26.1.07

A carranca

Estamos perdendo -- e de lavada -- a guerra contra os mosquitos. Quanto mais matamos, mais eles aparecem. As latas de Raid preto (o melhor) acabam em uma semana. Dormir à noite é um terror, o zumbido, infernal. Estou toda picada nos braços e pernas, parece que estou numa chácara. Pelo menos voltou o calor e podemos dormir com o ar.
Mas outro dia matei um pernilongo gigantesco, no meu banheiro. Esmaguei o desgraçado no batente da porta (acho que com uma revista, uma toalha, sei lá, porque não alcanço lá em cima). Ficou o cadáver pregado no batente, em cima da porta, e eu deixei, porque não alcançava pra tirar. Passaram-se vários dias.
Aquilo virou uma espécie de carranca protegendo o banheiro.
Não tinha me tocado disso até o momento em que percebi que o número de mosquitos naquele banheiro havia diminuído bastante. No outro banheiro, nos quartos, a invasão continuava. Comentei sobre isso com ele, rimos da história, e ele, que é mais alto, tirou o cadáver do batente.
Dito e feito. Eles voltaram ao banheiro, com força total.

Ou seja, nunca subestime o poder de uma carranca -- ainda que seja um pernilongo esmagado. Essas coisas, né, sei lá.

Perigo!

Cuidado comigo.
Já quebrei três copos hoje.
(Sem querer)

Dinheiro em penca


Leio esta matéria (via Contemporânea) sobre a tendência (nos EUA, por enquanto) de mulheres fazerem compras em dinheiro vivo para não ter que dar explicações aos maridos/namorados/companheiros. Mulheres bem-sucedidas e independentes financeiramente que gastam valores que os homens "não compreendem" em coisas como bolsas, sapatos, salão de beleza.
Fico perplexa. É inacreditável.
É minha velha teoria de que as pessoas se casam pelos motivos errados. Casam porque acham que precisam. Os casamentos passam a ser, em pouco tempo, relacionamento equivocados, onde a individualidade de cada um perde o valor. A menor unidade passa a ser "o casal", é quase impossível discernir um do outro. Fazem tudo juntos, menos por prazer e mais por convenção. Não há programa que um vá sem o outro, mesmo que seja o programa do gosto de apenas um. São "pequenos sacrifícios em prol de uma coisa maior", a saber, a sobrevivência da relação.
Sim, isso existe. A toda hora a gente precisa fazer concessões, abrir mão de algumas de nossas próprias idiossincrasias, em prol dessa coisa maior que é ficar junto de alguém que se ama. Mas por quê? Justamente porque a unidade não é o casal, e sim o indivíduo. Um casal é formado por duas pessoas diferentes, e este é um daqueles óbvios ululantes rodrigueanos que ninguém vê. Acontece que essas pequenas concessões cotidianas não precisam se estender a todos os aspectos da vida. Por que é tão difícil para os casais respeitarem a privacidade de cada um? Por que essa coisa nefasta de vasculhar a conta de cartão de crédito, a fatura de celular, os e-mails?!
Os psicólogos podem falar melhor sobre essa irresistível atração humana pelo sofrimento, essa busca por alguma coisa que esteja errada, essa desconfiança eterna que por fim vai provocar a redenção ao transformar o indivíduo em vítima.
Enfim, de volta às mulheres que pagam fortunas em cash. É frustrante que elas se submetam a isso, mesmo sabendo que homens não têm qualquer problema em gastar fortunas em carros, relógios ou gadgets eletrônicos e anunciarem isso aos quatro ventos como sinal de status.
É, eu também não entendo quem gasta US$ 3 mil numa bolsa. (Outro dia vi na Revista do Globo um editorial de moda que tinha uma sandalinha muito fuleira que custava R$ 2.500,00. Era de grife, e talz. Fiquei pensando que com esse dinheiro compra-se uma passagem de ida e volta para Paris. "Que tal irmos pra Paris nas férias?" "Hmm, não sei, acho que vou comprar uma sandalinha". Eu hein.) Eu não entendo. Mas eu não entendo muitas coisas. Não entendo tanta gente acompanhar a sétima (!!) edição de Big Brother. Não entendo dar-se tanta importância ao Oscar. Não entendo o Caçador de Pipas estar há mais de um ano no topo da lista dos mais vendidos. Não entendo muita coisa, enfim. Mas entendo menos ainda alguém achar que vale a pena gastar esse dinheiro e achar que precisa esconder isso da pessoa que ela escolheu como companheira de vida.
E do alto da minha monumental incompreensão do mundo, acho que vou dar uma volta de bicicleta.

