30.6.07

A morte do NoMinimo


Editores, blogueiros, colunistas, funcionários, colaboradores assíduos ou ocasionais, enfim, todos os nomes abaixo relacionados que ajudaram a criar o site de jornalistas mais querido do Brasil comunicam sua morte súbita neste 29 de junho de 2007, vítima de inanição financeira decorrente do desinteresse quase geral de patrocinadores e anunciantes em sua sobrevida na web. NoMínimo deixa órfãos cerca de 150 mil assinantes entre os mais de 3 milhões de visitantes que, em média, se habituaram a passar por aqui todo mês nos últimos 5 anos. Seus realizadores também sentem muito o triste fim desse espaço livre, democrático e criativo de trabalho, mas se despedem com a sensação de dever cumprido com o jornalismo e a camaradagem que nos une. Foi bom, foi muito bom enquanto durou. Quantos no país têm a oportunidade de tocar seus próprios projetos com prazer, independência e alegria? Aos leitores, nossas desculpas pela falta de talento empreendedor, o que talvez pudesse transformar o site num bom negócio financeiro. Fica para a próxima. Até breve.

Foi a crônica da morte anunciada mesmo. Apesar dos avisos constrangidos aos leitores, com alguns meses de antecedência, nada pôde evitar o fim desse site, que foi, sem favor, um ponto alto do jornalismo brasileiro, pelo menos que eu pude acompanhar ao vivo. Nos tempos da internet, sem dúvida foi o melhor. Principalmente pela diversidade. Por abrigar uns malinhas como o Pedro Doria ou o Sergio Bermudes, outros que são bons apesar de a gente discordar quase sempre, como o Fiuza, outros para ler com o pé atrás, mas sempre interessantes, como o Kotscho, ou aqueles que davam mesmo prazer, como o Sergio Rodrigues, o Xico Sá ou a Carla Rodrigues.

Acompanho esse projeto desde o início, tempos de No. (no ponto), cunhada nº 2 trabalhou lá, ex-orientador da faculdade foi do primeiro time. A mim sempre chamou a atenção a pluralidade de assuntos, de colaboradores, de tom dos textos, mesmo de critério. Veio a crise, a redação diminuiu, virou NoMinimo - que de mínimo, vamos e venhamos, não tinha nada.

Eu caía sempre no NoMinimo naqueles momentos em que já ia desligar o computador mas ainda dava para espiar mais alguma coisinha, às vezes ler a primeira coisa interessante do dia...

O mais indignante e revoltante é saber que não há ninguém interessado em patrocinar um site de bons textos e boas idéias, com milhares de leitores fiéis, grandes consumidores potenciais, enquanto não falta quem despeje milhões (na verdade nossos milhões, meus e seus, via leis de incentivo) no Cirque de Soleil, na turnê do Blue Men Group ou na porra da Árvore de Natal da Lagoa (vocês sabiam que o floating monster do Loch Ness carioca é um projeto financiado pela Lei Rouanet? E que o patrocinador ainda tem a cara-de-pau de dizer que ela é "um presente da BradescoSeguros para você"?).

Veja.fr

Não, não é o site da Veja em francês.

É uma empresa que faz sapatos com algodão cru do Nordeste brasileiro e couro biológico da Amazônia.

Tipo assim:

Collection Veja Tauá Printemps Eté 2007

Situé au Nord du Brésil, Tauá est le village où vivent les petits producteurs de coton biologique avec lesquels Veja travaille. La collection Veja Tauá est en coton biologique et caoutchouc naturel d'Amazonie. Sans cuir.

Pontos de venda: na França, na Europa e no "Resto do Mundo". E nem adianta, o Brésil não está nem mesmo no Resto do Mundo.

Então tá, então.

Terapia Um


E acabei esquecendo de comentar.
Este blogue completou um ano!
Junho de 2006, plena Copa do Mundo, marido viajando, eu com aquela necessidade de falar sobre cada jogo... pronto, aconteceu.
Cliquei no "Criar blog".
Tamos aí, 280 posts depois.
Tintim!

(Cultura inútil: quando estiver no Japão, ou com japoneses, nunca brinde dizendo "tintim". Tintim em japonês é piru, pau, bilau, pênis etc. Imagine a cena, você num país estranho e todos levantam o copo e sorrindo dizem: Piru! Piru!)

