31.12.06

27.12.06

A última semana do ano no Rio de Janeiro

Fim do dia (do ano?) no Leblon, por meanjean, via flickr
De repente você percebe que a cidade está lotada.
Todas as vitrines estão radiantes de roupas brancas.
Nos restaurantes perto da orla, uma babel de línguas.
Nos bares, o estica da praia ultrapassa as onze da noite.
Lá estão eles, de roupa de praia e areias nos pés, o rosto moreno e os olhos embotados e felizes depois do chope número vinte e dois.
Reencontros históricos no ônibus, lembranças de férias de verão do século passado.
Saudades sendo matadas na praia, onde todo mundo se encontra sem ter combinado nada.
Às duas da manhã, quando não há absolutamente nenhuma brisa, o termômetro na rua marca 35º.
Todo o resto é calmaria e maresia.

26.12.06

Ufa

Enfim sobrevivemos. Ao natal, às rabanadas, ao calor.

Estive com elas, que são uma grata surpresa, uma lufada de frescor e simpatia britânica no meu verão senegalês. Fomos ao Parque dos Patins, na Lagoa, que é “o” lugar para se estar com crianças, com milhares de atrações ótimas.

Com a família, fizemos o natal no supermercado, mais uma vez um sucesso absoluto. (Ganhei uns chás importados, dei damascos e Nutella.)

O fim do ano é a tradicional “anistia”, ou seja, a volta dos exilados. Impressionante. Todos aqueles que moram fora voltam, de vez ou por um tempo, para essas festas de natal e reveilão. Tempo de muitos reencontros.

E agora no pós-natal ainda saiu mais uma notícia boa, que provavelmente vai significar viagens em 2007. Êba.

O movimento do blogue caiu drasticamente. Não só eu não postei nada como também quase ninguém acessou. Que bom. As pessoas têm uma vida não-virtual, afinal.

E falando nisso, teve também, no pré-natal, aquilo que é a coisa mais legal dessa história toda de blogue. Conhecer os camaradas. Ela esteve aqui, e só deu pra tomar um cafezinho rápido, mas sabe quando rola uma empatia imediata? Então, pois é. Volte sempre, viu?

Várias pessoas deixaram mensagens e comentários desejando feliz natal e bom ano novo. Obrigada a todos, fiquei encantada. Ainda me surpreendo muito com essa comunidade bloguística, pessoas tão carinhosas e atenciosas.

And last but not least, o que as pessoas andam procurando no Google neste fim de ano e vindo para logo aqui:
Suco de manga abortivo (como assim? com leite?)
Simpatias para marido mal educado (difícil, hein, amiga!)
Vestidos gala pre mama (hein?)
E o melhor de todos:
Hidratação para cabelos fudidos (hahaha, se descobrir, eu também quero!)

22.12.06

Como eu vejo o fim de ano

Sabe quando você faz, em um único dia, coisas suficientes para preencher o tempo de uns... quatro dias? Pessoas, conversas, emoções, coisas demais num intervalo pequeno de horas. Pois é. Dezembro é foda mesmo.

Entre as muitas coisas chatas desse calor de rachar catedrais é que ele vira monotema. É impossível entabular qualquer conversação com qualquer pessoa sem citar a dor e a delícia da nossa circunstância tropical. No elevador, no trabalho, na fila, no ônibus, no táxi, no supermercado, é um tal de “Que calor, hein?”, “Mas que calor é esse?”, “Tá terrível esse sol”, “Quente, né?”, etc. Saco. E o ar fica tão espesso que parece poder se cortado a faca. E o vento que sopra é quente. E eu, que odeio banho frio, quero tomar um e a água sai do chuveiro morna. E, incrivelmente, as pessoas parecem amar esta estação.
Estou quase com inveja da Maria, que escreveu sobre o solstício de inverno no norte da Suécia. (Eu disse “quase”.)

Junto com o calor aparecem também os cartões de natal. Aliás, os e-mails de natal, que cartão pelo correio ninguém mais manda, quase. Os cartões corporativos. Blé. Tem os que tentam ser engraçadinhos e não logram sucesso. Tem os religiosos, que me dão engulhos. Tem os completamente sem loção que pesam seis megabytes. Tem os que fazem um apanhado dos eventos do ano, as falcatruas dos políticos, o mensalão, os sanguessugas, o Pinochet. Ninguém merece. Eu não mereço.

E pra coroar esse cenário de alegria, tem os engarrafamentos constantes em volta da Lagoa por causa da porcaria da árvore de natal, atravancando o trânsito da cidade inteira.

A despeito do acima exposto, eu estou bem.

20.12.06

O tempo em que salvávamos todos

Pique-esconde por garssa, via flickr


Estava voltando do almoço quando ouvi as crianças brincando na rua*:
PIQUE 1, 2, 3, SALVE TODOS!
Lembrei desse recurso maravilhoso do jogo de pique-esconde. Sim, havia um tempo em que você podia salvar todos. Com um pouco de astúcia, bastava aparecer na hora certa e gritar Salve todos! Como é cruel que a vida adulta não nos ofereça mais esta possibilidade. De ser o salvador de todos, de ter nas mãos o poder de fazer o bem a toda a comunidade – e levar o crédito por isso.
Se eu bem me lembro, o Pique 1, 2, 3, salve todos era uma prerrogativa do último participante do jogo que ainda não havia sido achado. Era o momento em que o pique-esconde virava um one-on-one, não mais um jogo coletivo mas uma disputa privada entre dois indivíduos, um procurando, outro se escondendo. Com as regras tácitas e seguidas à risca, como por exemplo a terminante proibição de guardar caixão (de onde vêm essas expressões?!). Nessa hora, todos aqueles que já tinham sido achados podiam gritar ao último que ainda se escondia: “Fulano! Bate Salve Todos!”. E a coisa ficava ainda mais emocionante, porque aquele que procurava poderia sagrar-se vencedor ou ser desmoralizado por um Salve todos que colocaria todo seu trabalho no lixo e o obrigaria a mais uma vez cumprir a solitária função do “procurador” (será essa a origem do nome do cargo?).

