20.2.07

A Mangueira não morreu


Há uns dois anos, uma amiga saiu no carnaval com a fantasia mais genial: "Beth Carvalho, madrinha do Brasil". Ela vestiu umas roupas de Beth Carvalho, botou uma peruca e saía distribuindo uns santinhos, uns cartões de visita, que diziam mais ou menos: "Madrinha profissional. Amadrinho o seu bloco, sua turma, seu condomínio, seu time de futebol etc.". Era, claro, uma sacanagem com a cantora, que adora dizer que é madrinha de tudo e de todos, e que "lançou" compositores como Cartola e Nelson Cavaquinho. Ha. Todo mundo sabe que a Beth exagera em muito sua própria importância. É uma mala, há muitos anos. Tem uns discos muito bons, sem dúvida, da época do seu auge, fim dos 70 e início dos 80, mas nos últimos 20 anos não fez nada de relevante.

Agora acompanho nos jornais o "drama" de Beth Carvalho, sem lugar em nenhum carro no desfile da Mangueira, tirada de cima do último carro, dos "baluartes" da Mangueira, na última hora. Tenho preguiça só de pensar o quanto ela vai fazer render essa história, o quanto vai conseguir desenvolver seu papel de vítima injustiçada. Vamos ver quantas vezes durante esse imbroglio ela vai invocar os nomes de Cartola e Nelson Cavaquinho? Confesso que ri um pouquinho quando li a declaração do carnavalesco da Mangueira: "Você acha que vou retirar uma pessoa que pagou caríssimo por uma fantasia para botar a Beth Carvalho?". Uau, que finesse!

Ao mesmo tempo, tenho conflitos internos quando vejo as fotos da Preta Gil de madrinha da bateria da Verde-Rosa. Porque no discurso a gente condena tanto a ditadura da beleza, a imposição de um padrão inatingível, a opressão da magreza etc. etc, e na hora em que aparece a filha do ministro, super assumida, mas com essas pelancas nos bracinhos penduradas e balançando pra lá e pra cá, ah, confesso que não dá. Ainda bem que na vida a gente não precisa mesmo ser coerente, porque francamente, achei um horror.
*
A Mangueira não morreu, nem morrerá
Isso não acontecerá
Tem seu nome na história
Mangueira tu és um cenário coberto de glória
("A Mangueira Não Morreu", Jorge Zagaia)

Mangueira,
Onde é que estão os tamborins, ó nega?
Viver somente do cartaz não chega
Põe as pastoras na avenida,
Mangueira querida
("Onde Estão os Tamborins", Pedro Caetano)

10 comentários:

Fer Guimaraes Rosa disse...

essa que eh a Preta Gil?

Rodrigo disse...

Preta Gil é demais para o meu repúdio à ditadura da beleza.

F. disse...

Se pelo menos a Preta Gil soubesse sambar... Mas nem isso!

anna v. disse...

Fezoca, a Preta Gil é a da foto. Reparou nos bracinhos?
Rodrigo, todo mundo acaba descobrindo seu lado beauty-craver, mais cedo ou mais tarde.
Ferdi, sei lá se ela sabe sambar ou não. Também não sei se isso tem importância ou não pra madrinha de bateria. Aliás, sou alien nesse mundo das escolas de samba.

Anônimo disse...

Ah, mana. Vou discordar de você, viu? Mas com muito respeito e muita amizade, que eu sou fina. Até vou escrever sobre isso no meu blog :) Adorei os pneus da Preta Gil. Me senti vingada, me senti representada. Achei lindo ela saindo pela Mangueira, achei lindo esse lugar de destaque, achei lindo ela chorando comovida. E eu nem gosto de Carnaval, hein?

anna v. disse...

Pois é, Eva, eu queria, honestamente, ter sentido isso que você sentiu. É meio custoso para mim assumir que achei péssimo, mas, fazer o quê, é a verdade...

Anônimo disse...

rereree! acho uma graça essas "polêmicas momescas" do nosso reino! e qto à beth carvalho, parece que ela é uma mala sem alça e sem rodinhas que mereceu ser barrada mesmo...
e cá pra nós, a mangueira tá meio vendida, né??

Ana disse...

e que pra ser gorda assumida tem que ter pedigree né ? Se você é joao-ninguém ou pé-chulé, melhor investir rapidamente numa dieta no-food :-) Beijos.

Anônimo disse...

Concordo com voce sobre o repudio aa ditadura da magreza, mas , novamente como dizem os ingleses(vixe, tou tao inglesa hoje): "one has to draw a line somewhere".
emilia (referindo-se aa Preta Gil)

anna v. disse...

Hahahahaha!
Precisely, indeed, Emilia.