29.8.07

Lição do dia


A amendoeira da foto fica bem em frente ao meu prédio, ao meu quarto, à minha janela. Ela é linda e majestosa, sua copa imensa funciona como um guarda-chuva e como um guarda-sol, ajuda muito a manter uma temperatura agradável na minha casa. Além disso, vive cheia de passarinhos de todo tipo, que dão um tom bucólico a este canto de Botafogo.

Anteontem vi os avisos, na rua e aqui no prédio, sobre a retirada da amendoeira. Provavelmente porque a calçada aqui é muito estreita e as raízes dela já destruíram boa parte da calçada, ameaçando o meu prédio e o prédio ao lado.

Fiquei tão triste, mas tão triste, que não conseguia parar de chorar. Marido chegou em casa mais tarde e ficou muito impressionado. Eu nem quis jantar nem nada. Chorei pela morte da amendoeira, pela falta que a sombra dela vai me fazer, pelo fato de que Mathilde não vai chegar a conhecer a amendoeira.

A lição do dia é: nunca subestime o poder dos hormônios numa gestante.

.

Mathilde

Minha filha já tem nome. Ele é curto e simples, do tipo que todo mundo entende, e nem pode ter dúvida de grafia. Meus dois sobrenomes são bem portugueses, os do meu marido também. E daí? Daí que quando a gente fala o nome dela inteiro, não há quem não diga que é um nome de nobre. Portuguesa. Assim, Marquesa da Beira Alta, ou Duquesa de Beja. Se fosse homem, o primeiro nome seria igualmente português, e soaria como nome de donatário de capitania hereditária.
Mas enfim, esse aqui é um blogue anônimo, certo? E é um blogue que brinca com temáticas... freudianas (terapia zero, deitar no divã, Anna O.), baseado no fato de eu nunca ter feito análise nem terapia nenhuma na minha vida. E como sabem os que acompanham há mais tempo, por força das voltas que o mundo dá, acabei caindo de cabeça num trabalho justamente sobre Freud. E Freud teve seis filhos, três homens e três mulheres. A mais velha de todos se chamava Mathilde. E é assim, seguindo a temática do blogue, que eu vou identificar essa pequena, que ruma célere para a 22ª semana de gestação e já se mexe aqui dentro, que é uma beleza.
Então, vocês entenderam, aqui é Mathilde, mas não é Mathilde, ok?
.

Substituição


... no time dos blogueiros grávidos.

Sai a Maria, agora oficialmente mãe do Max, o bonitão de Boden (criança que já nasce com epíteto é fogo!), entra a Cam, esperando a chegada da pequena "Rúcula" para o Natal -- quase junto dessa dupla aqui, prevista para a primeira semana de janeiro.

Estou gostando muito dos post dela sobre o assunto, porque minha intimidade com o tema bebês é mesmo zero. Como ela, eu também acho que nunca segurei um recém-nascido na vida -- sempre fico esperando aquela fase meio subjetiva, quando eles já estão "mais durinhos". As dúvidas são muitas e imensas, mas eu vou com sede ao pote no quesito informação. Por sorte arranjei um médico muito bacana, e as aulas de ioga para gestantes, que têm 45 min. de parte teórica e 1h de parte física, são muito esclarecedoras. As aulas teóricas são divididas em "módulos temáticos" (parto, pós-parto, amamentação etc.), e eu já as apelidei de "pequenas pílulas do mais absoluto terror". O mais estranho é que a gente gosta...

22.8.07

esquiz(o)- + -frenia, prov. por infl. do fr. schizophrénie (1911) 'id.'; cp. ing. schizophrenia (1912) 'id.'

Eu enfim consegui parar para ler Virgínia Berlim, e gostei, e quero escrever a respeito.
... Mas...
como os (des)caminhos da minha vida profissional trilham os rumos da esquizofrenia, eu no momento tenho que mergulhar em assuntos tais como

a) o relacionamento entre Freud e suas filhas
b) vida e obra de Canhoto, cavaquinista e líder do Regional do Canhoto, conjunto instrumental de extrema importância para a música brasileira nos anos 50 e 60
c) o bicentenário de nascimento do Almirante Tamandaré, Patrono da Marinha do Brasil

o que me deixa ligeiramente incapacitada de escrever o texto que eu quero.
[É por isso que eu continuo matando tantos mosquitos com minha raquete.]
.

