Pelo que eu sei, não existe um apelido para o clássico Flamengo x Botafogo. Flamengo x Vasco é o Clássico dos Milhões, por serem os clubes de maior torcida do Rio; Botafogo x Fluminense é o Clássico Vovô, por serem os clubes mais antigos; Flamengo x Fluminense é o Clássico das Multidões, mas eu acho que deveria se chamar Clássico dos Clássicos, uma vez que Fla-Flu já transcendeu seu significado original para remeter a qualquer rivalidade acirrada. (Em Lisboa vi uma pastelaria que se chama Flu-Fla. As informações chegam lá meio truncadas.)*
Enfim, não há um nome-fantasia para Flamengo x Botafogo. Mas posso dizer que é Clássico Aqui de Casa. É daqueles dias em que toda civilidade é pouca, em que nós dois pisamos em ovos. É um dia de muitos silêncios entre este casal. Um silêncio respeitoso, nunca de escárnio, jamais um risinho no canto da boca. Nada, nem um comentário.
Ele foi ao Maracanã, eu fiquei em casa. Ele voltou, e agimos como se nada tivesse acontecido. Ele está no maior mau humor até hoje. Eu agüento. Eu estou de ótimo humor. Mas não demonstro.
Assistir a um jogo de final de campeonato sozinha em casa é uma forma de auto-conhecimento. Pela experiência de ontem, descobri que sou uma pessoa que foge dos problemas, em vez de encará-los de frente. Pois quando vi o Flamengo levar uma coça do Botafogo no primeiro tempo, esmagado pela óbvia superioridade do adversário, e tomar dois gols no primeiro tempo, o que eu fiz? Mudei de canal. Fiquei vendo qualquer porcaria no Telecine, no GNT, no Canal Comunitário, na TV Senado... Irritada, apertei o Mute e fiquei trabalhando na mesa ao lado da TV. Sabia que, se algo acontecesse, ouviria a reação dos vizinhos (aqui na rua a torcida Arco-Íris é imensa). E aí, algo aconteceu. E no segundo tempo eu pulava no sofá e gritava sozinha, num espetáculo meio patético, olhando em retrospecto. E depois de devidamente empatado o jogo, ainda houve uma cobrança de falta aos 43 do segundo tempo. Para a maioria dos flamenguistas, uma cobrança de falta aos 43 do segundo tempo é um evento de gloriosa memória, desde o dia 27 de maio de 2001**. Mas como Renato não é Pet, a bola bateu no travessão e eu dei apenas mais um pulo no sofá.
Deixamos então a decisão para o próximo domingo, quando provavelmente nós dois estaremos no Maracanã, em lados opostos.
Às vezes acho que as coisas são mais fáceis quando não se gosta de futebol.
*Ah, a internet. A Wikipedia tem uma lista de clássicos brasileiros, por região. Só assim para eu saber que Remo x Paysandu é o Clássico-Rei da Amazônia, América x Náutico é o Clássico da Técnica e Disciplina e Itabuna x Colo-Colo é o Clássico do Cacau.
** Didatismo: final do Carioca, Flamengo x Vasco. O Vasco era favorito e podia perder por até um gol. De fato perdia, estava 2x1 pro Flamengo, placar que dava o título ao Vasco. A frustração era enorme, ganhar o jogo e perder o campeonato. Até que aos 43 minutos do segundo tempo Petkovic marcou um gol de falta, uma pintura. 3x1, Flamengo campeão. Tricampeão, aliás. Foi a terceira final consecutiva entre os dois times, e a terceira vez seguida que o Vasco foi vice.
7 comentários:
Aqui na Bahia, além do Clássico do Cacau, tem também o Clássico da Laranja, mas esqueci quais são os times. Agora, Clássico da Técnica e Disciplina é de doer.
Também assisti o jogo sozinho ontem, mas não mudei de canal. Fechava os olhos em alguns momentos, mas tudo bem. O problema é que empate com gosto de vitória não dura muito, né.
Tenho a leve impressão de que foi um botafoguense quem fez a parte do "Interestaduais" na página da Wikipedia. Dá uma olhada lá e diz se concorda.
Tenho dois irmãos, um fanático pelo Flamengo e outro fanático pelo Vasco.
Eu gosto de futebol mas não tenho time do coração. Era engraçado ver um Flamengo e Vasco decisivo ao lado deles. Só faltava sair tapa. Aliás, nem faltava, eles chegaram a se pegar por causa de jogo, hehehe.
rodrigo, tem razão, eu nem tinha reparado. Só pode ter sido um botafoguense. Porque todo o resto virou "entre outros"...
Eu adorei Clássico da Técnica e Disciplina. É completamente utópico.
marcus, o que aconteceu na sua família?! Um irmão rubro-negro, um cruz-maltino e um que não liga? Muito estranho, hein.
Não me chateie a falar de futebol neste tempo de hoje... ahaha... um dia conto minha épica aventura futebolística no blog.
Anna,
Também adoro futebol. Tenho dois times do coração. Eles me dão a mesma alegria, indiferenciáveis. O Santos e o Corínthians. Estranho? Garnto que não é. O Santos, quando ganha, o Corínthians, quando perde.
Beijão
Pois é,Ana.Gosto muito de futebol mas às vezes,não coloco no mute mas saio da sala e vou lá pro fundo do quintal.Se acontecer alguma coisa eu sei pela vizinhança.E meu oi dá uns ataques e me manda uma mensagem dizendo de quem foi o gol.Um beijo.
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