21.8.11

Maternidade, cemitério de ilusões

Cinco anos de blogue, e esta foi a primeira vez que passei um mês sem postar nada. Como dizia aquele antigo desenho do Pica-pau, em todos esses anos nessa indústria vital, esta é a primeira vez que isso me acontece. Não teve muito motivo para a ausência além daqueles de sempre. A correria, as crianças, etc. Some-se a isso tudo meus 15 dias de férias, e o fato de que fiquei escrevendo um post enorme sobre a falência da Borders, segunda maior cadeia de livrarias dos EUA, ocorrida em julho depois de lenta agonia, mas o post ficou tão grande e complexo, cheio de números e análises, que desisti de publicar. O que me interessa mesmo é falar sobre o futuro do mercado editorial, dentro do qual a ponta que corre mais perigo imediato é, naturalmente, a das livrarias, com o advento e a popularização do e-book, que nos EUA já tomou uma proporção com que o mercado brasileiro ainda nem sonha. E dizer também que eu acho o e-book uma coisa ótima e que faz todo sentido em muitos aspectos, ainda que não vá, é claro, fazer o livro impresso desaparecer.

Mas enfim, o título deste post. Com as férias e a maior convivência (forçada) com as crianças, algumas coisas se tornam mais perceptíveis. Por mais que a gente assuma e reconheça o mito da maternidade, ainda é muito difícil aceitar certas situações. Como a de que você fica de saco cheio dos seus filhos com uma frequência enorme. Principalmente se tem de passar o dia inteiro com eles. É difícil pacas aceitar o fato de que eles também têm dias ruins, e que isso não tem necessariamente a ver com você, a mãe. Não é pessoal, saca? A gente sabe que lá pelos 4 anos a criança começa a perceber que não é o centro do universo, mas que tal a mãe também se dar conta de que nem sempre é o centro do universo dos filhos.

E tem mais: não adianta, que não seremos sempre a mãe que tem ideias geniais para um fim de semana de chuva, nem a mãe que leva os filhos ao parque num fim de semana de sol e brinca incansavelmente. Isso acontece, é claro, e ainda bem. Mas no mais das vezes, não acontece. Como diz a ScaryMommy, não adianta querer competir com a mãe que cria sensacionais e deliciosas receitas orgânicas com a ajuda dos filhos, ou com aquela outra que tem um talento ímpar para inventar fantasias e acessórios de origami que deixam os pequenos mesmerizados. Porque essa mãe tampouco é infalível, e deve ter uma lista ainda maior de coisas que faz pessimamente.

O desafio é tentar encontrar o equilíbrio entre concentrar e aprimorar os pontos fortes (no meu caso, ajudar a fazer cartões de agradecimento com cola e purpurina, e depois mandar pelo correio em lindos envelopes customizados; ajudar no dever de casa; andar de bicicleta com criança; brincar de "cadê?/achou!" 750 vezes seguidas) e melhorar os pontos fracos (basicamente, não me comportar como outra criança de 3 anos e meio nos momentos de crise aguda; gerenciar melhor a frustração e a impaciência quando o bebê de quase 10 meses não quer comer a papinha que você teve o maior trabalho pra fazer, ou quando o bebê não faz qualquer coisa que você quer muito que ele faça, como dormir, por exemplo).

É, a gente se cobra muito, e não tem como ser diferente. Tem que se cobrar e sempre procurar melhorar, sim. Mas temos que ser mais realistas do que achamos que já somos. Lemos tanto sobre os desafios e dificuldades de ser mãe, que achamos já estar mais ou menos preparadas. Mas não estamos. Todas temos problemas para encontrar o limite entre a necessidade e o desejo de ter um tempo para si -- e quase escrevi "real necessidade" e "simples desejo", o que já é uma forma de diminuir a importância do desejo, uma perspectiva por demais apolínea.

Parece que a vida está sempre nos pregando peças, criando pequenas armadilhas para testar a nossa capacidade de crescer e multiplicar.

Pra terminar: hoje foi um daqueles dias em que a inspiração vem e tudo ajuda. Minha avó está com muita saudade de Mathilde, mas ela não queria ir para a casa da Bisa. Então propus que ela se fantasiasse de Chapeuzinho Vermelho, com cestinha e tudo, e fosse levar uns doces para a vovozinha. Sucesso absoluto.