17.8.07

Profissões

O Inagaki escreveu um post sobre os vídeos da internet, os que são verdadeiros, os que são forjados, e o ceticismo necessário para os youtubes da vida.
Então por favor, vocês aí que sabem tudo de internet, me diga que isto aqui é uma armação, que não é verdade...

http://br.youtube.com/watch?v=fIYWVhOFqL4

16.8.07

Schadenfreude (de novo)

Já escrevi aqui uma vez sobre Schadenfreude, o sentimento de prazer com a desgraça alheia para o qual os alemães dedicaram uma palavra.

Também já escrevi mais de uma vez (aqui, aqui) sobre a guerra particular contra os mosquitos que travamos em casa.

Pois é com imenso júbilo que posso, agora, juntar esses dois assuntos! Volto a falar sobre Schadenfreude para contar da minha alegria com o presente que F. me deu, uma raquete elétrica mata-mosquitos (essa da foto). Serve para aplacar o complexo sádico que habita cada um de nós. Você aperta um botão, a raquete se eletrifica, você encosta no mosquito, faz uma fagulha, bzzzz, e ele vai rodopiando para o chão. Estou feito criança, louca para que apareça mais uma vítima para o meu brinquedinho!


15.8.07

Momento de grande emoção

Hoje, pela primeira vez, uma moça me cedeu o lugar no metrô.
E quando ela saiu do vagão, notei que sua mochila tinha o escudo do Flamengo.
É a nação rubro-negra me dando alegrias, já que os molambos em campo não conseguem.
.

13.8.07

Um pouco mais sobre livros e autores

Federico Zandomeneghi, La Lecture

O meu depoimento sobre o mercado editorial repercutiu por aí, foi citado por blogues profissa como o Sérgio Rodrigues e o Alex Castro e trouxe uma quantidade inédita de acessos para este blogue pé-de-chulé. Fui até espinafrada por alguns comentaristas, o que é a glória suprema.
Muita gente comentou que a publicação por uma grande editora traz um reconhecimento de fato. Não nego, apenas relativizo. O Alex fala em "diferença de percepção", o Sérgio cita a "chancela oficial" e sua importância considerável. Têm razão os dois. Apenas, isso não se traduz necessariamente em vendas -- muito menos em uma carreira literária que se possa considerar como tal.

Ivan Kramskoy, Sophia Kramskaya Reading

O Alex citou ainda a Ana Maria Gonçalves e seu ótimo Um Defeito de Cor, catatau de mil páginas publicado pela Record (que eu li, adorei e recomendo fortemente). Eu também pensei nela quando estava escrevendo o post. Pensei nela quando escrevi sobre a questão dos objetivos de cada um: o que se quer? Ser lido ou viver de literatura? Pelo que me parece, a Ana Maria Gonçalves resolveu, há algum tempo, ser escritora profissional. Abandonou a carreira na publicidade e foi à luta. O que ela mesma escreve no seu post #100 é exemplar: o trabalho que teve pesquisando as editoras, o trabalho que teve preparando uma apresentação para o seu livro, etc. Vale a pena ler. O resultado foi o melhor possível. O livro teve boa repercussão, foi indicado a prêmios, e a autora até já foi à Flip. Caso em que a editora, no dizer do Branco Leone aqui nos comentários, foi "parceira" do autor e contribuiu decisivamente para o seu sucesso.