O que me fez lembrar de outro recurso maravilhoso das brincadeiras infantis que eu não me conformo de não poder mais usar: o “altos”. “Estar de altos” era a melhor coisa do mundo, era o poder de ser momentaneamente excluído do contexto, por um motivo qualquer. Se o jogo era polícia e ladrão, vinha a polícia te prender e você fazia o V da vitória do Churchill e dizia com a cara mais cínica: “Mas eu estou de altos”. E continuava andando tranqüilamente, até o momento em que resolvesse “sair do altos” (a concordância é o máximo) e voltar a correr.
Agora imagine poder ficar de altos no seu trabalho, no seu casamento, na reunião de condomínio, no ônibus lotado ou no engarrafamento? Como foi que deixamos que isso nos fosse tirado, na boba correria da adolescência? Pois eis aí, pra mim, os dois maiores baques da passagem da vida infantil para a adulta: a diminuição das férias, de 3 meses por ano para ___ dias por ano (tirados aos pedaços, espasmodicamente), e a impossibilidade de pedir altos num momento oportuno.


*Só mesmo crianças são capazes de não se importar de exercer uma atividade que pressupõe basicamente correr às 14:30 (sol de 13:30 com horário de verão) de uma tarde em que a temperatura deve andar pelos 42º à sombra.

Esopo século XXI

E no almoço de família surge a história fantástica.
A mulher andava muito desconfiada que o marido tinha uma amante. Até que um dia achou, dentro do armário dele, uma mala cheia de dinheiro. Daquelas de filme de máfia. Imprensou o marido contra a parede, e ele admitiu que sim, tinha uma amante, tinha inclusive um filho com ela, e aquele dinheiro era para comprar uma casa para a amante. Não sei os detalhes e os meandros. Sei que a mulher deu um jeito de surrupiar a tal mala de dinheiro, pegou a grana e fez uma mega viagem pelo mundo (!). Depois que voltou (porque deve ser um desses casamentos que não se desfazem por nada), falou para o marido que ele tinha que fazer um teste de DNA para ter certeza que o filho com a amante era mesmo dele. O cara fez e, bingo, o filho não era dele. (Portanto o cara era corno da amante.) Pelo que se sabe o casamento resiste até hoje, mas fico pensando a humilhação diária que deve ser a vida desse homem.

Achamos que essa é uma espécie de fábula de Esopo contemporânea, e a moral da história fica por conta de cada um.

17.12.06

Música do Brasil


Segunda-feira fui ao lançamento dessa caixa de CDs. É um projeto dessa gravadora, patrocinado por essa empresa. São 9 CDs com gravações contemporâneas de composições instrumentais brasileiras escritas por autores nascidos no século XIX, em todo o Brasil. Todas as músicas são choros ou gêneros que se inserem no universo do choro (tango brasileiro, polca, maxixe, valsa, schottisch, quadrilha, etc.s). Aí está um dos grandes baratos da caixa: ver como, entre o final do século retrasado e o início do passado o choro já era disseminado em todo o Brasil varonil. Outro barato: trazer à tona uma quantidade imensa de ótimos compositores de quem nunca se tinha ouvido falar. E mais uma coisa fantástica: contar essa história da música popular brasileira de uma forma musical. Você não precisa ler, basta ouvir.
Pronto. Taí o lide. Agora vamos voltar ao "tudo começou". Pois foi na Biblioteca Nacional que tudo começou, com uma pesquisa no setor de partituras. A pesquisa foi feita por músicos (note a diferença). Descobriram que havia uma quantidade imensa de partituras editadas (pra piano) e cadernos manuscritos de chorões, com composições de que ninguém tinha ouvido falar nos últimos 150 anos. (Os cadernos dos chorões são uma glória à parte. Acho fantástico que tenham sobrevivido alguns desses exemplares. São jóias mesmo, cadernos de partituras manuscritas, só melodias -- geralmente pelos flautistas ou clarinetistas ou bandolinistas, ou seja, pelos solistas, que sabiam ler música, já que o pessoal da base seguia tudo de orelhada mesmo.)
Copiaram tudo que puderam, e quando chegaram a 8 mil músicas resolveram dar um tempo, porque pelo visto aquilo ali não ia ter fim.
Das 8 mil músicas, selecionaram as 214 melhores e lançaram, em 2002, a primeira caixa, com 15 CDs (vendidos também separadamente em 5 discos triplos), só com compositores nascidos entre 1830 e 1880 e atuantes no Rio de Janeiro. Junto, lançaram os livros com as partituras. Mas notem que, da maioria dessas músicas, que vinham dos cadernos dos chorões, só havia a melodia -- a harmonia teve que ser escrita depois. E é claro que só quem pode fazer isso é gente com muita, mas muita moral e conhecimento de causa -- coisas que só uma vida inteira dedicada ao choro podem proporcionar. Critério. Referência. Essas coisas.
Hmm, música do Brasil imperial... Já sei, você está achando que é uma velharia, uma coisa tipo modinhas com títulos como "Não bula comigo, Nhonhô" ou "Candongas não fazem festas" (© Machado de Assis). Não é. Veja só como é moderno:

