14.5.08

O filho da Sophia

Alegrou o meu fim de semana a notícia da publicação no Brasil de Rio das Flores, novo livro do Miguel Sousa Tavares. Não nego, sou fã de MST, apesar de ele ser figura pra lá de polêmica em Portugal. Cheguei a conhecê-lo pessoalmente numa Flip (2004? 2005? já não lembro mais), num jantar, e o achei divertidíssimo em uma noitada que terminou em roda de fados ao lado da Fafá de Belém (!) tomando vinho e cachacinhas de parati. (O que fazia Fafá na Flip também não me recordo. Amnésia está braba. Ainda bem que tenho fotos para que acreditem em mim.)

Fafá e Miguel. Como vocês podem imaginar, foi uma longa noite

A primeira vez que ouvi falar de MST foi como sendo "o filho da Sophia de Mello Breyner Andresen" (Miguel Sousa Tavares x Sophia de Mello Breyner Andresen: 5 sobrenomes, nenhum deles em comum.) Melhor credencial impossível. Depois falaram que ele era "uma espécie de Diogo Mainardi de Portugal". Pior impossível. E foi assim a construção ambivalente da imagem do autor para mim.

Aí veio Equador. Quando me deram Equador para ler, confesso que torci o nariz. Quinhentas páginas de um romance ambientado em São Tomé e Príncipe não me pareceram muito entusiasmantes. Mas li. Li, li, li e não parei. Fim de semana de imersão até chegar à página final. De lá pra cá, Equador se tornou meu romance: dou de presente/empresto a todo mundo. E olha, com 100% de aprovação.

Eu poderia ficar aqui divagando sobre por que Equador prende tanto os leitores. Não tem nada de excepcional, afinal. É um romanção histórico convencional, com trama de romance, sexo, traição e intriga política, e é cair no lugar mais comum remeter a Eça de Queirós pelo estilo. Fica muito claro que no fim de cada capítulo o autor joga uma isca para fisgar os leitores, isca que se abocanha com prazer - a menos que você seja um crítico literário chato mais preocupado em destrinchar as armadilhas de um autor do que em fruir pelo texto e sentir prazer com isso.

Enfim, acho que quem acompanhou as venturas e os infortúnios de Luís Bernardo Valença* pela linha média do planeta vai querer saber o que vem agora, nesse novo romance, ambientado no Brasil. Eu pelo menos quero. Porque de vez em me faz falta o conforto da literatura que flui.

*"Tinha 37 de idade, era solteiro e tão mal comportado quanto as circunstâncias e o berço lho permitiam — algumas coristas e bailarinas de fama equivalente a todas as suspeitas, ocasionais empregadas de balcão da Baixa, duas ou três virtuosas senhoras casadas de sociedade e uma muito falada e disputada soprano alemã que estagiara três meses em S. Carlos e de que constava não ter sido o único frequentador. Era, pois, um homem dado a aventuras de saias mas também a melancolias."


(Equador, p. 19. Uma das "aventuras de saias" de Luís Bernardo se chama Matilde, ora ora.)
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4 comentários:

vera maria disse...

Quantos bons autores ainda não conheço, mas vou :)
um abraço,
clara lopez

MegMarques disse...

Olha, também adorei Equador. Minha mãe trouxe pra mim de Portugal assim que lançaram, mas eu não sabia que o autor era filho de uma das minhas poetisas preferidas! Que legal!
Quanto a esse livro novo, CLARO que eu vou querer ler.
bjocas

Camila... disse...

Humm, olha só que interessante. Caí aqui sem paraquedas e já começo descobrindo que Sophia e Miguel têm mais afinidades e semelhanças que aparentam... além de perfeitos com as palavras e portugueses, são mãe e filho. Amei saber. Amei o blog também. :)

Beijos, moça!

anna v. disse...

Clara, você que gosta tanto de leituras, precisa conhecer, sim. Espero que goste.
Meg, sabe que eu acho que mãe e filho não têm NADA a ver um com o outro? Fico pensando quem terá sido o pai.
Camila, oba, que bom, seja bem vinda e volte sempre.