J.-J.-J. Tissot, Reading a Book

Eu realmente não sei quem são os escritores brasileiros que hoje em dia poderiam viver somente de seus direitos autorais -- se é que os há. Talvez os megabestsellers Paulo Coelho e Verissimo, mas vale notar que mesmo esses dois mantêm colunas em jornais e revistas, o que lhes garante uma remuneração mensal fixa. Talvez a Ana Maria Machado, que tem mais de cem livros infantis publicados (além de uma obra adulta que nunca chegou a decolar) e presença assegurada na lista de adoção de paradidáticos de todo o país, inclusive nas compras dos governos estaduais, municipais e federal, compras essas que giram quase sempre na casa das dezenas de milhares de exemplares. O fato é que esses caras nunca param de trabalhar muito. E aqueles que ainda não chegaram nesse top, mais ainda. Escritor tem que publicar em jornal, revista, site, dar aula, fazer palestra, coordenar coleção em editoras, participar de feira, escrever ensaio, escrever prefácio, fazer guia de leitura, traduzir livro, adaptar clássicos para o público infantil, enfim, muita coisa além de escrever suas próprias obras. João Ubaldo Ribeiro é um que sempre toca neste ponto: o escritor precisa trabalhar para ganhar a vida, e as pessoas não param de assediá-lo pedindo-lhe que escreva pequenos artigos, comente livros ou participe de eventos, sempre de graça, ou por um "valor simbólico". Como ele diz, não dá para ir à padaria e comprar um litro de leite com um punhado de "símbolos".

Georges Lemmen, Man Reading

Isso é muito significativo do pouco valor que se dá ao trabalho do escritor. Uma coisa do tipo "ah, você senta aí e escreve em dez minutinhos", "é só um textinho muito simples". Acho que em nenhuma outra categoria profissional tanta gente cogita pedir a um profissional que trabalhe de graça, como se não exigisse nenhum esforço. Talvez por isso também tanta gente ache que pode ser escritor. Ou melhor, que pode ser um autor. Saber escrever não basta. Ter um bom estilo, colocar corretamente uma palavra atrás da outra, uma frase depois da outra não faz de ninguém um autor. E quanta gente passa a vida batalhando, sem se dar conta disso.
(Pê ésse: e eu rogo a deus-nosso-senhor-em-sua-imensa-glória que não me perguntem qual é a receita, o que é que precisa para ser um autor.)

11.8.07

Divagações sobre o mercado editorial


Já tem quase 2 semanas que meu exemplar de Virgínia Berlim (livro novo do Biajoni) chegou pelo correio, mas ainda não comecei a ler. Não é um bloqueio, é que não tenho conseguido ler nada, sei lá por quê. Estou com uns três livros começados e parados no meio na cabeceira. Isso pode ser normal para muita gente, mas pra mim é uma tremenda anormalidade. O único que consegui terminar nos últimos tempos foi Urubu, do Henfil sobre o Flamengo, e mesmo assim porque é um livro só de charges (maravilhoso, aliás). Aí comecei a ouvir a trilha sonora que vem com a Virgínia, mas só ouvi a primeira faixa, porque os aparelhos de som aqui de casa estão rebelados e se recusam a me dar a honra de ouvir qualquer coisa.
Mas acompanho, meio de longe, a discussão que muito me interessa, sobre literatura independente que passeia pelos blogues do Bia, do Branco Leone, do Valter Ferraz, e por aí afora. Com o meu ponto de vista de quem trabalhou vários anos numa editora de grande porte, acho curioso que tanta gente boa tenha tanta vontade de ser editado por uma dessas ditas grandes casas editoriais. Porque, pela minha experiência, isso não ajuda em nada. Não sei se tem a ver com um desejo muito forte de reconhecimento, de ser notado pelo meio editorial, supostamente por especialistas (nhé!, duplo nhé!). Mas rola esse fetiche da distruibuição nacional, de ter os livros expostos em livrarias, essas coisas que não passam disso mesmo: fetiches. O resultado prático disso é o que vocês já podem imaginar: nenhum. Um autor brasileiro desconhecido que tem um livro lançado por uma grande editora não vende. As pessoas não compram, ora. Sei lá por quê, com certeza há vários motivos na psique do consumidor brasileiro de livros (essa figura misteriosa). Mas já vi investimentos razoáveis em marketing, anúncios, até resenhas boas, nada disso faz as vendas decolarem. Nada. E acredite, todos se frustram. A editora, o autor, o livreiro, todo mundo. Com esforço, consegue-se até colocar os livros nas livrarias (sempre em consignação, porque é só assim que esse mercado surreal funciona), mas em 99% das vezes, três ou quatro meses depois os livreiros devolvem quase tudo, causando aquele desconforto de ter que enviar ao autor uma prestação de contas em que há muito mais devoluções do que vendas.


