16.9.11

Cul de Sac, de Richard Thompson

A Frida Helê fez um post calvinista (e como vocês sabem, Calvin mora num lugar especial no meu coração), e aí me lembrei de comentar dos livros que tenho lido (leitura de banheiro) e gostado muito, e que vão no mesmo estilo: Cul de Sac. Tanto quanto sei, não foi publicado no Brasil.
Assim como Calvin, uma família típica americana, mas desta vez um casal e dois filhos, Alice (4 anos), que frequenta o jardim de infância, é mucho loca e tem amigos figuraças, e Pete (uns 7, por aí), que é cheio de frescuras e vive lendo revistinhas. É divertidíssimo.
Fica a dica: http://www.gocomics.com/culdesac


Tradução livre:
Pai: Minha vida se cruza com a da Alice apenas o suficiente para ser surreal.
Mãe: Hmm?
Alice: O papai está me dando nos nervos. Ele está sempre logo ali.
Pete: É porque nossa casa é muito pequena. Se ele tivesse um emprego melhor, poderíamos nos mudar para um lugar maior.

15.9.11

Desconto no IPTU 2012 - até 30/9 (apenas para cariocas)

Porque blogue também é serviço.

Para quem ainda não o fez, vale a pena se cadastrar no site notacarioca.rio.gov.br, onde estão registradas todas as notas fiscais eletrônicas emitidas contra o seu CPF entre março e agosto deste ano (escola, cursos, academia de ginástica, salão de beleza, depilação, honorários de profissionais liberais, médicos, dentistas etc.). Um percentual do ISS de cada nota pode ser usado como crédito para desconto do IPTU 2012 - mas a indicação do imóvel só pode ser feita até o final deste mês. Mais de uma pessoa pode indicar o mesmo imóvel para desconto. Eu consegui R$ 11,00. Não é nada, não é nada...

É claro que essa nota carioca é uma porcaria se comparada à nota paulista, que engloba comércio de mercadorias, e não apenas serviços, mas mesmo assim. Eu queria saber quando é que teremos, no Rio, um sistema como o da nota paulista, englobando comércio. Aliás e a propósito, mesmo quem não mora em São Paulo deve se cadastrar na nota paulista, principalmente se fizer compras pela internet. Quase todas as empresas de e-commerce têm sede no estado de São Paulo, então quem costuma comprar online tem sempre créditos - que podem ser utilizados de várias formas, inclusive crédito na sua conta corrente. Olha que prático.

14.9.11

Ah, a Bienal

Fui 3 vezes à Bienal que terminou no domingo. Não entendo como pode ser um sucesso tão grande de público, mesmo sendo tão longe (no RioCentro, nome que é uma piada pronta), mesmo tendo que pagar para estacionar e para entrar, mesmo os livros custando o mesmo (ou praticamente) que na livraria, mesmo as opções de comida sendo os horrores caríssimos de sempre, mesmo com as filas imensas para ir ao banheiro, comer cachorro quente ruim ou simplesmente para pagar uma compra no caixa do estande.
Mas o fato é que as pessoas vão, na casa das centenas de milhares, para curtir a Bienal, que é na verdade uma enorme livraria dividida em três pavilhões. E as pessoas gastam, e como gastam. Incrível como vão para lá com a disposição de comprar muitos livros e deixar um bom dinheiro. Fico me perguntando se leem todos os livros que compram.
Eu acho divertido, porque sempre encontro um monte de colegas do mercado editorial, fico sabendo das últimas fofocas, vejo que editoras afinal compraram os livros que nós deixamos de contratar (aqueles que a gente fica torcendo para ser um fracasso, já que não publicamos). E sempre tem os eventos com autores nossos, que é uma parte muito gostosa, conhecer os autores, conversar com eles etc.
Mas o mais legal é ficar no estande observando quem está comprando os livros que a gente se esforça para publicar. Porque nós, os operários do mercado editorial, vivemos num universo totalmente à parte do consumidor final, e a Bienal é uma rara oportunidade de observar o leitor em ação, exercendo sua escolha, comentando com o amigo, recomendando um livro etc.
Os leitores do Rio foram à Bienal? Compraram muito livro?