24.1.07

Chama o Al Gore


É janeiro no Rio e eu visto calça jeans e consigo dormir sem ar e até sem ventilador.
"Em todos os anos nessa indústria vital, esta é a primeira vez que isso me acontece", como diria o desenho do Picapau.
(Mas vem cá, não era pra ser "aquecimento" global? Ou é mesmo um curto-circuito geral?)

Eu vi o rei

Apesar de ser um fato altamente "postável", eu nem ia escrever sobre isso. Mas aí li aqui essa menina e mudei de idéia.
Hoje, quando estava voltando pra casa, já de noite, quase em casa, na minha rua, num terreno que é meio abandonado, vi umas pessoas reunidas, olhando pra dentro do terreno, pela grade. Não chegava a ser uma aglomeração, mas era uma reunião atípica de pessoas na minha esquina. Quando passei por lá, vi.
Era o Roberto Carlos. Estava posando para fotos no terreno baldio. De azul, claro. Cafonérrimo. Aquele cabelo horror total. Mas, noblesse oblige, um rei. Sempre.

18.1.07

Laughter clubs


Eu tenho tantas, mas coisas pra fazer até o final de janeiro, que nem acredito. Tudo fica pior com as horas burocráticas que tenho que passar no meu já finado trabalho, até dia 31. E lá tenho também muita coisa pra resolver nessas duas semanas que faltam. Então janeiro é pouca diversão, e muita ralação.

(Ele comprou uma bicicleta para pedalarmos juntos, mas nem o tempo está colaborando. Só chove no balneário. Pena dos turistas.)

Só faço pausas para ver Seinfeld. G. me emprestou os DVDs de todas as temporadas. Todo dia eu vejo um episódio. Às vezes dois. Nesse ritmo, acho que vou passar meses. Conforme você vai entrando no clima, vai achando mais e mais graça. Nos primeiros, achei meio bobo. Já hoje dei gargalhadas com o episódio em que Jerry e Elaine resolvem reviver o antigo caso e virar sex-buddies, mantendo a amizade sem as implicações de um relacionamento homem-mulher.

Depois falei com A. no Skype e ela me falou sobre laughter-yoga. Tem um cara especialista no assunto, que faz uns cursos intensivos. Diz o cara que uma criança ri até 300 vezes por dia. Um adulto, no máximo 17 vezes. 17?, eu perguntei. No máximo, foi a resposta. E aí tem a coisa da endorfina, bem-estar, e tal. Ela disse que quem faz esse curso intensivo (que é na Índia, apenas, hohoho) está qualificado para abrir um laughter club. Um lugar em que as pessoas se reúnem pra rir.
Como ainda não tem laughter club aqui em Botafogo, eu acho que vou encarar a maratona Seinfeld mesmo.

17.1.07

A herança da perda

Christine Wasankari, "Abstract Impressions #5" (2004)
Outro dia ela disse que não estava mais agüentando ler The Inheritance of Loss, o livro que ganhou o Booker Prize, o mais prestigiado prêmio da literatura britânica. Eu também costumo não gostar dos livros que ganham esse prêmio, por isso parei de insistir. E além do mais esse título não me dá vontade de começar a ler, menos ainda num início de ano.
E entretanto o ano está começando com perdas. O pai de uma amiga. O filho de outra amiga. A Meg. A Ray.
O pai da minha amiga eu não conheci. Mas estava muito doente há tempos.
O filho da outra amiga eu também não conheci. Sei que ele tinha 34 anos e morreu num acidente de carro. E sei que não há nada mais brutal do que uma mãe na missa de sétimo dia do filho. Uma vez me explicaram a diferença entre drama e tragédia. O drama segue a ordem natural das coisas. É a filha ir ao enterro do pai. A tragédia subverte essa ordem natural. É a mãe no enterro do filho.
A Meg eu conheci pouco. Freqüentava o blogue dela de vez em quando, e ela uma vez me deixou um comentário super fofo, elogiando este blogue e dizendo que o descobrira via Fezoca. E aí é dessas coisas estranhas de conhecer as pessoas pelos blogues, essas relações que são tão reais e tão diferentes. A gente acaba convivendo e compartilhando tantas coisas por meio dos blogues que freqüentamos, cria-se uma espécie de intimidade mediada pelo computador, pela aparência do blogue -- que, claro, é a cara que damos à pessoa que escreve --, pela maneira da pessoa escrever, pela fato de saber que ela/e está escrevendo não só para mim, mas também para mim, uma mescla de público e pessoal mucho loca. É tão real quanto a sensação de perda que nos vem ao receber uma notícia dessas.
A Ray eu conheci um pouco melhor. Ela na Alemanha, eu aqui. Trocamos muitos emails, falamos no telefone, e nos vimos pessoalmente nas vezes em que ela veio para a Flip. Era daquelas pessoas dinâmicas e cheias de entusiasmo. E só mesmo alguém assim poderia tomar como missão divulgar a literatura lusófona mundo afora. Tarefa inglória, lutar contra a barreira do idioma, convencer os outros a vencer a preguiça, em um ambiente em que a oferta é tanta e de tamanha qualidade. Não sei se as pessoas que trabalham com ela vão conseguir levar à frente um projeto tão bacana com a mesma garra.