Não é novidade: fazer e escrever livro no Brasil é um péssimo negócio. Autores, editores e livreiros vivem de um mercado sem lógica. Para cada sucesso há incontáveis fracassos. Incontáveis e injustificáveis. Livros muito bons, com ótimo apelo comercial e qualidade literária passam nas mais brancas nuvens e dois anos depois do lançamento são vendidos a quilo ao papeleiro, porque nem as lojas americanas nem as superbancas de jornal se interessaram em adquirir aquele título para revender a 9,90.
Então eu queria entender melhor por que tantos autores-blogueiros, por exemplo, gostariam tanto de ter os seus livros publicados por uma editora grande. Em que isso contribui, exatamente? Eu não consigo achar que ter o seu livro exposto numa boa livraria por alguns dias (porque as livrarias são pouco mais do que hotéis onde os livros dormem um dia ou dois) faça muito mais pelo seu sucesso literário do que divulgá-lo na internet, por exemplo. O que se quer? Ser lido ou fazer da literatura o seu ganha-pão?
É bem fácil pichar as editoras, por vários motivos. Porque pagam pouco aos autores. Porque não investem em tiragens maiores que diminuem o preço unitário. Porque preferem comprar qualquer porcaria estrangeira a valorizar um novo talento nacional. Mas vamos esclarecer alguns pontos.
Primeiro, em relação aos 10% sobre o preço de capa pagos a título de direito autoral, que são a praxe do mercado. As pessoas parecem pensar que a editora fica com os outros 90% de lucro. Não funciona assim. As editoras vendem para as livrarias com descontos em torno de 40 a 60% (quanto maior a rede, maior o desconto). (Curiosidade: no mercado fonográfico, o percentual do direito autoral é pago sobre o preço efetivo de venda, da gravadora para a loja, e não o preço "de capa" = preço final do consumidor. Em outras palavras, para os músicos é muito pior.) Então o livro que custa R$ 30 foi vendido para a livraria por, em média, R$ 15. Uns 20% representam os custos de produção (maior por exemplo se for um livro traduzido) e industriais: outros R$ 6. Cerca de 10% vão em impostos, mesmo com todas as isenções e descontos dados pela Lei do Livro: mais R$ 3. Outros R$ 3 são os 10% do direito autoral. Quanto sobrou para a editora, de lucro: R$ 3. Os mesmos 10% do autor. Esses números, claro, podem variar, mas a realidade é mais ou menos essa, ou seja, não é um super negócio. Agora, se o livro for um sucesso, nas reimpressões você diminui muitíssimo o custo industrial, não tem mais custo de produção e aí sim o lucro pode ser expressivo.
Segundo, sobre as tiragens. De fato, numa tiragem grande o preço unitário cai muito. Mas se você investe numa tiragem maior que o usual (a tiragem mínima para uma grande editora é 3.000 exemplares. Pode até rolar 2.000, mas não é muito comum), está apostando que o único motivo para um livro vender mais ou menos é o preço. Sem contar que o preço unitário diminui, mas o preço final aumenta, é claro, é mais dinheiro saindo do bolso. Sim, é possível fazer essas apostas. Mas se você faz 1, 2, 3, 5 vezes e não dá certo, é de se esperar que na 7ª tentativa você queira arriscar menos. Muitas e muitas vezes eu defendi tiragens maiores para alguns títulos, algumas vezes isso aconteceu, o preço caiu, e em quase todas significou mais prejuízo para a empresa... Seria bacana se as pessoas pudesse visitar os depósitos das editoras. É tanto livro bom, bonito, e legal, e nenhum pedido para nenhum deles...

