Eu tinha dez anos quando ela nasceu, e me lembro de ir à maternidade visitar. A mais nova de três irmãs, a mais velha quase da minha idade.
Lembro quando a família mudou para o Recife e eu fui visitá-los num carnaval. Eu tinha 12 ou 13 anos, lembro da casa enorme, de dois andares, em Jaboatão dos Guararapes, e de ver blocos em Olinda. Ela era pouco mais que um bebê.
Lembro da notícia e do pânico quando um dia a mãe chegou em casa e a viu, aos 3 ou 4 anos, boiando na piscina, virada para baixo. Mais alguns segundos e talvez não tivesse resistido.
Lembro da alegria quando voltaram a morar no Rio.
Lembro da tristeza quando os pais se separaram, e o pai foi morar em outro país. Ela, afinal, a que menos convívio teve com ele.
Lembro quando ela começou a fazer balé.
Lembro até mesmo de ir assistir a apresentações de final de ano em clubes e colégios, ela pequenininha, mas sempre num papel de destaque.
Lembro que a coisa do balé foi ficando séria, e aos 13, 14 anos, quando a maioria das meninas (como eu) sai para fazer outras coisas, ela continuou se dedicando à dança.
Lembro que aos 15 anos ela já dançava em teatros de verdade, não mais clubes e colégios. Não mais apresentações de fim de ano, e sim temporadas.
Lembro quando, aos 17, ela recebeu uma proposta e foi morar fora do Brasil. Para dançar.
Lembro que teve de terminar o segundo grau por correspondência.
Lembro da virada da dança clássica para a moderna, e de como ela ficou contente.
Lembro da alegria que foi quando ela entrou na melhor companhia de dança moderna do mundo.
Lembro que nas duas últimas viagens que fiz à Europa não consegui encontrá-la porque ela estava sempre em turnê, ensaiando, ou coisa que o valha.
Domingo fui vê-la dançar, no Teatro Municipal. Casa cheia, ingressos caríssimos.
Soube que ela estava mais nervosa por dançar aqui, onde conhece tanta gente, do que jamais ficou em Nova York, Londres, Paris ou Tóquio.
Eu já sabia que ela era tudo isso. Mas mesmo assim fiquei espantanda. Impressionada. Encantada. Como ela se tornou uma artista tão madura?
Esqueço. Que ela tem vinte anos.
4 comentários:
Anna,
Sei bem o que é isso. Também tenho uma irmã 10 anos mais nova, a Mariana. Lembro quando nasceu, a criança mais linda que já vi. Se eu fosse você acho que teria morrido de orgulho.
Beijão
Lord, ela não é minha irmã, mas é da família, e o orgulho é mesmo imenso nessas horas. Choreeeeei de emoção...
Vou ter que comentar de novo... =)
Esse é um dos meus textos favoritos, a sua narrativa mesclada aos fatos do cotidiano é muito especial.
Valeu, Isabella!
Postar um comentário