E pra terminar esse post macambúzio, volto a The Inheritance of Loss. Eis um e-mail que recebi no início do mês, de um amigo que está morando em Londres. Tiny world...

Vc se lembra do Brad, aquele meu amigo jornalista? Pois eh, ele esteve aqui ha alguns meses...Ah, o que eu ia dizer eh que, quando ele morava no Rio, o sujeito resolveu trazer a namorada que ficou em NYC - uma indiana que acabou por nao se adaptar muito ao Rio. Ela ficou na cidade uns 6 meses mas, ao contrario do Brad, nao "pescou" a vibracao da cidade. Ela ficava dentro de casa, trabalhando no segundo livro dela (segundo o Brad, o primeiro livro da moca era muito bom). Nada de errado, mas eu achava que nao combinava muito essa historia de morar em Ipanema e ao mesmo tempo ignorar o sol, a praia e o convivio social com os "locais". Artistas, ne?

Bueno, mas nao eh que eu levei um susto quando vi que Kiran Desai - o nome da rapariga - ganhou o Man Booker Prize de 2006 com The Inheritance of Loss?? Quando vi a foto dela no livro...Quem diria, que mundo pequeno!! Sempre a achei simpatica mas com uma irremediavel falta de conexao com o ambiente. Toda zen, muito polite, mas sem um pingo de excitacao pelo chope do Belmonte no Flamengo. Ou pela Feijoada do Mineiro em Santa. Ou pela beleza do Rio (vc sabe como carioca fica irritado com gente que nao cai de joelhos jurando amor eterno ao Rio de Janeiro quando confrontado com a beleza natural do lugar). Nada, nenhuma reacao alem da polidez apropriada.
Ta explicado. A sujeita habitava um outro universo. Eh isso, o livro que ganhou o Man Booker Prize foi gestado em Ipanema.

15.1.07

Blitzchato

Asker Askerov, "Ennui".

Então sábado o dia tinha sido tão agradável. Passamos a tarde com B.&L., P.&P., em mais um evento gastronômico, na verdade pretexto para conhecermos melhor P., que nasceu lá em Bogotá na véspera do meu aniversário (3 meses, portanto) e é um bebê muito simpático e com cara de velho. Não porque ele tenha a cara enrugada, mas é que ele nos olha com aquele ennui inevitável de quem já viu de tudo nessa vida. É como Nelson Rodrigues dizia, que Ruy Barbosa já tinha nascido de pince-nez e bengala, assim é P., que além de tudo tem um nome tão pomposo que já passamos a chamá-lo “senador”. O almoço só saiu às 7 da noite (linguini com frutos do mar, uia), e depois ainda ficamos jogando muito papo fora, tanto que quando eu e ele fomos embora, onze e meia da noite, entramos no elevador, eu disse: “Tenho que te dizer uma coisa”. E ele: “Já sei. Está com fome. Eu também”. Você vê, a intimidade é capaz de coisas fantásticas. Eu queria hambúrguer de salmão com suco no BB Lanches, em pé no balcão, uma coisa light, ele queria Cervantes, e acabamos indo pra lá, no menu básico de chope e sanduíche de qualquer-coisa com queijo, abacaxi e muita gordura trans, aquele que você pede e chega 45 segundos depois (eu não sei como eles conseguem). Aí ele ligou pra P. (como tem P. nessa história), que estava saindo do show do Chico Buarque com C. Não podiam ir pro Cervantes porque estavam com mais gente e não ia caber, decidiu-se pelo Plebeu. Eu já querendo ir pra casa, let’s call it a day, estávamos numa conversa tão boa sobre os compositores russos, Borodin, Mussorgsky, Rimsky-Korsakov, vamos pra casa ouvi-los, só nós dois, mas não, tinha que encontrar P. e ouvir a resenha do show, e talz. Chegamos no Plebeu na mesma hora que P. e C., e os tais amigos deles já estavam lá, dois caras e uma garota, e foi aí que nos deparamos com essa figura inconfundível do blitzchato, isto é, o chato-relâmpago, o cara que só precisa de um segundo para apresentar seu atestado de chato profissional. É impressionante. Nunca tínhamos visto o cara na vida, mas bastou abrir a boca pra dizer “Oi”, a gente já se olhou (de novo, a intimidade e seus incríveis poderes), eu já virei pra ele e disse no ouvido, “Nos fodemos”. E o blitzchato falou pelos cotovelos, sobre Chico Buarque e música, de como o show tinha sido “frio”, e como o Chico era assim e assado, e o Caetano, por exemplo, era diferente, e de como a percepção que a nossa geração tem do Chico Buarque é diferente da percepção da geração da mãe dele (mas que puta insight, este!), e outras observações assim tão pertinentes. E o que era mais incrível, ele falava em nome dele e do outro cara, que estava quieto comendo um prato de peito de frango, assim uma coisa meio “Eu e ele achamos que isso e aquilo”, tudo tão estranho e aborrecido. E a garota e P. eram os únicos que interagiam, sempre discordando do blitzchato. Nós dois e C. mudos, e o outro comendo o peito de frango. Depois de meia hora me deu uma coisa, um desespero mais forte que tudo, eu apertei a mão dele e disse “Eu TENHO que ir embora AGORA”, assim baixinho, sem fazer cena, mas enfaticamente o bastante para que a gente partisse meio minuto depois, deixando P. e C. abandonados à própria sorte. E voltamos ouvindo Borodin.

