11.11.10

Agora sim

A foto dos irmãos, registro do primeiro encontro dos dois.

Oliver custou um pouco para chegar, mas quando veio, veio com tudo. A coisa toda aconteceu logo depois da publicação do post abaixo. Ali diz que a hora do post é 18:52, mas esta foi a hora em que comecei a escrever. Depois chegou gente aqui em casa, e só fui terminar e publicar perto das 10 da noite, pouco antes de ir dormir. Até encontrei a Frida Helê no GTalk, ela perguntou como andavam as coisas, eu respondi: acabei de publicar um post, agora vou dormir, nada de novo no front, etc. e tal.

A partir daí, no entanto, os acontecimentos se precipitaram.

Foi Mathilde quem deu início a tudo, e acho que ficaremos sempre na dúvida sobre o que aconteceu, se ela de certa forma "sentiu" que o irmão estava chegando naquela hora, ou se não passou de mera coincidência.

Por acaso, naquele dia (sexta, 29/10) M. veio dormir aqui em casa. (M. trabalha na casa de minha mãe há 34 anos (começou com a função de ser minha babá), e quando Mathilde nasceu ela passou 3 meses morando conosco, para nos ajudar. Desde então, sua ligação com a minha filha é uma coisa linda de se ver, de tão intensamente amorosa.) M. e Mathilde estavam brincando loucamente em casa até bem tarde, só depois das 22h é que a pequena foi dormir, e pouco depois eu também me recolhi. E então aconteceu que por volta das 23h M. veio nos dizer que Mathilde estava febril. E estava mesmo. Ardendo em febre, acima de 39°, enquanto que menos de uma hora antes estava absolutamente normal. Demos um antitérmico, e ela começou a se debater e gritar, como se estivesse sentindo muita dor. Gritava Mamãe! Mamãe!, mas não falava mais nada que fizesse sentido, apenas berrava e levava as mãozinhas à testa, como se estivesse com dor de cabeça. Mas não respondia quando perguntávamos onde doía, apenas balbuciava qualquer coisa e gritava Mamãe! Mamãe!

Eu, que me acho uma pessoa tranquila e desencanada (bah, e quem não se acha?), fiquei nervosa. Chorei com ela no colo. Nunca tinha visto Mathilde daquele jeito, demonstrando tanta dor e sofrimento. A muito custo, conseguimos que ela dormisse, na nossa cama, lá pela meia-noite.
À 1:00 da manhã eu ainda não tinha dormido, estava deitada, quando senti um jato de água quente entre as pernas. Não senti dor nenhuma, e como não era uma quantidade muito grande de água, achei que tinha perdido líquido, mas não cogitei que fosse a bolsa rompendo. Era.

1:30 comecei a sentir uma dor mais forte embaixo da barriga. Doze minutos depois, de novo. Comecei a acompanhar no relógio, e avisei o marido, que tampouco tinha dormido. Depois da quarta vez não tive mais dúvida e não quis mais esperar. Liga pro médico e vamos pra maternidade. Nesse meio tempo, Mathilde meio que acordou, e gemeu mais um pouco, voltando a dormir. Eu já cambaleava quando deixamos Mathilde com M. e descemos para pegar o carro.

Quando ligamos para o médico (2:00) descobrimos que ele já estava na maternidade. Primeira reação: ainda bem! Não vou precisar esperá-lo chegar. Segunda reação: put*a m*erda, ele já está fazendo outro parto! De fato ele já estava lá com outra paciente, mas num trabalho de parto demoradíssimo, que se arrastava por horas e estava longe de acabar. (Uma parturiente que não queria tomar anestesia. Eu hein. A criança só foi nascer às 6 da manhã, e passou os dois dias seguintes chorando furiosamente. O andar todo ouvia.)

No carro a caminho da maternidade, um toque especial. O rádio, sempre sintonizado na MEC FM, tocava o Concerto para Cravo de Manoel de Falla, uma peça que marido e eu ouvíamos muito no início do nosso namoro, e que eu não ouvia há uns dez anos, no mínimo. A propósito, uma música linda.


Chegamos à maternidade umas 2:30 da manhã. Fui para uma salinha de exame, e uma plantonista esquisita, com cara de punk dopada e que certamente estava dormindo numa sala de repouso até 2 minutos antes, constatou 3cm de dilatação e fez comentários no mínimo curiosos enquanto eu berrava de dor. ("Ih, meu bem, tá doendo tanto assim quando eu encosto aqui? Nossa, que estranho!" -- uma coisa super apropriada a se dizer.)