Terceiro, sobre a preferência pelos estrangeiros. Neste ponto eu estou do lado dos críticos. Acho lamentável pagar US$ 5000 de adiantamento pelo livro de estréia de um jovem talento neverheardabout gringo ("a fresh new voice", dizem os catálogos) do que R$ 1000 para um autor que vai estar louco para falar com jornalistas, ir a programas de TV e fazer lançamentos. Aí acho que é complexo de vira-latas mesmo. Mas tem uma coisa que a maioria das pessoas não sabe, que é sobre as consignações. As livrarias no Brasil hoje só trabalham com consignações. Elas não compram os livros das editoras. Elas pegam em consignação, e só quando pedem a reposição é que acertam o que foi vendido. O acerto da consignação é um dos maiores dramas de toda e qualquer editora, porque demora-se séculos para ver o dinheiro daquele livro que não está mais fisicamente no seu estoque mas também ainda não foi vendido pela livraria (ou até pode ter sido vendido, mas o acerto com a editora ainda não foi feito). Cada editora grande tem milhões de reais (mesmo) imobilizados nesses livros consignados e que ainda não foram acertados. Se um título não vender, a livraria devolve tudo quando achar que não vale mais a pena mantê-lo, naquelas quantidades, no seu estoque. Ou seja, o risco é mesmo todo do editor, e não do livreiro. Ainda acontece a situação bizarra de a editora conseguir colocar toda uma tiragem em consignação no mercado e receber pedidos de reposição antes do acerto. Neste caso, é preciso reimprimir, sem ter ainda recebido nenhum tostão das livrarias. Muitas vezes a devolução que vem depois pode ser maior, e aí você reimprime um livro e depois recebe de volta praticamente as duas tiragens inteiras...


Relendo o post, parece que fico como defensora das editoras, e cruz-credo, não é nada disso. Mas tampouco acho que vê-las como as grandes vilãs do processo ajuda a solucionar alguma coisa. A culpa é mais nossa - autores, leitores, cidadãos, whatever - ou então não existe culpa de ninguém.

Óbvios ululantes (que eu custei a ver)

1. A grávida é, antes de tudo, uma gorda.
Sim, gente, é lindo, é o máximo, é mágico estar grávida, etc. e tal, mas não tem como fugir dessa verdade. A grávida é uma gorda. E olha, é desconfortável ser gorda. Ou melhor, se tornar gorda num espaço pequeno de tempo. Engordar entre 1kg e 1,5kg por mês durante uns 7 meses é barra pesada. E não digo isso com aquela paranóia boba de não voltar a emagrecer. É claro que voltarei depois ao meu peso, não é essa a aflição. O problema é que é simplesmente desconfortável ser tão pesada. A gente desequilibra às vezes, as costas doem, é mais desconfortável ficar em pé, às vezes já me sinto andando como uma pata... em suma, é meio chato. E olha que até agora engordei "só" 5 kg (com 19 semanas).
(Vamos esclarecer que quem vos fala não é nem nunca foi uma sílfide. Desde que me entendo por gente travo batalhas com a balança. Quando me perguntam, costumo dizer que não estou de dieta, eu sou de dieta. Sou sócia vitalícia do Vigilantes do Peso, porque minha tendência para engordar é igualmente vitalícia.)

2. O universo das grávidas é grande demais.
Ou seja: a afinidade com outras grávidas não é instantânea nem automática. Descobri isso na sala de espera do meu obstetra. Aquele papo "Quantas semanas?" "Ai, mexe muito?" "O meu vai se chamar Pedro, e o seu?" "Vou tentar parto normal" etc. só é interessante quando a interlocutora é interessante (olhaí o óbvio ululando). Quando é uma mulher chata, é insuportável. Pra vocês terem uma idéia, na última consulta eu resolvi esperar do lado de fora quando a salinha de espera encheu muito. Simplesmente não agüentei aquele titititi com aquelas mocréias. Por outro lado, o mesmo papo na minha aula de yoga para gestantes funciona bem, é mais interessante, acrescenta alguma coisa, é uma troca bacana de informações.
.

7.8.07

Mostra Bergman

Cenas de Vergonha (Skammen no original)


Houve uma época em que eu quase pude me considerar cinéfila. "Quase" porque eu estava sempre cercada de pessoas que eram realmente cinéfilas, e na comparação faziam com que eu me pusesse no meu devido lugar. Hoje passo longe disso, muito longe. Procuro ver os filmes brasileiros, sempre um novo almodóvar ou woodyallen quando há, e é isso. Lamentável, mas é verdade.