7.9.11

Liberdade, de Jonathan Franzen


Poucas vezes a frase "Don't believe the hype" me pareceu tão acurada. Eu deveria ter desconfiado quando vi, na capa, o selo dizendo "O livro do ano, e do século - The Guardian". Uma afirmação com esse grau de presunção deveria ter disparado alguns alarmes. Além disso, quando Liberdade saiu nos EUA, em 2010, o autor saiu na capa da revista Time, com o título "Great American Novelist". Hmm. Nos EUA o livro é um bestseller, recomendado até pela Oprah*. A crítica compara Franzen a Tolstói em sua capacidade de retratar a vida americana nesses tempos que correm. Estava armado o circo do hype literário.

Mas não fui uma simples vítima desse hype. O fato é que li e adorei seu livro anterior, As Correções, de 2001.  Assim como aconteceu com Milton Hatoum e Miguel Sousa Tavares, minha empolgação com um livro (Dois Irmãos do Hatoum, Equador do MST, As Correções do Franzen) me fez comprar o lançamento seguinte sem pestanejar -- apenas para amargar uma decepção daquelas.

E é em respeito a As Correções que eu não escrevo aqui que Liberdade é simplesmente uma bosta (e também porque não é muito fino escrever uma coisa dessas). Então vamos dizer apenas que é um livro ruim. Ou melhor ainda: que é um livro de que eu não gostei. Vamos ser ainda mais camaradas e dizer que tenho andado numa maré de falta de sorte com a ficção literária, já que também não gostei de 2666 do Roberto Bolaño. E pronto, chegamos àquele adorável clichê de final de namoro: o problema é comigo, não com o livro!

Ah, porra nenhuma. É uma porcaria mesmo. E vou explicar por quê.

Liberdade gira em torno da família Berglund (o casal Patty e Walter, e seus filhos Jessica e Joey), e tem outro personagem importante, Richard Katz, amigo de Walter e depois de Patty desde os tempos da faculdade. O início do livro não é tão ruim. É uma narrativa que parte das observações dos vizinhos sobre os Berglunds, e assim, com as esperadas doses de maledicência e fofocada que permeiam qualquer relação de vizinhança, ficamos sabendo dos podres da família, a partir desse olhar externo. Mas mesmo nesse começo eu já comecei a me aborrecer com um excesso de oh-como-sou-observador-astuto-da-contemporaneidade. 
Havia também questões mais contemporâneas, como, era mesmo o caso de usar fraldas de pano? O trabalho valia a pena? (...) Os escoteiros eram aceitáveis do ponto de visto politico? O trigo sarraceno era mesmo necessário? Onde reciclar pilhas? (...) O seu Volvo 240 às vezes não deixa de entrar em overdrive quando você aperta o botão de overdrive? (...) E o botão com a etiqueta enigmática no painel, que produzia uma clique sueco perfeito, mas dava a impressão de não estar ligado a nada: que diabo era aquilo? (p. 12-13)

Pois, é o que eu pergunto: que diabo é isso? Devo dar um riso constrangido com o canto da boca com essas questões? Era esse o objetivo? Porque se era, falhou espetacularmente, pois elas não me comunicam absolutamente nada. Noves fora eu não ter ideia do que seja um Volvo 240, o que não faz diferença, não acho em nada relevante para a contextualização da narrativa esse trecho, que é muito mais longo do que o citado acima.