12.1.07

Blé

Eu tinha escrito um post de tamanho razoável sobre o caso da Daniela e do YouTube, mas por algum motivo obscuro o Blogger decidiu que era melhor sumir com o texto.
Então tá. No fundo, não queria escrever mesmo.

Acho que estou um pouco em crise com este blogue. Assim como os casamentos passam pela crise dos 7 anos, acho que estou passando pela crise dos 7 meses (tudo na internet é acelerado mesmo).

Então tá. Hoje vou conhecer a nova casa de festas da cidade, Pista 3. Na Back to the 90's, a festa que eu mais gosto porque toca as músicas da época em que eu saía pra dançar. Músicas do meu tempo. Ha.

E vamos torcer para dar praia no fim de semana.

11.1.07

Brasil, país do emprego

10/01
10:05 – Entro na agência da Caixa Econômica Federal.
10:06 – Pego a senha 481. O painel indica que a atual situação é senha 473.
10:07 – Percebo que, burramente, não levei nada para ler.
10:40 – Leio pela sétima vez todos os formulários que levo na minha pastinha, além da carteira de trabalho. Analiso minuciosamente a minha carteira de identidade, expedida em 1990.
10:42 – Passeio pela agência bancária.
10:50 – Consigo ser atendida pelo único caixa que atende cidadãos menores de 60 anos.
10:57 – Recebo a notícia: “Seu FGTS está aqui, mas a multa só estará disponível amanhã”.
11:05 – Saio da agência da Caixa Econômica Federal.
12:20 – Ligo para a Ouvidoria da Caixa, para reclamar do tempo de atendimento.
12:22 – Desisto depois de várias vezes ouvir “No momento todos os nossos atendentes estão ocupados. Ligue mais tarde. Toin toin toin.” (Reparou? Não é “Aguarde”, e sim “Desista, vá fazer outra coisa”.)
12:23 – Ligo para a Ouvidoria do Banco Central para registrar uma reclamação sobre o tempo de atendimento na Caixa e sobre o não-funcionamento da Ouvidoria da Caixa. A reclamação é protocolada com o número 2007/005321.

11/01
08:30 – Depois de me certificar que não se trata de uma escola abandonada, entro na IV Região Administrativa para dar entrada no pedido de seguro-desemprego. Não há ninguém à vista.
08:33 – Enfim descubro a porta obscura que ostenta a placa “Ministério do Trabalho”.
08:38 – Saio da IV Região Administrativa com tudo resolvido (sem uso de nenhum computador, apenas caneta e carimbo), sem ter usufruído da revista que levei, esperando uma fila imensa.
09:00 – Chego na porta da agência da Caixa Econômica Federal, na esperança de liberar a multa rescisória. A agência só abre às 10:00, não há ninguém na fila.
09:02 – Sento numa mesinha na loja de sucos a 20m da agência, peço um mate e leio a minha revista.
09:45 – Volto para a porta da agência. Há dezesseis pessoas na minha frente.
09:46 – Repito mentalmente dezenas de vezes “Como pude ser tão tapada e não ver esta fila se formando?!”.
10:00 – Entro na agência.
10:01 – Pego a senha 625. O painel informa: 612.
10:30 – Começo a ler as matérias que não me interessam na revista.
10:55 – Consigo ser atendida pelo mesmo único caixa para menores de 60 anos. Saco a multa.
11:00 – Saio da agência com a notícia de que o seguro-desemprego só pode ser sacado ali, na boca do caixa. Esqueça a comodidade do caixa eletrônico ou das casas lotéricas.

Moral da história: rapadura é doce, mas não é mole.