ele contou a seguinte historinha: que Maomé, o profeta, tinha três esposas, porque era o que a lei permitia. Mas aí uma delas morreu, e ele quis casar de novo, para repor a falecida. Mas era proibido. Então ele disse que teve uma visão segundo a qual cada homem podia na verdade ter quatro, e não três esposas. Uma visão? Sei. E aí está, provavelmente, a origem do tapetão. Persa.

E só pra constar: em 11/09/01 eu estava em Havana. E passei a manhã num museu de belas artes, e à tarde fui a um lugar de dançar salsa, que só funcionava assim, à tarde, e que nem tinha turistas, era todo mundo cubano. E dancei muito mesmo. Na hora quase da saída (tipo 8 da noite), me falaram que tinha tido um atentado terrorista em Nova York. Eu disse "puxa", mas claro que não dava para ter a dimensão da coisa. Então fui para a casa onde estava hospedada tomar banho e me arrumar porque à noite tinha uma festa (mais salsa). Mas antes de entrar no banho eu vi na TV o discurso do Fidel Castro sobre os atentados. Peguei no meio, já tinha algumas horas. Mas fiquei sentada na cama, enrolada na toalha, hipnotizada pela fala dele. Eu queria tomar banho, mas não conseguia sair da frente da TV. Impressionante. Mesmo. E depois, de madrugada, depois da festa, no táxi de volta, o rádio do carro transmitia, claro, a reprise do discurso. Perguntei para o taxista quais eram as novidades, se já sabiam quantos mortos etc. Mas ele fez "shhh" e disse: "agora ele vai falar sobre como o povo cubano é solidário ao povo americano neste momento". E bingo, ele falou exatamente isso. Fiquei achando que o discurso vinha sendo repetido em loop na rádio, e que o taxista tinha meio que decorado tudo. Mundo bizarro.
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Angústias gestacionais

Porque a gravidez não é feita só de coisas maneiras.


Tarsila do Amaral, "O Sono", 1928.

Angústia 1: Sono.

Já estou tendo que puxar pela memória a lembrança de uma noite super bem dormida. Não é simples em um par de meses colocar pra escanteio o hábito adquirido da vida inteira que é dormir de bruços. De barriga pra cima também não consigo, então tem que ser de lado mesmo. Aí acordo de madrugada para fazer xixi, e cadê que pego no sono de novo? Difícil, viu? O mais triste é que dormir sempre esteve entre as minhas atividades preferidas. Tenho vontade de socar aquelas pessoas que dizem que dormir é uma perda de tempo. Sempre senti imenso prazer em dormir, sou daquelas que dormem fácil até o meio-dia, e durmo também em qualquer meio de transporte, em questão de minutos. Quando estava na faculdade, tinha que descer do ônibus no último ponto antes do Aterro. Haha, várias vezes dormi no ponto, acordei no meio do Aterro e tive que descer no aeroporto Santos Dumont pra pegar um ônibus de volta - e adeus primeira aula. Agora, ruim mesmo é pensar que isso não tem data pra acabar.

Parque do Flamengo. Foto daqui.

Angústia 2: Sábado

Sábado, no meio do feriado, acordamos tarde, tomamos café tarde, e tínhamos os dois, como sempre, coisas de trabalho a fazer, mas nenhum saco para tal. Como estava um dia radiante, daqueles que só o inverno/primavera do Rio pode apresentar, nenhuma nuvem no céu ridiculamente azul, fomos caminhar no Aterro. E aquele parque do Flamengo é simplesmente uma coisa divina, os turistas que vêm ao Rio normalmente não visitam, preferem ser assaltados ou achacados naquela esculhambação que é a subida pro Corcovado, mas ó, dica mesmo é caminhar no Parque do Flamengo, uma jóia de paisagismo by Burle Marx que devemos à Lota Macedo Soares, socialite, namorada da poetisa americana Elisabeth Bishop e amiga do Carlos Lacerda. Dizem que quando o Lacerda estava fazendo o Aterro (pistas expressas ligando a Zona Sul ao Centro), ela mandou na lata: "Deixe na minha mão que eu vou fazer daquilo um Central Park no Rio". Então obrigada, Lota, porque aquilo é chique no último, as árvores não se repetem, são diferentes umas das outras, e é uma quantidade de pássaros e bichos, e é tanto verde, e tanto azul da Baía de Guanabara, com os pontinhos brancos das velas dos barcos, que eu fico meio sem ar. Então andamos e andamos, e acabamos resolvendo almoçar no Centro, num boteco/restaurante português incrível, e ficamos lá um tempão, nas mesinhas improvisadas no meio da rua do Ouvidor, perto da Praça XV, na calmaria do Centro no feriado, batendo papo, lendo e tomando chope com batatas portuguesas, até pegar o metrô de volta pra casa. Então um sábado assim, sem preocupações, quando de novo?


Angústia 3: Umbigo

Quando será que a maneira mais fácil de eu mesma ver o meu umbigo vai voltar a ser olhando de cima pra baixo, e não pelo espelho?