Mas vá lá, seguimos na leitura, e essa parte inicial termina na página 36. Aí começa o declínio absoluto do livro, quando ele se torna impossível de salvar: A "Autobiografia de Patty Berglund", intitulada "Todo mundo erra", e escrita "(por sugestão de seu terapeuta)". São intermináveis 166 páginas em que ficamos conhecendo a infância de Patty, seu relacionamento distante com a mãe, o pai, e as irmãs, o infeliz início de sua vida sexual, sua carreira de atleta (jogadora de basquete), a estranha amizade com uma espécie de amiga sanguessuga (parte inverossímil, a bem da verdade, pois Patty podia ser ingênua, mas não era idiota), a aproximação de Richard e Walter, e as escolhas péssimas que ela vai fazendo ao longo da vida. Durante a Autobiografia, Patty se refere a si própria tanto como "Patty" como quanto "a autobiógrafa", mas o mais grave é que a voz do narrador (ou seja, de Patty) não difere significativamente nem do trecho que veio antes, nem do trecho que vem depois. É como se Patty e o narrador onisciente do resto do livro fossem a mesma coisa. Incompreensível.

E é chato, minha gente. É maçante. Veja, personagens desinteressantes, simplórios ou patéticos não são necessariamente tediosos. Mas aqui, sim. Nada me convence. A tensão sexual latente entre Patty e Richard, problematizada pelo fato de que ambos amam Walter, é banal. Quando consumada, as cenas são tediosas. E chovem os trechos "vou-fazer-frases-de-efeito". Como esse parágrafo:
Cortou as batatas em ângulos muito estranhos. Lembravam um quebra-cabeça geométrico. (p. 178)
Ai, caramba, quero meu dinheiro de volta! Este foi um parágrafo de 2 frases, mas no mais das vezes abundam os parágrafos de 50 linhas, os apostos entre colchetes que são uma frase só de 30 linhas. E, bem, esse tipo de coisa só presta se você for mesmo um gênio. Caso contrário, nem tente.

Walter é um personagem santo durante a maior parte do livro. Passivo, cordato, se contenta com as migalhas que Patty lhe reserva, parecendo sempre feliz por ter conseguido, ele, um nerd, casar com aquele mulherão. E quando Walter finalmente começa a dar uma virada, ela se inicia através de uma história de reservas florestais para salvar mariquitas azuis ameaçadas de extinção mas que na verdade não passava de um golpe para aquisição de áreas ricas em carvão porque as políticas de extração estavam prestes a mudar no Congresso, tudo decidido entre os figurões de Washington amigos de Dick Cheney e por aí vai. Mas meu Deus, ele se senta com Richard para explicar essa história e passa 25 páginas discorrendo sobre os detalhes! Aaah! 25 páginas de texto sobre essa merda! E não pense que o estilo é de thriller político-corporativo-jurídico-Crichton-Turow-Grisham. Quem dera, porque esses caras ao menos criam ganchos entre seus capítulos curtos, benditos sejam. Não. É tudo chato, porque o Walter é um cara super certinho e careta, portanto ele é chatinho também, é quase como se a gente lesse por pena.

E o Richard é um personagem que não fede nem cheira, um roqueiro que faz sucesso quando menos espera e quando já não deseja o sucesso, um comedor de mulheres como qualquer roqueiro estereotipado que se preze, que não tem remorsos (exceto quando se trata de Walter) e quer que tudo se foda mesmo. Mas é aquela coisa: de onde menos se espera, é dali que não sai nada mesmo. Não é Richard que salva o livro.

Dizem que tem uma parte sobre Joey que é das melhores, que ele é um dos personagens principais também. Acho que jamais saberei. Quando cheguei a um final de capítulo na página 251 e vi que ainda não estava nem na metade, desisti. Já estava mesmo pulando grandes trechos, já tinha dado gritos de impaciência com o livro, enfim, já deu o que tinha pra dar.

Mais que tudo, Liberdade me pareceu um livro sem ritmo. A narrativa é tão estanque, tão truncada, que me senti travada enquanto lia. Bons livros podem ser lentos ou velozes. Mas a ausência de qualquer ritmo, a falta de uma cadência, são fatais.

