7.5.08

Por que NÃO me ufano de meu país

Agora sou oficialmente uma empregadora. Assinei a carteira de S., que desde o início de abril trabalha aqui em casa três vezes por semana, ajudando com as lides domésticas e mathildescas. Tem sido uma ajuda e tanto.

S. é sobrinha de M., que trabalha na casa de minha mãe há 31 anos. M. foi para ser minha babá, e está lá desde então (e sim, continua sendo minha babá, no fundo...). S. tem a minha idade. E por ser sobrinha de M., nós nos conhecemos desde pequenas. Brincávamos juntas quando crianças. Na praça, na praia, lá em casa. Depois, crescemos e não nos vimos mais, e eu ficava sabendo de sua vida pelo que M. me contava. Que ela casou. Que teve 3 filhas. Que foi morar em Pernambuco. Que voltou de Pernambuco e veio morar perto da mãe.

Por acaso, S. estava aqui em casa no dia em que Mathilde nasceu. Viera fazer faxina, cobrir férias de J., a faxineira oficial, então em férias. Um sinal, talvez. Até fevereiro ela estava trabalhando com uma van de transporte escolar, tomando conta das crianças em fúria indo e vindo das aulas. Nós fizemos uma proposta de trabalhar aqui segunda, quarta e sexta, com carteira assinada, e ela topou.

Então é assim: Quando pequenas, nós brincávamos juntas. Agora, ela é minha empregada.

Tremendo desânimo me dá este tal Brasil.

5 comentários:

jayme disse...

Às vezes dá a impressão de ainda vivermos nos tempos de dom João VI. Será que chegaremos a algum lugar?

Isabella Kantek disse...

Desânimo é pouco. Esta situação sempre me deixou muito abalada. Em casa, no Brasil, temos a L. que está conosco desde que a minha irmã nasceu (26 anos).
L. fala inglês intermediário, gosta de ler e tem uma coleçåo e tanto de música clássica. Sempre achei uma injustiça tremenda vê-la atrás do fogão, limpando o banheiro, etc. Aquilo para mim me remetia ao Brasil do passado e a tantas outras questões. Hoje, a L. vive na igreja e quanto não está em casa está na missa. Eu sempre penso o que teria acontecido com ela se nós tivessemos lhe dado uma mão para que ela fosse atrás dos seus sonhos...sinto-me um pouco" culpada".

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Lembrei-me de vc e da Mathilde: http://www.etsy.com/shop.php?user_id=5641164

vera maria disse...

É uma vergonha mesmo esse país, anna, se essa moça tivesse podido estudar em uma boa escola, se fosse natural ter boas escolas os horizontes ficariam mais amplos, seria possível escolher com alguma clareza o que fazer da vida. Mas com as esmolas do bolsa-fome que o governo dá (não sei se a ela) só se pode sobreviver e adiar sempre uma possível mudança real na situação social dos pobres. Eu sei que os muito pobres estão podendo consumir mais, comer mais, que a classe D virou C, mas ainda acho muito pouco e muito precária essa mudança.
um abraço,
clara lopez

Anônimo disse...

fora que é um tremendo clichê, né? também desanimo... você tem msn ou coisa parecida? o meu é suryapombo@hotmail , ou surya.pombo@gmail , me adiciona aí (me recuso a falar add). estou adorando seus posts-mãe.

anna v. disse...

Jayme, acho que por enquanto só chegaremos em becos-sem-saída.
Isabella, quando se junta com igreja, o desânimo vai ao cubo. E adorei o link da Etsy, fofo, obrigada.
Clara, eu fico querendo fazer alguma coisa, mas sem querer cair na hipocrisia e no "consumo" de uma desculpa. Será que ajuda se por exemplo eu me oferecer para pagar um curso de inglês ou informática para uma das filhas de S.? Talvez. Mas será? Fico perdida.
Surya, bota clichê nisso. Este é o país dos clichês, caramba!