http://www.goear.com/listen.php?v=ccb778a

Pois. Agora vem essa outra caixa, a da Música do Brasil. 132 obras de 74 compositores nascidos até 1900, de todas as regiões do Brasil.
Nordeste

http://www.goear.com/listen.php?v=88b38e9

Sudeste

http://www.goear.com/listen.php?v=795d194

Sul

http://www.goear.com/listen.php?v=dad1382

Norte

http://www.goear.com/listen.php?v=6e7556a

Centro-Oeste

http://www.goear.com/listen.php?v=f88a7b7

No embalo da discussão anterior sobre o uso das leis de incentivo à cultura, este é um exemplo dos projetos que valem a pena. Nem tudo está perdido, afinal.


16.12.06

15.12.06

Post com sotaque

Esta semana ele e ela fizeram uns tais posts audiovisuais.
Hehe, tenho que dizer que achei meio estranho.
Porque a gente se habitua à maneira da pessoa escrever, que é sempre muito diferente do que a gente espera ser como a pessoa fala.
Já escrevi aqui antes sobre essa coisa de ler versus ouvir, por conta da apresentação dos Miguilins contando trechos de Guimarães Rosa. De como sempre é diferente daquilo que a nossa imaginação escolheu. Mas claro que pode ser uma surpresa agradável.
Agora o senhor mire e veja: ela tem um sotaque eu nunca esperava! E que me fez rir! Ai, que coisa. Com o tempo acostuma, claro.
A nossa resistência ao diferente se demonstra em tu-do na vida.

Volver


Na seqüência de abertura, um cemitério. Muitas mulheres, com roupas antigas, lenços no cabelo, limpando freneticamente as tumbas. Botam flores, passam panos, lustram metais. São muitas. Mulheres e tumbas. Flores e lápides. O vento espalha a poeira e a terra. Os letreiros vão passando, a música ao fundo. Tem uns filmes que te pegam logo no primeiro minuto.

14.12.06

Pensamentos de quinta*

Por que sempre dizem dezenove e trinta e sete e meia, e nunca dezenove e meia e sete e trinta?

Seu marido/sua mulher ronca? Você costuma ir a shows de rock ou música eletrônica com o volume nas alturas? Você trabalha com máquinas pesadas? Seus problemas acabaram. Visite a sensacional e completíssima earplug store, e encontre a solução para o seu desconforto auditivo.

Todo ano quando vejo essas luzes de natal brancas e que não piscam, que as pessoas colocam em volta dos troncos das árvores, acho que são jabuticabeiras atômicas.

* com trocadilho.

13.12.06

Brigando pelas migalhas

Nossas grandes damas do teatro foram a Brasília fazer escândalo contra a lei de incentivo ao esporte, que disputaria patrocínios com a cultura. Pensei: Ai, mas que horror, que corporativismo mesquinho. Pô, coitados dos atletas, gentem, abstrai do futebol, da F1 e do tênis e pensa nos nossos maratonistas fudidos, nos nadadores indigentes, nos ginastas que não podem competir porque não têm patrocínio, etc. Tá cheio de historinha triste no mundo do atleta pobre brasileiro.
Agora vejo que por causa da pressão dos artistas o governo deve aumentar o percentual que pode ser descontado do imposto devido, de 4% para 8% no caso das empresas (4% para cultura, + 4% para esporte).
Ou seja, no fim das contas a choradeira acabou mandando muito bem.

Já ouvi boatos que dizem que a Lei Rouanet vai terminar no meio de 2007. Imagina só o caos. Atualmente acho que os únicos produtos culturais não patrocinados via lei de incentivo no país são novela e disco do Rei Roberto. Tem distorções gritantes, como o inconcebível patrocínio via lei do Cirque de Soleil, que ainda por cima cobrava ingressos com preços de 3 dígitos. Ou o último show da Marisa Monte, igualmente caro e patrocinado com o meu dinheiro, um evento que se paga em qualquer circunstância, e não precisa de incentivo fiscal.
Acredito que a cultura deva, sim, ser incentivada pelo Estado. É estratégico, é fundamental, e não pode ficar sujeita apenas às leis de mercado. Não é uma atividade como outra qualquer. O esporte idem. Pena que o critério para decidir o que merece e precisa desse tipo de incentivo seja tão falho. Se essa lei do esporte permitir, por exemplo, que se patrocinem times de futebol como o meu Mengão com renúncia fiscal, o que impediria uma empresa a usar a Lei Rouanet para patrocinar Páginas da Vida?

A incrível família v.

O fim de semana que passou foi tão família que eu me sinto como se nem precisasse mais de um Natal. Foram tantos primos, primas, amigos, madrinha etc. que a minha semana já começou mais leve. Minha camiseta Hello Nietzsche fez tanto, mas tanto sucesso, que achei que deveria compartilhar por aqui.