PS sobre a lamentável edição brasileira

Assim como As Correções, Liberdade saiu aqui pela Companhia das Letras, editora que costuma primar pela excelência no tratamento do texto -- ótimos tradutores, preparadores de texto, revisores. Mas neste caso, por um engano, foi para as lojas uma primeira tiragem com um sem-número de erros bisonhos de tradução. São palavras faltando, erros de concordância e coisas estapafúrdias como "comessasse" ou "sobiu". Mas não só isso. Questões estúpidas de tradução, que me incomodam sobremaneira, porque mostram a falta de um mínimo esforço para adaptar ao falar brasileiro, um desprezo total ao leitor brasileiro. Como na página 198. Uma conversa telefônica entre Patty e Richard, que chega a um beco-sem-saída, aquele momento em que você já não tem mais o que dizer num diálogo que está, desde o início, sendo constrangedor para todas as partes. Todo mundo já passou por isso, todo mundo identifica a situação.
"O que foi isso?", perguntou Richard.
"Nada. Desculpe."
"Então, de qualquer maneira."
"De qualquer maneira."
"Resolvi que não ia."
"Certo. Entendi. É claro."
"Certo, então."
Péra aí, pára tudo. "Então, de qualquer maneira." "De qualquer maneira." ??? Alguém consegue imaginar uma pessoa falando assim ao telefone? Não sei como é o texto original em inglês, mas aposto 20 mariolas como é: "So, anyway." "Anyway." É o clássico termo para não-sei-mais-o-que-dizer. E não é difícil lembrar como se diz isso no Brasil: "Mas enfim." "Enfim." É claro que, literalmente, Anyway = de qualquer maneira. E em muitas situações essa equivalência vale. Mas nunca num caso como este.

Pesquisando na internet, vi que outros leitores estavam tão estupefatos quanto eu com os erros de revisão, e um deles, comentando no blog da própria editora, disse exatamente o que eu penso: a vontade é jogar a edição brasileira no lixo e ler o original em inglês. Gostei tanto desse comentário, que comentei também, e até citei alguns dos erros que achei ao longo do livro. Alguém anônimo da editora respondeu apenas que infelizmente a primeira edição tinha saído com erros, mas que já tinham sido corrigidos numa nova edição.

Ora, se alguém na área de atendimento ao leitor da editora em que eu trabalho responde desta forma a um leitor com esse tipo de reclamação, vai para o olho da rua. Caramba, a editora botou no mercado um produto com defeito, e eu comprei!, e escrevi para dizer que estava insatisfeita com meu produto defeituoso. O mínimo a fazer é oferecer a troca por um produto sem defeito! Mas não, nada do tipo. Claro, eu é que não escrevi mais para lá dizendo isso, porque não serei eu a dizer à concorrência como proceder, e porque não quero nem um exemplar deste livro, muito menos dois. Mas a arrogância é de dar dó. Numa era em que o consumidor é cada vez mais difícil de alcançar, em que você, enquanto editora, precisa suar para fidelizar esses clientes, principalmente esses que estão te dizendo: eu posso ler em inglês e não vou mais comprar seus livros, seus idiotas!, responder assim é um suicídio para a imagem.

Porque na verdade é isso mesmo. Leitores como eu, mais apegados ao conteúdo do que ao produto físico livro, possuidores de um Kindle e uma conta na Amazon, e fluentes em inglês, simplesmente não precisam mais das editoras brasileiras para ler literatura estrangeira. Da própria Companhia das Letras, eu quero ler O décimo primeiro mandamento do Abraham Verghese (632 páginas, R$54), e O Homem de Beijing do Henning Mankell (512 páginas, R$46). Mas com um clique posso comprar Cutting from Stone (947 KB, US$9,57) e The Man from Beijing (616 KB, US$10,58). É mais barato, mais rápido, e até mais ecológico. E se eu não gostar, não preciso me preocupar em me livrar do exemplar.


*não que isso seja tão fora do normal: a Oprah tem um celebérrimo clube do livro que tem feito muito pela promoção da literatura -- sou a favor.

