Então agora, neste momento sem babá e com uma criança de 7 meses e meio, elétrica e semovente pela casa, e com o marido viajando, eu me viro como posso. A família ajuda (e não é pouco), mas a maior parte do dia, e a noite toda, somos só nós duas.
E todo dia de manhã vamos ao parquinho. Como não poderia deixar de ser, já temos vários amiguinhos que lá vão com suas mães. Todo tipo de conversa rola nesse jardim. Aliás, minto. Não é todo tipo de conversa. É todo tipo de conversa de recém-mães. Ninguém fala de Barack Obama, do encontro Caetano-Roberto Carlos, da Petro-Sal, ou de eleições municipais, e mesmo olimpíada é um tema muito esporádico. Agora, se o assunto é papinha, promoção de fralda, consistência de cocô, vida sexual de recém-parida, engatinhamento, ou aquela moça que aparece às vezes vendendo protetores de carrinho ótimos, bem, aí o papo rende à beça.
Quando passei a freqüentar o parquinho, fiquei com a impressão que todas ali já se conheciam. Senti um pouco como a menina nova da turma. Tanto que até hoje não sei o nome de nenhuma das minhas novas companheiras de estrada - são todas "mãe da Sofia", "mãe da Julia", "mãe do João", "mãe da Carol", "mãe do Guilherme" e por aí afora. O que acho o fim da picada, mas enfim, aconteceu.
Mas eis que reparei um tema freqüente. Maridos que viajam a trabalho e conseqüentemente conseguem uma (ou mais) noite inteira de sono. Isso, por motivos meio esquisitos, é meio mal visto pela mulherada. Rola um ressentimento brabo. E parece que às vezes elas querem se vingar dormindo a noite inteira e deixando o filho para o marido se virar durante a noite. Mesmo que os peitos explodam de passar tantas horas sem tirar leite. Vão lá no parquinho e contam, se vangloriando, dessas conquistas.
Fico quietinha na minha. Porque sei que vou ser hostilizada. Mas a verdade é que acho isso uma tremenda mesquinharia. Não sei como os casamentos podem se sustentar com esse tipo de mentalidade. Porque, vejam, uma coisa é o marido participar. Naturalmente. Porque ele quer estar ali. Outra coisa é a mulher, obrigada pela natureza a não se separar do filho por mais de umas poucas horas, em virtude da questão alimentar obviamente urgente, exigir a presença do pai do rebento durante suas vigílias.
É a lógica da vingancinha: se eu vou me ferrar, ele tem que se ferrar junto comigo. E chamam a isso de companheirismo. Ou de igualdade de direitos.
Eu humildemente acho que um deveria ficar feliz, de verdade, quando o outro consegue descansar, dormir ou se divertir tomando um chope. É uma conquista, como tantas outras, nesse momento tão único da vida do casal. Casamento não é uma disputa. Mas por enquanto, vou ficar quieta e continuar brincando no parquinho.
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9 comentários:
eu, simplesmente, ODEIO esses contatos no parquinho. ODEIO. E, por enquanto, me mantenho afastadíssima dessas mães... mas um dia, não vai ter jeito!
Anna,
É a tal diferença entre jogar tênis (objetivo: tirar o outro da jogada; há sempre um vencedor) e frescobol (cooperação, com o objetivo de prolongar tantricamente o jogo). Nada fácil achar parceiros de frescobol...
Abraço.
Anna, essa coisa de transformar o casamento em disputa é uma bobagem que os roteiristas de Hollywood adoram, basta ver a imensa lista de filmes sobre guerrinhas entre casais. As pessoas acham folclórico. Eu acho patético. Melhor mesmo ficar no parquinho...
hahahahaha, querida, você de fato é uma pessoa muito evoluída. eu nunca pensei em vingancinha não, nem em competição, mas achava delicinha que o pai do André tomasse uma providências enquanto eu tirava um cochilo. coisa que aliás, ele sempre fez, de bom grado e sempre de bom humor. lembro de uma vez que eu ia trabalhar e armazenei leite em mamadeirinhas, essas coisas. e uma delas pow no chão. Fiz que ia chorar. ele: ora, não chore sobre o leite derramado. hahahahaha
Uia, o André foi e ainda é fenomenal. O Alê era pequeninho, mamava por muuuuito tempo, chorava pra cacilda (depois descobrimos q era fome, mas isso é outro lance), quando ele acordava de madrugada era o pai que pegava no carrinho ou no berço, trocava e levava pra eu amamentar. Ainda coloca pra dormir quando saio pra aula, troca, faz comida, vai em reunião, foi no primeiro dia da adaptação na escola (eu me recusei terminantemente em ficar sentada numa sala com um monte de outras mamãs conversando, achei chato dos infernos e ficava pensando "porra, ninguém aqui vê um filme nem lê um livro, que sa-co. A adaptação passou, aliás, e a conversa não mudou. Blé, que intolerante eu sou). Só não dá banho porque tem pavor. Mas putz, esse lance da vingancinha.
Pra responder a isso mui grosseiramente eu diria que "na hora de fazer nenê tava bão e não reclamou de ficar acordada, né fia?".Tosco, mas foi o que me veio à cabeça qdo li o post.
Beijo!
Eu faço tudo o que me cabe fazer de muito bom grado. Mesmo exausta, nunca tive esse sentimento de olimpíada de casal. Em algumas madrugadas eu sinto inveja dele, claro (rs), mas acho que invejaria MUITÍSSIMO mais se eu fosse o pai, não a mãe.
Seus posts sobre maternidade e casamento têm um olhar crítico e lucidez impressionantes.
Estou adorando essa fase do seu blog.
Pô, ana, tinha escrio um post que era quase um livro sobre catarse coletiva, representação, mães encenando uma situação dramática para livrar-se dela etc, etc.. mas nem a mim convenceu...:)
abr,
clara lopez
Falou e disse!!! ;)
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