6.2.09

Polícia e ladrão


Sexta-feira, chopinho com T., minha amiga que é psicóloga e trabalha com crianças nas escolas públicas, nos morros cariocas. (Você queria esse trabalho? Pois é, nem eu.)
Ela me conta que as crianças - que via de regra vêm de famílias muito desestruturadas, muitos têm pais presos, mortos ou desaparecidos, coisas dessa sorte (ou falta de) - como sempre brincam de faz de conta. Mas que lá os papéis são outros: fulano é o traficante, fulaninha é a filha do traficante, beltrano (um menino mais mané) é o marmita, o cara que faz as quentinhas, e por aí vai o jogo de referências. Até aí tudo bem, nenhuma novidade.
Segundo T., essas crianças pegam o papel dos maços de cigarro que encontram no chão, cortam em tirinhas e aquilo é o dinheiro de mentira delas, que serve para todas as brincadeiras.
E aí, como desde sempre, tem a brincadeira de polícia-e-ladrão, que todo mundo conhece. Só que é assim: se você é ladrão, e é pego pela polícia, tem que pagar pra polícia te soltar. Ou então, se um amigo é pego e não tem dinheiro, você pode pagar pra soltar seu amigo.
E agora?, me perguntou T. Como é que se faz pra começar a tentar explicar que não é bem assim? Mas afinal, é bem assim ou não é bem assim?
(Você queria esse trabalho? Pois é, nem eu.)

10 comentários:

Anônimo disse...

Cruzes, credo. Minhas periguetes e meus maninhos são café pequeníssimo perto disso.
O que não significa que aqui na roça não role, principalmente nas periferias, um lance de raiva ressentida e profunda da otoridade policial.
Até hoje não me acostumei com isso. Nem sei se é o caso de me acostumar. Como você disse bem, é ou não é assim?
E ah, postei fotos. ;)
Beijo!

Anunciação disse...

Num sei;mas criança costuma retratar o que vê e ouve;o que ela vai fazer não faço a mínima idéia;e não não queria esse trabalho.

Anunciação disse...

Ei quero ser sua seguidora também mas não encontrei o trocinho pra clicar(não estranhe a linguagem;é pra driblar o alemão,rs).

Anônimo disse...

Grande post.

Esse trabalho é recomendado exclusivamente para abnegados.

Isabella Kantek disse...

Meu Deus! Que complicado...

Anônimo disse...

Não cheguei a pegar esse nível de decadência do ensino público (ou privado), quando dava aulas para adolescentes pobres, há muitos anos, eles só queriam aprender tudo que podiam para ascender na vida. Parece que o sonho de crescer pelos estudos virou pó numa sociedade degradada e corrupta, em que mesmo as famílias desconfiam que a escola não está servindo para muita coisa hoje. Não sei se há saída mais, e acho isso um crime contra essa geração, eles não tem muito para ou por onde ir. Maria Rita Kehl escreveu um artigo ótimo sobre essa falta de perspectivas dos jovens hoje.
um beijo,
clara lopez

Cacá disse...

Nossa, Anna. Que loucura isso tudo.
Acho que é um trabalho difícil demais, porém necessário.
Parabéns à sua amiga, afinal ela tomou coragem de começar a cuidar disso.
Beijocas!

Lord Broken Pottery disse...

Talvez seja mal assim.
Beijo

Docinho de abacaxi disse...

Caramba... Acho que eu sou mesmo louca. Eu quero um trabalho assim!
Como faz? Ela trabalha em uma ONG?

anna v. disse...

Não... trabalha para o município.