26.12.11

Bumerangue, de Michael Lewis


No meio dessa confusão típica dos finais de ano, caiu-me nas mãos Bumerangue: uma viagem pela economia do novo Terceiro Mundo, livrinho muito recomendado por gentes boas. É uma grande reportagem sobre o mundo pós-crise econômica de 2008, que ajuda a entender um pouco melhor a confusão em que estamos todos. Para mim, que faço o tipo leiga-esforçada em assuntos econômicos e financeiros, foi bastante útil.

Pra início de conversa, o texto é ótimo, a tradução idem (do Ivo Korytovski, tradutor de quem sou grande fã desde que descobri que o dicionário dele incluído no Babylon era simplesmente muito melhor do que os Michaelis da vida, porque é um dicionário de tradução para quem é do ofício, e me foi maravilhosamente útil nas minhas duas empreitadas tradutorísticas). Segundo, é super atual, tem dados e informações de 2011, já que o livro saiu nos EUA em outubro e aqui em novembro.

O livro tem 5 capítulos (e um prefácio super encorajador, intitulado "É pior do que se pensa"), que são o resultado das viagens do Michael Lewis por alguns dos países-ícones da crise: Islândia, Grécia, Irlanda, Alemanha e Estados Unidos. Um turismo de crise econômica, por assim dizer. Mas o resultado é precioso, principalmente por mostrar o absurdo de certas situações que, por uma simples questão de status quo dos donos do discurso, passam a vigorar como normais.

Deprimente manifestação popular na Islândia. Daqui.
Sobre a Islândia, eu já tinha lido em 2009 a ótima reportagem do João Moreira Salles (que também foi até lá para ver de perto), intitulada "A grande ilusão" e publicada na Piauí (leia aqui). É um caso tão sui generis, que parece peça de ficção. Um país de 300 mil habitantes, que tem a pesca como principal atividade econômica, e que, num intervalo de 6 anos, vira a terra do hedge fund, seja lá isso o que for. Os lucros são tão extraordinários que as pessoas largam seus empregos para se dedicar à especulação financeira. Obviamente, isso só era possível graças ao comportamento criminoso dos banqueiros islandeses. E quando os bancos islandeses quebram, levam junto uma penca de investidores do resto do mundo. Lá pelas tantas, Michael Lewis entrevista um sujeito chamado Stefan, pescador profissional (formado em pesca na universidade e tudo) que largou tudo para trabalhar no mercado financeiro, e se espanta com o fato de, no seu primeiro dia no novo emprego, ninguém ter dito: "Mas Stefan, você é pescador!" (porque, com 300 mil habitantes, que é menos do que os moradores de Copacabana e Tijuca somados, todo mundo na Islândia se conhece e é aparentado).

Na Irlanda, onde o crash foi causado pelo mercado imobiliário, os bancos emprestavam dinheiro a construtoras que levantavam condomínios, hotéis e edifícios comerciais em regiões para as quais não havia qualquer demanda. Houve uma inflação geral do preço dos imóveis, e as pessoas contraíam dúvidas para financiar a compra de suas casas, dívidas que se tornaram impagáveis depois que a bolha estourou, a recessão galopou, os bancos se ferraram e o governo decidiu abrir a torneira de dinheiro para evitar o colapso - pegando emprestado dos bancos da União Europeia. Lewis vai a uma sessão do parlamento irlandês, conversa com políticos, e também com o incrível aposentado que jogou ovos podres numa reunião de investidores de um dos bancos picaretas (leia aqui, em inglês). E nesse capítulo eu não pude deixar de pensar no Rio de Janeiro, onde o valor dos imóveis mais que triplicou em 6 anos e um apartamento de 3 quartos em Botafogo (ex-bairro operário, sempre engarrafado e com uma praia que não dá para ir), sem grandes luxos, não sai hoje por menos de 1 milhão de reais. Tenho visto tantos anúncios de página inteira nos jornais de grandes empreendimentos imobiliários em lugares inusitados como Itaboraí, Itaguaí e Itacuruçá, e pelo menos agora posso dizer, sem medo, que acho isso muito estranho.

Na Irlanda pelo menos tem a melhor cerveja preta do mundo
O capítulo sobre a Alemanha é, preciso dizer, muito cruel com os alemães. Eles ficam nessa história como uns bobos que compraram os títulos mais podres, uns crédulos que não desconfiam de ninguém, o que, convenhamos, é uma visão no mínimo original para o povo alemão. Para além do amor às regras tipicamente germânico, o autor quase chega ao ponto de dizer que o ministro das Finanças, um geniozinho da economia, é um boboca por se dedicar à vida pública e fazer jus a um salário "modesto" em vez de ganhar dinheiro pra valer no Goldman Sachs. Mas a descrição do personagem é memorável: um cara em ótima forma física e totalmente careca, não por necessidade, mas por opção. Segundo Lewis, pessoas assim pensam: "Não preciso de gordura corporal, e não preciso de cabelo -- e qualquer pessoa que precise é um fraco."

Sobre os Estados Unidos, a parte mais reveladora é a entrevista com o Schwarzenegger, ex-governador da Califórnia, durante um passeio de bicicleta pela orla (!), a 100 km/h. Descontada a situação pra lá de bizarra, a análise sobre os vícios da política americana é muito interessante.

Enfim, são só 224 páginas que voam, e na Saraiva.com sai por R$19,90. Dá uma boa organizada nas ideias, e serve para fazer um bonito na mesa do bar!


18.12.11

Bike Rio: o fracasso retumbante de uma ótima ideia

Beleza de publicidade!

Há uns dois meses começaram a surgir pela Zona Sul do Rio uma porção de estações de bicicleta cor de laranja. Era a instalação do projeto Bike Rio, a mais nova tentativa da prefeitura de instalar um sistema de empréstimo de bicicleta, nos moldes do que acontece em Paris com grande sucesso, há anos. Fiquei muito animada, pensei "Agora vai". Porque finalmente, ao contrário das vezes anteriores, instalaram uma porção de estações, não muito longe uma da outra, o que é fundamental para o negócio dar certo.
Fui no site e vi as regras. Por R$10 pagos no cartão de crédito, você compra um passe mensal para usar quantas vezes quiser, cada empréstimo não podendo ultrapassar uma hora de duração, e um intervalo mínimo de 15 minutos entre cada empréstimo. A liberação é feita via celular. Achei tudo legal, exceto pela restrição de horário (das 6h às 22h), que para mim não faz sentido. As bicicletas são bonitas -- patrocinadas pelo Itaú --, têm uma cestinha na frente, e eu comecei a observar uma boa adesão das pessoas pelas ruas. Estava louca para experimentar.

Finalmente a oportunidade se concretizou na terça-feira, quando eu tinha que sair de Botafogo e estar no Jardim Botânico por volta das 19h30. Uma distância razoável, um horário de rush. No mesmo dia, de manhã, fiz o meu cadastro no site, sem dificuldades. Às 19h, passei na primeira estação para pegar uma bicicleta. Mas não tinha nenhuma disponível na estação. Tentei outra estação, não muito distante. A mesma coisa: nenhuma bicicleta. Andei mais 3 quarteirões até onde eu sabia que havia outra estação, e mais uma vez a mesma situação: nenhuma bicicleta disponível.

Nhé

Resolvi ligar para o call center do projeto. São 5 números de telefones que eles divulgam, e nenhum atende. Tentei durante meia hora e só consegui ouvir "no momento este telefone não recebe chamadas". Repare: não foi uma gravação do tipo "Obrigado por ligar para a Bike Rio, no momento todos os nossos operadores estão ocupados". Não. É uma gravação da companhia telefônica dizendo que aquele número não funciona ou nem existe! O único número que funcionava era o usado para liberar a bicicleta na estação. No menu tinha a opção "9 para falar com nossos atendentes", mas aí caía numa gravação dizendo para ligar para um dos números que eu já tinha tentado e não existia. Que beleza, não? Já atrasada, tive mesmo que pegar um ônibus e encarar o engarrafamento de praxe. No dia seguinte, mandei um e-mail para o Fale Conosco. Vocês receberam resposta? Nem eu.

Mas não desisto tão fácil. Na quarta, fui almoçar com minha prima no Humaitá, um trajeto ainda mais curto. Desta vez havia 2 bicicletas na estação. Oba. Liguei para o número. Digitei o número da estação e o número da posição -- informações necessárias para liberar a bicicleta. Mas, para minha surpresa, ouvi a resposta: "No momento esta posição não está disponível". Ué, mas a bicicleta está aqui bem na minha frente! A mesma coisa aconteceu com a segunda bicicleta que estava na estação. Posição não disponível. Bizarro. Fui até outra estação onde só havia uma bicicleta, e finalmente nesta consegui! A bicicleta em si é boa, tem marchas e um assento bem confortável. Cheguei na estação de destino e prendi a bicicleta numa posição livre. Puxa, enfim funcionou.

Na volta, vi que a mesma bicicleta continuava lá, no mesmo lugar, e resolvi pegar ela mesma de novo -- afinal, o banco já estava regulado numa altura boa para mim. Mas quando fui liberá-la ouvi o temido recado: "No momento esta posição não está disponível". Oi? Como assim? Aí me dei conta de que não há nenhum tipo de recibo ou confirmação de que você devolveu a bicicleta dentro do prazo -- ou mesmo que você devolveu a bicicleta simplesmente, em vez de, digamos, roubá-la. Peguei outra bicicleta na estação e voltei para o trabalho. Quando acessei o "Extrato" no site (que funciona bem), dito e feito: estava registrado que meu primeiro empréstimo, que deve ter durado de 10 a 15 minutos, tinha levado 1 hora e 15 minutos! (O tempo da volta estava certo: 7 minutos) Ou seja, é bem capaz de me cobrarem os R$5 a mais que custam cada hora excedente da hora inicial, incluída no passe mensal.

