O Biajoni fez uma enquete sobre o livro que nos fez gostar de ler, aquele, na infância, inesquecível. Respondi lá, e poderia falar de uma porção de livros marcantes antes dos meus dez anos, como vários do Monteiro Lobato, uma coleção de que ninguém que eu conheço jamais ouviu falar, mas que eu amava muito, chamada A Turma dos Sete, da Enid Blyton (sobre um grupo de crianças inglesas dos anos 50/60 que tinha um clube secreto e acabava resolvendo crimes de verdade, veja só!), ou o maravilhoso Tesouro da Juventude com a incrível seção O Livro dos Porquês, de longe a minha favorita. Lá falei do Flicts, que tenho até hoje na minha estante e sempre me deixa os olhos rasos d'água, mas também li e reli trocentas vezes O Menino Maluquinho (que tinha o olho maior que a barriga, fogo no rabo e macaquinhos no sótão). Poderia citar mais uma montoeira de livros, mas parando pra pensar, o que me fez gostar de ler não foi um ou outro livro, foram principalmente três coisas:
- ser filha única
- não ter TV em casa até os 7 anos
- revistas em quadrinhos
Sobre ser filha única, isso nunca me fez mais introvertida ou tímida, eu acho. Pelo contrário, tenho uma teoria de que os filhos únicos "se defendem" melhor do que os que têm irmãos, no quesito desinibição. Por um motivo simples: se ficar ensebando muito na hora de chegar na praia ou na pracinha e perguntar "quer brincar comigo?" para o remelento ao lado, vai acabar tendo que brincar sozinho. Já comprovei, vários filhos únicos que conheço são como eu, têm facilidade de fazer novas amizades, e gostam de conhecer sempre gente nova. Mas de qualquer forma, não ter um irmão, ou seja, um amigo de plantão em casa, faz com que ler (atividade solitária por excelência) se torne uma opção fácil e viável.
Sobre não ter TV, claro que isso era decisão consciente dos meus pais meio hippies. E que francamente, hoje em dia acho que foi super acertada. Comecei a ler mais cedo que o normal, até pulei um ano na escolinha, por causa disso. Realmente até hoje não tenho muito hábito de ver TV, e vivo tranqüila sem. Só tivemos TV lá em casa depois que a diretora do meu colégio disse para a minha mãe que eu ficava deslocada nas conversas sobre desenhos e programas infantis, então para meu próprio bem era recomendável arranjar uma televisão (e arranjaram sei lá onde uma TV imensa, preta-e-branca, que ficava guardada dentro do armário (!) da minha mãe - tinha um "respiradouro" na porta do armário, e por ali passava o fio para ligar na tomada). Depois, quando eu estava na faculdade, teve um assalto na minha casa, roubaram a TV, e resolvemos não comprar outra. Aí passamos mais uma temporada de alheamento às novelas e telejornais - ou seja, de alívio e silêncio.
Já as revistas em quadrinhos foram uma das minhas paixões infantis. Eu até hoje tenho orgulho da minha coleção, que está guardada na casa da minha mãe. Não podia viver sem, e tinha todas elas arrumadinhas nas minhas estantes, por título. Mônica, Cebolinha, Cascão, Chico Bento (nessa turma, pulava sempre as histórias do Astronauta, que era um chato - pensando bem, talvez venha daí toda a minha implicância com aquele chatola astronauta brasileiro), Zé Carioca, Pato Donald (esses dois eram os melhores, com destaque para o surtado primo Peninha), Almanaque Disney (não sei por que, nunca gostei das revistinhas do Mickey, ele é um personagem tão chato, tão careta), Luluzinha, Bolinha. O Superalmanaque Disney de Férias, que era grosso pacas, era um delírio quando aparecia na banca do Seu Pedro, bem na minha esquina. (Ainda era daquelas bancas em que não se entrava, só o jornaleiro ficava lá dentro. Acho que não existe mais esse tipo de banca.) Depois eu passei a ser assinante de revistinhas, que chegavam lá em casa no meu nome e era um luxo só. Bem ou mal, acho que foram as revistinhas que me deram o hábito e o gosto da leitura diária, o que não é pouca coisa. Hoje em dia eu tenho uma parte da minha estante que comporta todos os livros do Calvin e Haroldo, a Mafalda Completa, e vários Asterix.
5 comentários:
lindo post.
Anna V:
Como é bom lembrar das coisas gostosas da infância!
Como você, adoro ler, e já era uma leitora voraz desde pequenininha. Mas, diferente de você, não sou filha única. Eu tenho dois irmãos menores (o que, para uma menina pequena, é o mesmo que ser filha única); talvez você tenha razão, uma criança sozinha descobre (e se encanta) bem cedo como é gostoso ler um bom livro.
Adorei a parte dos gibis, eu também lia muitos! Adorava Tio Patinhas e Mônica...
Gostei do seu blog, voltarei sempre. Eu o descobri por um link via Biajoni, e achei legal, pois já "conversamos" via comentários no post dele dos livros infantis.
Um abraço,
Cris
Ana, delícia de post, viu? Fala tão bem de tantas coisas importantes!... E, de quebra, dá um alento às preocupadas mães de filhos únicos, como eu. Obrigada :-)
Beijo.
Biajoni: a culpa é sua! ;-)
Cris: obrigada, volte sempre.
Helê: ser filho único tem vários lados bons, eu conheço todos, hehehe.
E eu que achava que mais ninguém da minha geração tinha lido o Tesouro da Juventude!! ;)
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