Uma das muitas rodas informais do II Festival Nacional de Choro, Mendes (RJ), janeiro 2006. Tirada daqui.
É o seguinte. Pelo terceiro ano seguido vai rolar o Festival Nacional de Choro, organizado pelo pessoal da Escola Portátil de Música. Quem não conhece o projeto da EPM está perdendo uma das iniciativas mais bacanas que tem por aí, que junta promoção da cultura brasileira, inclusão social e diversão garantida. A EPM começou em 2000 com cinco professores e uns cinqüenta alunos, aos sábados, na Sala Funarte, com o objetivo de passar adiante o que esses músicos tinham aprendido the hard way, ou seja, na marra, nas rodas de choro, com os velhos chorões – sem escola formal, sem apostila, sem livro.
Com o tempo e o sucesso das aulas, a notícia foi se espalhando, mostrando que havia uma grande demanda reprimida. O número de interessado foi crescendo tanto que foi preciso arrumar mais professores. Mudaram de lugar, da Funarte para a UFRJ, na Lapa. De lá para um casarão no bairro da Glória, onde já contavam 400 alunos (selecionados entre mais de mil inscritos). Hoje em dia as aulas (sempre aos sábados) acontecem no campus da Uni-Rio, na Urca, e os alunos são mais ou menos 600, para 23 professores (entre eles Luciana Rabello, Mauricio Carrilho, Pedro Amorim, Cristóvão Bastos, Bia Paes Leme, Jayme Vignoli, Rui Alvim, Marcelo Bernardes, Celsinho Silva, Oscar Bolão e outros). Há cursos de violão de 6 e 7 cordas, cavaquinho, bandolim, contrabaixo, piano, acordeom, canto, flauta, clarinete, saxofone, trompete, trombone, pandeiro, percussão. Tem também as aulas teóricas, de harmonia, história do choro, percepção musical, composição, arranjo. E tem os grupos já mais ou menos fixos que se formaram lá, a Camerata Portátil e a banda Furiosa Portátil. Além dos regionais que se criaram por ali e hoje tocam em tudo quanto é canto.
Em 2003 e 2004 o projeto teve patrocínio da El Paso, e as aulas eram gratuitas. Desde o ano passado a patrocinadora é a Petrobras, e em 2006 começou a cobrança de uma taxa de R$ 150 por semestre – sendo que quem comprovar que não tem como pagar pode ter bolsa integral. Eu estudo cavaquinho na EPM desde 2004, sou testemunha ocular (e auditiva) da seriedade e do comprometimento das pessoas envolvidas. Ao mesmo tempo, me emociono ao ver os resultados, que não são nada menos que excelentes. Lá tem alunos de todas as faixas etárias e todas as classes sociais. Tem gente que vem de outras cidades para ter aula aos sábados. Tanto quem tem outra profissão e quer tocar por hobby quanto quem quer se profissionalizar tem espaço lá dentro, e essa mistura gera um clima muito positivo. Você vê os moleques que caíram lá de pára-quedas, que tocavam cavaco nos conjuntos meia-boca de pagode, e que hoje em dia são fissurados pelo choro, sabem tudo e ainda compõem umas polcas de vez em quando. (Porque tem isso também, a quase obsessão de mostrar que o choro é um gênero que se renova, que não é o “chorinho” e que não está preso a Brasileirinho e Noites Cariocas.) Ou então os coroas do violão que tocavam Wave e Garota de Ipanema e hoje tocam, além disso, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e músicas novas do Mauricio Carrilho. Ou as flautistas que vieram da música clássica e hoje sabem tudo do Joaquim Callado e amam o Altamiro Carrilho.
Com o sucesso da empreitada e a cobrança do pessoal de fora do Rio surgiu a idéia de fazer um festival nacional. O primeiro e o segundo foram em Mendes (RJ), num hotel-fazenda que antes era um seminário de padres, e possibilitava que as pessoas se hospedassem, fizessem as três refeições e tivessem as aulas no mesmo lugar. Era um “campo de concentração”, porque ninguém saía de lá, por uma semana. Este ano de 2006 o festival homenageou Radamés Gnattali, por causa do centenário, e por ter sido um cara tão especial para o choro. Em 2007 é o ano Anacleto de Medeiros, porque faz 100 anos de sua morte (pra ver como o choro tem mais de 150 anos de história). Não vai ser mais em Mendes (porque o hotel agora voltou a ser um seminário), e sim em São Pedro, no interior de São Paulo, no mesmo esquema de “hotel-fazenda/campo de concentração”.
O Festival realmente é o máximo. No de 2005 eu só passei um fim de semana, mas no de 2006 eu me matriculei, tirei uma semana de férias do trabalho e fiz o curso completo. É difícil descrever para quem não estava lá o quanto foi maneiro encontrar tanta gente de tantos lugares com as mesmas afinidades musicais. Aula de manhã e de tarde, rodas de choro e de samba pela noite adentro. As aulas eram ótimas, e as práticas de conjunto, verdadeiramente divinas. Eu caí num regional com um flautista pernambucano, dois violonistas baianos e um pandeiro de Belo Horizonte. E tem sempre uns argentinos, espanhóis, dinamarqueses e franceses que aparecem e ficam loucos. Além dos regionais, tem as orquestras, as bandas, tudo formado, arranjado e ensaiado em uma semana. É uma loucura, mas as pessoas são tão movidas pela paixão da coisa, que acaba funcionando, e no final não tem jeito, todo mundo chora. (Quando eu digo que é paixão, é porque é mesmo. Por exemplo, em 2007 o festival não tem patrocínio. (A Escola tem, mas o Festival, não.) Não é de graça, os alunos vão ter que pagar pela hospedagem no hotel. Mas os professores não vão receber, porque não tem grana. Ia ter. Mas não teve. E aí? Bom, aí resolveu-se fazer assim mesmo.)
Então é isso. Eu faço essa propaganda aqui, de graça e com muito gosto. Quem gosta de choro e toca algum instrumento deve fazer um favor a si mesmo e ir. Quem mora nas imediações de São Pedro deve ficar ligado para os shows que vão rolar na cidade (provavelmente na abertura e no encerramento). De 3 a 11 de fevereiro. Que é bem para comemorar a minha saída do atual emprego, onde fico só até 31/01. (E o lide veio no pé!)
4 comentários:
Você é do ramo?
Do ramo? Parece que sim.
Mas isso, claro, depende de saber de qual ramo você está falando.
Enfim. Whatever.
Oi Anna! Lindo blog. Teus assuntos me interessam. Um grande beijo. E no meu butiquim vc tem crédito. Passa lá pra tomar um chopp.
Oi, Bruno. Obrigada, e bem-vindo. Mas onde é seu butiquim? Não consegui descobrir pelo Blogger.
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