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O que acontece é que me acostumei tanto com essa noção de ser a mulher maravilha, que falar as mil e uma variações de "pode deixar", "eu faço", "eu vou", "eu resolvo" vira quase um movimento muscular involuntário. Não é que eu não peça ajuda quando preciso; é mais uma questão de nunca recusar o desafio quando alguém pergunta se você dá conta.
E a verdade é que dizer "deixa comigo" quando eu realmente não sabia se daria conta do recado, dizer "não se preocupa" por uma questão, acima de tudo, de princípios, foi algo que me ensinou muita coisa boa. O que às vezes parecia uma estratégia quase suicida acabou se revelando uma bela fonte de conhecimento não só das minhas próprias capacidades como também da real dimensão das coisas. Onde eu achava que haveria uma dificuldade imensa, onde eu antecipava um mega problema, as coisas acabaram por se desenrolar suavemente, tudo sob controle. Tantas e tantas vezes, o que começou por puro orgulho de não querer demonstrar fraqueza terminou se revelando um bicho-papão totalmente imaginário.
Mas, hélas, nem sempre.
E então, qual não foi a minha surpresa quando, no meio daquela oportuna taça de vinho da Patagônia com que encerramos o domingo, ele veio me consultar sobre o trabalho que pintou envolvendo no mínimo 10 dias de viagem, para a segunda quinzena de novembro -- ou seja, antes de Oliver completar seu primeiro mês --, o meu "que ótimo, tudo bem!" saiu acompanhando de um mar de lágrimas que pegou nós dois desprevenidos. Ficou patente que eu não achava nada tudo bem, que queria que ele ficasse comigo, conosco. Mas é que pra mim é tão feio achar isso tudo, tão egoísta, tão dependente, tão pequeno.
O pior é que o tal trabalho é realmente muito bacana. E, ironia das ironias, é um projeto concebido e elaborado por mim quando estava no meu emprego anterior, em 2008. E que só agora está se concretizando, e de uma forma ainda mais intere$ante do que aquilo que eu tinha bolado originalmente. Haja sentimentos contraditórios.
E no entanto, verdade seja dita, é bom, muito bom, encarar suas fraquezas de quando em vez. Chegar lá no seu limite e dizer: Daqui não dá pra passar. (Ou, como ilustrado acima, "I do care. I wouldn't rather sink than call Brad for help". Thanks, Roy.)
Ou então, vai ver que são só os hormônios.
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5 comentários:
Quem sou eu pra dar conselhos a mulheres maravilhas. Eu precisei muito e preciso ainda do meu parceiro para ter meu equilíbrio e conseguir dar conta desse negócio de ser mãe e mulher super poderosa!
Provavelmente conseguiria sem ele mas com ele fica tudo mais fluido, infinitamente mais fácil e confortável para todos nós!!!
Torcendo para tudo dar certo para voces 4
beijos
Nossa, me vi inteiramente na sua descrição/narração, sou eu que nunca deixo ninguém na mão, que resolvo tudo e ontem, que me sinto totalmente desafiada com a simples sugestão da coisa a fazer. Anna, vc é aquariana com ascendente em sagitário? Somos gêmeas no quesito 'não há quase nada que eu não possa fazer e (pior) bem :)', e isso é insanidade, claro.
Nunca, nunquinha deveria ter topado grande parte das coisas para as quais nunca pedi ajuda - e ainda hoje tenho muita dificuldade com isso.
Bem-vindas lágrimas, mas será que o projeto dele não pode mesmo ser adiado? Torço por isso.
grande abraço,
clara
Anna,
para mim é um exercício encarar as fraquezas, e quando o bate melodrama sei que é hora de pedir socorro. Não vejo como um ato egoísta (e a escolha da obra é ótima). Não sei bem como colocar, mas ando meio sacuda com um certa pressão de ser mulher maravilha...Criança acordou aos berros...
Acho mais do que certo vc pedir ajuda quando acha que, sozinha, não vai dar conta tão bem quanto possível.
Porque dar conta, a gente dá, de tudo. Mas, ás vezes, às custas de um sacrifício pessoal e emocional tão grandes que não há $ que compense.
mil beijos
Pois eu passei um tempão desaprendendo . Gostei do resultado. Posso ser não, posso dizer não. Ufa! Posso não fazer. E a vida continua - alívio.
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