Mais sucesso só quem fez foi a B l u m e, a nova grife de roupas desenhadas pela minha prima, que teve sua première no domingo. Vejam aqui embaixo a foto do convite, que leeenda. Ainda não sei onde vai vender no futuro, mas quando souber faço propaganda. Outra prima está lançando um guia da Ilha Grande (aparentemente, por mais incrível que pareça, não existe nenhum outro). Eu já tenho o meu. Por enquanto só vende lá na Ilha mesmo, mas assim que tiver na internet eu volto pra fazer a divulgação familiar.

12.12.06

Mosquitos

Antes de mudar para onde moramos hoje, nunca tinha tido problemas com mosquitos em casa. Agora que vivemos numa rua muito arborizada e num andar baixo (ou seja, as árvores são muito mais altas do que as janelas), a situação é outra. As espécies de mosquitos e pernilongos variam com a época do ano. Tem uns grandes, verdadeiros monstros, que ficam tão pesados de sangue-do-meu-sangue que é fácil abatê-los com uma palma, e sua mão fica toda ensangüentada. Tem os menores, muito mais ágeis e insuportáveis, com seu zumbido agudinho, dificílimos de matar. E tem os mosquitos bobalhões, os mais fáceis de exterminar, mas que não matamos porque eles são tão obtusos que nem mordem.
Naturalmente, o horário favorito deles é à noite. E o lugar, a nossa cama. Melhor, o nosso ouvido. É tiro e queda: quando você já está naquele estágio de semiconsciência, quase dormindo, vem o zzzzzzzzz no seu ouvido. A partir desse momento, a nossa reação pode variar muito:

  • Charles Bronson – Justiça com as próprias mãos. Levantar, acender as luzes e matar o filho da puta custe o que custar, nem que se passe a noite em claro tentando.
  • Refusal/Denial – Não acreditar que isso está acontecendo. Cobrir a cabeça com o travesseiro ou com o lençol até sufocar.
  • Solução Final, via Zyklon B – O bom e velho spray de Baygon. Infalível, mas sua cama e seu quarto ficam meio contaminados. E não beba mais aquele copo d’água da cabeceira.
  • Perfume noturno – Passar repelente no rosto e braços, mas principalmente no ouvido, o lugar da predileção de todos os mosquitos. Aliás, nunca entendi por que eles ficam rodeando sempre o ouvido.

Sei que fico meio paranóica. Ouço o zumbido, começo a sentir vários focos de coceira, mas acho que não devo coçar, porque pra mim é nesse momento que você se ferra. Acho que, no fundo, nunca superei o pavor do Trypanosoma Cruzi, uma das minhas memórias “acadêmicas” mais remotas (aulas de ciências no primário, onde a gente aprendia sobre doenças campestres como esquistossomose e solitária). Se vocês se lembram também, o barbeiro, uma espécie endêmica das casas de pau-a-pique, pousava no rosto da pessoa e fazia cocô. E aí, quando a pessoa coçava era que se infectava. Totalmente traumático, apesar de eu nunca ter morado numa casa de pau-a-pique nem conhecido alguém que tenha tido Doença de Chagas.

Isso tudo porque, graças a mim, o mundo hoje amanheceu com três mosquitos-monstros a menos. U-hu!

Nossos japoneses são melhores

Marido manda notícias do Oriente. Vejam essa curiosa privada do hotel em Nagóia. Tirem suas próprias conclusões, e compartilhem-nas no espaço dos comentários.
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Em primeira mão

Notícia triste.
Acabou de acabar a ótima revista Nossa História.
:-(

11.12.06

Mundo corporativo


De fato, nunca vou conseguir me dar bem no tal mundo corporativo. Uma questão de perfil. É preciso estômago, é preciso um desprendimento que eu não tenho. Quando pedi demissão, mês passado, foi aquele chororô. Tá, sei, como se fosse uma big surprise. Poupem-me. Fizeram-me contrapropostas; pensei, ponderei, não aceitei. Consegui acertar ser demitida com todos os benefícios. Depois vim a descobrir que na verdade o überchefe queria limar o unterchefe e me dar mais responsabilidades a troco de um salário um pouco melhor e uma promoção besta, mas sem me promover ao cargo de unterchefe – i.e.: muito mais barato. Daí que a minha saída espontânea ferrou com o esquema. Sem mim, não dá para rifar o unterchefe. Agora imagina se, sabendo disso, eu teria alguma condição de aceitar a contraproposta que fosse e ficar? Como se eu tivesse tramado esse mise-en-scène de pedir demissão e depois ficar no lugar do cara. Sai pra lá, jacaré. E agora, na sexta, muda tudo outra vez, e anuncia-se, tchã-rã, a venda da empresa! Uhn? Eu hein. Então pra que esse teatro todo nas semanas passadas? Ai, olha, tô fora. Não fico mais até janeiro, como tinha combinado. Com essa conjuntura, é fim de dezembro e adeus!

10.12.06

Serviço de utilidade pública - parte VI

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras.

6º grupo (4):
4 terminados em -b: ab-, ob-, sob- e sub-.

Regra: Pedem o hífen quando seguidos de elementos começados por r que inicie sílaba ou b (VOLP).

Exemplos: ab-reação, ab-reptício, ab-rogação, ab-rogar, ab-rogatório; ob-repção, ob-reptício, ob-rogação, ob-rogar; sob-roda, sob-rojar; sub-raça, sub-região, sub-reino, sub-rogar, sub-base, sub-borato.