28.6.07

Atenção, antropólogos!

Nada de planos ousados para o próximo réveillon

Deve significar alguma coisa, mas não sei bem o quê. Ajudem-me a descobrir.
O post abaixo, a tal "charada", teve, até o momento, 8 comentários: 4 de homens, 4 de mulheres. Os 4 homens disseram todos a mesma coisa: não tenho idéia. As 4 mulheres tiveram também um discurso único: você está grávida.

E é... Ponto pras meninas!

13 semanas agora, a previsão é para a 1ª semana de janeiro (o verão, o verão, o horror, o horror -- mesma coisa).

Mas ó, juro que (ao menos por enquanto) não vou me tornar uma pessoa monotemática!

23.6.07

Charada blogosférica

A amendoeira em flor de Van Gogh

Não é sem um quê de receio que deixo para trás o meu mundo seguro e conhecido, minha vida tão boa como ela é, apesar apesar apesar.

É um pouco como mudar de time.

Deixo pra trás a companhia de gente da mais alta estirpe, Lu, Túlio, Balzaquiana, Manauara, Ticcia, Mary, Kellen, Ana Lucia, Rodrigo, Inegaki, Cam, Carrie, Adriano, Marcus, Alena, Idelber, Ferdi, Lord.

Entro em breve para outro time de ilustres, Biajoni, Ângela, Bela, Marina, Angélica, Tatiana, Jayme, Fridas, S., Franka, Meg, Milton, Dani, Alba, BethS, Pecus.

No meio de caminho, na jornada entre um grupo e outro, tenho as companhias luxuosas de Maria e Camilo.

Estou com a cabeça em 2008.

21.6.07

Cães vadios, poetas abandonados

Hoje passei de novo pela rua Marques Rebelo. De dia, pude ver melhor. Parei para prestar mais atenção. A rua é muito abandonada, paredes pichadas e -- acreditem -- três vira-latas eram as únicas almas que passavam por ali às duas da tarde de um dia quente de inverno carioca. Vou ver se ando mais com a câmera para tirar uma foto e postar.
Aí pensei que, em termos de literatura, estamos mal de homenagem em rua. Charme mesmo só a Vinicius de Moraes, em Ipanema, uma rua que todos da gerações dos meus pais pra cima continuam chamando de Montenegro com uma teimosia que eu diria pueril, como se para demonstrar "sou d'outro tempo".
Meu pilates é na rua Machado de Assis, ruazinha sem-graça toda vida, que liga a praia do Flamengo ao Largo do... Machado (que afinal ninguém sabe por que tem esse nome). A única coisa mais temática na Machado de Assis é um restaurante de comida a quilo chamado Iaiá Garcia. Pois sim, que espirituoso, não?
No Leblon tem a praça Antero de Quental, poeta português da turma do Eça de Queirós. Mas falando nele, cadê a rua Eça de Queirós? Logo ali, entre Olaria e a Penha!
Guimarães Rosa também merecia um destino um pouco melhor do que uma ruela ligando nada a lugar nenhum na praia da Barra.
O Parque Poeta Manoel Bandeira também é meio desprestigiado, lá na Ilha do Governador.
Drummond ganhou a estátua na praia e olha lá. Espero que em Itabira seja nome de avenida.

20.6.07

Nina

Eu tinha dez anos quando ela nasceu, e me lembro de ir à maternidade visitar. A mais nova de três irmãs, a mais velha quase da minha idade.

Lembro quando a família mudou para o Recife e eu fui visitá-los num carnaval. Eu tinha 12 ou 13 anos, lembro da casa enorme, de dois andares, em Jaboatão dos Guararapes, e de ver blocos em Olinda. Ela era pouco mais que um bebê.

Lembro da notícia e do pânico quando um dia a mãe chegou em casa e a viu, aos 3 ou 4 anos, boiando na piscina, virada para baixo. Mais alguns segundos e talvez não tivesse resistido.

Lembro da alegria quando voltaram a morar no Rio.

Lembro da tristeza quando os pais se separaram, e o pai foi morar em outro país. Ela, afinal, a que menos convívio teve com ele.