Pela estrada afora, eu vou bem sozinha...


12 comentários:

Daniela do Carmo disse...

Excelentes idéias, excelente texto, excelente tudo! Final apoteótico excelente!! Que máximo deve ter sido a sua avó receber essa chapeuzinho gracinha!!!

vera maria disse...

Sempre muito bom te ler, anna, considerações muito claras e percucientes (sorry:) sobre os mitos da maternidade, que no vamos ver do dia a dia parece um pouco menos glamurosa do que querem os bons moços.

Essa coisa de ebook versus livrarias, livros de papel ainda não me pegou assim não, mas entendo que seja importantíssimo para quem trabalha com livro; eu vou ser viciada neles para sempre, acho, então por mim você ainda terá trabalho por muitos e muitos anos ::)).
Aliás, não sei se no seu post que virou talvez ensaio vc comenta a vinda da mega livraria paulista, a Cultura, para nossas bandas - os caras não estão vindo pra perder dinheiro, então ainda há luz no fim do longo túnel.

E a chapeuzinho está mega fofa, muito linda,

um beijo,
clara

anna v. disse...

Valeu, Daniela. Minha avó amou, é claro.

Clara, a vinda da Cultura para o Rio ajuda a compôr o cenário complexo disso tudo. Mas eu estou louca para conhecer as novas lojas!

Cláudio Luiz disse...

levar estes doces para a vovozinha...

PS - ouvi dizer que a livraria cultura vai para o antigo cinema vitória na senador dantas, vc sabe se é verdade?

anna v. disse...

CL: isso mesmo. São duas filiais da Cultura. A primeira, no Fashion Mall, inaugura dia 31/8. A segunda é lá mesmo, na Senador Dantas, mas parece que as obras estão atrasadas (= ainda nem começaram).

Isabella Kantek disse...

Obrigada pelo post, Ana. Bjo aguardando Iiiireeene. :P

anna v. disse...

Irene, que nome lindo! Adoro. Só que aí nos EUA vai ficar "Airin", né?
:-)

Isabella Kantek disse...

Ana, hahahahaha, falava do furacão. ;) Mas Irene é bonito, sim. Também gosto muito de Cecilia e Clarice. Saberei o sexo sexta que vem. Nem sei mais o que eu acho que é...

anna v. disse...

Hahahaha, Isabella, é mesmo, que mico! Logo que abri um site de notícias e li sobre Irene me dei conta da minha gafe... Mas é verdade que acho Irene um nome lindo. Oliver inclusive se chamaria Irene se fosse menina. Beijos!

Isabella Kantek disse...

Haha, está igual a minha amiga que contou para a família no jantar que eu vou ter uma menina e que eu já havia inclusive escolhido o nome: Irene. Todos caíram na gargalhada.

Eu já me peguei pensando se, em algum dia da sua vida offline, você chamou a sua filhota de Mathilde? Acho que se a conhecesse não conseguiria chamá-la por outro nome. :) Gosto de Mathilde e Oliver. E também de nomes antigos.

(tenho escrito muitos comments, né. É que tem época que eu não tenho tempo nem para respirar..)

Anônimo disse...

Anna,
Que engraçado... escrevi ontem um comentário no seu post sobre "Liberdade" e hoje fui ler mais alguns dos seus posts antigos, já que descobri o blog agora.
Estou vendo que temos algumas coisas em comum, paixão por livros, a idade (tenho 35), e a maternidade!
Me chamou a atenção o título desse post, e achei muito bacana você expor seu sentimento dessa forma, pois às vezes me sinto assim, e quando falo para alguém que poxa, queria tanto um tempinho para mim, acham que eu sou egoísta. Acho a melhor coisa do mundo ser mãe, mas é óbvio que às vezes ficamos de saco cheio e atire a primeira pedra quem nunca ficou!!!
Até mais,
Flávia Cardoso.

anna v. disse...

Flavia, que legal. É sempre bom compartilhar esses sentimentos verdadeiros, para não nos sentirmos as mães carrascas. É isso aí que você escreveu, é a melhor coisa do mundo, mas também enche o saco!