Obs. 1: No corpo do PVOLP, embora se indique, entre parênteses, que o r não forma grupo com o b, registra-se sem o hífen: abrupção, abruptela, abruptinérveo, abruptipenado, abrupto, em contradição com a regra das "Instruções"; o VOLP, mantendo embora essas formas, registra-as igualmente com hífen: ab-rupção, ab-rupto, etc., como formas preferíveis.

Obs. 2: Numa reação à repugnância que nos causam formas como subepático, subumano, o VOLP registra igualmente sub-hepático e sub-humano. Mantém, no entanto, subárea (!), suboficial e outras igualmente contrárias à pronúncia geral.

Sem o hífen noutros casos: subdiretor, subsecretário, subdesenvolvido, subperíodo, etc.



Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

9.12.06

Serviço de utilidade pública - parte V

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras.

5º grupo (1): bem-.

Regra: Emprega-se o hífen "quando a palavra que se lhe segue tem vida autônoma na língua ou quando a pronúncia o requer".

Exemplos: bem-amado, bem-aventurado, bem-casado, bem-comportado, bem-educado, bem-humorado, bem-estar, bem-parecido, bem-soante, bem-falante, bem-vindo, bem-me-quer, bem-te-vi.
Mas: bendito (nos dois Vocabulários), bem-dizer e bendizer, benfeitor, benfeitoria, bem-querença e benquerença, bem-querer e benquerer, benquisto.

Repare-se que bem e mal, usados como advérbio, numa frase, não se aglutinam, nem se separam com hífen:
"Gosto de carne mal assada." [Compare: "A mal-assada (= fritada de ovos) estava deliciosa."]
"Um recado mal entendido não pode ser bem transmitido." [Compare: "Por um mal-entendido (= equívoco) quase houve uma tragédia."]
"Traz os cabelos bem (ou mal) arranjados."

Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

8.12.06

As roubadas em que eu me meto – capítulo 8.542

Movida pela culpa, fui ontem à formatura de Cunhado nº 3 – o caçula. Sim, movida pela culpa de não ter lido a monografia que ele me mandou, de nunca perguntar sobre a faculdade, de não dar muita bola para a sua/dele vida pessoal, por não ter paciência para os seus problemas etc.
Formatura é aquele programa que, por princípio, ninguém merece. Só os formandos acham graça – e, vá lá, os pais se emocionam, e tal e coisa. Não era uma daquelas formaturas cheias de pompa, mega-evento, como são normalmente as de medicina, engenharia, direito e demais carreiras tradicionais. Porque, se eu ainda não disse, Cunhado nº 3 se formou em musicoterapia.
Parafraseando o nome de blog mais engraçado que eu vi nos últimos tempos, “gente, foi horrível!” (Tá, tá, exagero, não foi tão "horrível", mas não podia perder a chance de usar essa tirada.)
Eram 12 formandos (10 mulheres e 2 homens), incluindo uma senhora que deveria ter por volta de 75 anos e que, verdade seja dita, foi a coisa mais legal da noite.
O evento estava marcado para as 18h30. Eu, me sentindo “a” malandra, cheguei lá 19h45, crente que ia fazer um bonito de aparecer, posar de “presente” na família, já que marido querido está viajando, e aturar uns quinze minutinhos de cerimônia. (Porque meus planos originais ainda incluíam ir ao supermercado depois.) Quando cheguei, o auditório totalmente lotado, passava um vídeo de homenagem a algum professor (que provavelmente morreu ou foi embora) e os formandos cantavam “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito” acompanhados por um solitário violino. Je-sus. Como estava muito cheio, tratei de ficar atrás de todo mundo, sentada numa escadinha, onde daria até para sacar meu MP3 player e ficar ouvindo, bem autista, sem chamar muita atenção. Mas não deu certo, porque Sogrinha me viu e começou a acenar enfaticamente, e não tive jeito a não ser sentar numa cadeirinha que ela, fofa, tinha guardado ao lado dela. Assisti ao discurso que a paraninfa leu. Discurso lido eu acho péssimo. (“Foi com imensa surpresa que recebi o convite para ser paraninfa dessa turma, convite feito no meio do burburinho dos corredores...”) Mas não contente, tinha uns trechos que ela cantava. Teve também uma série de esquetes teatrais feitas pelos formandos em que eles imitavam os professores. Assim, uma homenagem, sabe? Eles riram muito, mas naturalmente 95% dos presentes, que nunca tiveram aulas com aqueles mestres, não entenderam nada. Depois teve um número musical para cada professor. E olha, enquanto instrumentistas esses formandos são ótimos musicoterapeutas. Teve entrega dos diplomas, um a um, com videozinhos de cada um. Teve discurso de agradecimento, de cada um (e pelo menos 10 dos 12 foram assim: “queria agradecer, em primeiro lugar a Deus, blablabla, em seguida, à minha família, minha mãe, meu pai, porque se não fosse por eles... – choro – e a essa turma maravilhosa, que é minha segunda família etc etc.”). Teve juramento em frente à bandeira nacional (que tremulava no vídeo, numa animação que me deixou meio tonta). Teve música até para agradecer aos funcionários!
Cunhado nº 1, muito mais sagaz do que eu, chegou às 20h50. Às 21h eles estavam começando a se auto-homenagear musicalmente, isto é, todos cantavam e tocavam uma música para cada um. (Já falei que eles tocam super mal? Ah, já, né?) E eram músicas do Raul Seixas, Caetano Veloso, do Clube da Esquina (Alô Arembepe! Alô Mauá!). Sim, tinha esse clima hippie que não posso deixar de mencionar. Eles estavam todos descalços. E as moças todas de vestidos longos, mas não vestidos de gala, e sim vestidos ou saias hippies até os pés. Só tinha uma que estava de gala, e era a única destoante que não estava descalça porque estava com uma sandália de salto com pedrinhas de strass, que combinava com o vestido e com o cabelão até a cintura. Até a senhora de 75 anos estava descalça. Sogrinha estava emocionada, e só se abalava quando tocava o celular do Sogrinho (vááárias vezes) e ele incrivelmente atendia e se punha a falar com alguém, alto e meio sem loção.
O negócio foi acabar lá pelas 21h40, com todos eles cantando nem sei mais o quê e abraçados numa rodinha chorando. Aplausos, aplausos. A essa altura meu supermercado já tinha ido pro espaço.
Seguimos então para o programa família, sem o nobre formando, que, naturalmente, foi comemorar com seus pares. Pizza. No restaurante que ele sabe que eu detesto. Mas que a gente sabe que não tem jeito, é o preferido da família mesmo. E até a pizza que faz a fama do lugar estava péssima. O que salvou foram as maravilhosas histórias do Tio, desta vez contando como tinha sido o surreal resgate dos brasileiros no Líbano em agosto deste ano, quando da guerra com Israel. (Merece um post à parte.)
É em horas como essa que eu faço um esforço maior para acreditar naquela esparrela de que há um julgamento final e que todos seremos julgados de acordo com nossos atos. Porque eu estou acumulando uma porção de pontos.

