12.8.06

Da série E-mails Surreais #2

Episódio de hoje: de como Italo Calvino pode lhe fundir a cuca.

(Contexto: eu morando alguns meses na casa de uma amiga que estava passando uma temporada em Portugal -- isso tem (já?!) cinco anos)

Bem, tenho que te contar uma coisa que aconteceu aqui. Há pouco mais de uma semana, acabei de ler os dois livros do Gutiérrez, o cubano. Era um dia de noite, não lembro se domingo ou segunda, e ainda estava relativamente cedo para dormir, queria continuar lendo. Aí resolvi: é hora de atacar a biblioteca! Vim até aqui o escritório, fiquei olhando, olhando, escolhendo, até que me decidi com relativa facilidade para o livro de que todos falam, Se Numa Noite de Inverno um Viajante, é claro. Hmm, edição portuguesa. Que aventura, pensei eu. E lá fui ler. Tem umas introduções muito chatas, uns estudos literários sobre o livro, que logo pulei. Comecei adorando muito o livro. Cheguei a rir alto várias vezes quando ele vai descrevendo o Leitor entrando na livraria para comprar "o último do Italo Calvino" e passando pelos Livros Que Tens Intenção de Ler Mas Antes Devias Ler Outros, Livros Que Podes Deixar de Ler, Livros Que Todos Leram Portanto É Quase Como Se Os Tivesse Lido Também Tu etc.
Muito bem.
Estou lá encantada com a leitura quando de repente -- estou lendo deitada na cama -- viro uma página, abro o livro um pouco mais e pléc, ouço um estalar estranho. Me reviro na cama e pá! Cai-me na cara um caderno inteiro desta porcaria de edição mal colada! Não acreditei, entrei em pânico. Meu Deus, o livro de S! A única recomendação que ela me fez! Cuidado com os meus livros, não os empreste etc. E eu vou logo no primeiro que leio e arranco um pedaço! Quer dizer, arranco não, caiu sozinho, é uma droga de edição que tens aqui. Como o livro é todo metalinguagem, ainda tive um rasgo de esperança de ler na linha seguinte algo como "e agora cai-te todo um caderno, e entras em pânico. Será que o livreiro vai trocar?". Mas não, nada disso aconteceu. Mas olha, a edição é tão ruinzinha que já achei até uma linha fora de lugar (a última linha de uma página foi parar na última linha da folha seguinte; para sua informação, é no romance No Tapete de Folhas Iluminadas Pela Lua, que é um romance japonês). Será que é proposital? Bem, enfim, estou aqui confessando meu crime. Aí, das duas uma: ou vc compra uma edição portuguesa por aí (esta daqui é da Editora Vega, 3ª ediçao, 1993) ou eu compro uma da Cia. das Letras por aqui.

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