Fui colocada num elevador, e as enfermeiras me conduziram até um vestiário, onde tirei a roupa e pus um avental. Nesse ponto, estava sentindo uma dor inenarrável. Fui para a sala de pré-parto, onde encontrei marido (que ficara na recepção resolvendo burocracias de internação) e, para grande felicidade, o doutor M. A felicidade só não foi maior porque descobri que a louca que já estava em trabalho de parto desde o meio-dia não queria anestesia (por quê, Senhor, por quê?!), portanto a equipe médica toda já estava lá, exceto o anestesista. As contrações já estavam acontecendo a intervalos muito pequenos, eu me sentia num estado quase permanente de dor incrível, o corpo todo retesado procurando alguma espécie de alívio, que não vinha.

Então, entra o anestesista.

A partir desse ponto, tudo muda radicalmente de perspectiva. De "pára o mundo que eu quero descer; não aguento mais; alguém me mata, por favor", passamos para "ah, que legal, meu filho vai nascer; vamos lá, pessoal; nossa, que maneiro isso tudo". Depois me disseram que quando há rompimento da bolsa a dor é muito maior, é o chamado "parto seco". Com Mathilde a bolsa não rompeu, e a água de certa forma ameniza a dor das contrações. Quando ela nasceu, lembro de ter sentido muita dor, mas não lembro de ter sido tão intensa assim. Por outro lado, dizem que a gente só decide ter um segundo filho porque a memória seletiva trata de apagar a lembrança da dor do primeiro.

(Parêntese para a inevitável digressão sobre o assombro das mulheres que têm uma penca de filhos sem anestesia, desde que o mundo é mundo. Fico pensando naquelas que, por circunstâncias diversas, têm seus filhos sozinhas, em lugares isolados, ou no meio do mato. Isso, minha gente, é empoderamente feminino. Uma mulher capaz de dar à luz sozinha é capaz de qualquer coisa. Mesmo.)

Depois foi muito rápido. Logo nos mudamos para a sala de parto porque a dilatação já estava em 9cm (o máximo é 10). A parte da expulsão (o clássico momento "Força!" que o cinema tanto gosta de usar para representar um parto) foi tão rápida que quando colocaram o bebê no meu colo, às 4:10 da manhã de sábado, dia 30/10, eu lembro de ter ficado atordoada: como assim? já?!

E foi assim que, no segundo turno da eleição 2010, eu não votei para presidente.

19 comentários:

Liliane disse...

Anna,
Ele é lindo! Parecido com Mathilde, parabéns para a família... Feliz por voces!
No meu segundo parto a parte da expulsão foi a jato também e por isso, sem anestesia. Desde então não há nada que eu não consiga fazer, realmente!
muitos beijos em voce e na sua família linda!

Jussara disse...

Engraçado, hoje ao dar uma passada de olhos no reader, pensei que Oliver devia ter nascido por causa da ausência de posts seus...
Bom, eu, se tiver filhos, vou querer parto normal sem anestesia, tenho lido muito sobre o assunto e tenho meus motivos. Há várias técnicas para amenizar a dor, incluindo estar acompanhada de uma doula. Claro que não descarto a hipótese da analgesia, só que minha primeira opção é sem.
Achei Oliver parecido com Mathilde. Ele é muito lindo. Um fofo.
Parabéns pra família toda. Saúde pra vocês!

Anônimo disse...

que lindo!!! parabéns para a família toda, especialmente você, lógico...

surya

Isabella Kantek disse...

Que bebê mais bonito, Anna! E a foto dos irmãos é pura ternura. Feliz por vocês. :)
Eu tive doula com o segundo porque queria evitar (muitas) intervenções médicas e no final acabei sendo induzida, que é a última coisa que você quer que aconteça quando se está tentando um parto, digamos, mais humanizado. As contrações provocadas pela indução são monstruosas. Lembro-me do rosto decepcionado da doula quando eu comuniquei que queria anestesia depois de horas de TP e com 6cm dilatação. Foi chato porque isso não é uma competição em que temos que provar alguma coisa para alguém, que seja nós mesmos. O radicalismo da patrulha do parto natural chega a cegar, mas é compreensível quando se escuta falar da barbaridade que acontece nos hospitais, o número de cesáreas, médicos despreparados, and so on...
Sem dúvida as mulheres do passado tem algo as nos dizer e eu as admiro muito (minhas avós tiveram um punhado em casa e tudo natural), mas acho que não é para todo mundo e tudo bem que seja assim.