Cinco mil


Em algum momento na noite de ontem pra hoje este blogue teve seu 5.000º acesso. (Precisamente alguém do Rio, acessando pela Infoglobo Comunicações Ltda., que ficou aqui por 7 segundos.) Pode parecer pouco, mesmo para um blogue anônimo como este. Tá cheio de blogue amigo, de gente como a gente, que tem mais do que isso por dia. Não importa. Pra mim é o máximo. Tô comemorando, que nem o Calvin e o Haroldo.

7.12.06

Matrimoniais


Minha professora de Pilates é de Barra Mansa, mas de família mineira, e como todo bom mineiro, fala pelos cotovelos. Ontem o assunto era o casamento dela. Contou que o vestido de noiva que ela alugou tinha sido usado na mesma semana por outra noiva, e quando ela foi na loja ainda não tinha sido lavado, e estava imundo e com a barra toda rasgada, e ela quase desmaiou quando viu. E que no mesmo dia ia ter outro casamento, mais tarde, então o normal era que ela e a outra noiva dividissem o custo das flores que enfeitariam a igreja, mas a outra noiva queria colocar flores de plástico, porque era muito mais barato, e era uma noiva muito humilde, que trabalhava como manicure e tinha trocado aquelas flores de plástico por não sei quantos pés-e-mãos com a dona da loja. Então ela acabou pagando quase tudo sozinha, para ter as flores naturais. E de como se endividou sobremaneira por causa da festa e dessa louca indústria de buquês, calígrafos, convites, lembrancinhas e bom-bocados. Que em cima da hora descobriu que o padre estava de férias (!) e saiu xingando tudo e todos na igreja, para indignação total da mãe, super católica. Aproveitando a deixa, a outra aluna, que casou em Volta Redonda, disse que no casamento dela o padre não aparecia, e que o sacristão ou sei-lá-o-que da igreja falou para ela, com a maior calma do mundo, “não sei se ele vem, não, você não tem o telefone dele?”, como se ela fosse sacar do bolso do vestido de noiva um papelzinho com o telefone do padre! E enfim o padre chegou, meia hora depois da noiva, e que ela casou muito puta e no maior estresse.

Sinceramente, a pessoa não precisa passar por tudo isso na vida para ser feliz.

5.12.06

A saudade mata a gente

A odalisca Índigo outro dia postou sobre “palavras em falta na língua portuguesa”. Aquelas intraduzíveis. São muitas mesmo. Ela citou blind date*, deadline, to earn. Eu já falei aqui sobre misplaced, que não é bem “fora de lugar”, e sim “no lugar errado por engano”, a meu ver – mas isso é uma tradução de 5 palavras para 1, aí não vale.
Agora, vamos passar para a recíproca: palavras em falta nas outras línguas. Não entendo, não consigo entender, não compreendo mesmo como existem idiomas que não diferenciam ser e estar. Aliás, nenhum idioma que eu conheço faz essa diferença, exceto o espanhol. Ser e estar são conceitos completamente diferentes, como é possível que sejam designados pelo mesmo único verbo? Umas pobrezas de línguas, essas que tem por aí, viu?
Bem, quem vê pensa que eu domino oito idiomas. Não é bem assim. Sei que em inglês e francês não tem diferença. No que me recordo daquelas aulas de alemão lá atrás, também era tudo em cima do sein. Italiano não sei. Mas aquele livro do Luiz Ruffato, por exemplo, Mamma, Son Tanto Felice, quer dizer Mamãe, sou tão feliz, ou Mamãe, estou tão feliz? (Ou nem uma coisa e nem outra, e eu é que sou metida achando que entendi italiano?) Você aí, amigo leitor, que fala romeno, húngaro, sueco, holandês, chinês, árabe, russo ou swahili, o que tem a dizer sobre essa questão relevante?

Isso pra não falar de saudade. Saudade é um sentimento tão universal, como é possível que só os portugueses tenham tido a idéia de dar uma palavra a ele? Gênios, esses patrícios.