30.8.11

Saladinha show

Primeira vez que coloco uma receita aqui no blogue -- até porque não sei cozinhar.
Acontece que: na (vã?) tentativa de perder três quilos muito obstinados que parecem ter se apaixonado por mim e não querem me deixar por nada desse mundo, tenho tentado comer menos pão e arroz, e concentrar os almoços em carnes com salada. Por isso, compartilho aqui a saladinha show que tem me feito um pouco mais feliz nessa dureza que é a vida de dieta.


O básico: 

  • alface (crespa, roxa e verde)
  • rúcula
  • tomate em rodelas ou tomatinho cereja
  • cebola crua em rodelas
  • pepino em rodelas

O molho:

  • azeite extra virgem
  • molho shoyu
  • ervas finas

misture tudo numa molheira e sirva com a colher. (Em tempo: esse molho é um coringa, fica bom no arroz, peixe etc.)


Os frufrus que fazem a diferença:

  • mostarda à moda antiga ("à l'ancienne"), aquela que vem com as sementinhas
  • queijo branco (melhor opção: de cabra; se não estiver com essa grana toda: cottage - mas eu só gosto da marca St Martins, as demais acho cremosas e enjoativas demais; ou então queijo Minas)

O crème de la crème:

  • amêndoas em lascas tostadinhas no forno elétrico, ainda quentinhas
Pode não ser a salada mais diet do mundo, mas pelo menos é muito gostosa!

28.8.11

A decadência do sabor-chocolate

É hora do lanche, que hora tão feliz, queremos biscoitos São Luiz!

Não adianta. Por mais que tentemos levar a cabo uma alimentação consciente, saudável, orgânica e o escambau, ainda somos todos fãs da boa e velha gordura vegetal hidrogenada, presente em dez entre dez bobagens comestíveis. Simplesmente não é possível viver incólume aos produtos industrializados que conquistam pela praticidade, preço, acessibilidade e doses cavalares de açúcar.
Meu primo F. já me havia convencido de sua teoria sobre o sabor-morango. Segundo essa teoria, o sabor-morango é o que encontramos em biscoitos, danoninhos, bolinhos Ana Maria, balas e picolés. Não tem absolutamente nenhuma relação com a fruta morango, daí a pertinência do hífen em sabor-morango: é um terceiro vocábulo cujo significado em nada se relaciona com as duas palavras que o compõem (sabor e morango). Então você pode ter, por exemplo, uma torta feita com a fruta, e será uma torta de morango. Ou você pode usar as essências e a massa pronta, sem usar a fruta, e terá um bolo de sabor-morango. Coisas muito distintas.
Recentemente me dei conta que o mesmo acontece com o chocolate. Existe também o sabor-chocolate, encontrado nos mesmo produtos (biscoitos, bolos etc.). E é neste caso que temos percebido uma forte decadência em relação a uns vinte anos atrás.
Não é questão de nostalgia ou de coisas que achávamos incríveis quando éramos crianças e simplesmente crescemos para parar de idolatrar, como desenhos do He-Man e Caverna do Dragão. Não. As coisas realmente pioraram muito. Marido foi o primeiro a acusar o golpe. Reparou, com muita propriedade, como o Biscoito Bono de chocolate é hoje em dia muito, mas muito inferior ao então chamado Biscoito São Luiz de chocolate. Teoricamente deveria ser a mesma coisa, que só mudou de nome -- e de peso líquido, pois o que mais se vê hoje em dia são os avisos nas embalagens: redução de peso de 20%, redução de quantidade de 15% (isso em pacotes de biscoito, fralda, pão de queijo, qualquer coisa). Mas enfim, tergiverso. O importante é que o gosto do biscoito sabor-chocolate piorou muito. É um biscoito recheado, pois não. Os biscoitos que circundam o recheio têm hoje um gosto indefinido, fraco, esfarelento, rarefeito. É praticamente uma bolacha qualquer, não tem mais o, como direi?, o punch do chocolate.
Além do Biscoito Bono, outra vítima foi o Nescau. O que aconteceu com o Nescau?! Ficou ruim. Ruim mesmo! E fraco também. Parece uma tática para obrigar e colocar 200 colheres de Nescau num copo de leite para torná-lo ligeiramente amarronzado. E o pior é a insipidez: coloco 200 colheres e o leite fica com gosto de... leite!
A verdade é que tem sido uma luta não me tornar uma pessoa do tipo no-meu-tempo-tudo-era-melhor.