Um beijo.

Helê disse...

Pô. Eu aqui pagando o maior mico de chorar no trabalho. Que lindo seu filho, que lindo relato. Mico lindo o meu, vai.
Beijos.
Helê

PS: E eu não tenho dúvida de que a Matilde sacou tudo. Mas não me pergunte por que.

Anônimo disse...

Nossa Anna, eu estava ansiosa demais sem saber notícias - e agora estou chorando de felicidade.
É tão estranho torcer e ficar feliz por alguém que só conheço virtualmente ...
estou com duas bebês em casa - 1 ano e 8 meses e outra de 3 meses - e estou achando o máximo o carinho e o cuidado da mais velha com a irmã !!! é muito amor !!!
parabéns, felicidades para a sua linda família !

Cláudia disse...

Que notícia maravilhosa! Que felicidade, Anna! Boas vindas ao Oliver, bebê lindo e gostoso, versão viril - porque ele tem uma cara fofíssima e inequívoca de rapaz - da querida Mathilde!
Uma vida cheia de saúde, afeto e alegria pra ele!
Espero que Mathildinha tenha ficado logo boa da ziquizira e que você tenha se recuperado bem do parto. Tudo de bom pra vocês todos!
Beijos,
Cláudia
PS.Anna querida, não é que você repetiu o grande feito da sua vida - o nariz do Oliver é tão perfeito quanto o da irmã! Parabéns!!!

. disse...

A foto dos dois irmãozinhos me deixou de olhos marejados, tamanha a delicadeza da cena.
Parabéns a toda a família, Oliver é um bebê muito lindo, que seja muito bem-vindo, muito saudável e feliz!
Pois é. Minha bolsa estourou, minha dilatação não evoluía ao longo do tempo, os batimentos do meu filho despencavam a cada contração e lá fui eu pra cesárea, eu que tinha me preparado e esperado tanto por um parto normal. Lamentei demais ter sentido tanta dor esperando pelo parto e no fim ter que ir pro centro cirúrgico e sair costurada. Nunca deixei de me perguntar se era MESMO preciso, mas acho que nunca vou saber. Paciência...

Ana Paula disse...

Que foto linda, que tudo lindo! Feliz por você, muito mesmo.
E Mathilde, como está? A febre melhorou logo? Era "só" emocional, ou ela realmente teve uma virose, uma gripe, alguma coisa?
Oliver é lindo, já disseram, mas eu repito.
Tudo de bom pra vocês, muita saúde e felicidades. bjs

Anunciação disse...

Fiquei babando com o encanto dessa foto.Mathilde está cada vez mais linda e Oliver,que menino elegante!Anna não tive o prazer de ter partos normais;foram três cesarianas.

Anônimo disse...

Que relato incrível, anna, não consegui nem piscar ao lê-lo, parabéns à família toda, também que mathilde "sentiu" a chegada do irmão, que é lindo, parece com elas, mas na versão homem, um fofo também, e os dois juntos, lindos.

Não sei o que eh doula, mas concordo com você sobre o empowerment (empoderamento é uma palavra esquisita, ou só eu acho? :)feminino, quase tudo vem desse fato singelo de parir um ser.
beijos, saúde e força para todos,
clara

Cláudio Luiz disse...

Oliver, seja benvindo.

Anna, alegrias

anna v. disse...

Liliane> que bom seu depoimento corroborando a tese do "empoderamento pelo parto", hehe.

Jussara> na minha "primeira vez" (o nascimento de Mathilde) eu também não queria anestesia a priori. Cheguei a fazer um plano de parto segundo o qual a anestesia, se viesse, deveria ser a meu pedido, e não por procedimento padrão - porque até hoje acho um absurdo a quantidade de procedimentos padrão que fazem na sala de parto desnecessariamente. Enfim. Toda a minha bravura se esvaiu à medida que aumentavam as contrações. Naquele dia, cheguei à maternidade implorando pela anestesia. É claro que cada mulher é diferente, e cada parto é um parto. Mas nas minhas 2 experiências, a anestesia fez a diferença entre um sofrimento que encobria toda a mágica da experiência e a possibilidade de viver plenamente o momento do nascimento dos meus filhos. Em tempo: a outra paciente do dr. M. que não queria anestesia estava acompanhada de uma doula. Depois de muitas horas, ela afinal pediu para tomar anestesia, e segundo o dr. M. me contou, não sem antes pedir desculpas à doula!! O que considero uma total inversão de valores.

