27.6.10

Nada mais importa

.Nem preciso dizer o quanto eu adoro Copa do Mundo. E como é melhor ainda participar de Bolão, para que haja razões objetivas para torcer de verdade em jogos como Austrália x Gana, Paraguai x Eslováquia ou Suíça x Chile (alguns dos resultados que cravei no Bolão).Agora, quando começa a fase eliminatória, aí fica realmente apaixonante, e me dá até uma pena de quem não gosta e não consegue entrar no clima da Copa. Porque não dá para competir com mais nada. Tipo, que azar do Saramago morrer durante uma Copa. Uma pena e tal, grande escritor etc., mas ninguém mais toca no assunto. Esse "nada mais importa" é slogan da ESPN, se não me engano, e achei perfeito.Então, sempre que posso, despacho Mathilde para casa de alguém de modos que eu possa assistir aos jogos sem interferência. E mais: como por conta da gravidez o teor alcoólico é quase nulo, tenho achado até melhor assistir em casa, sozinha, do que com grandes galeras. Poder beber cerveja à vontade nunca me fez tanta falta como agora, e é até engraçado perceber como para mim o ato de beber está vinculado ao aspecto social da birita. (Ou, visto de outro forma: interessante notar como todos os meus amigos são biriteiros.)

As oitavas começaram ontem e vi os quatro jogos. Quatro bons jogos, aliás. E ontem até cravei no Bolão o 1x1 entre EUA e Gana, e na prorrogação pude torcer muito para os afronegões de Gana, porque na maioria dos jogos não adianta, acaba rolando uma empatia imediata por algum dos dois times. E eu sempre lembro às pessoas que não levem em conta se os jogadores da Costa do Marfim são marrentos, ou que relevem caso não gostem do Maradona (o que não é meu caso). Porque o que importa não é quem está ali em campo, e sim os milhões que estão em seus países torcendo. Pense nos marfinenses, pense nos argentinos. E caramba, como não torcer por eles?
Foram bons os jogos, mas as duas barbeiragens de arbitragem que aconteceram hoje (gol que seria o empate de 2x2 da Inglaterra, que acabou perdendo de 1x4 para a Alemanha; e primeiro gol da Argentina, irregular, no que acabou sendo uma vitória de 3x1 sobre o México) quase colocam tudo a perder. Não dá pra aturar mais essa caturrice de não usar câmeras e tecnologia em geral para dirimir dúvidas em lances difíceis. As tais 32 câmeras têm dado um show nas imagens, mostrando em detalhe cada lance, nada mais escapa, mas mesmo assim... Sim, as dúvidas e os lances polêmicos causam controvérsia e mantêm a discussão sobre futebol acesa durante muito tempo, ok para este argumento, mas ó pá, tem limite. Aquela seleção RUIM da Inglaterra vai passar o resto dos tempos reclamando que foi garfada, e com carradas de razão.

Falando de imagens, não vejo ninguém comentando sobre o inacreditável atraso entre a transmissão da TV a cabo e da TV aberta. Mais alguém notou? Nos jogos do Brasil fica muito claro. Tem sempre um monte de vizinho comemorando o gol uns cinco segundos antes de a bola entrar na imagem que chega via cabo. E não importa se você está assistindo na Globo ou na ESPN ou SporTV, importa se a sua imagem vem pelo cabo ou pela antena. É o maior corta-clima.

Copa do Mundo é sempre aquele desfile de homem bonito, a gente bem sabe. Mas a idade vai chegando e a perspectiva vai mudando. No campo, aqueles meninos todos, nascidos entre a Copa do México e a Copa da Itália, umas crianças. De repente me pego achando interessante olhar para o banco, para os técnicos e comissão técnica... Que coisa! Falar nisso, AMO o Maradona de técnico, e meu coração está com a Argentina, torcendo muito por uma final contra o Brasil. E no entanto ninguém parece mais deslocado naquele espaço do que o Maradona, e acho que é por isso mesmo que gosto tanto. Ele parece um capo mafioso com aquele cabelo, barba, relojão e o idefectível e péssimo terno estilo "o defunto era maior" (como disse o Simas).

Ainda sobre técnicos, só mesmo essa recente "polêmica" Dunga x imprensa para me fazer defender o Dunga, sujeito por quem não nutro a menor simpatia nem sinto qualquer admiração - não tenho por ele nada mais do que o respeito de praxe por qualquer ser humano, acho ele um parvo, só o tenho em mais alta conta do que o Felipão, criatura esta que acho abominável, como vocês já sabem. Mas foi bom todo o episódio para deixar bem claro a situação de supervalorização da imprensa esportiva. Como se conseguir entrevistas exclusivas com jogadores no hotel fosse algo de suma importância jornalística, ou como se o trabalho desse batalhão de jornalistas da bola significasse algo além da necessidade de suprir um espaço descomunal na mídia. Criaram esse clima de "nada mais importa" não só para a Copa, que acontece durante 30 dias a cada 4 anos, mas para todo domingo, toda quarta, todo dia que tem jogo de futebol. Então são vários canais de TV veiculando aquelas infinitas mesas-redondas onde os debatedores dizem coisas relativamente interessantes nos primeiros 15 minutos e passam as cinco horas seguintes fazendo piadinhas, pegando um no pé do outro, contando histórias do fundo do baú e citando estatísticas irrelevantes. Como se o tempo na TV não custasse uma fortuna. Então é claro que nada justifica o comportamento infantiloide do Dunga na estrevista coletiva, mas foi ótimo ele ter baixado essa política "igualitária", sem privilégios, tratando toda a imprensa igualmente mal. É suicídio político, sem dúvida, mas eu achei maneiro.