26.8.11

Segunda chance

Uma das 850 vantagens de morar perto do trabalho e poder almoçar em casa é que com isso você tem uma segunda chance de acertar a roupa do dia. Quem é que nunca subestimou a frente fria e saiu só de blusinha sem marga para chegar à esquina tiritando, ou ao contrário, olhou pela janela, viu umas nuvens, meteu um casaco de lã e uma echarpe à guisa de cachecol só para descobrir, na hora do almoço, que a temperatura está na casa dos 35 graus? Pior ainda é ser enganado pelo sapato pseudoconfortável que te faz chorar de arrependimento o resto do dia.
Indo para casa na hora do almoço é possível corrigir essas distorções - isso para não falar da delícia que é, no auge do verão, poder tomar um banho no meio do dia para encarar a tarde.

Então pronto ok, já matei todos de inveja, posso dar a semana por encerrada.
Tchaubeijomeliga.

25.8.11

Empacando vidas

Como vocês sabem, aproveitei minhas duas semanas de férias para fazer coisas excitantes, como ir ao dentista e fazer a vistoria do carro. No caso, a vistoria de transferência de propriedade, já que compramos o carro que era da minha mãe. Agendei em maio a vistoria em agosto. E no dia e hora marcados, fui para o posto no Catete munida de um arsenal de meditações zen e coisas para fazer, ler e a determinação de não me aborrecer.
A vistoria em si é rápida e acontece inclusive na hora marcada, o que demora é a emissão do novo documento. Como as pessoas estavam ali esperando havia horas (literalmente) sentadas numas cadeiras desconfortáveis, em um local praticamente ao ar livre (que não gosto nem de pensar como será no verão), resolvi dar uma volta pelo Largo do Machado, que sempre tem coisas interessantes para se ver (ou pelo menos mais interessantes do que o posto do Detran), e além do mais precisava apanhar uma radiografia periapical completa (ui!) numa clínica dentária, para a consulta odontológica do dia seguinte.
Quando voltei, munida de água mineral gelada sabor limão e o último número da Piauí (o da queda do Jobim), já tinham gritado meu nome (sim, os funcionários ficam dentro de uns trailers com janelinhas deslizantes, e de quando em quando gritam o nome da pessoa em questão, um luxo só). Então fui até a janelinha, me identifiquei e apresentei todos os meus documentos. A mocinha que me atendeu era nova (incrível como sempre pego os novatos nessas situações), e ficou tirando dúvidas com a funcionária veterana ao lado. Depois de alguns percalços e digitações erradas, finalmente saiu o documento em meu nome. Mas com o ano de 2010.
-- Vem cá, meu bem, por que está escrito 2010 aqui?
-- Porque falta pagar o IPVA.
-- Eu sei, não pude pagar antes porque a antiga proprietária (minha mãe) é isenta de IPVA. Posso pagar aqui agora?
-- Não. A senhora tem que pagar e então agendar a vistoria anual?
-- Como assim? Eu acabei de fazer a vistoria anual há... 1 hora atrás.
-- Pois é.
-- Não posso apena pagar o IPVA? Tenho que fazer nova vistoria?
-- (risinho amarelo)
Cumpri à risca minha determinação de não me aborrecer. Até poderia tentar ligar para o Detran e explicar o absurdo da situação, na esperança de não precisar fazer essa surreal segunda vistoria, apenas pagar o IPVA devido (o que até já fizemos). Mas sinceramente, qual a minha chance de sucesso?

