24.4.08

Unhas feitas

Eu com a mistura "Rebu" + "La Boheme"

Certamente há de haver por aí estudos antropológicos sobre a obsessão da mulher brasileira pelas unhas feitas. Arrisco a dizer que transcende a barreira da classe social. Exceto pelas realmente miseráveis, e provavelmente pela mulher que trabalha no campo, por aqui todo mundo faz as unhas. Seja rica, milionária, remediada, pobre. Salão de beleza existe em qualquer canto, e dependendo dá pra achar promoções pé + mão por dérreau, por aí. E, claro, unha é fácil de fazer em casa: esmalte, pau de laranjeira, base, acetona, tudo custa barato. É só ter um mínimo de destreza (principalmente para fazer a mão direita, no caso das destras, e a esquerda para as canhotas) e pronto.

Ou seja, toda mulher faz as unhas com impressionante freqüência. É coisa de uma vez por semana no mínimo - passando disso, já começa a dar uma agonia na mulherada: rachou aqui, descascou aqui, quebrou um pedacinho etc. Toda mulher, exceto duas: minha mãe e, por conseqüência, eu.

Minha mãe tem um bom motivo: é violonista. Assim, tem que manter grandes as unhas da mão direita e bem curtas as da esquerda, cujos dedos ficam, idealmente, cheios de calos. Criança é bicho que imita, de modo que não incorporei a coisa das unhas pintadas. Pra completar, a vida toda estudei piano, o que demanda também unhas curtinhas para não fazer tlec tlec nas teclas.

Mas acima de tudo, é por um certo orgulho despeitado que mantenho distância das manicures. Explico: as mãos são a parte do meu corpo de que mais gosto. São bonitas mesmo. Meus dedos são finos e compridos, as unhas longas mesmo quando cortadas bem rente. Ou seja, tenho as unhas com as quais toda mulher sonha, sem fazer o menor esforço. Quando adolescente, cheguei a fazer uma sessão de fotos das mãos, e enviar para um agente especializado para, quem sabe, ganhar uma grana sendo "modelo de mão" e fazendo propaganda de anéis, esmaltes, relógios. (Tem um episódio ótimo de Seinfeld em que o George vira modelo de mão, alguém viu?) O cara elogiou muito minhas mãos, mas disse que eu não poderia nem sonhar em tomar sol, que eu deveria ir à praia de luvas até o cotovelo. Eu tinha 14, 15 anos, por aí, idade em que ia à praia um dia sim, o outro também, e é óbvio que a idéia de ir à praia fazendo o estilo nunca-houve-uma-mulher-como-Gilda fez-me rir, de modos que terminou aí mesmo a minha promissora carreira de modelo de mãos.

Enfim, não tenho o hábito de fazer as unhas. Não freqüento salão (só há pouco tempo aprendi que, quando se vai cortar o cabelo ou fazer seja lá o que for no salão, é de bom tom dar uma gorjeta para quem te atende). Meu único "momento da beleza" é a depilação, que não faço no salão, só faço nas redes especializadas que se propagam pela cidade com nomes trocadilhos (Pello Menos, Pelo Sim Pelo Não etc.).

Aí na semana passada recebemos visitas aqui em casa e combinei com M., que é manicure/pedicure autodidata, de fazer o meu pé. Mais do que esmalte, ela ia fazer uma boa esfoliação, e esse cuidado com os pés é uma coisa que todo mundo que dá duro merece de vez em quando. Aproveitando o embalo, ia pintar também, de cor clarinha, base e talz. Então resolvi radicalizar e pintar de vermelhão. E num arroubo, resolvi pintar também as unhas da mão.

(Vale abrir um parêntese para os nomes de cores de esmalte de unha. Deve ser uma profissão divertida, quase tanto quanto batizar operação da Polícia Federal. Tem a linha "Ópera" - M. Butterfly, La Boheme, Carmem - linha "Jorge Amado" - Tieta, Gabriela - série "Ritmos Brasileiros" - Samba, Frevo, Bossa Nova - série "Sugestivos" - Malícia, Sex Appeal, Meia de Seda, Minissaia, Desejo, De Repente, Deixa Beijar - e outros nomes simplesmente ótimos, como Berioska, Atlântida e Rebu.)

