14.4.09

Bavardage

Existem mil provas científicas de que as mulheres falam muito mais do que os homens, em número de palavras. Sinceramente, não sei por que se gasta tempo e dinheiro para pesquisar e chegar a esta conclusão tão óbvia. Dizem que tem a ver com os lados do cérebro, mais desenvolvido nesse aspecto da linguagem, e que por isso as bebês meninas falam mais cedo do que os meninos etc e tal. Outro dia li um livro que, entre outras coisas, falava sobre isso, e dava um exemplo ótimo. Dizia lá que um dos códigos de comunicação entre mulheres é o elogio mútuo. Essa história de "Seu cabelo ficou ótimo!", "Que blusa linda!", "Amei esse vestido", etc. E aí a autora (mulher, claro) falava que nesses casos ainda aflorava mais uma característica feminina, que é a de prestar um serviço à outra, de como isso faz seu status subir no grupo etc. Então é assim: quando uma mulher diz a outra mulher "Que blusa linda!", há 99% de chance de a resposta ser algo como "Menina, foi baratíssimo! Comprei numa liquidação na loja Tal". Ou coisas do gênero. Jamais um simples "Obrigada". Pode experimentar, é batata.
Mas então. Que as mulheres falam mais que os homens é ponto pacífico. Agora, o quanto falamos mais é uma questão que, a meu ver, tem as estatísticas distorcidas por alguns fatores. Um desses fatores é a mulher mineira.
A mulher mineira é uma falante compulsiva. A mulher mineira fala sem parar sobre qualquer assunto. A mulher mineira não dá chance ao interlocutor. Vem daí, claro, a fama do mineirinho quietinho (homem).
Mas por que estou eu hoje com essa história aqui? Calma, já chego lá.
Desde que comecei no meu novo emprego, em janeiro, estou instalada provisoriamente numa sala de reuniões, enquanto as obras de expansão não ficam prontas. Com isso, a empresa ficou sem sala de reuniões, e vez por outra alguém vem me pedir para usar metade da minha imensa mesa (uma autêntica mesa de reuniões, de 12 lugares) em alguma reunião sem tanta importância (para as importantes, aluga-se uma sala alhures). Agora que tenho a estagiária, o espaço disponível ficou menor, mas mesmo assim é usado de vez em quando.
Eis que desde ontem temos, não sei bem, uma espécie de auditoria acontecendo aqui. Ou fiscalização, sei lá. Sei que são duas pessoas que estão examinando as contas da empresa, e na falta de lugar, vieram parar aqui no meu latifúndio em forma de mesa. Um homem e uma mulher. Uma mulher mineira.
Convivi poucas horas com a mulher mineira. Nem ao menos sei o nome dela. Mas já sei que:
Hoje ela pediu à tia que comprasse banana (madura), porque quer tomar uma vitamina à noite;
Faz faculdade, e fez prova ontem - uma boa prova, ela está confiante;
Vai tirar férias em março de 2011 (!!) porque é quando se forma, e a família vem de Minas para a formatura;
A irmã fez aniversário ontem. Ela ligou para a mãe (pede a bênção quando a mãe atende) para que transmitisse os votos de parabéns. Depois ligou para a irmã aniversariante para dizer que já tinha ligado para a mãe para que esta lhe transmitisse os parabéns (?!)
Fez um exame qualquer e hoje só pode tomar líquidos - almoçou sopa, e é provável que seja por isso a vitamina de banana.
Tudo isso ela conta para o seu colega de trabalho. Que, coitado, não demonstra o menor interesse, não pergunta nada, não responde. Só ouve calado. Será se ele é mineiro também? ("Será se", construção típica mineira)
E eu, cheia de trabalho pra fazer.
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5 comentários:

vera maria disse...

Que interessante, anna, qual será o exame que ela fez? Acho que ainda fará, talvez uma colonoscopia, (argh) pq tem de ter tudo limpo e ela ainda vai ter de tomar um monte de laxante...:) caramba, que viagem tenebrosa a minha :)
beijo,
clara

vera maria disse...

Se der vontade, fotografa a mesa, please...:)
abraço,
clara

. disse...

Sensacional, tem um crássico episódio dos Animaniacs em que os irmãos Warner se vêem às voltas com um sujeito que está em uma recepção e fica dissertando sobre a bolinha de queijo. Por horas. A ponto de deixar os irmãos Warner enlouquecidos. Desde então, pra mim, esse tipo de pessoa é "gente que fala da bolinha de queijo".
Hm, eu sou meio assim também, posto que sou quase mineira, uns 30 km separam minha terrinha natar de Minas.

Isabella Kantek disse...

Geeente, que tipa! Olha, eu tascaria um fone no ouvido e mandaria ver no trabalho...

Anna, inúmeras vezes me peguei pensando no exemplo do livro porque ele acontece com frequência na aula de dança. Eu sempre elogio uma das filhas da minha amiga, digo, as roupas que a garotinha veste, e a mãe nunca responde com um obrigada. É sempre "ganhou de natal da avó", "comprei na promoção"...
Eu também já me peguei fazendo isso. Também já procurei me controlar e só responder o que me perguntam.

Anunciação disse...

Será que não sou mulher e só agora descubro?Eu só digo obrigada e dou um sorriso,quando recebo esse ou qualquer elogio!Verdade!E o rapaz que trabalha com a faladeira,não sei se é mineiro,mas é homem e educado.