O curioso é que, enquanto esperava a emissão do documento, observei que alguns funcionários do Detran usam uma camiseta institucional, sobre emplacamento, onde se lê: Detran-RJ - Emplacando Vidas. Só que o "Emplacando" é escrito em letra bastão, e o "Vidas" vem na linha de baixo, em letra cursiva meio na diagonal, e o traço do V passa bem por cima do "L" do "Emplacando". O que muito me lembrou a teoria freudiana sobre as motivações psicanalíticas dos atos falhos.

23.8.11

Fogo de Chão carioca ainda meio tépido

A vista é a melhor iguaria
Há pouco tempo foi inaugurada a primeira filial carioca da famosa churrascaria paulista Fogo de Chão. A localização é espetacular: na enseada de Botafogo, caindo praticamente sobre a baía de Guanabara. Como meu trabalho tem vista justamente para este lado, eu e meus colegas de sala acompanhamos ansiosamente o andamento das obras. Por fim na semana passada fomos, em caravana, conhecer o famoso churrasco gaúcho que faz a fama da casa em suas diversas filiais mundo afora.
Como o escritório é bem perto, fomos a pé, e passamos pelo primeiro percalço. É que a entrada é praticamente só para carros. Quem vai a pé tem de subir uma rampa -- a mesma dos carros, dividindo o espaço com eles. Não é muito agradável.
Mas depois que se entra tudo melhora. O ambiente lá dentro é bonito e moderno, conseguimos uma mesa junto aos imensos janelões de vidro, que dão para um deck, e o resto é mar. Os garçons usam um figurino gaúcho típico que acho meio caricato, mas não chega a incomodar e deve ser marca registrada da rede. E vale dizer que os garçons são um dos pontos altos: simpaticíssimos, super presentes e solícitos.
O bufê das saladas é apenas correto (gostei mais, por exemplo, das saladas do Da Silva do Centro, que merece um post dentro desta nova tag restaurantes). As variedades de praxes, belas folhas, queijos e poucas opções de molho.
Os acompanhamentos para as carnes me pareceram um pouco estranhos: farofa de ovo, pão de queijo, queijo na brasa, banana frita, cebola frita. Mas tudo bem, estava lá mesmo era para provar as famosas carnes! Mas oh, foi justo aí a maior decepção. Salvaram-se a picanha e um outro corte cujo nome não me lembro, mas no geral ficou léguas abaixo da minha expectativa (e dos R$92 que custam o rodízio!). Duas das carnes que mais gosto, linguiça e paleta de cordeiro, estavam incrivelmente duras. E ainda por cima, eu e T. fomos brindadas com facas cegas, o que tornava o ato de cortar a carne um empreendimento e tanto (verdade que assim que comunicamos o fato ao garçom ele trocou na mesma horas, mas mesmo assim, facas cegas? francamente!). As carnes vêm numa velocidade espantosa, e se você estiver com o cartãozinho verde virado para cima ("Sim, por favor!"), nem dá pra conversar, tantos são os gaúchos surgindo de todos os lados com espetos imensos.
Não sei se eles ainda estão se adaptando, se os fornecedores não são os melhores, mas eu fiquei decepcionada e não pretendo voltar tão cedo. Continuo achando a Porcão e a Marius opções bem melhores na categoria churrascaria rodízio.
E pelo visto, não sou só eu: outras críticas pouco lisonjeiras aqui e aqui.