Nem preciso dizer que fiquei meia hora tentando falar com qualquer um dos 5 números de atendimento, sem sucesso. Mandei outro e-mail para o Fale Conosco, que até agora, 4 dias depois, permanece sem resposta.

Entendo que um projeto como este precise de ajustes, uma vez implantado. Por exemplo: se tudo é feito via celular, era fundamental que o sistema mandasse SMS confirmando a retirada e a devolução das bicicletas na estação. É uma forma de o usuário ter certeza de que tudo está sendo registrado direitinho. Não se pode deixar na mão de um sistema pouco confiável como este o seu número de cartão de crédito -- o valor cobrado pela bicicleta não devolvida é R$1.350,00. Agora, o fracasso absoluto do atendimento ao usuário é indesculpável. Eu tentei muitas vezes. Em horários diversos. Para vários números diferentes. E em nenhuma ocasião consegui falar com quem quer que fosse. Para isso não existe justificativa.

Eu de qualquer forma já aposentei meu passe mensal, não usarei mais essas bicicletas e não recomendo a ninguém. Muito pelo contrário, meu conselho é: fuja dessa roubada -- pelo menos até que alguém mais competente venha a gerir.

Minha linda (e confiável) magrela, que nunca me deixou na mão: perdoa-me por te traíres!

8.12.11

Mais um dia na vida de anna v.

Querido Diário,
Hoje recebemos na editora mais uma visita de um editor estrangeiro. Eles sempre vieram para reuniões profissionais, mas este ano está demais, provavelmente por causa do viés de baixa da Europa e EUA e do viés de alta do Brasil. Bom, hoje foi um inglês, e já começamos a reunião dizendo que não vamos fazer o livro que ele queria tanto que fizéssemos. Sad news. E o resto do catálogo dele é, apesar de lindo, inviável e incompatível com nossa linha editorial. Então, né, nada de muito produtivo. Mas era um cara simpático, e conforme combinado, convidamos ele para almoçar. Fomos a um lotadíssimo Porcão Rio's, porque gringo adora se afundar numa picanha. Mas só quando já estávamos comendo é que descobrimos que ele é vegetariano, e, gafe monstruosa, não nos ocorreu perguntar sobre suas preferências alimentares antes de escolher o restaurante. Mas ele foi super cool com a situação, comeu peixe com outras coisas, e adorou o abacaxi com raspas de limão da sobremesa. Menos mal.
O destaque da tarde foi para a descoberta do site Damn You Autocorrect, só sobre situações esdrúxulas causadas pelo corretor automático de mensagens de texto do iPhone. Mas cada coisa tão engraçada que todos nós na sala tivemos ataque de riso incontrolável.
(Desculpas a quem não lê inglês, mas não dá para traduzir)



6.12.11

Català


Das línguas latinas, eu acho o italiano a mais bonita, o francês a mais charmosa, o espanhol a mais impetuosa, o português a mais bela flor. Já o catalão me parece uma língua manca. E meio fanha.

Estaré fora de l'oficina amb accés restringit als meus mails fins al pròxim 12 de Desembre. Per favor, per temes urgents contacteu amb Natàlia. Gràcies.


1.12.11

Duas ou três coisas que eu sei sobre dietas



Aquela dieta de duas semanas sem carboidrato que eu fiz em outubro deu o maior pé, e perdi mais de 2 quilos em 17 dias. Uma beleza. Gostei, continuei e já perdi mais um, mesmo reintroduzindo os carboidratos, em doses bem moderadas. Agora vamos ver se o ritmo se mantém até o natal, apostando nas saladas, comendo menos à noite e consumindo pouquíssimo pão, arroz e massa.

Eu pertenço ao tipo de pessoa que vive de dieta. Como diz minha mãe, "eu não estou de dieta, eu sou de dieta". É por aí. Não que eu seja gorda. Não sou nem nunca fui realmente grande, do tipo que, numa fila, serve de ponto de referência ("ele está ali, logo atrás daquela gorda"). Por outro lado, nunca fui magra. Sempre fiquei ali no normal, vestindo tamanho 40, às vezes descambando para o 42, raras vezes atingindo o olimpo do 38 (no longínquo século 20). E para ficar onde estou, tenho que estar sempre me controlando.

Porque a verdade que poucos gostam de admitir é que gordo é tudo safado, como já dizia a querida Carrie. E por "gordo" não quero dizer necessariamente aqueles que estão muito acima do peso, mas sim pessoas que, como eu, pensam como gordo. Pensar como gordo é já ir imaginando o que tem de bom para comprar e comer no trajeto a pé que você vai fazer, não importa o quão curto ele seja. É não poder ter nada doce em casa. É estar comendo uma comida gostosa e, apesar do prato ainda cheio, ficar de olho na travessa para saber se não vai acabar - porque se é bom, o gordo quer repetir, mesmo estando satisfeito.

O gordo safado vive de dieta e quer perder 5 quilos em 1 semana, o que, se ele conseguir, não será muito saudável. E o pior é que, mesmo se conseguir passar uma semana toda fazendo a dieta certinho, se o gordo sair um pouquinho só da dieta, ele mesmo se autoriza a esculhambar geral e tomar um pote inteiro de sorvete, comer uma pizza toda ou um pacote de biscoitos do início ao fim. Outra pessoa que o legitime, então, é tudo que o gordo quer: aquela pessoa que diz "ah, come um bombonzinho só, não vai fazer mal" (e quem diz isso é sempre um outro gordo safado).

Mas a safadeza maior do gordo é que ele inventa sempre um monte de desculpas. Tem um problema de metabolismo. Ou glandular. Tem uma compleição pesada. Ossos pesados. Questões genéticas. O gordo apela terrivelmente. Ele sempre diz que não come nada, e mesmo assim engorda. O que é, obviamente, mentira. Pode observar quando andar na rua, e veja as pessoas que estão comendo enquanto andam. Só gordo. O magro não compra um croissant de quatro queijos do tamanho do antebraço e sai comendo pela rua. Veja um gordo parado no pipoqueiro. Se ele pede pipoca doce, coloca leite condensado em cima (eca. isso eu não faço). Se pede salgada, manda caprichar no bacon. Se vai tomar um café, pede um mocaccino. Se tem bolo e sorvete, o gordo como os dois. Magro nunca faz isso. O magro é aquele que compra uma barra de chocolate Talento, come 2 quadradinhos e guarda o resto pra mais tarde - ou para o dia seguinte! (eu francamente acho que essas pessoas no fundo não gostam de chocolate, mas isso é outra história). Festa de criança é a maior bandeira. Nada pra fazer, aquele monte de salgadinho e brigadeiro circulando, e quem come sempre? O gordo. Quem levanta para ir atrás do garçom? O gordo. Tiro e queda. Eu tenho tentado me defender como posso. Nas festas de criança, sempre faço um lanche antes, para não chegar lá com fome, e aí durante a festa não como n-a-d-a. E baixei uma regra pessoal de não comer mais nada na rua. Tem funcionado.

Outro dia li uma coisa muito certa num livro bizarro de autoajuda (ossos do ofício). Emagrecer é simples: basta comer menos e se exercitar mais. Mas não é fácil. Gênio! É simples mas não é fácil. E não é fácil porque demora, e porque a gente tem de se privar de comer coisas que adoramos, e porque fica complicado manter uma vida social decente sem comer nem beber na companhia dos outros. Mas é simples, e não adianta ficar inventando desculpas, vestindo roupa preta ou evitando se olhar no espelho sem roupa.

Eu, como boa gorda safada, aproveitei que emagreci e já comprei um monte de roupa nova. Três calças. Justas. Vamos ver se desta vez alegria de gorda dura muito.

27.11.11

Um krill gay no filme do pinguim

Os krills Will e Bill

Domingão de chuva, levei Mathilde ao cinema. Fomo ver um filme sobre pinguins, chamado Happy Feet 2, mais um título inexplicavelmente em inglês (o que há de errado com Pés Felizes, Pés Dançarinos eu não sei).

O filme não é realmente nada de mais, e a ação é até mais arrastada e sem ritmo do que costuma ser nesse tipo de produção. Tem o drama principal, dos pinguins imperadores que ficam presos num buraco gigante de gelo, tem muitos números musicais, tem a moral da história (ajude o próximo, a união faz a força etc.), e, como em todos esses filmes, tem os, digamos, núcleos cômicos. Neste caso, um dos núcleos cômicos são dois krills. Vocês sabem, krill é aquele bichinho que vive na água em gigantescos cardumes, se alimenta de plâncton e serve de comida para todos os peixes e seres do mar. Parece um camarãozinho e fica no final da cadeia alimentar.

Os krills do filme se chamam Will e Bill e... são gays. Pois é. São dois krills machos que ao longo do filme descobrem que se amam. Eu fiquei boquiaberta, mas não posso negar que gostei da surpresa. Porque vejam,Will e Bill não são bichas loucas, e nem mesmo são um casal. Muito ao contrário. Um deles (não sei qual) se rebela e quer ascender na cadeia alimentar. Então resolve ser um predador, "comer alguma coisa que tenha rosto". E o outro vai atrás, tentando demovê-lo da ideia descabida, mas sem abandoná-lo, por lealdade e porque não suporta a perspectiva de ficar longe. Então eles saem do cardume, saem da água, e vão viver suas aventuras. E, em meio a músicas que eles cantam do Queen e do George Michael (sério), rolam as DRs dos krills. O conformista da dupla quer viver uma vida pacata, ter filhos. Ao que o outro observa que ambos são machos. E ouve como resposta que isso não importa, "podemos adotar". Eles acabam se separando e depois se reencontrando, quando descobrem que de fato não podem viver um sem o outro. 

