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Foi só quando a médica da ultrassonografia afirmou, categórica, que era um menino, que eu me dei conta do quanto eu queria que fosse outra menina. Passei o resto do dia um pouco para baixo, quieta e ensimesmada. Dei a notícia para quem não poderia deixar de saber, desliguei o celular, saí do programa de mensagens instantâneas do GMail, voltei pro trabalho e não disse nada a quem nada me perguntou.
Uma reação emocional que eu primeiro atribuí à minha própria comodidade: 2 meninas é mais fácil de serem amigas, terem mais interesses em comum, brincarem mais juntas, dividirem o mesmo quarto. Sem falar nas roupas, sapatos etc. Em suma, eu já sei como é cuidar de menina -- e gosto. Portanto, queria mais.
Depois comecei a tentar entender por que estava sentindo isso assim tão forte. E me lembrei de como, na primeira gravidez, eu queria muito que fosse um menino. Achava que eu tinha um jeito de mãe de menino, que menina era uma coisa muito mimimi que não tinha a ver comigo etc. E aí veio Mathilde. E eu me apaixonei por ela de tal forma que, claro, quis que ela se reproduzisse, que surgisse uma segunda Mathilde agora. O que obviamente jamais aconteceria. E por conseguinte seria uma grande decepção.
De modos que graças à razão consegui reverter a situação, e achar bom que agora seja um menino. Poliana, meu sempre presente Grilo Falante, me diz que será muito importante viver essa nova situação, de ser mãe de um menino. Que mãe de menina eu já sou e já sei como é, que está na hora de encarar vivências e desafios diferentes. E eu falo, já meio sem graça, Mas pô, Poliana, e esse tanto de vestidinho tão lindo? Mas ela nem me dá ouvidos.
Então é isso. Realizando o sonho pequeno-burguês do casalzinho. Ha.
Ainda não tem nome, mas aqui neste espaço já está decidido que será Oliver -- assim como Mathilde, é o nome de um dos filhos do Freud.
(Freud teve 6 filhos. Na ordem: Mathilde, Martin, Oliver, Ernst, Sophie e Anna. É revelador que os nomes dos meninos tenham sido homenagens a três de seus maiores heróis: Jean-Martin Charcot, professor que muito o influenciou no início da carreira; Oliver Cromwell, o líder da Guerra Civil Inglesa do século XVII (Freud era anglófilo toda vida); e Ernst Brücke, outro professor, psiquiatra e psicólogo que exerceu grande influência. Três nomes de personagens cuja força intelectual fascinava o jovem Freud. Já os nomes das meninas são homenagens "domésticas": Mathilde por causa de Mathilde Breuer, mulher do médico com quem Freud escreveu os Estudos sobre a Histeria [além de personagem de Quando Nietzsche Chorou]: Mathilde Breuer ajudou muito Martha Freud durante sua primeira gravidez; Sophie em homenagem a Sophie Schwab-Paneth, amiga das irmãs de Freud e mulher de um colega médico de Freud, Joseph Paneth: Sophie e Joseph ajudaram Freud na juventude, emprestando uma considerável soma em dinheiro -- principalmente Sophie, que era mais rica que o marido; e Anna era o nome de uma das irmãs mais jovens de Freud. Três mulheres que se destacavam por suas qualidades afetivas. Sobre os filhos homens sei muito pouco, mas imagino que Ernst tenha o sido o mais interessante, porque foi o pai de Lucien Freud, o pintor (gosto muito), e Clement Freud, o escritor, autor de Grimble, um livro que li no ensino fundamental e simplesmente amei. Mas não posso usar como pseudônimo para o meu filho um nome que tenha 4 consoantes seguidas, e que eu nem mesmo sei pronunciar corretamente. Então fica mesmo o Oliver, que na verdade nem me parece um nome possível, mas tão somente um pseudônimo.)
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10 comentários:
como vc mesma concluiu, cada filho é uma surpresa, um mistério que vai sendo desvendado. vc vai se dar bem.
É um lindo mistério;trabalhoso,sim,mas maravilhorso.
Anna, esta sua história me deu vontade de sentar com você para um café.
Veja que cena interessante, ontem peguei o David sentado em cima da mesa da cozinha comendo e jogando frutas no chão. Estou exausta só de pensar na viagem de hoje com esta criatura, como dizem na Espanha.
Você vai curtir ter um "casal". Eu consegui aproveitar muita coisa que era da Estela, roupas e brinquedos.
Obrigada pelo momento educativo. Não sabia da filharada do Freud.
Eu ia falar do quanto é desafiador ser mãe de um menino e te dizer que com certeza você vai curtir muito a energia testosterônica pela casa, mas tive que parar tudo apenas para dizeu também AMO Grimble, inclusive já li para o pequeno Fridinho e ele se divertiu demais. :-)
Beijos
Parabéns pelo oliver, vai trazer novas cores ao cotidiano das meninas e alegrar o coração do menino pai :)
Acho que vc está longe de corresponder ao que quer que seja de qquer estereótipo pequen burguês, vai ter seus filhos para a vida, vai criá-los com amor e dignidade e serão pessoas do bem e saberão amar e ter compaixão pelo próximo, é o que acho e desejo.
um grande abraço, parabéns again,
clara
lá vem o Ângelo :-*
Oi Anna,
Aqui eu estava na maior expectativa pela Heidi ;D.
Fiquei feliz por voce ter o seu Oliver e voce vai adorar ser mãe de menino por que é muito legal e diferente de ser mãe de menina...
Parabéns!
Anna,
Você vai se apaixonar pelo Oliver também.
Beijo
Oi, Anna! Quanta novidade! Fazia tempo que eu não passava por aqui...
Parabéns pelo Oliver! As meninas que a gente educa são um pouco uma reedição de nós mesmas (embora geralmente melhorada). Criar um menino me parece experiência mais libertadora. No mais, deve ser um desafio interessante poder criar um homem do jeito que a gente acredita que eles devam ser...
Que o pequeno proporcione alegrias tão fartas quanto as que vocês têm com a Mathilde!
Abraços,
Cláudia
Osvjor: acho que vou me dar bem, mas tendo um pouco mais de trabalho.
Anunciação: é isso aí. Vamos à luta, então!
Isabella: acho a ideia do café muito boa. Vamos?!
Monix: que máximo! Eu não sei se ainda tenho o livro, tenho de procurar na casa da minha mãe. Se não achar, vou roubar o seu. ;-)
Clara: é, eu sei. No fundo já estou achando é bom demais.
Vache: hehe. lá vem, né?
Liliane: espero que sim...
Lord: com toda certeza, claro!
Cláudia: gostei do que você falou, de ser uma experiência mais libertadora, por não ser uma mini versão de nós mesmas. Tem toda razão! Obrigada.
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