16.2.07

Après moi, le déluge

Gustave Doré, "Déluge"


Lembrei dessa história lendo esse post do Fazendo Gênero. Que fala sobre como a gente passa a desconsiderar completamente uma pessoa depois de alguma coisa que ela diz ou faz.

Bom, demoraram muito para arranjar alguém para me substituir no meu agora ex-emprego. Não que eu seja insubstituível, muito longe disso, mas por pura incompetência mesmo. Primeiro eu indiquei uma pessoa que eu sabia competente e capaz de tocar o barco, mas não chegaram a um acordo de salário. Em suma, regularam a mixaria. Até que, faltando uma semana para eu sair, contrataram uma moça. Ela topou o salário, e parecia bem feliz e empolgada. (Do currículo dela, só consigo me lembrar de um estágio na revista Cabelos & Cia., que me causou funda impressão.) E eu com a maior boa vontade, tendo menos de uma semana para passar tooodo o silviço, que não era pouco.
Lá pelas tantas ela estava aprendendo a mexer no sistema de informática, e tinha que buscar um nome no banco de dados, num cadastro de fornecedores, algo assim. O nome era Agência qualquer coisa.
E ela: não estou achando, não aparece nada.
E eu: mas tenho certeza que tem.
E ela: é pra colocar o chapeuzinho ou não?
E eu: hã?!
E ela: tem que escrever "agência" com chapeuzinho?
Pronto, bastou isso para eu perder todo o respeito pela criatura. Uma pessoa que se propõe a trabalhar com livros, literatura, língua portuguesa, terceiro grau completo e talz, e ainda não se acostumou com o fato que o nome do chapeuzinho é acento circunflexo é demais pra mim.
(Depois ela ainda perguntou uma vez se precisava mandar livros para os autores de Chapeuzinho Vermelho e Outras Histórias, e diante da minha cara de ponto de interrogação ainda reforçou, "Esses caras aqui, Jacob e Wilhelm Grimm" -- mas a essa altura eu já estava n'outra.)

4 comentários:

Túlio disse...

a inteligência tem limite, a ignorância não.

Fer Guimaraes Rosa disse...

sou identica - uma palavra, uma atitude, zap!

Anônimo disse...

uau...e eu achei que era só na editora que eu trabalhava

anna v. disse...

túlio, pois é, e a ignorância não é uma bênção.
fezoca, às vezes acho que não deveria ser assim, mas não dá pra evitar.
carol, pra você ver, os salários estão baixos mesmo no mercado editorial.