Nos EUA os krills foram dublados por Matt Demon e Brad Pitt, nomes que parecem querer reforçar a importância dos personagens, porque na verdade a parte deles é absolutamente dispensável para o desenvolvimento da trama dos pinguins. É como se os krills só estivessem ali, e dublados por dois dos maiores galãs de Hollywood, para tornar natural, num filme infantil, um relacionamento afetivo entre dois seres do mesmo sexo.

Só faltou cantar For the times, they are a-changing...

25.11.11

Umberto Eco


Agora que já tenho o novo Umberto Eco, o romance O cemitério de Praga, na fila das leituras da minha mesinha de cabeceira, concluí que era chegada a hora de me desfazer dos livros dele que me acompanharam durante a faculdade. Não pego neles há mais de dez anos e não tenho qualquer perspectiva de precisar recorrer novamente a seus ensinamentos.

Então é com renovada esperança de que um estudante de comunicação, semiótica, linguística, filosofia, sociologia ou outra ciência humana vá se interessar, que coloco no Mini Sebo Terapia Zero aqui ao lado meus exemplares surradíssimos e rabiscados de A obra aberta, A estrutura ausente, Apocalípticos e integrados e As formas do conteúdo.

Ficam aqui comigo ainda, por tempo indeterminado, O nome da rosa, O pêndulo de Foucault e o maravilhoso Quase a mesma coisa, sobre tradução.

Que escritor fantástico é o Eco. Escreve tão bem sobre tanta coisa. E dá títulos realmente ótimos para seus livros. A obra aberta, o título que virou conceito. Apocalípticos e integrados, que achado! A ilha do dia anterior, outro título perfeito. Pensando bem, até Umberto Eco é um nome muito bom, um verdadeiro "nome de escritor", seja lá isso o que for.

24.11.11

Da série: Fofices infantis

Poucas coisas são mais fofas do que quando uma criança, ou ainda um bebê, no meio de uma conversa de adultos, começa a rir só porque os adultos estão rindo também. Assim, para não ficar de fora.
Ou melhor ainda, quando eles fazem alguma coisa e percebem que todo mundo riu, e aí ficam fazendo de novo, de novo, de novo, para continuar agradando.
Vontadedeapertarmuito.


22.11.11

Desenvolvendo Belo Monte

Deixando de lado o mimimi de estou-sem-tempo-e-peguei-conjuntivite, escrevo rapidinho para desenvolver só mais um pouco o assunto do post abaixo, que tem rendido tanta discussão.
O que me deixa animada é isso: está rendendo, levando o tema para a pauta da vida cotidiana. Este, o maior mérito do vídeo, que tenho visto ser tão atacado tão somente por ser estrelado por globais. Parece preconceito. E é.

Meg: você tem toda razão na sua argumentação sobre as falhas do movimento. Mas acho que a mensagem principal, "Informe-se", é válida e importante. Acho que concordamos aí.

Hugo, meu leitor silencioso: li o texto que você recomendou (mas não os 177 comentários), mas acho que ali está-se fugindo do ponto. Uma coisa é um projeto que leva desenvolvimento a uma região atrasada. Outra coisa é esse projeto ter mais desvantagens ambientais do que vantagens socioeconômicas. Nesse texto não encontrei muita referência ao mérito da usina em sim, mas encontrei muito mais críticas a quem critica, como se estes fossem antidesenvolvimentistas, usurpadores da Amazônia Legal ou interessados na perpetuação do atraso. Ou seja, grosso modo, exagerando e distorcendo um pouco, o texto parece sugerir que qualquer projeto naquela região seria válido, para tirar a região do século XIX, como ele coloca.

No mais, confesso que não tenho me informado tanto quanto gostaria. Mas não paro de pensar na minha amiga R., que está há pelo menos 2 anos morando no Pará, lutando contra essa usina, e nunca, jamais, em nenhum movimento que ela organizou ou de que participou, conseguiu metade da divulgação que esse vídeo obteve em uma semana de circulação.

16.11.11

Belo Monte

Gostei e repasso.
É incrível como um vídeo bem produzido e editado faz toda a diferença.

14.11.11

Lilica e o alter ego infantil

Essa foi (mais uma) criação genial do meu marido. Começou despretensiosamente, como uma história com lição de moral - nada de extraordinário. Mathilde queria, sei lá, tomar o quinto copo de suco, ou então cismou de não comer verdinho, qualquer coisa dessas. Então ele começou a contar "A História da Lilica Que Só Queria Tomar Suco", na qual a personagem Lilica toma tanto suco que alguma coisa terrível acontece, e então a Lilica entende que não se pode tomar só suco na vida, e fim da história. Fez sucesso, e ele repetiu a dose. A Lilica Que Não Queria Sair do Banho ficou tão enrugada que não conseguia mais fazer nada. A Lilica Que Faz Pirraça Por Causa de Biscoito ficou com uma barriga tão grande de biscoito que as roupas não cabiam mais e ninguém queria brincar com ela. Enfim, já deu pra ter uma ideia de como funciona o sistema da Lilica.

Mas o que não esperávamos é que o sucesso fosse ser tão grande que Mathilde começasse a pedir que contássemos histórias da Lilica. E o que é mais incrível: ela pede para contar a história da Lilica que fez justamente a(s) coisa(s) errada(s) que ela fez naquele dia. Então se nós vamos a piscina e é aquele drama na hora de ir embora, de noite tem: "Mamãe, conta A História da Lilica Que Não Queria Sair da Piscina?".

Chegou a tal ponto que ela já pede três histórias da Lilica de uma vez! A História da Lilica Que Não Queria Ir Ao Dentista, A História da Lilica Que Não Queria Parar de Jogar no Computador e A História da Lilica Que Queria Tomar Picolé Todo Dia.

E o mais sensacional é o ar de profunda reprovação que ela assume quando escuta as desventuras da Lilica.
-- Imagina, filha, que a Lilica, coitada, era meio nenenzinha, ela fazia pirraça na hora de ir ao dentista!
-- Tsk, tsk tsk.
-- A Lilica não sabe que quem escova o dente todo dia não precisa ter medo do dentista, porque não dói, o dentista só olha os dentes e fica tudo bem.
-- É, mamãe, ela não sabe, coitada.
(Isso depois de um vexame terrível no consultório da odontopediatra.)

Enfim, fica a dica aí para os colegas que estão nessa ralação de buscar métodos alternativos para domar as crianças...

9.11.11

Teoria da conspiração

Meu e-mail do Yahoo, que eu uso para listas de e-mail e para cadastros comerciais, mandou uma mensagem-spam para todos os meus contatos, daquele tipo sem nada no assunto e só com um link obviamente spam no corpo da mensagem. Reparei quando surgiram, de uma hora pra outra, 138 mensagens não lidas na minha caixa de entrada, todas de erro, de endereços de e-mail que não existem mais. Foi a primeira vez que isso me aconteceu, e fiquei morrendo de vergonha, claro. Menos de dez minutos depois, chega um e-mail da McAfee, o antivírus que veio instalado no meu laptop Dell e cuja licença expira em breve. Era uma mensagem "Economize 33% para renovar agora a proteção feita para seu computador Dell"
Não está muito na cara que foram eles os responsáveis pelo spam enviado em meu nome para todos os meus contatos?!

7.11.11

Chico (2011)


Num mundo em que ninguém mais compra discos, comprei e estou viciada no novo CD do Chico. Fora a primeira música, de que não gostei muito, as outras nove são tão boas que dá vontade de ouvir de novo, de novo e de novo, assim para aprender a cantar de cor.

Tem o dueto com a Thais Gulin (Se eu soubesse), em que eles cantam "mas acontece que eu saí por aí, e aí, la-ra-ri..." (eu não conhecia essa cantora, mas achei ótima). Tem a incrível "valsa russa" Nina, linda de doer. Tem sambas muito bons: Sou eu, com participação especial do Wilson das Neves, sempre uma atração à parte, e Barafunda, que me conquistou de cara com o trocadilho "antes que o uísque... o esquecimento... jogue seu manto cinzento" (sacaram? hein, hein? uísque/uísquecimento? a-há!). Tem a última faixa, Sinhá, que é parceria com o João Bosco mas tem a maior cara de Paulo César Pinheiro, e é outra que tenho vontade de tascar direto na função "repetir".

Enfim, é um grande disco, e realmente lamento que o lançamento de um disco novo do Chico Buarque não cause mais a comoção que causava em outros tempos. E se o novo disco do Chico não provoca comoção, é porque hoje em dia disco nenhum da música brasileira pode causar comoção. É pena. Ouvir um disco com atenção, sem estar fazendo outra coisa, é uma atividade muito rara hoje em dia. Ninguém consegue se dar 30 minutos para ficar sentado ouvindo música, apesar de ficarmos muito mais tempo que isso de bobeira em frente à TV ou ao computador.

Os links acima são para os clipes das músicas, que estão todos disponíveis no site Chico Bastidores. Se tiver curiosidade, vá lá e ouça as músicas. E se gostar, não deixe de praticar essa ação tão século XX: compre o disco. Eu vou continuar ouvindo para saber cantar tudo de cor no show!