10.9.07

Obituário


A morte do Pavarotti me fez perceber que já não me é mais possível acompanhar o balanço entre mortos e vivos nesse mundo tão superpovoado de celebridades. Se, na semana passada, me perguntassem se o Pavarotti estava vivo ou morto, teria que chutar. Da mesma forma como não tenho certeza se os outros dois tenores da famosa trinca, Carreras e Domingo, já morreram ou não. E a Montserrat Caballé, será que já foi ou ainda não? Não sei. E nem preciso ir longe, ao mundo da ópera internacional. Esses atores velhinhos, Gianfrancesco Guarnieri, Claudio Correa e Castro, Nair Bello, já morreram? O Raul Cortez, que nem era assim muito velho, eu sei que morreu. E o Paulo Autran, velhíssimo, continua na ativa, assim como a Tônia Carrero, do alto dos seus 125 anos, ou por aí.

Houve uma época em que eu trabalhei num site de música, como jornalista. Eram bons, ótimos tempos, e eu era mais ou menos setorista de MPB, samba, choro, música instrumental brasileira. E aí quando aparecia um intervalo, uma folga, um dia menos puxado, lá ia eu fazer obituários. Acho que todo jornalista já passou por isso. Significa fazer a matéria grande que é publicada quando algum famoso morre. Só que, é claro, você tem que fazer antes dele morrer, senão não dá tempo. Aí sempre começa mais ou menos assim, "Morreu esta manhã/hoje à tarde/ontem o cantor/compositor/instrumentista Fulano de Tal, autor/intérprete de clássicos como Tal e Qual. Fulano, X anos, [causa da morte]." E em seguida vinha efetivamente o trabalho de pesquisa. Em geral eu pegava, claro, os mais velhinhos. Fiz do Braguinha, que só foi morrer há bem pouco tempo. Fiz do Dorival Caymmi, que ainda está vivo (né???). Fiz até do João Gilberto, porque nunca se sabe nada sobre ele, vai que está doentíssimo? Fiz do Baden Powell na época que ele entrava e saía do hospital e, aleluia, esse foi usado. Mas, claro, a maior parte das mortes te pega de surpresa. Lembro que morreu o Luiz Bonfá, o-autor-de-Manhã-de-Carnaval, de repente, e não tinha nenhum material sobre ele. Mas isso não é o pior, material a gente arruma fácil. O pior mesmo é fazer a "repercussão": ligar para pessoas para pegar depoimentos. Isso é muito chato, porque na metade das ligações você acaba dando a notícia da morte para a pessoa, que fica então emocionalmente abalada e não consegue dar nenhum depoimento decente. É aquele constrangimento, você no telefone esperando por uma boa frase, ao menos uma, e a pessoa chorando do outro lado da linha. Nessa época também houve o acidente do Herbert Vianna. Por sorte havia outro jornalista que era o setorista de rock brasileiro, mas numa tragédia dessas, todo mundo tem que unir esforços. E aí o Herbert ficou muito mal, morre-não-morre, notícias desencontradas, e enquanto a coisa não se define você não pode, é claro, ligar para ninguém para pegar depoimentos. Eu também fui ao velório da Maria Rita, mulher do Roberto Carlos, evento que está na minha lista de top 5 coisas mais chatas que eu já fiz na vida. (Mas nessa época nem foi pro site de música, foi pra outro veículo de comunicação.)
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6.9.07

Pedagogia da chinelada

Marido e eu costumávamos ver, de quando em vez, o programa da SuperNanny na TV, morrendo de rir das crianças absolutamente descontroladas e tirânicas perante os pais inertes e bananas. De uns tempos pra cá, é claro, nossa percepção sobre o programa e sobre as atitudes dos pais mudou um bocado.
Então quero saber: Você acha que palmada educa? Uma surra de vez em quando é necessária? Castigo é mais eficiente?
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1.9.07

Renanzinho

Ontem nasceu o filho de um casal de amigos. Mandaram e-mail com a notícia, e o link da maternidade, para vermos a foto do bebê. Não sei se vocês já foram a esses sites das maternidades. Eles têm a relação dos nomes dos bebês (ao lado dos nomes dos pais) nascidos naquele dia, você clica e vê a foto.

Não deixa de ser curioso ver os nomes da moda. Na relação de ontem estavam:

Meninas: Amanda, Gabriela, Giovana, Joana, Luiza, Maria Eduarda, Maria Eduarda (de novo), Maria Julia, Maria Julia (de novo), Milena, Olivia, Rafaella.

Meninos: Antonio Pedro, Heron, Ian, Marcus Vinicius, Pedro Henrique, Renan.

Renan!!! Agora eu queria entender como é que, na atual conjuntura, alguém batiza o filho de Renan! Posso até imaginar que os pais escolheram esse nome há muito tempo, que seja uma homenagem a alguém da família, e tal, mas diante das últimas notícias, de todo esse escândalo, era pra ter mudado de idéia correndo, não?

(Observação: parece que a última tendência para nome de homem é: nome composto, ou nome terminado em "n". Que coisa.)
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