20.8.12

O samba não pode parar

Foi o fim de semana mais animado, em termos de eventos, dos últimos anos.

Numa performance pra Milton Ribeiro nenhum botar defeito, fomos a quatro concertos em três dias, no Theatro Municipal.

Na quinta, comemoração de aniversário da rádio JBFM. Teve a Orquestra Sinfônica Brasileira acompanhando Zélia Duncan, Djavan e Caetano Veloso, três músicos que admiro bastante. Mas apesar do elenco estelar, não achei o concerto brilhante. Não rolou muito entrosamento e o único que parecia estar um pouco mais à vontade, Caetano (que completou 70 anos este mês), foi surpreendido por um Parabéns pra Você constrangedor da orquestra, logo seguido por um coro de toda a platéia, quase morri de vergonha alheia.

Na sexta juntamo-nos à horda de violonistas que acorreu ao Municipal para ver o Manuel Barrueco tocar o Concerto de Aranjuez com a mesma OSB. Para quem não tem o prazer de conhecer, este é "o" concerto clássico e consagrado para violão e orquestra. Foi um bom programa, mas melhor ainda foi sair para jantar depois com G. e S., tomar uns vinhos e falar sobre assuntos de variadas gamas, desde as fofices das crianças até as malices da greve das universidades federais. Enfim, o bom e velho exercício da amizade.

Aqui temos John Williams tocando Aranjuez

No sábado teve dose dupla. Às 16h encontramos todos os mesmos violonistas da véspera para ver o Duo Assad tocando uma peça (Phases) do Sergio Assad com a Orquestra Petrobras Sinfônica. O regente convidado era um polonês, que abriu a noite com uma peça de seu conterrâneo Lutoslawski e encerrou com Quadros de uma exposição de Mussorgski. Às 20h30 fomos conhecer a Filarmônica de Minas Gerais, orquestra jovem e promissora, que tocou danças do Ginastera, o Concerto para mão esquerda de Ravel (e os dois concertos para piano e orquestra de Ravel estão entre as minhas peças favoritas de todo o repertório clássico) com um solista americano que eu não conhecia, Leon Fleisher, e depois do intervalo a Sinfonia Fantástica de Berlioz, que achei chata e infindável (55 minutos!).

Eis aqui uma outra interpretação do concerto para mão esquerda de Ravel, composto, se não me engano, para o pianista Paul Wittgenstein (irmão do filósofo Ludwig), que perdeu o braço direito lutando na Primeira Guerra Mundial

Mas tudo isso é para contar-lhes que no sábado, entre o programa das 16h e o das 20h30, marido levou-me para conhecer o Samba do Ouvidor, do qual eu até então só ouvira falar. É uma tremenda roda de samba que acontece em alguns sábados (a periodicidade é incerta, ao que parece) na rua do Ouvidor, perto da Praça Quinze. Fui acometida de uma tremenda nostalgia, uma enorme saudade do tempo em que frequentávamos tantas rodas de samba por aí, sem hora para voltar, e sem ligar para o fato de ficar horas em pé tomando cerveja sem um banheiro decente por perto, achando tudo ótimo. Adorei ali aquele samba, em que vi tantas caras conhecidas -- literal e figurativamente, desde pessoas que realmente conheço até tanta gente que não sei quem é, mas cujos rostos anônimos remetem a tantos outros frequentadores de rodas de samba desde os tempos imemoriais, gente que gosta mesmo dessa música, conhece e canta junto, mesmo que não seja carnaval, nem verão, nem esteja sol nem calor.

No meio de tanta sinfonia, foi aquele samba que me deu mais alegria.


Um comentário:

Daniel Banho disse...

O Samba da Ouvidor é uma joia carioca. As datas costumam ser divulgadas nesse blog: http://sambadaouvidor.blogspot.com.br

Na minha opinião é, hoje, a melhor roda de samba do Rio, junto com a do Samba do Trabalhador, que acontece toda segunda-feira, a partir das 16:30 (sim, o nome da roda é pura ironia) até às 21:30, mais ou menos, no Clube Renascença, no Andaraí. Em comum, a presença do Gabriel da Muda, vozeirão que toca nas duas. O diferencial da segunda é a presença do Moacyr Luz, um dos maiores nomes do samba da atualidade.

Um abraço