PS: Toda a genialidade do disco ficou restrita à música. O título é sem graça, a capa idem, e o projeto gráfico simplesmente é inexistente. Horrível mesmo.


A TURNÊ

BELO HORIZONTE
Palácio das Artes
De 5 a 8 de novembro

PORTO ALEGRE
Teatro do Sesi
Dias 28 e 29 de novembro

CURITIBA
Teatro Guaíra
De 15 a 18 de dezembro

RIO DE JANEIRO
Vivo Rio
De 5 a 29 de janeiro

SÃO PAULO
HSBC Brasil
De 1 a 25 de março

30.10.11

1 ano!

... nesta data querida...
"Oliver"

29.10.11

Keesha e Zeelena

Na banca de jornal da esquina vendem-se, entre milhares de outras coisas que não se imaginaria encontrar numa banca de jornal, plaquinhas com nomes para pendurar na porta. Para quartos de criança. Sabe como é, Maria Clara, e a figura da Cinderela. João Victor e um bonequinho com camisa do Flamengo e bola no pé. E eis que entre Lucas, Pedro, Isabel e Alice, lá estão, com a maior naturalidade, Keesha e Zeelena.
Eu hein.

28.10.11

27.10.11

Alô, Botafogo e Humaitá!

Boa dica para os moradores dos bairros de Botafogo e Humaitá. A Light está fazendo um programa piloto de reciclagem de lixo no Morro Dona Marta, que concede descontos na conta de luz para quem leva lixo para reciclar.
Estive lá hoje e fiquei muito bem impressionada com a organização. A coleta é num posto comunitário na rua São Clemente (na praça onde fica a subida para o morro), e o funcionamento para receber o lixo é restrito: apenas terças e quintas, das 8h às 13h. Segundas, quartas e sextas a coleta é na estação do Plano Inclinado do morro.
Funciona assim: você leva sua conta de luz e se cadastra. Ganha um cartão. A partir de então, pode levar o lixo reciclável quantas vezes quiser, e a cada pesagem ganha um novo desconto e um recibo, que é feito na hora, numa maquininha do tipo das de cartão de crédito. Bem legal, rápido e prático. Como moro num prédio pequeno (6 apartamentos) que não separa lixo por falta de iniciativa e organização, cadastrei o condomínio (marido é síndico...), e agora sim terei um pouco mais de moral ao tentar convencer os vizinhos a separar suas garrafas pet, jornais velhos, caixas longa vida, vidros e recipientes em geral. Eles até fornecem lá os sacos transparentes próprios para armazenar o material reciclável.
Os descontos são válidos por enquanto apenas para os moradores desses bairros, mas para os demais é possível levar o lixo e doar o desconto a instituições de caridade cadastradas.
Gostei. Esse tipo de coisa sempre funciona muito melhor quando há um incentivo financeiro por trás.
Maiores informações no site do programa Light Recicla: http://www.light.com.br/light-recicla.asp

19.10.11

O que você lê



Volta e meio recebo mensagens muito bacanas sobre os livros que comento aqui, mas recentemente elas têm sido mais frequentes.

por sua causa comprei os livros do Stieg Larsson e adorei! Depois veio Equador, que também adorei! Agora, a Travessa acabou de me entregar minha última encomenda, quase todos dicas que peguei por aqui. Aí, resolvi entrar em contato e agradecer! (Flavita)

Por sua indicação, comprei o Homem de Beijing e estou acabando de ler. Gostei muito! (Liz)
[Detalhe que eu não li O Homem de Beijing, apenas mencionei que tinha vontade de ler...]

Por conta de um comentário seu a Ana Paula me emprestou os Pilares da Terra, que adorei. (Claudio Luiz)

olha eu de novo aqui, para comentar as citações que você faz. Equador, Dois Irmãos( novamente ) e Pilares da Terra! Gostamos dos mesmos livros! (Liz)


Acho isso tão legal. E vejo que algumas dessas pessoas são leitoras do blogue mas nunca comentam, e um dia desencantam, escrevem e mandam essas mensagens fofas.

Então, curiosa que sou, pergunto: você já leu algum livro por indicação deste blogue?

17.10.11

Histórias da vovó: Dia de fúria amanteigado

A foto perfeita para ilustrar este post veio daqui
No domingão de chuva, em que passar o dia em casa com as crianças estava quase deixando todos nós loucos, resolvo visitar a minha avó, que está tendo que ficar de repouso por questões de saúde. Levei Mathilde, deixei os rapazes em casa.
E como sempre nessas horas, fico meio atormentada com minha própria falta de saco com as crianças, meio que colocando em dúvida meus talentos para esse papel de mãe (sempre passa, mas que rola, isso rola). Então fui ver minha avó, que é uma espécie de lenda viva do amor incondicional, ícone da mulher que se entrega de corpo e alma à família, da mãe/avó/bisavó que ama sem freios e sem limites -- o que nem é tão bom, haja visto as pessoas estranhas que são os dois filhos dela, meu pai e minha tia.
Mas enfim, lá fui eu, na tarde chuvosa de domingo, fazer essa visita. E contei que viajamos no feriado, mas que na viagem de ida pegamos tanta chuva na estrada à noite, subindo a serra, que tivemos de fazer uma parada na Casa do Alemão, e não conseguimos saltar do carro tamanho era o dilúvio, então paramos na Pavelka, que fica ao lado e tem um meio telhado para o estacionamento dos carros, onde deu para saltar sem ficarmos ensopados.
Aí veio a história da minha vó.

Houve uma época em que seu avô quis comprar um apartamento em Petrópolis, ali no Quitandinha. Então, quando estava fazendo o negócio, nós costumávamos subir a serra aos domingos e passar o dia lá. E sempre parávamos na Casa do Alemão para comprar uns biscoitos amanteigados. Pois bem. Um belo dia, eu cheguei em casa do trabalho e quando abri a porta vi que estava uma discussão tremenda -- seu avô com seu pai, que devia ter uns 14 anos, sua tia, com uns 7 anos, se metendo no meio, e ainda a Hélia [a empregada da família durante décadas] gritando alguma coisa relacionada à discussão. Todos brigando com todos. Deveria ser perto das 6 horas da tarde, porque eu largava o trabalho às 5. Mas só sei que não pude com aquilo. Abri a porta, vi a cena, e disse: "Não vou nem entrar. Vocês se acalmem que mais tarde, quando tiverem terminado de brigar, eu volto." Então fui-me embora, entrei no carro e comecei a dirigir, dirigir, dirigir e quando vi estava quase chegando em Petrópolis! Então parei no Alemão, e a essa altura já estava arrependidíssima, pensando "Meu Deus, o que eu vim fazer aqui?!". Então comprei uns biscoitos amanteigados e voltei, já à noite. Quando cheguei a discussão estava terminada, todos conversavam como se nada houvesse acontecido. Eu entrei com a cara mais altiva que pude, e disse apenas "Que bom que estão mais calmos. Olhem, trouxe uns biscoitos amanteigados para vocês." E pus em cima da mesa. Seu pai e seu avô nunca acreditaram que eu tivesse mesmo ido até o Alemão. Achavam que eu tinha comprado os biscoitos em algum lugar da cidade.


Se até Dona R., mãe e esposa dedicada, chefe de família exemplar e exemplo máximo de devoção, perdia a paciência a esse ponto, fico bem mais tranquila.

13.10.11

Preparar, apontar, dieta

A nanoviagem foi excelente, o lugar é uma maravilha, tudo de bom e do melhor. (Muito caro, mas vale a pena.) Tirei fotos mas agora não consigo tirá-las da máquina, por falta de cabo, e meu laptop não tem entrada para esse tipo de cartão de memória. Depois que eu consegui conto mais a respeito.
Mas enfim.
Depois do café da manhã de hoje, ainda lá na pousada, comecei uma dieta que pretendo rigorosa até o dia 30, data do primeiro aniversário de Oliver. Uma coisa assim, como direi, sem carboidrato. (A rigor nem concordo com essas dietas loucas e radicais, acho que não fazem bem, mas tem horas que temos que mandar nossa coerência pras cucuias.)
Então já vou avisando logo a todo mundo que meu humor deve piorar consideravelmente nas próximas 2 semanas e meia, mas é pouco tempo, e por esse intervalo tão reduzido tudo vale a pena, para eu conseguir me livrar desses malditos 3 quilos que se apaixonaram por mim de tal forma que não me deixam em paz!

11.10.11

Dormir, comer, namorar, descansar – não necessariamente nesta ordem


Vou ali passar o feriado sem as crianças.

Volto logo – ou não.

6.10.11

Agulha no palheiro

Em outubro, a semana que antecede a Feira de Frankfurt (a maior do mercado de compra e venda de direitos de publicação) é sempre uma loucura. É tanta oferta de livro que fica difícil não se afogar em títulos, sinopses, resenhas e cartas de apresentação.
Antes do tempo do e-mail, as feiras eram grandes oportunidades de interação, e também, claro, de fechar negócios na base do impulso, pois a negociação via correio, com carta e envio de livros/originais era obviamente muito demorada. Hoje em dia a Feira de Frankfurt (assim como outras, como a Feira de Londres, que ocorre em abril, ou a Feira de Bolonha, dedicada à literatura infanto-juvenil, no mês de março) é principalmente uma chance de encontrar pessoalmente tanta gente com quem nos comunicamos cotidianamente por e-mail, e de explicar com um pouco mais de detalhe o que estamos buscando publicar.
Frankfurt, Londres e Bolonha são feiras eminentemente profissionais - ou seja, ao contrário das nossas bienais, o foco não é no público, e sim nos negócios. Editores do mundo inteiro vão para as feiras para encontros de meia hora com os agentes que vendem os direitos dos livros. O e-mail facilitou muito as coisas, pois agora recebemos as listas de títulos de cada agência antes da feira (justamente na semana anterior), selecionamos o que mais interessa e aí as reuniões de meia hora ficam mais produtivas.
O que não quer dizer que tenha ficado fácil. Continua sendo um desafio descobrir o próximo bestseller com base em informação tão parca...

