25.11.09

Da dificuldade da coisas simples

Li este post da Meg, e me lembrei da festinha de 1 ano da filha de uma amiga (que tem outra filha mais velha, de 3), que aconteceu na semana passada, e eu fui com Mathilde.
O convite (lindamente decorado) dizia assim:

Fulana faz 1 aninho, vamos comemorar!
Decidimos comemorar a data de forma bem simples.
Vai ser uma manhã no play para a criançada, pretendo alugar um pula-pula e levar os brinquedos das meninas lá pra baixo.
Graças a Deus, a Fulana é uma criança cheia de saúde e personalidade. E graças a Deus também não lhe falta nada! Tem um armário cheio de roupas que quase não cabe mais nada, um quarto cheio de brinquedos de todas as cores e tipos (tantas e tão generosas são as pequenas que chegaram antes dela).
Por isso queria pedir com toda sinceridade que vocês não comprassem presentes nesta data, queremos apenas a presença de vocês!
Quem quiser chegar mais cedo no dia para ajudar na produção, será muito bem vindo.
Quem ficar se sentindo de mão abanando e quiser trazer um cartão de aniversário bem lindo ou fazer uma contribuição com a animação da festa (trazendo uma brincadeira, uma fantasia emprestada ou um violão pra tocar) fique à vontade também.
O tema da festa é: festinha ecológica!
Sem embalagens, sem descartáveis de plástico, etc.
Queremos que a nossa Fulana viva em um mundo lindo e limpo... pra isso temos que mudar os nossos padrões de comportamento!
Com sinceridade,
Beltrana.

Eu gostei muito do conceito, e sempre tive essa questão com os presentes obrigatórios. Além disso, achei que a mãe, autora do convite, acertou no tom para abordar uma questão nem sempre fácil.
Bom, nós fomos na festa, que foi exatamente como descrito no convite. Tinha ainda uma coisa muito legal: não tinha música (que alívio!) e não tinha ninguém dirigindo as crianças, promovendo brincadeiras assim ou assado. No fundo, quem fez mais o papel de animadora fui eu, porque Mathilde só queria ficar no pula-pula, só queria que eu ficasse lá também, e como tinha outras crianças no pula-pula, promovi umas brincadeiras coletivas que devem me ter feito perder uns dois quilos, no mínimo.
A festa era ecológica (tinha muitas frutas, sucos, água de coco, pães, queijos, geleias), mas não deixou de ter parabéns com bolo de chocolate e brigadeiro. E tinha ainda uma coisa muito bem sacada: almoço para as crianças (arroz, feijão, batata cozida e carne moída), para cada pai servir na hora que achasse melhor (sem o momento "oficial" Hora do Almoço).
Enfim, eu achei um sucesso. Todas as crianças pareceram se divertir muito, cada uma a seu modo. Mathilde saiu carregada, desmaiada de tanto cansaço. Dormiu das 14h às 18h, de tão exausta. (Depois acordou a mil por hora e a esperta aqui é que se deu mal).
Dois dias depois escrevi para minha amiga, a mãe da aniversariante, dizendo o quanto eu tinha gostado da festa, dando parabéns pela iniciativa, etc. etc.
No fundo eu já meio que imaginava que resposta receberia:

"obrigada pela mensagem...
você talvez tenha idéia do trabalho que dá romper com padrões sociais simples...
o custo emocional é bem alto e apesar de você ter gostado... muita gente repudiou com veemencia a minha atitude!
A presença de vocês foi fundamental e me deu a certeza de estar no caminho certo!
Não devia ser tão difícil fazer uma coisa tão simples!"

Não, não devia mesmo. É preciso muita coragem para peitar essas convenções em nome de uma convivência obviamente mais saudável entre as pessoas. Que mundo é esse em que as pessoas se sentem ofendidas quando você pede que não se dê presentes para uma criança de UM ANO, que obviamente não entende ainda o que é isso e não se sente infeliz por não ganhar presentes.
Longe de mim não reconhecer o prazer de presentear. Mas é duro ter que batalhar tanto em nome de coisas tão simples.
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7 comentários:

Anunciação disse...

Muito corajosa a sua amiga;transmita-lhe meus parabéns;pena que as mentes ainda não se abriram a um novo modo de ver a vida e perdem os prazeres simples e gostosos.

Anônimo disse...

OiAnna,

adorei o post - essa é minha ideia de festa de um ano para minha pequena, que vai ser no carnaval - nada de casas de festa com oito caixas de som e animador com megafone estourando os timpanos das crianças.

e eu também estava sem saber como dizer as pessoas que ela tem tudo ... me deixa muito triste ela ter vestidos que nem usou ainda e já vai perder e brinquedos que nem eu lembro que existem ...

enfim ... obrigada pelas ideias !!!

Vivi

Camilo disse...

Deveras interessante!
Quanto às reações contrárias, às vezes nem com uma britadeira a gente consegue "abrir a cabeça" das pessoas.

Flávia disse...

Pois eu acho o seguinte (dois filhos depois, 15 anos de maternidade,26 festinhas de experiencia): sempre abominei animaçoes histericas, musiquinhas infantis, etc, etc. As festas dos meus sempre foram as mais diferentes, com caça ao Minotauro no Parque Lage, festa das formigas com um formigueiro incrivel de paçoca, eu enrolei cada brigadeiro, cada salsicha no cachorro quente fui eu quem lá a coloquei. Mas quanto aos presentes, aniversário é o único dia qué só nosso, da criança, uma data tão especial, Natal, dia das crianças, páscoa, é igual pra todo mundo, aniversário não, é o seu dia. Por isso mesmo acho o maximo ve-los ganhando presentes, sendo festejados, lembrados. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Acho que os pais nao devem impedir os filhos de viver a alegria de um bom presente de aniversario (quem nao gosta de ganhar presente, pode me dizer? a mãe da Fulana nao gosta? Duvideodó) em nome de um way of life politicamente correto que, falando seriamente, no mais das vezes vira uma bela duma ditadura.
É o que eu acho... Adoro seu blog, sempre li, nunca comentei, mas aqui estou. Voila!
beijos, Flávia

MegMarques disse...

Genial essa sua amiga!!!
Eu também queria ser amiga dela, mande-lhe um beijo meu!

Magda Carlos disse...

É a primeira vez que leio seu blog. Vim pelo Cadê o Revisor.

Nossa...Amei demais esse post. Sei que é muito difícil ter essa consciência, mas se cada um fizer um pouquinho que seja já fará a diferença. Adorei a ideia da sua amiga. Fui professora por longos dez anos e participei de inúmeras festinhas de crianças, mas nenhuma, por mais que quisesse parecer diferente, chegou aos pés da iniciativa da sua amiga. Parabéns a ela pela festa e a você pelo blogue :)

anna v. disse...

Anunciação: exatamente. os prazeres mais simples são os melhores.
Vivi: que bom que você se sentiu inspirada pelo conceito da festinha. que o aniversário da sua filhota seja um sucesso!
Camilo: sim, cada dia temos uma nova prova disso.
Flavia: também concordo contigo que, se há uma data legal para dar presente é o aniversário, justamente por ser único. Mas chamo atenção para o fato de ser um aniversário de um aninho, quando a criança não tem qualquer expectativa de ganhar presente, tampouco consciência do que venha a ser isso.
Meg: você já é grau 2 da minha amiga, haha.
Magda: obrigada pelo comentário e por palavras tão simpáticas.