Mas o tal tempo em que eu era uma quase cinéfila foi lá pelos idos de 1995, 1996, por aí, por total influência da faculdade de comunicação (aí incluídas tanto as aulas quanto as amizades). E uma das experiências mais marcantes desse período foi a Mostra Bergman, que passou uma quantidade imensa de filmes nos cinemas do grupo Estação, que ficavam perto da faculdade. Foi lá que eu vi "Persona", que me impressionou muitíssimo, "Sonata de Outono", "Gritos e Sussurros", "O Ovo da Serpente", "O Sétimo Selo", "Fanny e Alexander". Lembro até de me despencar para o MAM num fim de semana chuvoso para ver o primeiro filme dele, "Crise", que na época não achei assim nada de mais se comparado a esses outros. E foi nessa Mostra também que eu vi o filme que me deixou paralisada, e sobre o qual nunca vejo ninguém falando: "Vergonha". Esse foi, mais que todos, uma enorme porrada. O filme que me deixou muda o resto da noite, e bucólica o resto da semana. No fundo acho que o filme me fez mal, eu saí do cinema literalmente com náuseas, mas, mais que qualquer outro, me fez perceber o poder das imagens na película. Como disse muito bem o Milton Ribeiro "o cinema pode ser algo mais interessante do que tu pensas". Foi exatamente assim que me senti (sem essa segunda pessoa do singular, claro).


(Para os que não viram (eu não sei exatamente se recomendo, dado o abalo que me provocou -- tanto que nunca quis rever), "Vergonha" é sobre dois músicos que vivem no interior e o efeito da guerra na vida deles.)

São filmes como esse que passam essa coisa meio estranha de se sentir humano demais, de se identificar com uns personagens que falam sueco e vivem no meio de uma escandinávia rural num tempo indeterminado, vivendo coisas que eu nunca vi nem senti nem vivenciei, mas que mesmo assim me falam tão perto, tão na alma.

Arte, talvez?

6.8.07

De volta ao samba

Aula de educação física de uma escola em Cuba. Foto tirada por mim em 2001.

Quase uma semana sem internet em casa, toneladas de trabalho no escritório e a impossibilidade de fazer hora extra graças ao programa intensivo malhação-gestante (hidroginástica, pilates, yoga) me fizeram abandonar não só este blogue como a leitura de todos os outros. Isso muito me entristece. Mas agora é passado, estamos de volta ao samba, como diria o Chico. Sempre haverá aqueles que reclamam dessa coisa de só comentar no blogue alheio quando há novidades no seu, mas, fazer o quê?, são as circunstâncias.

O Pan terminou e eu nem pude lamentar aqui a ausência de uma típica figura carioca nas duas semanas dos jogos: o voluntário do Pan. Os voluntários do Pan foram onipresentes nesses dias, com seus casacos azul-claros, crachás e sorrisos no rosto. Para onde quer que se olhasse, lá estavam os voluntários do Pan, sempre em bandos, tais como turistas japoneses.

Mais arroz-de-festa que os voluntários do Pan, só os atletas cubanos. Sim, amigos, é verdade, eu vi muita gente com agasalho da delegação de Cuba andando por aí. Ou eram os atletas passeando pelo Rio ou, mais provável, eles venderam ou trocaram seus agasalhos por quaisquer dez-merréis.

Tampouco pude comentar a tempo sobre os incríveis atletas do pingue-pongue, todos japoneses ou chineses, ainda que os jogos sejam supostamente pan-americanos. Aliás, queria saber quem foi o gênio do lobby que conseguiu emplacar o pingue-pongue como esporte olímpico. Francamente, como é que pode o pingue-pongue ser e o futebol de praia não? Ou para ser coerente, se o pingue-pongue se presta para fins olímpicos, na pretensiosa denominação de "tênis de mesa" (hahaha), por que não o totó, a.k.a. "futebol de mesa"? Aposto que seria muito mais emocionante.