AFFLUENCE INTELLIGENCE by Dr. Stephen (...)
Why some people are able to build permanent wealth while others aren't, with a step-by-step program for improving your own abilities.
THE VIRGINS by Pamela (...)
Set in 1979, a boarding school romance spirals into disaster when two teenagers try to make sense of their unsuccessful attempts at sex.
EDGE OF DARK WATER by Joe R. (...)
Paranormal thriller about a young woman who gets in over her head when she steals a raft and heads to Hollywood to spread her friend's ashes.
WILD GIRLS by Mary (...)
Adult/Young Adult crossover novel set in an elite all-girl's boarding school in a bad part of town about a girl with supernatural abilities.
HOMINID by John (...)
A supernatural anthropological thriller surrounding a murder at an archeological site in New England.
Agora multipliquem isso por... uns quinhentos, e vejam como é dura a vida honesta!

5.10.11

35 anos hoje


já sinto saudades do tempo presente.


21.9.11

Alívio

Hoje Oliver pela primeira vez está dormindo fora de casa, e Marido está viajando, então eu e Mathilde tivemos uma "noite das meninas" depois da escola e do trabalho. E foi uma delícia tão imensa, que no meio de tantas dúvidas em relação a tudo, sinto um enorme alívio de ver uma criatura tão especial vivendo sob o mesmo teto.


18.9.11

A cara-de-pau nos tempos de internet

Este não é um blogue muito popular. Tenho uns leitores fiéis, e outros tantos que chegam aqui por acaso, por links alheios ou buscas no Google. Minhas postagens são esporádicas, e o número de acessos é modesto. Quando bate 100 visitas num dia, é muito.

Pois bem. De uns tempos para cá, tenho recebido alguns emails de empresas que querem fazer o que chamam de "parcerias". Mas que funcionam assim: eu falo do produto/site/serviço no meu blogue, e pronto. Não tem, por assim dizer, nenhuma contrapartida para o lado de cá da parceria.

Isso decorre de uma febre das mídias sociais. Toda empresa agora acha que precisa ter uma presença forte nas mídias sociais, custe o que custar, e colocam os blogues no pacote. Mas a coisa é feita de forma desorganizada, nas coxas. A impressão que tenho é que alguém faz uma busca superficial no Google, escolhe uns blogues, e pronto.

Porque eu já recebi mensagens desse tipo de sites de turismo, como se meu blogue fosse sobre turismo. Ou como se fosse exclusivamente sobre livros, como este:

Olá, tudo bem?
Saudação genérica, que não se dá ao trabalho de citar meu nome ou o nome do blogue.
Trabalho para o Site Tal e, assim como o seu site o nosso foco é a literatura.
Oi? Desde quando meu foco é só literatura?
Segue nossos banners para que você ajude-nos a crescer nos divulgando em seu site. Você também pode encontrá-los na página "Imprensa" em nosso site.
"Segue nossos banners"?! Rapaz, para um site com foco em literatura, faltou um revisor.
Estamos abertos à sugestão de ideias e parcerias que agreguem valor ao Site Tal, nossos clientes e parceiros.
Fico à disposição.

Viram que genial? A pessoa manda um email genérico, com erro de concordância, mostra que nem sabe bem do que trata o blogue, pede para eu poluir meu blogue com banners, e não oferece absolutamente nada em troca. Acho que uma cara-de-pau sem tamanho. Imagino o que não sofrem os blogueiros realmente profissionais, aquela turma dos milhares de acessos diários.

Sei que existem muitos blogues focados em resenhas de livros. É bacana, muitos são de jovens e adolescentes, verdadeiros leitores compulsivos, que postam todo dia falando de lançamentos, comentando sobre os livros e fazendo resenhas. Eles têm uma infinidade de seguidores e cada post gera dezenas de comentários do tipo "Nossa, amei sua resenha!". Aí pintou a moda de fazer parcerias com as editoras - que mandam os livros para os blogueiros falarem a respeito deles nos seus blogues, ou para sortear entre os seguidores. Algumas editoras inclusive dão um prazo (!) para a pessoa escrever sobre o livro, se não, adeus parceria.

Tenho sentimentos contraditórios em relação a isso. Porque, se por um lado é legal esse incentivo de parte a parte (o blogueiro ganha o que mais gosta: livro; o editor consegue uma divulgação barata de seus lançamentos), por outro lado, fico me perguntando que legitimidade têm essas resenhas. Se a pessoa não gostar, vai falar mal do livro da editora parceira? Não sei não, acho que ainda está todo mundo muito perdido, sem querer perder um bonde que não sabe bem qual é, nessa história da melhor utilização da internet para vender o seu produto.





16.9.11

Cul de Sac, de Richard Thompson

A Frida Helê fez um post calvinista (e como vocês sabem, Calvin mora num lugar especial no meu coração), e aí me lembrei de comentar dos livros que tenho lido (leitura de banheiro) e gostado muito, e que vão no mesmo estilo: Cul de Sac. Tanto quanto sei, não foi publicado no Brasil.
Assim como Calvin, uma família típica americana, mas desta vez um casal e dois filhos, Alice (4 anos), que frequenta o jardim de infância, é mucho loca e tem amigos figuraças, e Pete (uns 7, por aí), que é cheio de frescuras e vive lendo revistinhas. É divertidíssimo.
Fica a dica: http://www.gocomics.com/culdesac


Tradução livre:
Pai: Minha vida se cruza com a da Alice apenas o suficiente para ser surreal.
Mãe: Hmm?
Alice: O papai está me dando nos nervos. Ele está sempre logo ali.
Pete: É porque nossa casa é muito pequena. Se ele tivesse um emprego melhor, poderíamos nos mudar para um lugar maior.

15.9.11

Desconto no IPTU 2012 - até 30/9 (apenas para cariocas)

Porque blogue também é serviço.

Para quem ainda não o fez, vale a pena se cadastrar no site notacarioca.rio.gov.br, onde estão registradas todas as notas fiscais eletrônicas emitidas contra o seu CPF entre março e agosto deste ano (escola, cursos, academia de ginástica, salão de beleza, depilação, honorários de profissionais liberais, médicos, dentistas etc.). Um percentual do ISS de cada nota pode ser usado como crédito para desconto do IPTU 2012 - mas a indicação do imóvel só pode ser feita até o final deste mês. Mais de uma pessoa pode indicar o mesmo imóvel para desconto. Eu consegui R$ 11,00. Não é nada, não é nada...

É claro que essa nota carioca é uma porcaria se comparada à nota paulista, que engloba comércio de mercadorias, e não apenas serviços, mas mesmo assim. Eu queria saber quando é que teremos, no Rio, um sistema como o da nota paulista, englobando comércio. Aliás e a propósito, mesmo quem não mora em São Paulo deve se cadastrar na nota paulista, principalmente se fizer compras pela internet. Quase todas as empresas de e-commerce têm sede no estado de São Paulo, então quem costuma comprar online tem sempre créditos - que podem ser utilizados de várias formas, inclusive crédito na sua conta corrente. Olha que prático.

14.9.11

Ah, a Bienal

Fui 3 vezes à Bienal que terminou no domingo. Não entendo como pode ser um sucesso tão grande de público, mesmo sendo tão longe (no RioCentro, nome que é uma piada pronta), mesmo tendo que pagar para estacionar e para entrar, mesmo os livros custando o mesmo (ou praticamente) que na livraria, mesmo as opções de comida sendo os horrores caríssimos de sempre, mesmo com as filas imensas para ir ao banheiro, comer cachorro quente ruim ou simplesmente para pagar uma compra no caixa do estande.
Mas o fato é que as pessoas vão, na casa das centenas de milhares, para curtir a Bienal, que é na verdade uma enorme livraria dividida em três pavilhões. E as pessoas gastam, e como gastam. Incrível como vão para lá com a disposição de comprar muitos livros e deixar um bom dinheiro. Fico me perguntando se leem todos os livros que compram.
Eu acho divertido, porque sempre encontro um monte de colegas do mercado editorial, fico sabendo das últimas fofocas, vejo que editoras afinal compraram os livros que nós deixamos de contratar (aqueles que a gente fica torcendo para ser um fracasso, já que não publicamos). E sempre tem os eventos com autores nossos, que é uma parte muito gostosa, conhecer os autores, conversar com eles etc.
Mas o mais legal é ficar no estande observando quem está comprando os livros que a gente se esforça para publicar. Porque nós, os operários do mercado editorial, vivemos num universo totalmente à parte do consumidor final, e a Bienal é uma rara oportunidade de observar o leitor em ação, exercendo sua escolha, comentando com o amigo, recomendando um livro etc.
Os leitores do Rio foram à Bienal? Compraram muito livro?