Por acaso, no dia seguinte ao das unhas feitas veio aqui em casa minha madrinha fotógrafa, fazer umas fotos da família - eu, marido, Mathilde - no estilo produzidas, com figurino, fundo, guarda-chuvas rebatedores de flash etc. Explico: ela está querendo entrar nesse ramo "fotos de bebês e grávidas", e nós somos os cobaias. As fotos ficaram super lindas, e as unhas vermelhas acabaram, por assim dizer, compondo o meu personagem.

A novidade causou furor. Quem viu as fotos logo quis saber: que unhas são essas?! Minha sogra comentou com a mulher de Cunhado nº 1 (como se diz isso? concunhada?), e esta não acreditou, acho que deveria ser ilusão de ótica. Marido vive me perguntando onde escondi a mulher com quem ele se casou, quem sou eu que ocupei esse corpo. Minha avó achou incrivelmente lindo. Minha mãe achou engraçado e super perua. Ninguém ficou indiferente. E eu, de repente, me sinto um pouco uma mulher como as outras.

Posted by Picasa

13 comentários:

Anônimo disse...

eu faço as unhas (quase) toda semana e adoro. e adorei a cor do seu esmalte ;)

Anônimo disse...

tá certo, anna, a cor do esmalte é chamativa, as mãos são mesmo muito lindas, vc parece ser muito bonita tb, pelo que se pode ver, mas quem domina a foto, heim, heim? é claro que é ela, a fofíssima mathilde ::))
um abrço,
clara lopez

Anônimo disse...

Querida Anna V.:

(1)Que linda é a Mathilde!

(2) Seu texto, como sempre, uma obra-prima. Tenho para mim que pouca gente (pouca mesma) tem a sua capacidade de redação e essa sensibilidade que lhe permite transformar o quotidiano em festa e o corriqueiro em transcedental.

(3)Meus parabéns, por (1) e (2)!

Remo

la vache qui rit disse...

você tem mãos lindas.
e eu odeio fazer unhas, mas quando faço é pra pintar de vermelho ;)

la vache qui rit disse...

e, inside joke, adorei a referência a dar nomes a operações da pf, hahahha

Cam Seslaf disse...

Eu sempre fiz toda semana, agora não faço desde j-a-n-e-i-r-o. Para piorar, a minha manicure virou podóloga! Estou me roendo de inveja das suas mãos lindas, hohoho.

Anunciação disse...

Mãos e unhas lindas as suas;mas Mathilde é mais linda ainda.Sabe que eu também não costumo fazer unhas e quando faço é em casa mesmo.

Anônimo disse...

Exceto pelas realmente miseráveis, e provavelmente pela mulher que trabalha no campo... e pelas roedoras compulsivas também, né? Nunca na minha vidinha fiz as unhas. Tcharã!

Anônimo disse...

Kellen, anotou? Rebu e La Boheme. :-)
Clara, é mesmo, só dá ela, não tem pra ninguém.
Remo, ai ai, você é o gerente do spa do meu ego, viu? Tenho levado a Mathilde aí pelas bandas do Leblon quase toda semana, vamos combinar um café um domingo desses, com A. e J.? Você precisa conhecê-la pessoalmente.
Ângela, isso aí, misturinha é o catso!
Cam, a manicure que virou podóloga é ótimo. Parece título de conto fantástico. Mas hein, não dá pra dar uma escapada até o salão? Ou uma alma piedosa ir à sua casa e fazer suas unhas?
Anunciação, puxa, mas sua foto aqui ao lado é tão produzida... Eu diria que acompanha uma unha bem vermelha! ;-)
Nervocalm, oooooooh! amazing.

. disse...

Foi mal, eu só consegui ver a Mathilde LINDA na foto...hahaha
Eu detesto salão. Faço raramente as unhas, agora inclusive porque não dá tempo nem de parar pra almoçar. Mas sou doida por esmalte vermelhão.
;)
Beijo!!

Isabella Kantek disse...

Lindas as duas, não, as três (não dá para deixar as unhas de fora, né?!)
--
Anna, por questões maternais/pessoais/triviais/etceterais deletei o Desmemorium. Não avisei antes por puro esquecimento, sorry.

anna v. disse...

Puxa, Isabella, que pena... Se estiver postando em outro canto, não deixa de avisar!
Beijo

Anônimo disse...

Eu também vivo a maior tempo sem pintar minhas unhas, gosto delas sem esmalte mas quando pinto vou de vermelho escuro.