Hmmm, que mais... Odeio as vuvuzelas, fazem com que eu me sinta dentro de uma colmeia, com abelhas zunindo por todos os lados. Estou amando e torcendo pelo Uruguai, e achei que esse Suárez que fez 2 gols contra a Coreia do Sul parece ser filho do Ricardo Darín. E cá entre nós, cadê a campanha "Mais vagas para a América do Sul na Copa"? Porque está ridiculamente óbvio que o futuro desse esporte está por aqui, e não na África, nem na Ásia, muito menos na Europa, o continente que nos manda bizarrices como Eslovênia e Suíça (missão impossível torcer pela Suíça, né não?). Já falei e repito: a geografia da distribuição das vagas reforça o desequilíbrio e demonstra o poder econômico sobrepujando, como de praxe, o mérito e o talento. América do Sul e Europa dividem os títulos mundiais disputados até hoje, com 9 para cada continente - sendo que nunca um time europeu foi campeão fora da Europa. Mas os Europeus ocupam 13 vagas da Copa, e dessas seleções, menos da metade (6) passou para as Oitavas este ano. A África teve 6 representantes, e só Gana passou adiante. Já os Sulamericanos temos só 5 vagas (presença massiva do Mercosul), com 100% de aproveitamento nas Oitavas. E periga só não passarem os 5 para as Quartas porque amanhã o Brasil pega o Chile. Tá certo que existe um número bem maior de países na Europa (mas também, eles não param de se subdividir em Sérvia, Croácia, Bósnia, Montenegro, Eslovênia etc.!), mas melhor seria se criassem uma seleção União Europeia para disputar a Copa. Periga em 2014 termos Lichtenstein e o Vaticano disputando a taça também...
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6 comentários:

Marcus disse...

Os atrasos de transmissões variam de local pra local, mas uma coisa é certa: a transmissão digital da TV aberta tem pelo menos dois segundos de atraso em relação à analógica.

Estamos com TV digital aqui na casa do meu irmão, mas a desligamos no jogo do Brasil, por causa do que você falou. Então ligamos no cabo (que foi "contratado" como venda casada com a internet), de uma empresa local, e a transmissão é até ADIANTADA em relação à da TV aberta analógica -- cerca de meio segundo.

Isabella Kantek disse...

Eu notei os atrasos e achei um barato gritar aflita, enquanto a turma que estava na sala não entendia nada do que se passava no quarto onde eu tentava fazer o bebê dormir, que não dormiu, claro. Que maravilha que você pode assistir aos jogos sozinha, sem distraçôes de qualquer tipo. Belo artigo, Anna.
E parabéns pelos 4 anos, meu comentário não saiu. Beijos.

Liliane disse...

Eu estou longe da pátria amada e daqui assisto em Francês ou em inglês igualmente estranho mas interessante mesmo assim.
Hoje o comentarista Francês estava fazendo piadinhas sobre o fôlego de D. Alves (algo como: ele deve ter três pulmões para correr tanto assim)e foi tudo divertido de escutar... Além do que no pós jogo os comentários são muitos humildes, mas engraçados, todos reconhecem não entender de futebol, e comentam da beleza das jogadas e coisas assim.
Os brazucas aqui estão reclamando das transmissões mas eu só me divirto!!
Quanto às vuvuzelas não sei se é o que o meu vizinho brasileiro tem mas, o barulho é muito chato e ainda por cima parece um choro e não uma comemoração. Fora a vergonha alheia de estar perturbando a paz da vizinhança que nem liga se tem copa ou não.
beijos

Jussara disse...

Muito bom o post! Tb adoro a Copa.
Se o Suárez parece filho do Ricardo Darín, é um filho bem melhorado, né? rs.
Concordo que tem que haver mais vagas para a Am. do Sul. E essa história da Fifa insistir em não colocar a tecnologia a favor do esporte ou do jogo limpo é um saco. Que mentes retrógradas. A emoção está no jogo, e não nos lances duvidosos ou nas injustiças de uma partida mal apitada. A Inglaterra era ruim mesmo, mas certamente teve o emocional abalado. O México tb.
Eu não costumo gostar de meninos novos, mas tinham dois no México lindinhos demais. Pena que já foram embora :/.
Concordo com tudo, só não amo o Maradona (mas tb não odeio). Tb queria uma final entre Brasil e Argentina, mas tenho um pouco de receio de que o Brasil amarele.
E as vuvuzelas tiraram todo o barato da alta tecnologia que foi investida para a transmissão da Copa.

Parabéns atrasado pelos 4 anos do blog! Te leio desde quase o comecinho, embora tenha demorado para começar a comentar.

Ana Paula Medeiros disse...

Ai, concordei com tudo, eu tb amo futebol e copa do mundo, pena que o trabalho não tá me deixando assistir a quase nada.
E estou amando o Maradona. E meu segundo time é a Argentina. Claro que se a final for Brasil e Argentina, eu quero que a gente vença de goleada, mas cara, se o Brasil sair, eu quero muito que a argentina ganhe. Pronto, agora podem tacar as pedras, rsrsrsrsrs.

Parabéns pelos 4 anos. Eu tb adoro ter my own divãzinho particular!
bjs

Ciça disse...

Delícia de ler!!!