7.9.11

Liberdade, de Jonathan Franzen


Poucas vezes a frase "Don't believe the hype" me pareceu tão acurada. Eu deveria ter desconfiado quando vi, na capa, o selo dizendo "O livro do ano, e do século - The Guardian". Uma afirmação com esse grau de presunção deveria ter disparado alguns alarmes. Além disso, quando Liberdade saiu nos EUA, em 2010, o autor saiu na capa da revista Time, com o título "Great American Novelist". Hmm. Nos EUA o livro é um bestseller, recomendado até pela Oprah*. A crítica compara Franzen a Tolstói em sua capacidade de retratar a vida americana nesses tempos que correm. Estava armado o circo do hype literário.

Mas não fui uma simples vítima desse hype. O fato é que li e adorei seu livro anterior, As Correções, de 2001.  Assim como aconteceu com Milton Hatoum e Miguel Sousa Tavares, minha empolgação com um livro (Dois Irmãos do Hatoum, Equador do MST, As Correções do Franzen) me fez comprar o lançamento seguinte sem pestanejar -- apenas para amargar uma decepção daquelas.

E é em respeito a As Correções que eu não escrevo aqui que Liberdade é simplesmente uma bosta (e também porque não é muito fino escrever uma coisa dessas). Então vamos dizer apenas que é um livro ruim. Ou melhor ainda: que é um livro de que eu não gostei. Vamos ser ainda mais camaradas e dizer que tenho andado numa maré de falta de sorte com a ficção literária, já que também não gostei de 2666 do Roberto Bolaño. E pronto, chegamos àquele adorável clichê de final de namoro: o problema é comigo, não com o livro!

Ah, porra nenhuma. É uma porcaria mesmo. E vou explicar por quê.

Liberdade gira em torno da família Berglund (o casal Patty e Walter, e seus filhos Jessica e Joey), e tem outro personagem importante, Richard Katz, amigo de Walter e depois de Patty desde os tempos da faculdade. O início do livro não é tão ruim. É uma narrativa que parte das observações dos vizinhos sobre os Berglunds, e assim, com as esperadas doses de maledicência e fofocada que permeiam qualquer relação de vizinhança, ficamos sabendo dos podres da família, a partir desse olhar externo. Mas mesmo nesse começo eu já comecei a me aborrecer com um excesso de oh-como-sou-observador-astuto-da-contemporaneidade. 
Havia também questões mais contemporâneas, como, era mesmo o caso de usar fraldas de pano? O trabalho valia a pena? (...) Os escoteiros eram aceitáveis do ponto de visto politico? O trigo sarraceno era mesmo necessário? Onde reciclar pilhas? (...) O seu Volvo 240 às vezes não deixa de entrar em overdrive quando você aperta o botão de overdrive? (...) E o botão com a etiqueta enigmática no painel, que produzia uma clique sueco perfeito, mas dava a impressão de não estar ligado a nada: que diabo era aquilo? (p. 12-13)

Pois, é o que eu pergunto: que diabo é isso? Devo dar um riso constrangido com o canto da boca com essas questões? Era esse o objetivo? Porque se era, falhou espetacularmente, pois elas não me comunicam absolutamente nada. Noves fora eu não ter ideia do que seja um Volvo 240, o que não faz diferença, não acho em nada relevante para a contextualização da narrativa esse trecho, que é muito mais longo do que o citado acima.


Mas vá lá, seguimos na leitura, e essa parte inicial termina na página 36. Aí começa o declínio absoluto do livro, quando ele se torna impossível de salvar: A "Autobiografia de Patty Berglund", intitulada "Todo mundo erra", e escrita "(por sugestão de seu terapeuta)". São intermináveis 166 páginas em que ficamos conhecendo a infância de Patty, seu relacionamento distante com a mãe, o pai, e as irmãs, o infeliz início de sua vida sexual, sua carreira de atleta (jogadora de basquete), a estranha amizade com uma espécie de amiga sanguessuga (parte inverossímil, a bem da verdade, pois Patty podia ser ingênua, mas não era idiota), a aproximação de Richard e Walter, e as escolhas péssimas que ela vai fazendo ao longo da vida. Durante a Autobiografia, Patty se refere a si própria tanto como "Patty" como quanto "a autobiógrafa", mas o mais grave é que a voz do narrador (ou seja, de Patty) não difere significativamente nem do trecho que veio antes, nem do trecho que vem depois. É como se Patty e o narrador onisciente do resto do livro fossem a mesma coisa. Incompreensível.

E é chato, minha gente. É maçante. Veja, personagens desinteressantes, simplórios ou patéticos não são necessariamente tediosos. Mas aqui, sim. Nada me convence. A tensão sexual latente entre Patty e Richard, problematizada pelo fato de que ambos amam Walter, é banal. Quando consumada, as cenas são tediosas. E chovem os trechos "vou-fazer-frases-de-efeito". Como esse parágrafo:
Cortou as batatas em ângulos muito estranhos. Lembravam um quebra-cabeça geométrico. (p. 178)
Ai, caramba, quero meu dinheiro de volta! Este foi um parágrafo de 2 frases, mas no mais das vezes abundam os parágrafos de 50 linhas, os apostos entre colchetes que são uma frase só de 30 linhas. E, bem, esse tipo de coisa só presta se você for mesmo um gênio. Caso contrário, nem tente.

Walter é um personagem santo durante a maior parte do livro. Passivo, cordato, se contenta com as migalhas que Patty lhe reserva, parecendo sempre feliz por ter conseguido, ele, um nerd, casar com aquele mulherão. E quando Walter finalmente começa a dar uma virada, ela se inicia através de uma história de reservas florestais para salvar mariquitas azuis ameaçadas de extinção mas que na verdade não passava de um golpe para aquisição de áreas ricas em carvão porque as políticas de extração estavam prestes a mudar no Congresso, tudo decidido entre os figurões de Washington amigos de Dick Cheney e por aí vai. Mas meu Deus, ele se senta com Richard para explicar essa história e passa 25 páginas discorrendo sobre os detalhes! Aaah! 25 páginas de texto sobre essa merda! E não pense que o estilo é de thriller político-corporativo-jurídico-Crichton-Turow-Grisham. Quem dera, porque esses caras ao menos criam ganchos entre seus capítulos curtos, benditos sejam. Não. É tudo chato, porque o Walter é um cara super certinho e careta, portanto ele é chatinho também, é quase como se a gente lesse por pena.

E o Richard é um personagem que não fede nem cheira, um roqueiro que faz sucesso quando menos espera e quando já não deseja o sucesso, um comedor de mulheres como qualquer roqueiro estereotipado que se preze, que não tem remorsos (exceto quando se trata de Walter) e quer que tudo se foda mesmo. Mas é aquela coisa: de onde menos se espera, é dali que não sai nada mesmo. Não é Richard que salva o livro.

Dizem que tem uma parte sobre Joey que é das melhores, que ele é um dos personagens principais também. Acho que jamais saberei. Quando cheguei a um final de capítulo na página 251 e vi que ainda não estava nem na metade, desisti. Já estava mesmo pulando grandes trechos, já tinha dado gritos de impaciência com o livro, enfim, já deu o que tinha pra dar.

Mais que tudo, Liberdade me pareceu um livro sem ritmo. A narrativa é tão estanque, tão truncada, que me senti travada enquanto lia. Bons livros podem ser lentos ou velozes. Mas a ausência de qualquer ritmo, a falta de uma cadência, são fatais.

PS sobre a lamentável edição brasileira

Assim como As Correções, Liberdade saiu aqui pela Companhia das Letras, editora que costuma primar pela excelência no tratamento do texto -- ótimos tradutores, preparadores de texto, revisores. Mas neste caso, por um engano, foi para as lojas uma primeira tiragem com um sem-número de erros bisonhos de tradução. São palavras faltando, erros de concordância e coisas estapafúrdias como "comessasse" ou "sobiu". Mas não só isso. Questões estúpidas de tradução, que me incomodam sobremaneira, porque mostram a falta de um mínimo esforço para adaptar ao falar brasileiro, um desprezo total ao leitor brasileiro. Como na página 198. Uma conversa telefônica entre Patty e Richard, que chega a um beco-sem-saída, aquele momento em que você já não tem mais o que dizer num diálogo que está, desde o início, sendo constrangedor para todas as partes. Todo mundo já passou por isso, todo mundo identifica a situação.
"O que foi isso?", perguntou Richard.
"Nada. Desculpe."
"Então, de qualquer maneira."
"De qualquer maneira."
"Resolvi que não ia."
"Certo. Entendi. É claro."
"Certo, então."
Péra aí, pára tudo. "Então, de qualquer maneira." "De qualquer maneira." ??? Alguém consegue imaginar uma pessoa falando assim ao telefone? Não sei como é o texto original em inglês, mas aposto 20 mariolas como é: "So, anyway." "Anyway." É o clássico termo para não-sei-mais-o-que-dizer. E não é difícil lembrar como se diz isso no Brasil: "Mas enfim." "Enfim." É claro que, literalmente, Anyway = de qualquer maneira. E em muitas situações essa equivalência vale. Mas nunca num caso como este.

Pesquisando na internet, vi que outros leitores estavam tão estupefatos quanto eu com os erros de revisão, e um deles, comentando no blog da própria editora, disse exatamente o que eu penso: a vontade é jogar a edição brasileira no lixo e ler o original em inglês. Gostei tanto desse comentário, que comentei também, e até citei alguns dos erros que achei ao longo do livro. Alguém anônimo da editora respondeu apenas que infelizmente a primeira edição tinha saído com erros, mas que já tinham sido corrigidos numa nova edição.