Mas o que me falta mesmo, neste momento, é uma palavra para designar a saudade que se sente quando o ser amado encontra-se do outro lado do mundo, a doze fusos horários de distância. A presença da ausência é foooorte.

* Eu acho que “encontro às cegas” cumpre a função, mas o problema é que essa prática não existe por aqui, daí a inutilidade de haver um termo para algo que não existe na realidade da língua. (Blind date é o cacete! Viva a cultura nacional! hehe)

Pergunte ao Google

Resisti o quanto pude ao obrigatório post sobre as buscas do Google fazem as pessoas chegarem a este blogue. Os temas campeões são "simpatia para trazer a pessoa amada" (por causa deste post), "fotos eróticas de freiras taradas" (aqui), "pão de miga" (Bs As, claro) e, medo!, "corte de cabelo repicado" (todavia arrentina). Mas hoje alguém veio pra cá ao procurar "como le dar com pessoas com trastorno bipolar?" (sic, sic). Eu me pergunto, então: como le dar, amigos?

Suspende

Do site oficial do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil.

Suspenção/Cancelamento do Benefício

(suspiro)

Hoje também eu descobri que o meu dicionário Aurélio (o grande) pula da página 544 para a 577.

A última flor do Lácio, inculta e bela, me faz sofrer.

4.12.06

O Homem Horizontal


Estou aqui me divertindo com esse O Homem Horizontal, que você provavelmente não conhece. O romance, recém-lançado pela editora Publit, que publica livros sob demanda, é a história de Hebdomadário de Oliveira, um homem só e desnecessário.

"O homem desnecessário chama-se, por exemplo, Hebdomadário de Oliveira, que é esse o meu nome, exatamente esse. Sou, nesse particular, um homem comprovadamente só, por absoluta falta de outro Hebdomadário. Trago a certidão de nascimento sempre comigo, para aquelas pessoas que não acreditam que alguém possa ser, dos Oliveiras, o Hebdomadário."

E é nesse estilo extravagante e hilário que se desenrolam as muitas peripécias do protagonista só e desnecessário. Por vezes, rocambolescas demais, mas em certas ocasiões o enredo se rende ao estilo -- o humor erudito, poderia-se dizer.

"-- Frank?
-- O quê?
-- Os espelhos e a cópula são abomináveis porque multiplicam o número de homens, você não acha isso, acha?
Até para citar Borges a gente precisa ter cuidado. Eu, amante profissional, falando mal da cópula, e desse modo escarrando no leito generoso que me dá amor e me alimenta a vinho de seleção e caviar. Mas o autor citado é o Borges, pô, e Borges devia pairar acima dessas susceptibilidades. Mas não paira, não paira, não paira, não."

Para quem gosta de descobrir novos autores, um prato cheio.

Moda


Então quer dizer que agora, depois das roupas em que as mulheres literalmente se embrulham pra presente com um laço de fita em torno do estômago e um laçarote, a moda é calça legging por baixo do vestido?
Vou te contar, esse pessoal da moda tem um senso de humor muito estranho...

Serviço de utilidade pública - parte IV

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras.

4º grupo (2): mal- e pan-.
Regra: Pedem o hífen quando seguidos de vogal e h.
Exemplos: mal-acabado, mal-agradecido, mal-assada, mal-assombrado, mal-educado, mal-estar, mal-humorado; pan-americano, pan-africanismo, pan-eslavismo, pan-helenismo, pan-hispânico.

Obs.: O Pequeno Vocabulário registra sem hífen malajambrado, quando seria de esperar mal-ajambrado, forma única usada no VOLP e, provavelmente por inadvertência, panarmônico em vez de pan-harmônico, segundo manda a regra; o VOLP registra as duas formas.

Nos outros casos não ocorre o hífen: malcriado, malfazejo, malferido, malgrado, malmequer, malquerença, malquisto, malsão, malsoante, malversar, malvisto; pangermanismo, panromânico.

Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

2.12.06

Uma noite em Tuktoyaktuk


É engraçado quando duas pessoas diferentes resolvem te dar o mesmo CD de presente.
Mas bonito mesmo é ver que elas te conhecem muito bem, porque acertaram em cheio.
Com vocês, o disco de estréia doBrasov, Uma Noite em Tuktoyaktuk.
(Que é pra começar o fim de semana dançando)


http://www.goear.com/listen.php?v=be976e3


http://www.goear.com/listen.php?v=2778313

OBS: O CD vem com 6 capas diferentes, pra você escolher sua preferida.

Serviço de utilidade pública - parte III

Os prefixos e o hífen

Prefixos e elementos de composição que precisam separar-se pelo hífen somente diante de certas letras

3º grupo (2)
2 terminados em -r: super- e inter-.
Regra: Pedem o hífen quando seguidos de h e r.
Exemplos: super-homem, super-humano, super-requintado; inter-resistente.
Nos demais casos não se usa o hífen: superabundante, superdotado, superfino, superpotência, superprodução.

Obs. 1: É super- o único prefixo terminado em r citado nas "Instruções"; mas é lícito incluir nesta regra inter-, de que o PVOLP registra um exemplo com hífen: inter-resistente. O VOLP inclui numerosos outros, como inter-racial, inter-relação, etc. E assim procede o VOLP, que registra com hífen compostos em que o segundo elemento se inicie por h: inter-helênico , inter-hemisfério e inter-humano.