Lembro quando ela começou a fazer balé.

Lembro até mesmo de ir assistir a apresentações de final de ano em clubes e colégios, ela pequenininha, mas sempre num papel de destaque.

Lembro que a coisa do balé foi ficando séria, e aos 13, 14 anos, quando a maioria das meninas (como eu) sai para fazer outras coisas, ela continuou se dedicando à dança.

Lembro que aos 15 anos ela já dançava em teatros de verdade, não mais clubes e colégios. Não mais apresentações de fim de ano, e sim temporadas.

Lembro quando, aos 17, ela recebeu uma proposta e foi morar fora do Brasil. Para dançar.

Lembro que teve de terminar o segundo grau por correspondência.

Lembro da virada da dança clássica para a moderna, e de como ela ficou contente.

Lembro da alegria que foi quando ela entrou na melhor companhia de dança moderna do mundo.

Lembro que nas duas últimas viagens que fiz à Europa não consegui encontrá-la porque ela estava sempre em turnê, ensaiando, ou coisa que o valha.

Domingo fui vê-la dançar, no Teatro Municipal. Casa cheia, ingressos caríssimos.

Soube que ela estava mais nervosa por dançar aqui, onde conhece tanta gente, do que jamais ficou em Nova York, Londres, Paris ou Tóquio.

Eu já sabia que ela era tudo isso. Mas mesmo assim fiquei espantanda. Impressionada. Encantada. Como ela se tornou uma artista tão madura?

Esqueço. Que ela tem vinte anos.

11.6.07

Outro giro pelo mundo do grande capital (esportivo)

Repara como o Federer nem sua!


Mais ou menos uma vez por ano acontece de eu ver um jogo de tênis. Ontem vi a final de Roland Garros, Nadal x Federer. Foi um jogo bom de se ver, grandes jogadas, emocionante. Mas percebi que o jogo de tênis é parecido com o recital de música clássica. Do público espera-se um comportamento rígido. Não pode falar fora da hora. Não pode vibrar no momento errado. Aplaudir fora de hora, nem pensar. Um espirro mais alto pode atrair o opróbrio de todo o estádio. Pode até voltar o ponto.

As regras também não são assim tão simples. Até hoje não entendi por que se contam os pontos 0-15-40-fim. E se ninguém lhe explicar o que é "Deuce" não é muito fácil deduzir.

É um esporte tão elitizado que para cada jogador na quadra existe um pequeno exército de lacaios. Para começar, uma meia dúzia de homens-estátuas que ficam imóveis com os olhares fixos nas linhas da quadra, esperando a bola bater um milímetro para fora para que eles possam gritar "Ô!" (ou algo foneticamente similar). Além desses, os gandulas do fundo da quadra e os gandulas mais famosos, aqueles que correm rente à rede. Há também os outros lacaios que ficam oferecendo toalhas para os tenistas secarem o suor, quem sabe uma outra bolinha melhor?, ou uma nova raquete, senhor? Bah, aviltante.

E por ser assim tão upper-upper-class, figuras como o Nadal ou a Venus Williams parecem verdadeiros intrusos em um reino que deveria ser só de suíços como o Federer ou belgas como a Justine Henin. Eles não gritam a cada raquetada, por exemplo. O Federer e a Justine me parecem aquelas pessoas que já nascem sócias do Yacht Club, passam férias nos lugares mais exclusivos e poderiam jogar tênis ou pólo.

Mas fugindo do assunto: só eu acho que o Federer parece o irmão mais novo do Tarantino? Separados no nascimento!

8.6.07

O verbo chamar-chamar

O post abaixo e a questão dos cacoetes de linguagem me fizeram lembrar uma crônica sensacional do João Ubaldo Ribeiro, sobre o verbo chamar-chamar. Segundo ele, é um verbo bastante específico, usado sempre com um único significado: quando um telefone não é atendido.
-- Chama-chama e ninguém atende.
-- Chamou-chamou e não atendeu.
(Com uma variante, o verbo tocar-tocar)
Podem reparar. Ninguém nunca diz "Chama e não atende".

E tenham todos uma boa sexta-feira.