21.8.11

Maternidade, cemitério de ilusões

Cinco anos de blogue, e esta foi a primeira vez que passei um mês sem postar nada. Como dizia aquele antigo desenho do Pica-pau, em todos esses anos nessa indústria vital, esta é a primeira vez que isso me acontece. Não teve muito motivo para a ausência além daqueles de sempre. A correria, as crianças, etc. Some-se a isso tudo meus 15 dias de férias, e o fato de que fiquei escrevendo um post enorme sobre a falência da Borders, segunda maior cadeia de livrarias dos EUA, ocorrida em julho depois de lenta agonia, mas o post ficou tão grande e complexo, cheio de números e análises, que desisti de publicar. O que me interessa mesmo é falar sobre o futuro do mercado editorial, dentro do qual a ponta que corre mais perigo imediato é, naturalmente, a das livrarias, com o advento e a popularização do e-book, que nos EUA já tomou uma proporção com que o mercado brasileiro ainda nem sonha. E dizer também que eu acho o e-book uma coisa ótima e que faz todo sentido em muitos aspectos, ainda que não vá, é claro, fazer o livro impresso desaparecer.

Mas enfim, o título deste post. Com as férias e a maior convivência (forçada) com as crianças, algumas coisas se tornam mais perceptíveis. Por mais que a gente assuma e reconheça o mito da maternidade, ainda é muito difícil aceitar certas situações. Como a de que você fica de saco cheio dos seus filhos com uma frequência enorme. Principalmente se tem de passar o dia inteiro com eles. É difícil pacas aceitar o fato de que eles também têm dias ruins, e que isso não tem necessariamente a ver com você, a mãe. Não é pessoal, saca? A gente sabe que lá pelos 4 anos a criança começa a perceber que não é o centro do universo, mas que tal a mãe também se dar conta de que nem sempre é o centro do universo dos filhos.

E tem mais: não adianta, que não seremos sempre a mãe que tem ideias geniais para um fim de semana de chuva, nem a mãe que leva os filhos ao parque num fim de semana de sol e brinca incansavelmente. Isso acontece, é claro, e ainda bem. Mas no mais das vezes, não acontece. Como diz a ScaryMommy, não adianta querer competir com a mãe que cria sensacionais e deliciosas receitas orgânicas com a ajuda dos filhos, ou com aquela outra que tem um talento ímpar para inventar fantasias e acessórios de origami que deixam os pequenos mesmerizados. Porque essa mãe tampouco é infalível, e deve ter uma lista ainda maior de coisas que faz pessimamente.

O desafio é tentar encontrar o equilíbrio entre concentrar e aprimorar os pontos fortes (no meu caso, ajudar a fazer cartões de agradecimento com cola e purpurina, e depois mandar pelo correio em lindos envelopes customizados; ajudar no dever de casa; andar de bicicleta com criança; brincar de "cadê?/achou!" 750 vezes seguidas) e melhorar os pontos fracos (basicamente, não me comportar como outra criança de 3 anos e meio nos momentos de crise aguda; gerenciar melhor a frustração e a impaciência quando o bebê de quase 10 meses não quer comer a papinha que você teve o maior trabalho pra fazer, ou quando o bebê não faz qualquer coisa que você quer muito que ele faça, como dormir, por exemplo).

É, a gente se cobra muito, e não tem como ser diferente. Tem que se cobrar e sempre procurar melhorar, sim. Mas temos que ser mais realistas do que achamos que já somos. Lemos tanto sobre os desafios e dificuldades de ser mãe, que achamos já estar mais ou menos preparadas. Mas não estamos. Todas temos problemas para encontrar o limite entre a necessidade e o desejo de ter um tempo para si -- e quase escrevi "real necessidade" e "simples desejo", o que já é uma forma de diminuir a importância do desejo, uma perspectiva por demais apolínea.

Parece que a vida está sempre nos pregando peças, criando pequenas armadilhas para testar a nossa capacidade de crescer e multiplicar.

Pra terminar: hoje foi um daqueles dias em que a inspiração vem e tudo ajuda. Minha avó está com muita saudade de Mathilde, mas ela não queria ir para a casa da Bisa. Então propus que ela se fantasiasse de Chapeuzinho Vermelho, com cestinha e tudo, e fosse levar uns doces para a vovozinha. Sucesso absoluto.

Pela estrada afora, eu vou bem sozinha...