Obs. 2: Seria de esperar que outro prefixo terminado em r, hiper-, seguisse a mesma regra. O Pequeno Vocabulário, entretanto, registra hiperepatia, hiperidrose, entre outras palavras, quando seria de esperar hiper-hepatia, hiper-hidrose. Mais uma incoerência oficial. O VOLP mantém hiperepatia, inexplicavelmente, uma vez que estabelece o hífen quando hiper- vem seguido de h ou r. E registra hiper-hidrose (ao lado de hiperidrose), hiper-hedônico e hiperedônico, hiper-hidratação e hiperidratação , com preferência para as formas que mantêm o hífen.

Fonte: KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

(Continua)

1.12.06

The American Friend

Klimt, "Árvore da Vida", 1905-09

Som: In a Sentimental Mood com Duke e Coltrane.


http://www.goear.com/listen.php?v=35bcdcd

Quando conheci D. e R. eu devia ter uns 6 ou 7 anos. Eles eram um casal de amigos da minha mãe, e vinham bastante para o Brasil, a trabalho mas também porque gostavam. E como eram americanos, e era a década da hiperinflação, eu sempre tinha a impressão que eles eram muito ricos. Nem eram. Mas eles alugavam uns apartamentos na Vieira Souto, de frente pra praia de Ipanema, e eu ia lá e achava uma gastação de onda. Claro que eles alugavam esses apês junto de parentes e amigos que vinham também, e no rachuncho não deveria sair tão absurdamente caro. Naquela época em que tudo aumentava tanto de preço tão rápido que nem mesmo a gente conseguia acompanhar.
Eles traziam uns presentes bárbaros para mim. Uns ursos de pelúcia enormes, como eu nunca tinha tido. Uns livros para colorir que eram simplesmente fantásticos. E uns super estojos de pilots de mil cores, que era para colorir os livros. Presentes inesquecíveis.
Naquela época a gente se comunicava não sei bem como. Alguém traduzia, mas na verdade rolava uma comunicação direta. Principalmente com D., com quem sempre me dei tão bem.
Quanto eu tinha 8 anos fomos para os Estados Unidos, minha mãe e eu. E encontramos com eles em NY. D. tinha a pachorra incrível de ficar me levando nos fliperamas onde a gente podia jogar Pacman sentado no banco, a tela ficava como se fosse numa mesa, você tinha que olhar para baixo, não para frente. E eu só despejando quarters no Pacman, e morrendo na mão dos fantasminhas.
Depois eles vieram ao Brasil muitas outras vezes. Eu era adolescente, e ia com eles a shows de jazz. Chique no último, quando você tem 13 anos.
Aos 15, passei seis meses nos confins da Carolina do Norte, e quando acabou fui para a casa deles em Nova York, e fiquei um mês inteiro lá. Hoje em dia, que tenho minha casa e às vezes hospedo pessoas, sei que não é exatamente uma moleza ter um hóspede por um mês. Ainda mais um hóspede de 15 anos. De outro país. Eu ajudava como podia. Levava a cachorra pra passear e paquerava os outros donos de cachorro do Lower East Side. Fazia coisas secretariais para a pequena produtora que eles tinham em casa, como passar fax, bater envelopes à máquina (1992, people, um tempo estranho sem internet) e colocar no correio. Levantava cedo e ia comprar bagels para o café da manhã. Eles me levavam ao Blue Note. E foram comigo a Woodstock, para que eu conhecesse a mítica cidade do festival. E um fim de semana me levaram a Connecticut. Eu tinha um walkman e gostava de andar pelas ruas da cidade ouvindo música (na época eu comprava fitas K7 originais dos álbuns; hoje acho que as crianças não sabem mais que isso um dia existiu). Ele me dizia para não fazer isso, porque o som das ruas era importante para sua própria segurança (por exemplo, pra não ser atropelada, ou para se ligar se vier uma sirene ou gente berrando).
No final dessa minha temporada novaiorquina, D. comprou uma super câmera fotográfica e me deu a antiga dele. Uma máquina muito boa, Canon, toda manual, que eu tenho até hoje. Veio com uma lente 28mm e ele foi comigo comprar um zoom 35-105mm, de segunda mão, numa lojinha de lentes. E eu trouxe a máquina pro Brasil, e levava pra todo canto, e dizia a quem me perguntava, “Foi meu amigo americano que me deu”.
E se eu lembro de todos esses detalhes até hoje, é porque tudo isso foi muito importante.
Alguns anos depois, eu soube que eles dois tinham resolvido se casar, numa cerimônia, para oficializar a união que já durava uns quinze ou vinte anos. Achei meio estranho, mas enfim. O fato é que pouco tempo depois D. e R. se separaram. A produtora acabou, e cada um abriu seu próprio negócio. A gente manteve mais contato com ele, que passou a se dividir entre NY e Los Angeles.
Em 2002 estive em Nova York, e entrei em contato com eles dois. Não consegui encontrar R. mas fui almoçar com D. Rolava um afeto tão antigo, que foi ótimo esse encontro. Só estranhei ele estar muito magro, com uma aparência doente. Mas não comentei nada.
Depois disso nos falamos muito pouco. E se você leu até aqui esse texto memorialístico, já deve ter deduzido que D. morreu, como eu soube ontem. Soube de mais detalhes nessa notícia. Ficou a saudade e o registro desses bons momentos do meu amigo americano.