Mês 6 e mês 7

Nesta época do ano sempre reparo. Você diz algo como:
- Temos um compromisso no dia 22 de julho.
- Ju-NHO ou ju-LHO?
-Ju-LHO.
Já notaram que é sempre assim, e com essa entonação? Quase um cacoete de linguagem.
Quem terá sido o gênio da comunicação que resolveu colocar nomes tão parecidos em dois meses seguidos? Talvez devêssemos adotar um nome alternativo para um desses meses. Junho, por exemplo, mês das festas de São João, São Pedro e Santo Antônio, poderia ser Anjope, em homenagem aos três.
Sugestões?

7.6.07

Cristo by night

Não, eu não sou entusiasta da eleição do Cristo Redentor para nova maravilha da humanidade. Considero essa campanha mais uma do rol de babaquices que assolam periodicamente o planeta, e o Brasil em particular. Não é que me incomode, as pessoas curtem, tudo bem, mas não me peçam votos. (E, numa boa, Alhambra, o Taj Mahal e a Acrópole são muito mais "maravilhosos".)

Mas a questão é que, olhando de algumas ruas daqui de Botafogo, a gente vê o Cristo bem de frente. E certas noites, quando o céu está exatamente do mesmo tom de preto que a montanha, parece que a estátua está flutuando no ar. E aí, não tem jeito. É bonito pra cacete.

Foto de Roberto via Flickr

6.6.07

Ninguém mora na rua Marques Rebelo

Há pouco tempo saiu uma matéria de capa no Prosa&Verso d'O Globo sobre o centenário do Marques Rebelo. Na verdade, a matéria dizia que a grande notícia era o fato de que nada estava sendo feito para comemorar o centenário deste autor. Eu, que sou fã do Rebelo (e que de quebra gosto de matérias sem muito gancho), adorei. Concordo com o teor geral da reportagem, que dizia que, um pouco inexplicavelmente, depois que morreu, Marques Rebelo caiu numa espécie de limbo. Poucos são os que conhecem a sua obra, ele que foi um grande retratista do Rio de Janeiro da primeira metade do século passado e que, em vida, era incensado por outros escritores. Apenas A Estrela Sobe segue modestamente conhecido, adotado em alguns vestibulares. Na verdade ele tem vários livros disponíveis, simplesmente ninguém o conhece.

Bom. Hoje fui a pé da Glória para a Lapa, por um caminho que nunca tinha feito antes. Andando pela Rua da Lapa, vi uma pequena transversal, a Rua Marques Rebelo. É mínima, tem apenas um quarteirão. E o que é mais triste, de um lado é a parede lateral de uma igreja, e de outro, as laterais de dois prédios antigos e grandes. Tem até umas portas e janelas, mas as entradas principais ficam todas ou na Rua da Lapa ou na Moraes e Vale, paralela. Donde se conclui que, desoladamente, ninguém tem um endereço "Rua Marques Rebelo, número tal".

5.6.07

Um giro pelo mundo do grande capital


E eu, crente que estava abafando, contando para a minha mãe que na véspera eu tinha ido a uma festa no Copacabana Palace, e que tudo era muito isso e muito aquilo, me achando chique no último e talz, e ela me diz simplesmente que: na mesma noite, ela tinha ido a uma festa de casamento na Confeitaria Colombo do Centro (que, vejam aí no link, tem mais de cem anos) em que a noiva simplesmente tinha chegado de carruagem puxada por cavalos brancos.

(Parênteses para explicar que a Colombo fica na rua Gonçalves Dias, que é na parte antiga do Centro do Rio, portanto uma rua estreitinha e, se não me engano, de paralelepípedos. Eu não consigo nem começar a imaginar o tamanho do transtorno de fechar a rua para passar uma carruagem.)

Sim, ela viu a chegada da noiva de um telão que tinha lá dentro. E nesse mesmo telão tinha aqueles filmes com historinha da vida do casal. E lá pelas tantas, depois do filminho, anunciou-se que no convite do casamento (que era na verdade um livrinho) havia uma mensagem cifrada, que poderia ser decifrada com as informações obtidas no filminho. E que a primeira pessoa que descobrisse a mensagem... ganhava uma passagem com acompanhante para Paris.

Seu motorista (ou seu cocheiro, mais apropriado), por favor pare, que eu quero descer.