Surya> obrigada! Sempre que escrevo sobre "Oliver" me lembro que a ideia deste pseudônimo nasceu de uma conversa com você.

Isabella> concordo muito contigo. A patrulha do parto normal, natural, humanizado ou seja lá o nome que for, é cruel, por colocar uma dose de cobrança absolutamente desnecessária em cima das mulheres grávidas, que já são tão suscetíveis. É preciso ser muito cabeça-feita para entender, como você, que não se trata de uma competição, nem de provar nada a ninguém. Ninguém é mais mulher ou mais mãe por ter um parto assim ou assado. Ao mesmo tempo, é importante existir esse "outro lado", para contrabalançar os verdadeiros absurdos cometidos pelos médicos brasileiros em nome da conveniência de um parto cesáreo. (Conveniência para eles, médicos, bem entendido.)

Helê> fofa! E eu também estou cada vez mais convencida de que Mathilde sacou tudo mesmo. Porque até o ceticismo da pessoa tem limites.

Anônimo> caramba, você não assinou, agora não sei quem foi que deixou uma mensagem tão gracinha! Identifique-se, por favor!

Cláudia> e então, você não vai se animar novamente, e dar um irmãozinho para sua filhota? :-) Sobre o nariz, não sei não. Oliver está me fazendo lembrar demais Mathilde quando era desse tamanho, mas confesso que não sei se ele terá o nariz esculpido a cinzel, não. Ele tem mais a cara do pai.

Deh> esse comentário já está ficando gigante com minhas considerações sobre partos... Mas no seu caso, acho que o mais importante foi você ter entrado em trabalho de parto naturalmente, ou seja, o Alê nasceu respeitando o tempo dele. Se saiu pela porta principal ou pela saída de emergência, que é como considero a cesariana, me parece bem menos importante.

Ana Paula> a virose durou mais um dia, depois sumiu, como de praxe. Estou mais inclinada mesmo a achar que foi emocional - o que não deixa de ser muito impressionante.

Anunciação> obrigada pelas palavras de carinho. 3 cesarianas devem ser mesmo fogo, mas no fundo o parto importa pouco se comparado a tudo o que vem depois, que é muito mais intenso.

Clara> doula é uma profissional que fica na sala de parto auxiliando a gestante, fazendo massagens etc. para amenizar a dor. "Empoderamento" é mesmo horrível, eu também acho. Mas o conceito é esse mesmo, parir um ser é uma coisa incrível demais.

Claudio Luiz> obrigada! as alegrias estão imensas.

beijos em todos

Hellen disse...

Ai, parabéns.

Oliver é lindo e fofo demais. E Mathilde está com uma carinha tão encantada e orgulhosa que dá gosto de ver.

Muitas felicidades e saúdes para todos vocês.

Carrie, a Estranha disse...

Parabéns, parabéns!!

Nossa, ele é MUITO LINDO. Não tem cara amassada de neném recém nascido. Q fofo! Q pena q não foi no meu dia.

Como assim, "E quem não se considera tranquila e desencanada"? Eu? A torcida do Flamengo? O resto do mundo?!!! (depois digo q vc é meu ideal de sanidade mental e vc acha q eu tô curtindo com a sua cara).

Mtas felicidades, querida. Hj e sempre.

Bjs

Camila disse...

Anna, vou repetir o que todo mundo diz - que nenê LINDO!!!!!!!!!!!!!
(E que foto mais gostosa, Mathilde tá com uma carinha de irma mais velha, responsável pelo menorzinho...)
Parabéns pelos dois!!!

MegMarques disse...

Felicidades para a família toda!

Quando a gente vê esses coisinhas lindos que saíram da gente, do nosso corpo, a dor, as contrações, o sacrifício todo passa a valer a pena!

Mil beijos!!!

Anônimo disse...

Muito fofo ! Parabéns!
Bia

la vache qui rit disse...

sabe, eu chorei ;-) que bebê lindo, que tudo lindo. tudo, mas tudo mesmo de bom para todos vocês.