Ora, se alguém na área de atendimento ao leitor da editora em que eu trabalho responde desta forma a um leitor com esse tipo de reclamação, vai para o olho da rua. Caramba, a editora botou no mercado um produto com defeito, e eu comprei!, e escrevi para dizer que estava insatisfeita com meu produto defeituoso. O mínimo a fazer é oferecer a troca por um produto sem defeito! Mas não, nada do tipo. Claro, eu é que não escrevi mais para lá dizendo isso, porque não serei eu a dizer à concorrência como proceder, e porque não quero nem um exemplar deste livro, muito menos dois. Mas a arrogância é de dar dó. Numa era em que o consumidor é cada vez mais difícil de alcançar, em que você, enquanto editora, precisa suar para fidelizar esses clientes, principalmente esses que estão te dizendo: eu posso ler em inglês e não vou mais comprar seus livros, seus idiotas!, responder assim é um suicídio para a imagem.

Porque na verdade é isso mesmo. Leitores como eu, mais apegados ao conteúdo do que ao produto físico livro, possuidores de um Kindle e uma conta na Amazon, e fluentes em inglês, simplesmente não precisam mais das editoras brasileiras para ler literatura estrangeira. Da própria Companhia das Letras, eu quero ler O décimo primeiro mandamento do Abraham Verghese (632 páginas, R$54), e O Homem de Beijing do Henning Mankell (512 páginas, R$46). Mas com um clique posso comprar Cutting from Stone (947 KB, US$9,57) e The Man from Beijing (616 KB, US$10,58). É mais barato, mais rápido, e até mais ecológico. E se eu não gostar, não preciso me preocupar em me livrar do exemplar.


*não que isso seja tão fora do normal: a Oprah tem um celebérrimo clube do livro que tem feito muito pela promoção da literatura -- sou a favor.

30.8.11

Saladinha show

Primeira vez que coloco uma receita aqui no blogue -- até porque não sei cozinhar.
Acontece que: na (vã?) tentativa de perder três quilos muito obstinados que parecem ter se apaixonado por mim e não querem me deixar por nada desse mundo, tenho tentado comer menos pão e arroz, e concentrar os almoços em carnes com salada. Por isso, compartilho aqui a saladinha show que tem me feito um pouco mais feliz nessa dureza que é a vida de dieta.


O básico: 

  • alface (crespa, roxa e verde)
  • rúcula
  • tomate em rodelas ou tomatinho cereja
  • cebola crua em rodelas
  • pepino em rodelas

O molho:

  • azeite extra virgem
  • molho shoyu
  • ervas finas

misture tudo numa molheira e sirva com a colher. (Em tempo: esse molho é um coringa, fica bom no arroz, peixe etc.)


Os frufrus que fazem a diferença:

  • mostarda à moda antiga ("à l'ancienne"), aquela que vem com as sementinhas
  • queijo branco (melhor opção: de cabra; se não estiver com essa grana toda: cottage - mas eu só gosto da marca St Martins, as demais acho cremosas e enjoativas demais; ou então queijo Minas)

O crème de la crème:

  • amêndoas em lascas tostadinhas no forno elétrico, ainda quentinhas
Pode não ser a salada mais diet do mundo, mas pelo menos é muito gostosa!

28.8.11

A decadência do sabor-chocolate

É hora do lanche, que hora tão feliz, queremos biscoitos São Luiz!

Não adianta. Por mais que tentemos levar a cabo uma alimentação consciente, saudável, orgânica e o escambau, ainda somos todos fãs da boa e velha gordura vegetal hidrogenada, presente em dez entre dez bobagens comestíveis. Simplesmente não é possível viver incólume aos produtos industrializados que conquistam pela praticidade, preço, acessibilidade e doses cavalares de açúcar.
Meu primo F. já me havia convencido de sua teoria sobre o sabor-morango. Segundo essa teoria, o sabor-morango é o que encontramos em biscoitos, danoninhos, bolinhos Ana Maria, balas e picolés. Não tem absolutamente nenhuma relação com a fruta morango, daí a pertinência do hífen em sabor-morango: é um terceiro vocábulo cujo significado em nada se relaciona com as duas palavras que o compõem (sabor e morango). Então você pode ter, por exemplo, uma torta feita com a fruta, e será uma torta de morango. Ou você pode usar as essências e a massa pronta, sem usar a fruta, e terá um bolo de sabor-morango. Coisas muito distintas.
Recentemente me dei conta que o mesmo acontece com o chocolate. Existe também o sabor-chocolate, encontrado nos mesmo produtos (biscoitos, bolos etc.). E é neste caso que temos percebido uma forte decadência em relação a uns vinte anos atrás.
Não é questão de nostalgia ou de coisas que achávamos incríveis quando éramos crianças e simplesmente crescemos para parar de idolatrar, como desenhos do He-Man e Caverna do Dragão. Não. As coisas realmente pioraram muito. Marido foi o primeiro a acusar o golpe. Reparou, com muita propriedade, como o Biscoito Bono de chocolate é hoje em dia muito, mas muito inferior ao então chamado Biscoito São Luiz de chocolate. Teoricamente deveria ser a mesma coisa, que só mudou de nome -- e de peso líquido, pois o que mais se vê hoje em dia são os avisos nas embalagens: redução de peso de 20%, redução de quantidade de 15% (isso em pacotes de biscoito, fralda, pão de queijo, qualquer coisa). Mas enfim, tergiverso. O importante é que o gosto do biscoito sabor-chocolate piorou muito. É um biscoito recheado, pois não. Os biscoitos que circundam o recheio têm hoje um gosto indefinido, fraco, esfarelento, rarefeito. É praticamente uma bolacha qualquer, não tem mais o, como direi?, o punch do chocolate.
Além do Biscoito Bono, outra vítima foi o Nescau. O que aconteceu com o Nescau?! Ficou ruim. Ruim mesmo! E fraco também. Parece uma tática para obrigar e colocar 200 colheres de Nescau num copo de leite para torná-lo ligeiramente amarronzado. E o pior é a insipidez: coloco 200 colheres e o leite fica com gosto de... leite!
A verdade é que tem sido uma luta não me tornar uma pessoa do tipo no-meu-tempo-tudo-era-melhor.

26.8.11

Segunda chance

Uma das 850 vantagens de morar perto do trabalho e poder almoçar em casa é que com isso você tem uma segunda chance de acertar a roupa do dia. Quem é que nunca subestimou a frente fria e saiu só de blusinha sem marga para chegar à esquina tiritando, ou ao contrário, olhou pela janela, viu umas nuvens, meteu um casaco de lã e uma echarpe à guisa de cachecol só para descobrir, na hora do almoço, que a temperatura está na casa dos 35 graus? Pior ainda é ser enganado pelo sapato pseudoconfortável que te faz chorar de arrependimento o resto do dia.
Indo para casa na hora do almoço é possível corrigir essas distorções - isso para não falar da delícia que é, no auge do verão, poder tomar um banho no meio do dia para encarar a tarde.

Então pronto ok, já matei todos de inveja, posso dar a semana por encerrada.
Tchaubeijomeliga.

25.8.11

Empacando vidas

Como vocês sabem, aproveitei minhas duas semanas de férias para fazer coisas excitantes, como ir ao dentista e fazer a vistoria do carro. No caso, a vistoria de transferência de propriedade, já que compramos o carro que era da minha mãe. Agendei em maio a vistoria em agosto. E no dia e hora marcados, fui para o posto no Catete munida de um arsenal de meditações zen e coisas para fazer, ler e a determinação de não me aborrecer.
A vistoria em si é rápida e acontece inclusive na hora marcada, o que demora é a emissão do novo documento. Como as pessoas estavam ali esperando havia horas (literalmente) sentadas numas cadeiras desconfortáveis, em um local praticamente ao ar livre (que não gosto nem de pensar como será no verão), resolvi dar uma volta pelo Largo do Machado, que sempre tem coisas interessantes para se ver (ou pelo menos mais interessantes do que o posto do Detran), e além do mais precisava apanhar uma radiografia periapical completa (ui!) numa clínica dentária, para a consulta odontológica do dia seguinte.
Quando voltei, munida de água mineral gelada sabor limão e o último número da Piauí (o da queda do Jobim), já tinham gritado meu nome (sim, os funcionários ficam dentro de uns trailers com janelinhas deslizantes, e de quando em quando gritam o nome da pessoa em questão, um luxo só). Então fui até a janelinha, me identifiquei e apresentei todos os meus documentos. A mocinha que me atendeu era nova (incrível como sempre pego os novatos nessas situações), e ficou tirando dúvidas com a funcionária veterana ao lado. Depois de alguns percalços e digitações erradas, finalmente saiu o documento em meu nome. Mas com o ano de 2010.
-- Vem cá, meu bem, por que está escrito 2010 aqui?
-- Porque falta pagar o IPVA.
-- Eu sei, não pude pagar antes porque a antiga proprietária (minha mãe) é isenta de IPVA. Posso pagar aqui agora?
-- Não. A senhora tem que pagar e então agendar a vistoria anual?
-- Como assim? Eu acabei de fazer a vistoria anual há... 1 hora atrás.
-- Pois é.
-- Não posso apena pagar o IPVA? Tenho que fazer nova vistoria?
-- (risinho amarelo)
Cumpri à risca minha determinação de não me aborrecer. Até poderia tentar ligar para o Detran e explicar o absurdo da situação, na esperança de não precisar fazer essa surreal segunda vistoria, apenas pagar o IPVA devido (o que até já fizemos). Mas sinceramente, qual a minha chance de sucesso?

