15.1.07
Blitzchato
Então sábado o dia tinha sido tão agradável. Passamos a tarde com B.&L., P.&P., em mais um evento gastronômico, na verdade pretexto para conhecermos melhor P., que nasceu lá em Bogotá na véspera do meu aniversário (3 meses, portanto) e é um bebê muito simpático e com cara de velho. Não porque ele tenha a cara enrugada, mas é que ele nos olha com aquele ennui inevitável de quem já viu de tudo nessa vida. É como Nelson Rodrigues dizia, que Ruy Barbosa já tinha nascido de pince-nez e bengala, assim é P., que além de tudo tem um nome tão pomposo que já passamos a chamá-lo “senador”. O almoço só saiu às 7 da noite (linguini com frutos do mar, uia), e depois ainda ficamos jogando muito papo fora, tanto que quando eu e ele fomos embora, onze e meia da noite, entramos no elevador, eu disse: “Tenho que te dizer uma coisa”. E ele: “Já sei. Está com fome. Eu também”. Você vê, a intimidade é capaz de coisas fantásticas. Eu queria hambúrguer de salmão com suco no BB Lanches, em pé no balcão, uma coisa light, ele queria Cervantes, e acabamos indo pra lá, no menu básico de chope e sanduíche de qualquer-coisa com queijo, abacaxi e muita gordura trans, aquele que você pede e chega 45 segundos depois (eu não sei como eles conseguem). Aí ele ligou pra P. (como tem P. nessa história), que estava saindo do show do Chico Buarque com C. Não podiam ir pro Cervantes porque estavam com mais gente e não ia caber, decidiu-se pelo Plebeu. Eu já querendo ir pra casa, let’s call it a day, estávamos numa conversa tão boa sobre os compositores russos, Borodin, Mussorgsky, Rimsky-Korsakov, vamos pra casa ouvi-los, só nós dois, mas não, tinha que encontrar P. e ouvir a resenha do show, e talz. Chegamos no Plebeu na mesma hora que P. e C., e os tais amigos deles já estavam lá, dois caras e uma garota, e foi aí que nos deparamos com essa figura inconfundível do blitzchato, isto é, o chato-relâmpago, o cara que só precisa de um segundo para apresentar seu atestado de chato profissional. É impressionante. Nunca tínhamos visto o cara na vida, mas bastou abrir a boca pra dizer “Oi”, a gente já se olhou (de novo, a intimidade e seus incríveis poderes), eu já virei pra ele e disse no ouvido, “Nos fodemos”. E o blitzchato falou pelos cotovelos, sobre Chico Buarque e música, de como o show tinha sido “frio”, e como o Chico era assim e assado, e o Caetano, por exemplo, era diferente, e de como a percepção que a nossa geração tem do Chico Buarque é diferente da percepção da geração da mãe dele (mas que puta insight, este!), e outras observações assim tão pertinentes. E o que era mais incrível, ele falava em nome dele e do outro cara, que estava quieto comendo um prato de peito de frango, assim uma coisa meio “Eu e ele achamos que isso e aquilo”, tudo tão estranho e aborrecido. E a garota e P. eram os únicos que interagiam, sempre discordando do blitzchato. Nós dois e C. mudos, e o outro comendo o peito de frango. Depois de meia hora me deu uma coisa, um desespero mais forte que tudo, eu apertei a mão dele e disse “Eu TENHO que ir embora AGORA”, assim baixinho, sem fazer cena, mas enfaticamente o bastante para que a gente partisse meio minuto depois, deixando P. e C. abandonados à própria sorte. E voltamos ouvindo Borodin.
Ideias fixas:
querido diário
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2 comentários:
hohoho, adorei. já encontrei muitos blitzchatos que estragaram minha noite. As minhas experiências são com blitzchatas...
hum, pelo jeito virou moda entre os chatos dizer que o show do chico foi frio!
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