4.2.09

Para a Clara

A Clara Lopez é uma das comentaristas mais frequentes (isto é, frekentes) deste blogue. É a leitora que todo blogueiro sonha em ter: comenta bastante, sempre coisas construtivas, positivas. É uma fofa, em suma. Ela tem um blogue muito bom, o Linha de Pesca. Não sei muito sobre a Clara, exceto que mora aqui perto, no Catete, escreve muito bem e tem um ótimo gosto literário (escreve à beça sobre livros).
Bom, a Clara volta e meia, em seus comentários, dá um jeito de perguntar sobre o meu trabalho. É um assunto sobre o qual já falei por aqui antes, mas sem entrar em muitos detalhes. Um post sobre o mercado editorial, por exemplo, me rendeu os cinco minutos de fama na blogosfera.
Meu novo emprego é nesse mesmo mercado. Estou agora em outra editora. O que faço lá não tem um nome específico. Basicamente, trabalho na fase anterior à contratação dos títulos. Ou seja, faço os contatos com agentes literários estrangeiros solicitando material para análise, ajudo nessa análise (mas não decido nada, só dou minha opinião e ajudo os editores, que são pagos pra tomar essas decisões), e, quando se decide pela contratação, cuido dessa parte. Depois que o contrato chega, confiro se as informações batem com o que foi previamente acertado, e acaba o meu trabalho com aquele título - e é aí que começa a produção do livro propriamente.
Não tem o glamour que pode parecer. São requisitos para a função uma grande capacidade de organizar uma quantidade brutal de informação (são muitos pedidos e muitos títulos ofertados diariamente, muitas ofertas em aberto aguardando resposta, muitas conexões entre empresas e pessoas que é preciso ter em mente) e um saco de jó para ler muito livro ruim. Além disso, é preciso um certo talento de detetive para descobrir que detém os direitos de tradução de certos livros (não me perguntem como isso era feito antes da internet) e muita perseverança para conseguir atenção de gente que nem sabe que no Brasil existe editora.
Mas é legal. Agentes literários e outros profissionais do mercado editorial lá fora são pessoas interessantes, no mais das vezes. E neste trabalho, diferente do anterior, não lido com autor nacional - o que, me desculpem se firo suscetibilidades, é uma bênção. (Meu lema é "autor bom é autor morto - e sem herdeiros".) Tem o frisson dos leilões, que podem ser emocionantes. E, claro, tem o prazer de trabalhar em algo cujo produto final são livros, o que é sempre reconfortante.
Last but not least, da janela vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo.

Como prometido, a vista da minha sala. Lá no fundo, a Pedra da Gávea.

5 comentários:

vera maria disse...

Oh, anna, estou numa fase tão complicada que qualquer manifestação de apreço me deixa assim, os olhos marejados... merci demais pelo afeto, sinto o mesmo por você e considero a mathilde como uma sobrinha-neta verdadeira, tenho uma afeição real por ela, e muita admiração por você.
Você acredita que sei do que vc está falando quando se refere aos editores estrangeiros? Eu fiz uma pesquisa uma vez lá fora e ela consistia em reunir 10 ensaios de críticas feministas na época (1998), conseguir autorização para traduzir no brasil e publicá-los, tudo isso de graça. Vc acredita que eu consegui isso? As editoras começavam querendo cobrar X dólares, eu dizia a que tinha vindo (bolsista do cnpq etc) e acabei convencendo-as a me darem os textos sem qualquer ônus.
Eles são mercenários, mas civilizados, também acho uma vantagem.
Boa sorte sempre no seu trabalho, que vc encontre livros bons mais do que não.
um beijo, obrigada,
clara

Regina Angleri disse...

Oi Ana!!
Acompanho o seu blog a pouco tempo e gosto muito do que escreve.
Você conhece o blog "Breviário das Horas"? (breviariodashoras.blogspot.com) . Você e a Suzana tem a profissão um tanto quanto parecidas, acho que vc iria gostar.

Um beijo.

Isabella Kantek disse...

Pois eu achei o seu trabalho excitante!

E na minha cabeca voce e a Clara eram comadres. =)

Beijos,

vera maria disse...

Mas eu me sinto comadre da anna, isabella, e sobretudo avó-de-rede da mathilde...:) Eu não confiaria muito em mim pra tomar conta porque ela pode chorar e aí desanda tudo, mas se precisar de qualquer outra coisa, estamos aqui...:)
beijo,
clara

ps. E a vista da janela é mesmo linda. Eu amo essas nuvens absurdas no céu da cidade.

anna v. disse...

Deh, mas você deixaria Wisteria Lane dos Pobres? Duvido!

Clara, que bom, fico feliz. E adorei sua definição "Eles são mercenários, mas civilizados". Exatamente!!

Ana, não conhecia o Braviário das Horas, dei uma olhada e achei muito bom! Vou acompanhar. Obrigada pela dica.

Isabella, eu gosto bem do meu trabalho. Mas é que quando você diz que trabalha em editora tem gente que acha que você está descobrindo um novo Borges a cada dia.