O curioso é que, enquanto esperava a emissão do documento, observei que alguns funcionários do Detran usam uma camiseta institucional, sobre emplacamento, onde se lê: Detran-RJ - Emplacando Vidas. Só que o "Emplacando" é escrito em letra bastão, e o "Vidas" vem na linha de baixo, em letra cursiva meio na diagonal, e o traço do V passa bem por cima do "L" do "Emplacando". O que muito me lembrou a teoria freudiana sobre as motivações psicanalíticas dos atos falhos.

23.8.11

Fogo de Chão carioca ainda meio tépido

A vista é a melhor iguaria
Há pouco tempo foi inaugurada a primeira filial carioca da famosa churrascaria paulista Fogo de Chão. A localização é espetacular: na enseada de Botafogo, caindo praticamente sobre a baía de Guanabara. Como meu trabalho tem vista justamente para este lado, eu e meus colegas de sala acompanhamos ansiosamente o andamento das obras. Por fim na semana passada fomos, em caravana, conhecer o famoso churrasco gaúcho que faz a fama da casa em suas diversas filiais mundo afora.
Como o escritório é bem perto, fomos a pé, e passamos pelo primeiro percalço. É que a entrada é praticamente só para carros. Quem vai a pé tem de subir uma rampa -- a mesma dos carros, dividindo o espaço com eles. Não é muito agradável.
Mas depois que se entra tudo melhora. O ambiente lá dentro é bonito e moderno, conseguimos uma mesa junto aos imensos janelões de vidro, que dão para um deck, e o resto é mar. Os garçons usam um figurino gaúcho típico que acho meio caricato, mas não chega a incomodar e deve ser marca registrada da rede. E vale dizer que os garçons são um dos pontos altos: simpaticíssimos, super presentes e solícitos.
O bufê das saladas é apenas correto (gostei mais, por exemplo, das saladas do Da Silva do Centro, que merece um post dentro desta nova tag restaurantes). As variedades de praxes, belas folhas, queijos e poucas opções de molho.
Os acompanhamentos para as carnes me pareceram um pouco estranhos: farofa de ovo, pão de queijo, queijo na brasa, banana frita, cebola frita. Mas tudo bem, estava lá mesmo era para provar as famosas carnes! Mas oh, foi justo aí a maior decepção. Salvaram-se a picanha e um outro corte cujo nome não me lembro, mas no geral ficou léguas abaixo da minha expectativa (e dos R$92 que custam o rodízio!). Duas das carnes que mais gosto, linguiça e paleta de cordeiro, estavam incrivelmente duras. E ainda por cima, eu e T. fomos brindadas com facas cegas, o que tornava o ato de cortar a carne um empreendimento e tanto (verdade que assim que comunicamos o fato ao garçom ele trocou na mesma horas, mas mesmo assim, facas cegas? francamente!). As carnes vêm numa velocidade espantosa, e se você estiver com o cartãozinho verde virado para cima ("Sim, por favor!"), nem dá pra conversar, tantos são os gaúchos surgindo de todos os lados com espetos imensos.
Não sei se eles ainda estão se adaptando, se os fornecedores não são os melhores, mas eu fiquei decepcionada e não pretendo voltar tão cedo. Continuo achando a Porcão e a Marius opções bem melhores na categoria churrascaria rodízio.
E pelo visto, não sou só eu: outras críticas pouco lisonjeiras aqui e aqui.

21.8.11

Maternidade, cemitério de ilusões

Cinco anos de blogue, e esta foi a primeira vez que passei um mês sem postar nada. Como dizia aquele antigo desenho do Pica-pau, em todos esses anos nessa indústria vital, esta é a primeira vez que isso me acontece. Não teve muito motivo para a ausência além daqueles de sempre. A correria, as crianças, etc. Some-se a isso tudo meus 15 dias de férias, e o fato de que fiquei escrevendo um post enorme sobre a falência da Borders, segunda maior cadeia de livrarias dos EUA, ocorrida em julho depois de lenta agonia, mas o post ficou tão grande e complexo, cheio de números e análises, que desisti de publicar. O que me interessa mesmo é falar sobre o futuro do mercado editorial, dentro do qual a ponta que corre mais perigo imediato é, naturalmente, a das livrarias, com o advento e a popularização do e-book, que nos EUA já tomou uma proporção com que o mercado brasileiro ainda nem sonha. E dizer também que eu acho o e-book uma coisa ótima e que faz todo sentido em muitos aspectos, ainda que não vá, é claro, fazer o livro impresso desaparecer.

Mas enfim, o título deste post. Com as férias e a maior convivência (forçada) com as crianças, algumas coisas se tornam mais perceptíveis. Por mais que a gente assuma e reconheça o mito da maternidade, ainda é muito difícil aceitar certas situações. Como a de que você fica de saco cheio dos seus filhos com uma frequência enorme. Principalmente se tem de passar o dia inteiro com eles. É difícil pacas aceitar o fato de que eles também têm dias ruins, e que isso não tem necessariamente a ver com você, a mãe. Não é pessoal, saca? A gente sabe que lá pelos 4 anos a criança começa a perceber que não é o centro do universo, mas que tal a mãe também se dar conta de que nem sempre é o centro do universo dos filhos.

E tem mais: não adianta, que não seremos sempre a mãe que tem ideias geniais para um fim de semana de chuva, nem a mãe que leva os filhos ao parque num fim de semana de sol e brinca incansavelmente. Isso acontece, é claro, e ainda bem. Mas no mais das vezes, não acontece. Como diz a ScaryMommy, não adianta querer competir com a mãe que cria sensacionais e deliciosas receitas orgânicas com a ajuda dos filhos, ou com aquela outra que tem um talento ímpar para inventar fantasias e acessórios de origami que deixam os pequenos mesmerizados. Porque essa mãe tampouco é infalível, e deve ter uma lista ainda maior de coisas que faz pessimamente.

O desafio é tentar encontrar o equilíbrio entre concentrar e aprimorar os pontos fortes (no meu caso, ajudar a fazer cartões de agradecimento com cola e purpurina, e depois mandar pelo correio em lindos envelopes customizados; ajudar no dever de casa; andar de bicicleta com criança; brincar de "cadê?/achou!" 750 vezes seguidas) e melhorar os pontos fracos (basicamente, não me comportar como outra criança de 3 anos e meio nos momentos de crise aguda; gerenciar melhor a frustração e a impaciência quando o bebê de quase 10 meses não quer comer a papinha que você teve o maior trabalho pra fazer, ou quando o bebê não faz qualquer coisa que você quer muito que ele faça, como dormir, por exemplo).

É, a gente se cobra muito, e não tem como ser diferente. Tem que se cobrar e sempre procurar melhorar, sim. Mas temos que ser mais realistas do que achamos que já somos. Lemos tanto sobre os desafios e dificuldades de ser mãe, que achamos já estar mais ou menos preparadas. Mas não estamos. Todas temos problemas para encontrar o limite entre a necessidade e o desejo de ter um tempo para si -- e quase escrevi "real necessidade" e "simples desejo", o que já é uma forma de diminuir a importância do desejo, uma perspectiva por demais apolínea.

Parece que a vida está sempre nos pregando peças, criando pequenas armadilhas para testar a nossa capacidade de crescer e multiplicar.

Pra terminar: hoje foi um daqueles dias em que a inspiração vem e tudo ajuda. Minha avó está com muita saudade de Mathilde, mas ela não queria ir para a casa da Bisa. Então propus que ela se fantasiasse de Chapeuzinho Vermelho, com cestinha e tudo, e fosse levar uns doces para a vovozinha. Sucesso absoluto.

Pela estrada afora, eu vou bem sozinha...


21.7.11

Da série: Grandes equívocos do capismo nacional

Nova Fronteira, 2004
(mesma capa da edição portuguesa da Oficina do Livro)
Companhia das Letras, 2011
Como vivo dizendo por aqui, Equador de Miguel Sousa Tavares é um dos meus livros-missão. Acho sensacional e vivo querendo espalhá-lo pelo mundo, emprestando ou dando de presente. Até hoje nunca falhou: todo mundo adora. (E os outros livros do mesmo autor não fazem jus à fama. O romance seguinte, Rio das Flores, é uma porcaria.)
Equador é o livro ideal para dar de presente a pessoas que não conhecemos bem a ponto de identificar os gostos literários. Ontem fomos ao aniversário de uma pessoa que conhecemos pouco, e que além do mais mora nos EUA, o que restringe um pouco as possibilidades de acerto, porque, caso ela seja uma leitora voraz, tem muito mais chance de já ter lido os maiores bestsellers internacionais em inglês.
Na livraria vimos as duas edições acima. A da Nova Fronteira capta muito bem o clima do livro, além de ser muito bonita, mas ela se torna mil vezes melhor quando a comparamos com a nova arte que a Companhia das Letras agora põe no mercado, completamente equivocada com seu espírito de romance-literário-moderninho-britânico-vencedor-de-Booker-Prize. Nada a ver. Naaaaaada. A. Ver.
(O que pensará O Capista?)
No fim das contas compramos a nova porque custa dez reais a menos. Mas quase comprei a antiga só por causa da capa.

(Sobre a festa: a aniversariante é física. Tipo, astrofísica, uma parada sinistra. Daí que na festa tinha uma porção de físicos, que naturalmente ficaram mais conversando entre si. E eu, tão acostumada a conviver com jornalistas e coisas desse tipo, gente que adora dar pitaco sobre tudo e que costuma poder falar sobre o seu trabalho com qualquer um, dado o caráter generalista da função, fiquei pensando como deve ser solitário trabalhar em uma área em que não dá nem pra começar a explicar para uma pessoa leiga. Em suma: um bando de malucos!)